22 de dezembro, 2018 - Sábado (23h49)


Oie! Lyan aqui 🍀


Caso encontre qualquer discrepância na história, erro gramatical, frase mal construída, fique à vontade para me dar um toque 😁

Como este livro está na fase de rascunho (primeira escrita ainda), é normal que alguma dessas coisas apareçam 😅


E acima de tudo, quero lhe AGRADECER do fundo do coração!

Você está caminhando comigo neste projeto tão difícil para mim, e isso não tem preço! ❤️

Este livro está sendo realmente um desafio, em vários sentidos. Mas é um desafio que estou superando aos poucos, e que de longe já é meu maior projeto (até o momento).

Por isso sou tão grata por você estar aqui, lendo cada capítulo com tanto carinho enquanto ainda está apenas "no tijolo", sem reboque, sem nada.

❤️❤️❤️


22 de dezembro, 2018 – Sábado (23h49)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: A cena que grudou em minha memória


Boa noite, irmã espiritual! Imagine você que o Lucas está todo fofo "ajudando" a gente a atender os clientes que entram para ver os vasos. Ele vê um ser humano passando pelo meu portão em direção à bancada de flores, e já corre lá. Fala num Luquês perfeito: "Poinão? Inque posso judá?". Acho que não preciso nem dizer que todo mundo se derrete com aquele Pinguinho de gente nos imitando. Ele disse, todo sério enquanto pegava uns matos para por num copo, que estava "tabaiâno". Aí ele veio para mim com o copo de plástico cheio de terra e mato dentro, e eu não soube o que fazer. Meu coração queria guardar aquilo para sempre, mas meu cérebro sabia que era lixo.

Ai, que dilema. Resolvi da forma mais covarde possível:

"Que lindo, Lu! Mostra pra sua tia!"

Ok, foi truque sujo, mas fiquei de olho para ver como ela iria agir perante aquilo. Fiquei de olho para aprender como ser um adulto decente para uma criança tão pequena. Ela disse que amou, e colocou ao lado dos arranjos dela. No fim do expediente, levou para dentro e "enfeitou" nossa mesa com o arranjo do Lucas. Acho que ela vai deixar lá até que as folhas sequem.

Ainda tenho muito o que aprender. Se fosse comigo naquela idade, e eu levasse algo do tipo para minha avó, ela jogaria no lixo sem pensar duas vezes.

Ah, como minha infância foi linda e cheia de flores, não é mesmo? Cheia de lembranças tão calorosas que poderiam derreter pedra, fazendo-a virar lava para exalar um gás tóxico.

Lembranças lindas à parte, nós estamos tentando dar ao Lucas memórias realmente decentes. Esta tarde, por exemplo, fizemos outro daqueles piqueniques caseiros. Como está calor, ficamos na sombra de uma árvore, lá fora. Estavam os três Belson, mais eu e meu primo. Foi bem agradável, até. Comemos sanduíches naturais e frutas, porque inventar qualquer coisa mais complexa que isso faz o corpo amolecer nessa época (isso porque o verão começou ontem! Fico imaginando como estará daqui a uns dois meses).

Depois de todos estarem satisfeitos, começamos a comentar sobre o Natal, que já é na terça-feira. O Lucas, que tinha assistido a um daqueles filmes americanos, disse que quando o Papai Noel chegasse, traria neve com ele. Então peguei uma das maçãs e usei a lanterna do meu celular para emular a Terra e o Sol. A tentativa de explicar os hemisférios norte e sul para o Pinguinho foi um fiasco, mas pelo menos ele entendeu que no Brasil não tem neve como lá, e entendeu também que nosso planeta não é como uma pizza.

Deus me livre um terraplanista aqui. Já não chegava meu pai e minha avó dizendo que água não faz curva (quero morrer toda vez que vejo essa frase! AAAHHHHHH).

Enfim... Esse piquenique de hoje foi, em partes, como uma comemoração pelo Nicolas ter finalmente tirado os pinos da perna – embora ainda esteja usando aquele imobilizador removível. Foi ontem mesmo, como eu disse no e-mail passado. Quem nos levou foi meu primo, pois a Jack precisava terminar algumas coisas na Belson's Flora.

Dessa vez, fui junto. A última vez em que estive lá foi logo depois daquela noite. Só de entrar lá e sentir o cheiro característico os pelos de minha nuca arrepiaram.

"Zak, você tá legal?"

Quem perguntou foi o Nicolas, que aguardava na cadeira de rodas enquanto não era chamado.

"Não sei... Essas paredes são brancas, não são? Por que está tudo escurecendo, Nick? Tem algo errado, eu não estou legal".

"Shhh... Zak, olha pra mim. Esqueça o resto. Olha pra mim".

Quando meus olhos focaram nos dele, percebi que o Jonas também me encarava. Minhas extremidades estavam formigando, e as coisas que estavam fora de meu campo de visão começaram a escurecer.

"Respira devagar... Isso..."

Patético. Ele que era o paciente, mas eu que estava passando mal. Quase desmaiei, mas consegui retomar o controle. Parando agora para pensar, minhas duas últimas visitas àquele lugar foram por acidentes perigosos. Um deles deu uma cicatriz funda em minha barriga, e o outro fez meu namorado ficar com a perna cheia de pinos.

Quando minha respiração voltou ao normal, o formigamento nos dedos foi parando aos poucos, consegui sentir a mão do Nicolas segurando a minha.

"Vou ficar bem", avisei, fingindo um sorriso.

Ele continuou segurando minha mão, e aguardamos em silêncio. Enquanto o nome mais lindo do mundo não era chamado, tentei olhar para aquele ambiente de uma forma mais fria, sem emoções vinculadas. Lembrei das coisas que li naquele livro, e me dei conta que eu estava de novo sendo controlado pela porcaria de minha mente. Ela estava mais uma vez rodando filmes aleatórios em minha memória, e essa desgraçada tem um gosto particularmente sádico para a escolha de cenas.

Mas consegui ignorar. Foquei em observar as pessoas de branco, andando de um lado para o outro. Tentei enfiar na minha cabeça que são apenas seres humanos, e não enviados do inferno para causar dor.

E foi nessa hora que uma cena particular me chamou a atenção. Uma moça, devia ter minha idade, saiu de uma porta e agradeceu a pessoa que ficou dentro. A garota parecia estar secando lágrimas, e então a mulher que estava na sala, de jaleco branco, foi até lá para abraçá-la. Creio que poucos nas cadeiras de espera notaram a cena, pois foi muito sutil. A paciente, finalizando o abraço, falou: "Você está salvando minha vida".

Foi uma cena bonita, do tipo que eu nunca associaria a um hospital. Para mim hospital sempre foi lugar de desespero. Lugar de sangue, de choro e dor. Eu não tenho a menor ideia do problema de que aquela menina foi salva, mas vi a médica colocando a mão no peito e suspirando enquanto a paciente ia embora. Encarei ela por tanto tempo que devo ter lançado um anzol energético, porque a tal da médica me olhou, e voltou para a sala, fechando a porta.

Acho que meu olhar curioso de peixe morto a deixou sem jeito. Ou talvez tenha pensado que sou um psicopata. Sei lá. Só sei que eu não gostaria de ter eu mesmo me encarando. Deve ser apavorante um cara mirrado e gótico com os olhos presos em você sem motivo algum.

Foi nessa hora que ouvimos, no fim do corredor, o chamado para Nicolas Rafael Belson.

Enquanto nos dirigíamos à porta correta, dei uma espiada naquela porta da médica emocionada. Na porta, consegui ler: Dra. Samira S. Belloto – Psiquiatria.

Por pouco eu não tropeço em meus próprios pés (e olha que prendo bem os cadarços de meus tênis!). A mulher era psiquiatra! Parece que a coincidência veio na minha direção dando um tapa na cara. Novamente meus olhos cruzaram com os dela, e a vi sorrindo para mim. Desviei e segui em frente como um soldado de chumbo.

Não, eu não pensei em falar com ela, amiga. Foi apenas o susto que me pegou de jeito, como língua de monstro enrolada na garganta. Segui em frente, atrás do Nicolas e do meu primo, e eles sequer perceberam minha olhada para dentro daquela sala porque durou um ou dois segundos.

Quando entrei no consultório com o Nicolas, o médico fez algumas perguntas, e pouco depois já estava retirando os pinos. Eu fiquei olhando, e de uma estranha moleza ao ver aquilo saindo de dentro dele. Meu namorado franziu o cenho, mas continuou firme e forte, Já eu, senti as pernas moles e me sentei numa das cadeiras disponíveis. Em outra sala, um novo Raio-x foi tirado, mostrando que os ossos dele estão no lugar e se recuperando bem. Alguns pinos pequenos permaneceram lá, e ali ficarão para sempre. E ele vai ter que sossegar o facho e reter a vontade de dirigir por mais um tempo, respeitando o uso de imobilizador até metade de janeiro.

Depois de receber pequeninos pontos nos furos que ficaram, aprendermos como fazer os curativos e pegamos a receita para novos anti-inflamatórios e pomadas cicatrizantes.

No caminho de volta, a cena da psiquiatra com a garota agradecendo me voltou à mente. Nessa hora o Jonas parou num semáforo, e deu para ver uma pequena borboleta voando o lado de fora. Na hora deu um estalo, e lembrei daquele sonho: você tirando uma pedra vermelha de dentro de mim, cheia de dor, e transformando-a num cristal puro. Depois, esse cristal se desmanchava na forma de borboletas e ia até as pessoas, fazendo-as sorrir.

Eu ainda não posso dizer que desvendei isso, mas sinto que é algo importante. Dá até uma sensação ruim de imaginar que seja algo tão óbvio, e que eu sou tapado o bastante para não perceber, amiga. Por que sonhos têm que ser tão enigmáticos? Isso é irritante. Ou meus sonhos são cheios de sangue ou sombras me perseguindo, ou é cheio de bizarrice com pedras e borboletas saindo de mim.

Não que sonhos sejam normalmente lógicos, mas nossa mente poderia ajudar, não é?

Quando o carro se colocou em movimento outra vez, voltei a pensar na garota que agradeceu a psiquiatra. Ela disse que a mulher salvou a vida dela. E não falou isso com leviandade, pois estava realmente emocionada.

Como será a sensação de ser realmente importante na vida de alguém? Quero dizer, sei que o Nicolas e a Jaqueline já são doidos o bastante para me considerarem, mas... Estou me referindo a algo além, sabe? Ser importante para mais pessoas, assim como aquela mulher foi para a garota.

Me pergunto se algum dia eu poderia ser esse tipo de pessoa. Ser importante de verdade no mundo, fazer algo além de ser apenas "o namorado do Nicolas".

Desde ontem, quando voltamos do hospital, estou com essa coisa na cabeça. Eu nunca tive um propósito nessa vida, porque nem achava que era digno de almejar qualquer coisa. Mas... Sei lá. Acho que não quero passar a vida toda com essa sensação de ser apenas um ser a mais no universo, sem o que as pessoas chamam se "senso de propósito".

Amiga... E se aquela pedra vermelha e dolorosa fossem as coisas que têm me acontecido? Significa que você a tirou de dentro de mim, e purificou?

Não, não. Não creio que seja isso, porque ainda está tudo aqui. Essa merda ainda dói como se tivessem pontas de verdade enfiadas em minha carne.

Então... O que?

Cheguei a pesquisar sobre significados de sonhos, mas não achei nada que ajudasse. Parece que é tudo místico demais, e neste momento estou precisando de algo mais pé no chão. Algo mais científico, sabe? Se é que existe ciência para interpretação de sonhos.

Eu estou ficando doido?

Acho que o negócio é pesquisar, amiga. Ou esperar outro sonho milagroso em que a resposta venha pronta – coisa que duvido que aconteça, porque sonhos têm essa péssima mania de não ter porra de sentido nenhum.

Bom, o Nicolas está me esperando para dormirmos. Nem vi que já era tão tarde. Boa noite, minha irmã de alma!





Oie, Lyan aqui. De novo 😜

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KISSES~KISSES

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