1º de Outubro, 2018 - Segunda (23h47)
Hey, leitores! Como passaram o Natal e Ano Novo? Espero que tenha sido com muitos sorrisos!
Para mim foram dias complicados pois, como comentei em minha última postagem, uma amiga muito querida estava internada na UTI por conta da Covid-19.
Sim, "estava", com o verbo no passado. É que no dia 1º de Janeiro infelizmente recebemos a notícia de que ela partiu para o mundo espiritual. E foi tão chocante para mim e para a família dela pois essa amiga tinha uma presença muito forte e luminosa. E uma notícia dessa em pleno dia de ano é de tirar o chão da gente.
Sinceramente, estou até agora sem acreditar. Parece que a qualquer momento ela vai voltar e dizer que foi tudo uma brincadeira para nos testar. Mas meu lado lógico sabe que não é nada disso.
Pessoal, sei que já falei, mas quero reforçar: cuidem-se de verdade. Essa doença não é só "uma gripezinha"... É verdade que algumas pessoas passam por ela sem maiores complicações, mas nunca se sabe para qual lado a roleta russa vai apontar... Não queira descobrir se você vai estar no grupo dos que se recuperam ou dos que morrem.
A família dessa minha amiga pegou, e todos saíram ilesos, sem precisar de internação. Parecia mesmo "só uma gripe boba". Mas com essa minha amiga foi muito grave: ela ficou com os pulmões destruídos, e acabou não resistindo.
Não é uma doença boba. Ela é cruel, faz o paciente sofrer, e também faz os familiares sofrerem quando a pessoa querida se vai, pois sequer pudemos fazer um velório para nos despedirmos.
Essa minha amiga era uma das maiores apoiadoras deste livro, O Monótono Diário de Isaac. Ela sempre perguntava como estava o andamento, pois dizia gostar de meu trabalho e queria ver como ficaria quando pronto.
Bem, ela irá ver, mas a partir do plano espiritual.
Saber que não vamos mais poder nos ver no plano físico... Que não vou mais ouvir aquela risada gostosa e os abraços calorosos... E saber que nossas conversas filosóficas e edificantes não serão mais possíveis enquanto eu estiver encarnada... Dói.
É uma dor de vazio que não quero que vocês sintam tão cedo. E caso vocês já tenham sentido, meus sentimentos. Sei como é desolador.
Protejam-se e protejam seus familiares e amigos. Não debochem de um vírus que pode nos matar. Não subestimem as possibilidades destruidoras de uma doença que sequer conhecemos.
Ah, e mais uma coisa: quando a vacina chegar, tomem-na sem frescura. Se ainda tiver dúvidas sobre a eficácia da coronavac, informem-se em sites médicos e científicos, e não em blogs e canais de pessoas sensacionalistas ignorantes.
Vivam.
E isso pode ser traduzido de uma maneira bem ilustrativa e interessante:
Agora, sem mais delongas, fiquem com um novo e-mail de nosso querido Isaac Rodrigues. Desejo que este capítulo alcance seus corações como um afago espiritual.
Um grande abraço, queridas e queridos!
De sua escritora de Boys Love,
Lyan K. Levian ❤️ 🐌
1º de Outubro, 2018 – Segunda (23h47)
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Eu não sabia que dava para fazer tantas coisas num dia!
Amiga! Se eu te pedisse para adivinhar... Ah, céus, eu estou tão eufórico que... AHHH! Quero sair gritando pelado na rua! Aaaahhhh!
Não, brincadeira. Também não é pra tanto...
Mas calma... Tudo a seu tempo. Sei que sou uma montanha russa de emoções, amiga, e isso pode acabar te deixando louca. É que... AH MEU DEUS! Enfim. Calma. É que hoje teve a...
Não, não, espera. Do começo, Isaac. Do começo. Antes que eu estrague o relato!
Para começar, sabe de onde estou escrevendo? Da casa da Hellen.
Não, não! É zoeira! Hahaha... Nem fodendo que eu estaria lá (desculpe, foi uma brincadeira besta e de mau gosto... Juro que não farei novamente, amiga). Estou nos fundos da Casa das Flores. Lembra que, antes de abrirmos a Belson's Flora, era aqui que ficava aquela plantação "aérea" de morangos do Nicolas? Agora eles estão no meu quintal, por causa da floricultura (inclusive, os morangos têm sido um chamariz de clientes, já que nessa época dão muitos frutos). Mas então (cruzes, como eu disperso!), estou aqui nos fundos por um bom motivo.
Depois falo sobre isso... Vamos ao relato antes que você me puxe a orelha.
Hoje acordei novamente abraçado ao Nicolas. Sim! Dormimos juntos outra vez (apenas dormimos, entendeu? Não rolou nada), e novamente por convite dele. Eu não ousaria convidá-lo, pois ainda não me sinto no direito. Sempre espero vir dele, porque isso tem sido meio que um termômetro, sabe? Para saber como está a disposição dele comigo.
Fazia dias que o Lucas estava na casa da tia avó, e a Sônia só estava nos dando tranquilidade por causa dos calmantes que estão dando a ela (Claus disse que ela parece uma adolescente, que está sendo mimada pela mãe com remédios e carinhos). A louca diminuiu a quantidade de drogas usadas, e a Dona Rosa tentou fazer uma faxina naquela casa imunda (mais uma vez, foi nosso espião infiltrado que contou, com direito a fotos), mas de acordo com nossa advogada (acho super chique falar "nossa advogada") nada do que fizessem na casa seria o suficiente para melhorar a impressão ruim que a Sônia deixou com aquele vídeos de denúncia. As cagadas da megera já foram feitas, e deixaram rastros que não poderiam ser negados pelos juízes.
E tem outra coisa: por que ela faz tanta questão de ficar com o Lucas se nem cuida dele direito?
Eu esqueci de te contar, mas ontem fiz essa pergunta durante nossa reunião com a Lílian. Foi uma daquelas perguntas retóricas, sabe? Sem esperar uma resposta de verdade. Mas a Jack disse que o Lucas é como um troféu dela sobre o Nicolas. Ou melhor, era uma espécie de moeda de troca, a qual ela usava para controlá-lo de longe. "Chantagens e ameaças", foi o que a Jack disse para mim e para a advogada, recebendo a confirmação do Nick.
Hoje, apesar de ter sido maravilhoso acordar ao lado dele, o dia começou com a mesma tensão de ontem à noite. Tentei não pensar no Marcus e seus "aliados" (assim como agora, prefiro esquecer da existência desse parasita) e focar apenas nas tarefas da Casa das Flores. Como faltavam poucas horas para a audiência (que foi essa tarde) achamos que seria melhor nem abrir a floricultura. Deixamos uma plaquinha improvisada falando que só abriremos amanhã, e ajeitamos as coisas, deixando o quarto do Nicolas pronto para receber o Lucas, caso tudo desse certo.
Uma outra coisa que fizemos foi pegar as coisas dele na casa da Sônia. Com a ajuda de nosso aliado, o Claus, soubemos a hora que a megera estaria dormindo (à base de remédios, senão ela não consegue), então fui com a Jaqueline pegar algumas coisas importantes do Pinguinho (principalmente roupas, pois a maioria dos brinquedos estavam imundos e imprestáveis – e o restante compraríamos conforme a necessidade) e foi bem rápido, pois a Dona Rosa já havia deixado tudo arrumado para nós.
Ao entrarmos na casa dela, notei que havia algumas velas acesas em um aparador. Num instante lembrei de minha própria avó, e de como ela sempre reza antes de alguma coisa importante. Você sabe que eu não sou o tipo de cara religioso (apesar de ter crescido frequentando a igreja), mas achei aquilo legal da parte dela. A Dona Rosa é uma pessoa realmente boa e quer o melhor para o Lucas, e sabe que o melhor para ele é ficar com o pai. Ela disse que as velas eram para que Deus guiasse os passos da filha, e essas coisas... Aposto meu notebook que minha avó também acendeu uma vela para mim quando saí de lá, com esse mesmo propósito. É do feitio dela fazer isso.
Assim que saímos da casa dela, com o porta-malas carregado, combinamos um horário para buscá-la, já que a Dona Rosa era uma das que testemunhariam a favor de mim e do Nicolas. E como já estava perto da hora da audiência, sabíamos que a Sônia logo seria chamada para se arrumar, então nem conversamos muito com a mãe e irmão dela. Foi uma operação da dupla dinâmica ZakJack: rápidos e eficazes como um headshot num zumbi.
Bom, para não enrolar descrevendo todo o nosso processo de limpeza e organização do guarda-roupas do Lucas, saiba que tudo estava pronto na hora de sairmos, e acabei usando a mesma roupa endomingada e sem graça da outra vez (aquela que faz eu parecer um coroinha do padre em vez de Isaac Rodrigues... Mas que seja).
O prédio da audiência era o mesmo da primeira vez, e na sala de espera foi se reunindo todo o pessoal combinado pelos Belson e pela Lílian: Dona Rosa e Claus (que vieram de carona comigo e Nick), a vizinha Maria Onésia (que foi com a Jack e Jonas – e tive que me segurar para não chamá-la de Dona Maionese em público) e dois casais de amigos dos gêmeos: Ana com Saulo, e Mariana com Samuel (esses últimos, donos da danceteria DouxFun). E nossa advogada, a Lílian. Óbvio.
Perguntei onde estavam a Sônia com o advogado (e as improváveis testemunhas deles), e disseram que estavam numa sala de espera diferente. Então a Lílian explicou: "O caso de vocês ficou ácido o bastante para que o juiz achasse arriscado colocar todos os galos na arena de uma vez".
Pela primeira vez, vi a Lílian fazer uma cara travessa, e acabei rindo junto com o Nicolas e a Jack, que estavam perto. Ela parecia de ótimo humor, diferente da primeira audiência. E isso deu uma injeção de ânimo e esperança que você nem imagina, amiga!
Quando fomos chamados, as testemunhas permaneceram do lado de fora, aguardando.
Nessa hora, o Nicolas pegou em minha mão para entrar. Ah, minha nossa, como esse pequeno detalhe foi importante para mim! Olhei para ele, com o peito apertado e um gelo terrível na barriga, e meu namorado disse: "Vamos nessa juntos". Eu respondi com um aceno de cabeça, tentando me concentrar em andar sem tropeçar, já que minhas pernas estavam meio moles de nervoso.
Assim que adentramos a sala de reunião, vi a Sônia sentada do outro lado da mesa enorme. Ela estava com cara de sono e parecia tranquila (se comparado aos outros encontros), mas a expressão azeda ainda era a mesma. A coisa olhou para mim e para o Nicolas, e parece que notou nossas mãos com dedos entrelaçados, porque a cara dela ficou pior.
Aqui ente nós, amiga... Acho que o Nick fez isso de propósito, para cutucar a onça. Gente do céu, meu namorado é doido... Mas eu estaria mentindo se dissesse que não amei essa afronta. Deu até vontade de mostrar o dedo do meio para ela, mas mantive minha mão quietinha onde estava, para não estragar tudo (eu posso ser impulsivo e idiota, mas existem alguns raros momentos em que meu cérebro funciona – por mais incrível que pareça).
Enquanto o juiz mexia nos papéis, ninguém falou nada. A Sônia não me ameaçou de morte verbalmente (mas aposto que na imaginação dela eu morria de diferentes maneiras), nem eu disse o que pensava sobre a megera, e todos agimos como adultos comportados num velório. Mas para mim parecíamos um bando de crianças na sala, que só não faziam algazarra porque alguém gritou "vaca amarela", ameaçando tirar o doce de cada um se não se comportassem (e, claro, nosso doce era o Lucas).
Em outras palavras: aquilo era uma bomba armada. Tensão no ar que sentíamos na respiração, de tão pesada que estava aquela merda toda.
Enfim... Assim que o Juiz se levantou da cadeira, o processo todo reiniciou, com ele lendo várias páginas entediantes (de noooooovo) porque fazia parte do procedimento. Para meu desespero (e tédio), dessa vez tinha mais folhas, resumindo o que havia acontecido na reunião anterior. Nas partes em que falava os motivos de a Sônia ter perdido a guarda do Lucas, reparei no advogado dando uma espiadela na megera, como um sinal para que mantivesse a compostura (ela ficava revirando os olhos).
Então vieram novas perguntas do juiz. Uma das coisas que me chamou a atenção foi quando abriram os exames de sangue da Sônia (que foi pedido da outra vez). E para a surpresa de ninguém, havia vestígios de uso acima do normal de drogas nela, e de álcool no Claus. Parece que ele realmente está parando com a as drogas, mas ao mesmo tempo recebeu um alerta de colesterol (ele tem comido e bebido demais para suprimir o vício).
Em seguida vieram mais perguntas para o advogado da Sônia, para que o juiz pudesse investigar as acusações em relação a mim e ao Nick.
E sabe o que reparei? Ela contou coisas ligeiramente diferentes do que da outra vez. Será que ela não percebe que essa é a prova máxima de que ERA TUDO MENTIRA? Vagabunda do caralho... Falou coisas ridículas! Que nos masturbávamos mutuamente na frente do Lucas, e pior: ela disse que eu já o assediei, tirando a roupa dele sem necessidade par mexer "ali". E ela jurava que tinha visto isso. Jurava ao lado do advogado, com a mão em cima da Bíblia!
De que adianta jurar em cima de um livro sagrado se vai inventar um monte de merda? Todos sabem como a humanidade é podre e mentirosa! Por que então pedem para jurar em cima da porra de um livro, caralho? Eu juro que não entendo a insanidade e hipocrisia por trás disso. É simplesmente ridículo! Se houvesse uma magia ou maldição que realmente impedisse as pessoas de mentirem ao jurar sobre a Bíblia, até compreenderia. Mas é só um raio de juramento besta, baseada no caralho da índole da pessoa, e tão confiável quanto uma criança que jura de mindinho que não comeu o bolo de chocolate, sendo que tem cobertura até na orelha!
Aff... Vão todos tomar no olho cu com esse juramento cretino.
Ver a Sônia jurando que tinha visto eu fazer isso com o Lucas me deu vontade de cuspir na cara dela, e esfregar aquela boca falsa no chão. Vaca doente.
O pior é que nem consigo chamá-la de filha da puta sem me sentir mal, porque a mãe dela é uma boa pessoa. Inferno.
Ah, cara... Ok, surtei aqui, amiga... Foi mal... Eu comecei esse e-mail de bom humor e de repente aqui estou eu, quase jogando o notebook na parede. Mas é porque lembrei das coisas que ela falou sobre eu e o Nick.
Enfim... Já passou...
Então o advogado neutro, que acompanhava o juiz, perguntou se a Sônia tinha alguma prova. Ela apontou pra gente, como se estivesse tentando mostrar o óbvio: "Pelo amos de deus, olhe para eles! São viados!". Nessa hora o advogado da própria Sônia a olhou alarmado, e tocou-a no ombro, cochichando alguma coisa. A vaca ficou emburradinha. Deve ter levado bronca... Otária.
O juiz perguntou, novamente: "Senhora Sônia, preciso que me dê algum tipo de prova ou testemunha que comprove isso, senão serei levado a crer que está fazendo uma acusação falsa, e isso poderá ser pior para a senhora".
"Perguntem ao meu filho! Ele vai falar!"
"Já fizemos isso. Enviamos uma psicóloga para conversar com ele na semana passada, e tudo o que comprovamos foi a tristeza do garoto pela distância do pai e do rapaz que ele chama de tio, o Issac. Nada do que a criança disse à psicóloga aponta qualquer tipo de abuso, ou atentado ao pudor. E era uma psicóloga especialista em casos infantis dessa natureza, então as informações conseguidas são de total relevância, senhora Sônia. Além disso, a psicóloga também notou que o garoto, Lucas, não se sente confortável em sua presença quando não tem outro adulto por perto."
Ela estava ficando vermelha. Tive tanta vontade de gritar "toma essa, otária!" para aquela mentirosa! Mas me mantive quieto em minha cadeira, ainda de mãos dadas com o Nicolas (e nossas mãos estavam sobre a mesa, para todos verem).
"Então chame meu irmão! Ele vai confirmar o que falei!", ela disse, já perdendo a compostura. O cabelo arrumadinho estava começando a cair na cara dela, e o advogado da megera (coitado) ficava cochichando para ela se controlar. "Meu irmão vai falar! Chama ele! Esses dois ficam se beijando na frente do Lucas, e na rua, como se fosse normal!"
Dessa vez, quem respondeu foi a Jaqueline: "E você também não faz isso com seus namorados? Sei que você tem mais de um, e não se importa de ficar beijando eles na frente do Lucas"
"Mas aí é homem e mulher, sua tapada! Não é como essa aberração do seu irmão com esse viadinho!"
Se me incomodou ser chamado de "viadinho" pela Sônia? Claro que sim. Mas o que esperar de uma homofóbica vadia como ela? Fiquei na minha e percebi que a Sônia ia continuar com o argumento preconceituoso, mas o juiz bateu na mesa e falou bem alto: "Ordem". Todos ficaram quietos, e a Lílian olhou feio pra Jaqueline, por ter provocado.
Amiga do céu, a tensão era simplesmente horrível.
Depois disso, veio a hora de nossa defesa. A Lílian já tinha deixado as coisas preparadas para esse momento, e foi quando ela contou sobre as chantagens da Sônia sobre o Nick, e chamou as testemunhas de duas em duas (para não virar bagunça – aliás, para não piorar a bagunça que já estava).
A conversa toda foi meio longa e repetitiva, então acho que basta dizer uma coisa: todos, sem exceção, desmentiram o que a louca disse (sobre abuso e atentado ao pudor), e confirmaram que já a viram fazer chantagens com o Nicolas usando o Lucas. Alguns disseram que já nos viram, sim, trocar beijos na frente do Lucas, mas que não eram nada além disso: beijos comuns que qualquer casal faria (de fato, nunca demos beijos quentes na frente do Lucas). Por um momento, achei que o juiz pudesse se incomodar com esse testemunho (afinal, somos dois homens, né), mas ele não pareceu considerar isso um problema (a Lílian disse que se o juiz demonstrasse qualquer homofobia poderia até ser afastado do cargo).
Algumas de nossas testemunhas (Dona Maionese, Claus e a própria mãe da megera) também disseram que já viram a Sônia falar mal do pai para que o Lucas não quisesse visitá-lo nos finais de semana. E o melhor: todos confirmaram que ela agiu que nem uma doida na frente da minha casa no outro dia, sem se importar com o bem estar do próprio filho, que esgoelava de tristeza.
Os amigos da Jack (Mariana e Samuel), os amigos do Nick (Ana e Saulo, da época do ensino médio), a Dona Maionese, todos confirmando que ela tinha essas atitudes (pois a conheciam há mais tempo que eu). E todos confirmaram que eu e o Nicolas sempre agimos de forma muito respeitosa na frente do Lucas... E lembra que te falei que até a mãe dela e o Claus depuseram a nosso favor? Bom, amiga... Pode ter certeza de que isso deixou a Sônia putinha da vida. Se ela tivesse poderes sobrenaturais, eu teria caído morto naquela sala de reuniões, de tanto que ela me fuzilava.
O que me deu pena é que a Dona Rosa chorava durante os depoimentos, coitada... Pedia desculpas à filha por estar contando a verdade, e falava que era pelo bem do neto. Essa mulher merece um troféu de caráter e coragem. Sério. O Pinguinho tem uma excelente avó! E não é homofóbica como a minha, o que é um alívio.
Ah, sim! Algo que eu sequer esperava era que o Claus viesse com a revelação de que me seguia antes. Tipo... Ele era um stalker, e isso não é bom perante os olhos da lei (aliás, não é bom perante os olhos de ninguém, porra!). Mas ele falou, na frente de todos, que fazia isso a pedido da própria Sônia, e contou como eu era legal com o Lucas. Contou sobre eu ser uma "boa pessoa" (isso porque ele não conhece meu lado sombra... Mas fiquei feliz por isso), assim como o Nicolas é um excelente pai.
O juiz (e o advogado ao lado dele) ouviu tudo, anotou algumas coisas, fez mais perguntas para mim e para o Nicolas, outras para a Sônia, e ela foi perdendo os argumentos. Ficou bem claro para todo mundo ali que as acusações eram falsas... O advogado dela, que é um senhor de meia-idade, recolheu as coisas numa pasta e apertou a mão do Nicolas (eu fiquei de queixo no chão). Parecia que ele estava quase se desculpando (não em palavras), e de saco cheio da Sônia, porque mal olhou para ela quando saiu da sala.
Então a cena da outra vez se repetiu: ela começou a berrar, garantindo que nos arrependeríamos. A mãe dela pedia que se comportasse enquanto um segurança fazia o que podia para ela não arranhar todo mundo ali. Em um determinado momento, a Dona Rosa chegou perto dela com um vidrinho de calmantes e pediu que ela tomasse.
E o que a megera fez? Deu um tapa na mão da própria mãe, e derrubou os comprimidos no chão.
Isso não me surpreendeu nem um pouco. Já vi a Sônia fazendo coisa bem pior... Mas essa atitude na frente do juiz pegou bem mal. O segurança a tirou da sala e levou não sei para onde, para que se acalmasse.
Sem ela berrando ali, conseguimos conversar mais tranquilamente, e o juiz finalmente decretou que... Tchan! Tchan! Tchan! A guarda do Lucas é totalmente do pai, Nicolas Rafael Belson! Sim! Exatamente isso! Rá!
Amiga, eu não sabia como conter minha felicidade, porque a vontade era de GRITAR MUITO naquele mesmo segundo... Mas me guardei na frente do juiz, e apenas dei um sorriso (enorme), assim como os outros.
A Jack deu uns pulinhos com a Mariana, e em seguida foi correndo abraçar o Nicolas, que estava com os olhos marejados, e os dois me puxaram junto. Ah, céus, que felicidade foi aquela...
Depois que todos os outros parabenizaram o Nicolas pela vitória, desejando felicidades, o juiz deu o alerta de que tanto os Belson quanto eu (o companheiro do pai – como eles me chamaram) ficaríamos numa espécie de período de observação, com acompanhamento do Lucas para verem se está tudo bem. Algo temporário, para terem certeza de que foi a melhor decisão.
Já sobre a Sônia, a Dona Rosa recebeu recomendações de interná-la numa clínica de reabilitação, pois precisa de uma recuperação supervisionada (ela estava usando coisas pesadas, e não vai conseguir parar sozinha). Quando a mãe dela disse que não teria como pagar, o Nick se prontificou a fazer isso (já que não vai mais precisar pagar pensão, teria meios isso – eu só não achei ruim porque, afinal de contas, é a mãe do Lucas).
Como nós ficamos um tempo lá ainda, ouvindo as recomendações finais do juiz, e depois com um papo furado com a Lílian, ouvimos algo que me arrepiou a espinha: um grito e depois um choro desesperado. Era a Sônia, provavelmente recebendo a notícia da internação... Foi realmente de gelar a alma, amiga. Ela estava pedindo para não a levarem, para deixarem que voltasse para casa, e que iria largar de vez... Quem ouvisse, pensaria que a estavam levando para a guilhotina. E a voz da Dona Rosa, bem mais baixa, dizendo que a amava, e que seria melhor para ela.
No fim, a Sônia saiu de lá forçada, porque nenhum dos argumentos a convenceram de ir à clínica de livre e espontânea vontade. Eu não presenciei a cena, apenas ouvi (não tinha como não ouvir).
Quando a Dona Rosa voltou para se despedir de nós (pois acompanharia a Sônia), estava aos prantos e com um terço nas mãos. Coitada... No fim das contas, ela acaba sempre tendo que lidar com aquela mulher complicada, né? Eu não consigo imaginar a minha mãe sendo tão devota assim a mim, nem que pagassem para isso.
E nem quero. Estou bem sem ela me enchendo o saco e me jogando na cara que eu sequer deveria ter nascido.
Ok, não quero pensar em coisas ruins agora.
Em seguida fomos, finalmente, até o destino mais desejado por todos nós nas últimas semanas: buscar o Lucas na casa da irmã de Dona Rosa! O Nicolas estava com um sorriso bobo na cara, ficava gritando "Yeah!" do nada, e fazendo piadinhas sem sentido o tempo todo. A pior delas foi quando ele perguntou, antes de entrarmos no carro, se a gente conhecia a piada do pônei. Ficamos quietos, esperando a resposta. E ele: "Pô, nei eu! Entenderam? Hahaha! Pônei... Eu! Hahaha!".
Ai Jesus... Sabe o que é pior? Eu ri que nem tonto, hehe... Aliás, não foi só eu, o Jonas também quase se mijou de rir com essa piada besta. Só a Jack que revirou os olhos e entrou no carro resmungando: "Xii... Começou. Se vocês derem bola pro meu irmão, ele vai contar umas ainda piores".
No caminho ele estava falante, mas era um tipo de falante que já percebi ser sinal de ansiedade. Quando chegamos na casa da tia-avó do Lucas, ela abriu a porta para que o Nicolas e eu entrássemos enquanto a Jack e Jonas ficaram no carro (ela tinha visto o sobrinho recentemente, então não estava desesperada como o Nick). A irmã de Dona Rosa é mais nova que ela, mas mora sozinha e tem alguns gatos (os bichanos me olharam feio, cruzes... Um deles até chiou pra mim... Devo ter um encosto, não é possível). A casa estava cheirando a empada de frango, e tinha alguns brinquedos jogados na sala (de criança, e de gato). Ela disse, quase cantando: "Lucaaas, adivinha quem veio te buscar?", e de algum cômodo de dentro da casa ouvi a voz do Pinguinho gritar: "Tia Jákiiiii". Então ela disse: "Errou! Vem dar uma olhada!".
Então o Lucas apareceu no corredor (num ponto em que eu não conseguia vê-lo, apenas o Nick), e ele deu um grito: "Paaaaaai". E o Nicolas foi de braços abertos até ele, com um sorriso de orelha a orelha.
Amiga, que cena linda...
Ah, caralho, como sou emotivo... Só de lembrar fico mexido.
Eu continuei parado perto da porta, fingindo que não estava chorando que nem um pirralho. Eu não queria que o Lucas me visse ainda... Aquele momento era deles. Pai e filho. E o Nicolas... Ah, amiga... O Nicolas o abraçava tanto, e chorava enquanto dava risada... O Lucas é criança demais para entender a importância daquele momento, então ficava apenas contando coisas que fez na casa da tia-avó, e de como ele acampou com o Tobias debaixo da mesa da sala (só depois descobri que Tobias é um dos gatos – o mais idoso e, portanto, o que menos tinha forças para fugir do Lucas). O Pinguinho estava incrivelmente empolgado, falando pelos cotovelos e com um boneco do Homem-aranha na mão pequena.
O Nick olhava o filho como quem venera um pequeno deus. Era lindo demais de ver... Lindo demais... Fico só imaginando o que se passava na cabeça dele... Provavelmente a constatação de que, a partir daquele momento, o Lucas estaria conosco para sempre! Ele prestava atenção a cada uma das bobeiras que o Lucas contava, todas irrelevantes mas, ao mesmo tempo, eram as bobeiras irrelevantes mais importantes do mundo.
As coisas não tinham muito nexo, pois ele ligava um fato no outro sem aviso, quase sempre com o Tobias no meio, e o Nicolas ia fazendo perguntas para mostrar que estava interessado. E o Lucas o puxava pela mão, mostrando isso e aquilo... Parecia que o Pinguinho tinha notado que estava recebendo toda a atenção, e aproveitou para contar sobre sua pequena enciclopédia de descobertas.
E eu ainda estava meio escondido, apenas apreciando a cena junto da tia-avó dele, que sorria comigo e fazia alguns comentários esporádicos explicando o contextos das aventuras do Lucas com o velho gato.
Depois de uns minutos assim, ouvi a voz do Nicolas num dos quartos: "Não foi só eu que vim te buscar, sabia? Adivinha quem veio comigo?". Por um momento, fez-se silêncio. Ouvi pai e filho cochichando, e logo em seguida o Lucas explodiu, de onde estava, sem sequer ter me visto: "Tiiiio Dáquiiiiii".
Ah, meu Deus... Queria não ter sido tão fraco, mas foi difícil. O Lucas finalmente me encontrou, escondido perto da porta, e abraçou minha cintura (é só até onde ele alcança) enquanto olhava para mim com aquelas safiras cintilantes de criança e os dentinhos de leite à mostra num sorriso encantador. Depois, para que ele não me visse chorando também, dei uma rosnada de dinossauro e disse que o pegaria. Saí correndo com o Lucas pela casa, fingindo que não o alcançava, e sempre que chegava perto o enchia de cócegas, para que não visse meus olhos úmidos. Tentei, ao máximo, fazer coisas que gerasse risos, senão acabaria chorando que nem bobo (ok, sei que chorar não é bobo, mas eu não queria que o Lucas confundisse com tristeza... Ele precisava entender que eu estava hiper contente em vê-lo, entende?).
Nesse meio tempo em que fiquei correndo com ele, ouvi o Nicolas resumindo as coisas da audiência para a irmã da Dona Rosa. Ouvi-a lamentando pela sobrinha internada, e finalmente parabenizando-o pela guarda definitiva do Pinguinho. "Vai ser melhor assim", ela disse.
Tanto nós quanto a Jaqueline e o Jonas fomos convidados para comer as empadas de frango (ainda bem, porque o cheiro estava tão irresistível que eu morreria de lombriga se não comesse) e, enquanto comíamos, agradecemos a hospitalidade dela para com o Lucas.
E sabe o que aconteceu? Ela acabou se emocionando também. Nessa hora o Lucas soltou uma das pérolas imprevisíveis dele: "Credo, deve ser horrível ser adulto... Vocês só ficam chorando!". É claro que ele falou isso no dialeto especial "Luquês" dele, mas fez geral gargalhar. Ou seja: ficamos que nem tontos fazendo força para esconder as lágrimas, mas o Lucas tinha percebido tudo.
As pequenas convivências de finais de semana que tínhamos com ele fez eu aprender uma coisa: a gente subestima demais criança pequena. Achamos que eles são bobos, mas isso faz com que a gente tenha atitudes que fazem eles pensarem que os adultos é que são bobos.
E começo a pensar que somos, mesmo.
Enfim. Depois que terminamos de rir do comentário (mais do que verídico) do Lucas, a tia-avó dele nos contou que tinha se acostumado com a presença do Pinguinho ali, e que seria triste ter a casa somente para ela e os gatos de novo.
Eu faço uma pequena ideia de como deve ser... O Lucas tem esse poder incrível de trazer luz por onde passa. É uma peste doce e carinhosa, e não tem como não amar esse menino (mesmo quando ele olha para você com a cara cheia de catchup e abre a boca para mostrar o frango mastigado... Argh!).
De boa, amiga... Mal dá para acreditar que aquele anjinho iluminado é filho daquela monstra... A salvação do Lucas é, de fato, ter uma avó presente e atenciosa com a Dona Rosa. E nesse ponto me identifico com ele, pois se não fosse a minha, eu teria sido largado na sarjeta, ou algo do tipo (mesmo com aquelas opiniões complicadas sobre mim, sou grato a ela).
Quando terminamos de comer reunimos as coisas do Lucas que estavam lá e colocamos no porta-malas do carro. Nos despedimos e fomos, ainda em dois carros (o Lucas comigo e com o Nick), comemorar a decisão do juiz. O destino era um shopping de Eloporto que eu ainda nao conhecia (tem vários shoppings lá... Te contei que aquela cidade é enorme, né? Então).
No caminho, o Lucas perguntou sobre a mãe, e tivemos que falar, novamente, que ela está "dodói", e que vai precisar de uns dias para se curar (o que não é de todo mentira). Para mudar de assunto, o Nick falou: "Sabia que agora você vai morar comigo e com a tia Jack para sempre?", e o Lucas comemorou no banco de trás, depois respondeu com outra pergunta: "E a vovó vai junto?".
Aiai... Isso foi meio triste, porque tivemos que responder que não, né... Então o Pinguinho ficou mais quieto, e o Nick perguntou o que era. A resposta veio como se fosse a coisa mais natural do mundo: "Acho que tem cebola dentro de mim". Eu e o Nick nos olhamos, sem entender, e eu me virei no banco do carro, para olhar melhor o Lucas:
"Cebola? Por que?"
"É que a outra vovó disse que a cebola faz ela chorar".
A propósito, "a outra vovó" é a irmã de Dona Rosa, onde ele estava.
"E você está querendo chorar, Lucas?", perguntei, dando uma espiada no Nick. Ele estava quieto, com os olhos no trânsito, mas prestava atenção na conversa.
"Agora não. Mas antes eu tava... Tinha sintoma de saudade em mim."
Meu coração se apertou, mas fingi um riso fraco e perguntei: "E como é o sintoma de saudade?"
"É quando a gente quer abraçar, mas não pode."
Foi quando meu coração finalmente quebrou. O Nick não tirou os olhos do trânsito enquanto franzia a testa. Era como se as falas do Lucas tivessem causado nele uma dor horrível. Ele deu a seta e estacionou no acostamento da pista. Ainda não tínhamos chegado, mas logo entendi a intenção do Nick, pois saiu do carro, abriu a porta de trás, e falou: "Vem cá, filho".
Dessa vez ele não fez força para esconder as lágrimas. Nem eu.
"Ah, Lucas... Papai também estava com uma cebola enorme aqui dentro... Eu também estava cheio de sintoma de saudade!"
"Mas agora tá tudo bem, pai. Eu tô aqui."
"Eu sei, filho... Eu sei... Te amo, viu Lucas? Papai te ama muito!"
O Nicolas continuou abraçando o Lucas, secando as lágrimas (que voltavam a escorrer), enquanto o Pinguinho meio que consolava ele com aquelas mãozinhas pequenas. Era a coisa mais fofa do mundo.
Até que o Lucas me olhou.
"Xi, pai... Acho que o Tio Dáqui também tá com cebola dentro dele!"
Ah, Deus. Eu não mereço esse menino. Fui lá, e o abracei também. Nessa hora a Jack ligou. Pela conversa que ouvi por parte do Nick, deu a entender que ela se preocupou ao não nos ver seguindo-os na pista. O Nick explicou de forma resumida, e depois de abraçar o Lucas mais uma vez e beijar-lhe a testa, voltou para o banco do motorista.
Olhei para o Lucas, e depois para o Nick: "Eu vou ficar aqui atrás com ele, tá?". Em resposta, meu namorado lindo e maravilhoso apenas sorriu e me deu um beijo na boca.
Ah, como eu o amo... E ao Lucas também (quem me viu, e quem me vê, hein!).
Faltava ainda um bom trecho até chegarmos no shopping de Eloporto. Nesse meio tempo fiquei conversando banalidades com o Lucas, perguntando sobre a escolinha, sobre as "aventuras" dele com o velho Tobias... Enfim, fiz o possível para distraí-lo ao máximo, falando apenas de coisas legais e de como ia ser incrível tê-lo morando perto de mim o tempo todo.
"Mas sua casa é muito vazia, tio Dáqui. Não tem nem sofá pra eu ver desenho".
Não teve como não rir. Se fosse antes de conhecê-lo bem, eu provavelmente teria me irritado (algo do tipo "como um pirralho de quatro anos ousa reclamar de minha casa sem mobílias?"), mas como já me acostumei com o Lucas, apenas expliquei que minha casa estava "em construção", e que logo teria um sofá para ele (sério mesmo, eu adoraria poder comprar um logo).
Ao chegarmos no shopping de Eloporto nos encontramos com o Jonas e Jaqueline, que quiseram saber melhor o que tinha acontecido para termos parado no caminho. Contamos sobre a "cebola" dentro do Lucas, e ela só não gargalhou porque ficou com pena, e foi abraçá-lo também, seguida do Jonas. O Lucas acabou soltando essa: "Meu Deus, eu devo ter ficado famoso! Todo mundo quer me abraçar hoje!"
Fala sério, o Lucas é maravilhoso.
A primeira coisa que fizemos ao entrar no Shopping foi ir até o banheiro. Depois, no caminho que fizemos, fiquei olhando em volta, encantado. Até hoje, eu nunca tinha entrado lá. É um shopping meio famosinho na região, maior do que qualquer um que eu já tenha visto antes, e com mais corredores e seções do que eu aguentaria andar num dia. Só a praça de alimentação devia ter o tamanho do shopping de minha antiga cidade.
O Lucas parecia ter esquecido a cebola e os sintomas de saudade, pois estava radiante, gritando "Olha lá" para todas as coisas diferentes que via.
"Ele também não conhecia aqui?", perguntei para o Nick.
"Ele já veio uma vez comigo, mas faz tempo. Duvido que se lembraria".
Enquanto andávamos, meio que sem rumo, passamos por incontáveis lojas (claro, dãã... Era a porra de um shopping!) e havia algumas pequenas "ilhas" com bancas de comida ou itens de luxo, como relógios e joias que custavam meu rim (pareciam ilhas mesmo, pois ficavam sobre carpetes verdes imitando grama, com coqueiros relativamente altos plantados em buracos no chão), e em algumas dessas ilhas havia até mini parquinhos, com escorregadores de plástico, balanços, túneis em forma de minhocas e gira-gira. Apenas para crianças pequenas. O Lucas chegou a insistir que brincássemos com ele, mas tudo o que podíamos fazer era acompanhar de fora e tirar fotos de nosso Pinguinho loirinho e sorridente.
Deixamos que ele brincasse alguns minutos ali, depois o chamamos para continuarmos, pois o destino final era uma pizzaria que a Jaqueline gosta e que fica no lado oposto do Shopping.
Em certo momento, fiquei mais para trás de propósito, ao lado da Jaqueline e do Jonas, enquanto o Nicolas e o Lucas andavam mais na frente. Aquele homem lindo, segurando a mãozinha daquela criança encantadora, chamava atenção. Notei mais de uma vez mulheres encarando-o com algo que só sei descrever de uma forma: desejo. E lá atrás, eu secretamente pensava "Olhem à vontade, mas quem pode tocá-lo da forma como querem sou eu! Apenas eu!". Sei que parece possessivo, mas... É verdade, não é?
Eu continuei admirado com o local, olhando para todos os lados, e finalmente senti um pouco de ciúme quando duas moças esticaram o olhar um pouco mais e piscaram para meu namorado. Quando vi isso, me adiantei e segurei a outra mão do Nicolas, que nem deve ter notado a cantada das moças. Ele entrelaçou os dedos nos meus sem se sentir intimidado pelos olhares intrometidos que isso despertou (deviam estar pensando algo como: "Oh, um casal gay de mãos dadas num shopping, meu Deus, tenho que olhar"... Ah, vão todos tomar no cu... Eu não sou animal de zoológico!).
No fim das contas, quem se sentiu envergonhado fui eu. Não por estar andando de mãos dadas com um homem, de jeito nenhum (tenho orgulho de mostrar meu namorado gostoso e lindo). Mas o problema é ter gente me olhando. Agora pensando, nem é pelo fato de as pessoas notarem que sou gay. Acho que, mesmo se fosse a Jack ali, fingindo ser minha namorada, eu ficaria desconfortável se tivesse olhares sobre mim.
Então, não é por eu ser um cara homossexual. É por eu ser... Eu. Nunca gostei que me olhassem muito. Me sinto invadido. Observado. Como se o fato de as pessoas me olharem demais fosse fazê-las notar a coisas ruins que moram nos confins mais abissais de meu ser, e isso fosse fazê-las sentir nojo ou repulsa por mim.
Sei que tanto você quanto a Jack e o Nicolas diriam que sou bobo, para eu não pensar assim, e coisas do tipo. Mas senti isso muito forte hoje, andando de mãos dadas com o Nicolas. E realmente, parece que esse trio (Lucas, Nicolas e eu) chamou ainda mais atenção. Quando era apenas o Nick e o Pinguinho eu até entendia (olhavam por ser um pai e filho lindos). Mas quando a equação me incluiu, fiquei com sinceras desconfianças dos motivos pelos quais as pessoas encaravam.
Quando chegamos na pizzaria, o Jonas fez questão de escolher um local mais afastado para sentarmos, onde havia uma espécie de varanda que dava vista para o jardim externo do Shopping. E nossa mesa ficava perto de outro parquinho infantil cheio de túneis de plástico e piscinas de bolinha (eu fico abismado de como tem opções para crianças pequenas nesses lugares hoje em dia).
Como ainda não estávamos com fome (tínhamos recém comigo empadas de frango) pedimos apenas uma porção de batata frita e... Uma torre de chopp.
Eu já vi diversas vezes pessoas pedindo isso, mas nunca estive numa mesa com torre de chopp. Talvez as pessoas me achem cafona por isso, ou uns podem me achar "bicho do mato" por não provar as coisas, mas... Tem dois fatos que fazem com que eu nunca tenha vivido essa pequena experiência: primeiro, que nunca tive uma roda de amigos. A Hellen não conta como amiga mas, mesmo assim, sempre que íamos no shopping procurávamos restaurantes que nos deixassem tomar refrigerante ou suco à vontade, sabe? E o segundo fato pelo qual nunca testei uma torre de chopp é pelas consequências sempre catastróficas que o álcool tem em mim (e que você conhece muito bem, amiga).
No momento em que a Jack pedia, espiei o Nicolas, e notei que ele já estava me olhando. Ele disse: "Não precisa tomar, se não quiser... Mas, caso queira, não te deixo exagerar."
Olha... Mesmo com ele dizendo isso, me deu um gelo na espinha. Se bem que, das vezes que fiz besteira, eu não tinha tomado chopp, nem cerveja. Eu havia ido direto para vodka e batidas... Um bestão total, eu sei. Mas essas experiências me fizeram temer até uma "inocente" taça de chopp.
Como o Lucas iria tomar suco, eu fui no embalo e pedi um de laranja sem açúcar (na verdade, o Pinguinho queria refrigerante, mas o Nicolas não gosta que ele tome isso). Quando a torre de chopp chegou (muito mais rápida que os sucos) não arrisquei uma taça para mim, mas dei umas bebericadas na do Nicolas.
Poucos minutos depois, os dois casais de amigos dos gêmeos chegaram e puxaram outra mesa para colar na nossa. Mariana com Samuel, Ana com Saulo, Jack com Jonas, eu com o Nicolas, e o Lucas de mascote. Acho que de todas as mesas daquela pizzaria, a nossa era a mais animada. O Lucas chegou até a fazer uma coleguinha no parquinho, o que o ajudou a se distrair (mas notei que o Nicolas estava sempre de olho, feito uma águia – me pergunto se essa coisa vem por instinto, ou se eu também posso aprender a ser assim para ajudar na criação do Lucas).
Meu namorado (incrível, gostoso, admirável, lindo de morrer) estava tão relaxado na cadeira... Rindo e falando bobeiras, que aos poucos fui me sentindo relaxado também. Naquele momento parecia que não existiam problemas, apenas alegria (só teve um incidente em que o Lucas tropeçou na piscina de bolinhas e ralou o cotovelo, mas logo o choro passou e ele voltou a brincar com a menina).
No fim, pedimos as pizzas (depois de tanta conversa, e sentindo o cheiro bom das outras mesas, acabou abrindo o apetite) e continuamos conversando, dessa vez com o Lucas brincando na mesa com o boneco de super-herói dele. É incrível como crianças conseguem mergulhar numa realidade paralela, mesmo que o mundo esteja caindo ao redor (não que estivesse caindo... Foi apenas força de expressão).
Ficamos todos conversando durante um tempo, falando sobre filmes, depois sobre atores e atrizes que sumiram do mapa (o Saulo tinha algumas "teorias da conspiração" para explicar isso), até que finalmente o Jonas deu umas batidinhas na taça com um talher, para chamar nossa atenção. Ele parecia meio tenso, e isso deixou a Jaqueline meio curiosa e meio preocupada.
"Então, é que... Eu estava querendo fazer isso há tempos, mas a situação estava muito delicada... Então agora eu...", ele não terminou a frase. Em vez disso ele se levantou da cadeira e olhou para a Jack, que era a personificação de uma interrogação. Amiga, estava meio tenso. Mas então, ele se ajoelhou ao lado dela... Ah, meu Deus! Ele se ajoelhou e tirou do bolso uma caixinha... E ao abri-la havia um anel! Aaahh! Foi tão lindo... A Jack ficou com os olhos arregalados por vários segundos (e a boca também), até que ele finalmente desembuchou: "... Jaqueline Belson, gostaria de me dar a honra de ser minha esposa?".
Mano do céu, foi demais! Hahahaha! Dei uma espiada no Nicolas, e ele estava quase que espelhando a expressão da irmã. Bem hilário. Quando a Jaqueline saiu do entorpecimento, pegou o anel e segurou a mão do Jonas: "Você sabe que sim, bobo".
Então todos aplaudimos enquanto eles trocavam um beijo daqueles que eu não teria coragem de dar em público. O Lucas perguntou no meio da barulheira dos parabéns: "O que foi? O tio fez aniversário?", e o Nick explicou que a tia Jack iria se casar. E a resposta do Pinguinho foi apenas essa: "Ah, tá. Posso tomar refrigerante agora?"
Eu morri de dar risada. E todo mundo estava alegre também, principalmente o Nicolas, como há muito eu não via. Ele até abriu uma exceção e atendeu ao pedido do Lucas (que começou a fazer birra), mas deixou claro que não permitiria sempre.
Enquanto o Lucas tomava só uns quatro goles de refrigerante (porque já estava entupido de suco, batata e pizza), começamos a fazer perguntas ao casal de noivos. E isso foi até meio engraçado, porque eles mal haviam noivado, e já estávamos perguntando a data, local de festa e cor da decoração. No fim, o Jonas disse que pensava em algo para o início do ano que vem, e a Jack completou falando que antes do carnaval seria uma boa ideia, para "estender a comemoração".
As conversas seguiram, e eles pediram outra torre de chopp para comemorar o noivado. O Lucas se entediou da mesa, e voltou para os tubos de escorregadores coloridos que tem na pizzaria. Naquele momento, eu comecei a me desligar um pouco da conversa, e saí da mesa. Fui até o cercado da piscina de bolinhas e fiquei olhando o Lucas brincar. Quando ele percebeu que eu estava olhando-o, começou a fazer mais gracinhas para eu rir, e ficava mostrando como as bolinhas se espalhavam quando ele pulava nelas.
Continuei interagindo com ele, e até aplaudindo algumas vezes, mas minha cabeça estava no casamento. Mas não o casamento da Jack... Fiquei pensando em mim e no Nicolas, sabe? Sei lá... Deu uma pontadinha de inveja saber que eles vão se casar. Mas a inveja inofensiva, não aquela inveja ruim. Porque eu estou, de verdade, muito feliz pela Jack.
É só que... Ah, sei lá, amiga. Parece até que sou muito "esfomeado" ao dizer isso, mas... Antes eu queria ser mais do que um simples vizinho para o Nicolas, e agora sou namorado dele. Mas agora estou começando a querer algo a mais também. É muito bobo de minha parte? Sei que eu mesmo poderia sugerir de nos casarmos, mas tenho medo que ele pense que sou apressado demais. Bom, veremos. Quem sabe no dia do casamento da Jack eu não dê uma indireta a ele, não é? Sei que vai demorar um pouco até lá (eles disseram carnaval do ano que vem), mas o tempo tem passado voando. E quando eu menos esperar, já estarei vendo minha cunhada com um vestidão de noiva.
É isso. Está decidido. No dia do casamento da Jack eu vou falar com o Nicolas sobre fazermos o mesmo.
Mas enfim... Era nisso que meus pensamentos estavam mergulhados naquela hora, enquanto eu assistia o Lucas brincar. Nessa hora, levei um susto. O Nicolas surgiu atrás de mim de repente, e beijou minha bochecha: "Ei, tudo bem?"
"Aham. Só estou querendo um pouco de tranquilidade agora. Já cansei de momentos sociais por hoje. Está sendo um dia mais longo do que minhas energias aguentam."
O Nicolas riu disso. Ele sabe que eu não sou acostumado com esse tipo de ambiente (mesa cheia de gente barulhenta por causa da bebedeira), sem falar que mais cedo havíamos feito faxina na Casa das Flores, havíamos ido na cada de Dona Rosa, e teve a audiência, que foi umas das coisas que mais me drenaram energia. O Nick beijou minha bochecha outra vez e falou: "E se nos despedirmos do pessoal e formos dar mais uma volta pelas lojas? Podemos comprar uns brinquedos novos pro Lucas e depois voltar para casa... Aí ficamos só nós três, sossegados..."
Nem preciso dizer que achei aquela ideia perfeita, né... Afinal, o motivo inicial da comemoração era pela guarda do Lucas ter passado ao Nicolas. E naquele momento os "vivas" de nossa mesa já eram pelo noivado.
Não que isso seja ruim. Como eu disse, estou feliz pela Jack e Jonas. Mas meu coração não estava ali. E pelo que notei, o do Nicolas também não. Ele abraçou minha cintura e ficou assistindo, junto comigo, o Pinguinho brincar. Isso obviamente deixou o Lucas mais contente ainda, e ele gritava o tempo todo: "Pai, tio Dáki, olha isso!", e fazia alguma tentativa de acrobacia que, na imaginação dele, havia sido incrível. Mesmo assim, fingíamos ter achado surpreendente, e dávamos a ele toda atenção que não foi possível em tanto tempo.
Num certo momento, quando o Lucas estava mais distraído brincando com outras crianças, o Nicolas me abraçou e beijou o topo de minha cabeça. Ele sussurrou um eu te amo tão baixo que quase pensei ter sido minha imaginação. Mas em seguida ele me olhou e disse: "Ouviu? Eu te amo, Zak... As coisas vão ser diferentes agora."
"Eu também te amo, Nick... Amo vocês dois", e olhei para o Lucas, que não estava prestando atenção em nós.
Ele me abraçou de novo: "Obrigado... Obrigado por aceitar o Lucas em sua vida, junto comigo... Obrigado, Zak!"
A voz dele estava embargada. Aquele dia estava sendo tão cheio desses momentos de quase choro que estava começando a ficar difícil de segurar, porque a todo momento meu coração ardia. O que eu mais estava sentindo (não só aquela hora, mas agora, enquanto escrevo) era gratidão. Gratidão pelas coisas terem dado certo entre o Nicolas e o Lucas. Entre o Nicolas e eu... É claro que isso não apaga a mancha que eu mesmo fiz em meu passado, mas... Ah, Deus! Só tenho a agradecer por ele ter me perdoado e me aceitado de volta.
Nessa hora, ele me deu um beijo na boca. Era apenas um selinho, mas senti a língua dele tocando de leve meu lábio. Isso me deu um arrepio, e me lembrei que estávamos numa pizzaria cheia de gente. Então afastei nossos lábios: "Na frente de tanta gente não, Nick". No momento seguinte, um assovio. Era a Jack, da mesa, provocando a gente: "Aêêê! Continuem! Nick, pega na bundinha dele por miiiim!"
Ah, porra, isso me deu uma vergonha que você não tem noção... Ela estava super chapada.
Como se isso tivesse sido nossa deixa, chamamos o Lucas e fomos nos despedir do pessoal, explicando que iríamos dar uma volta pelo shopping, e depois iríamos embora. Quando fui me despedir de minha cunhada, ela fez aquela coisa do dia que nos conhecemos: segurou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho (um pouco do batom dela ficou em minha boca). Lembro até hoje o choque que isso foi naquele dia da piscina, meses atrás. Mas agora que já conheço melhor a Jack, não fiquei chocado. Apenas surpreso. E ela me puxou para cochichar: "Que bom que fizeram as pazes, Dáki, isso me deixa aliviada... Agora vai lá e dá um trato no meu irmão, seu cunhado gostoso."
É, ela estava mesmo chapada, porque ao dizer isso também apertou minha bunda, depois caiu na gargalhada. O Lucas também ganhou uma marca de batom da Jack, mas a dele foi na testa, em vez da boca.
Quando saímos da pizzaria, o Lucas perguntou: "Pai, a tia Jáki tá bêuba?". Eu tive que tossir, para não dar risada, mas o Nicolas fechou a cara, explicando que ela estava "só um pouco". Então, qualquer vontade de rir se foi porque o Nick comentou, ainda olhando para o Lucas, que o álcool deixa os adultos "muito bobos" (imagino que ele teria preferido um xingamento mais forte, mas por estar falando com o Pinguinho, acabou amenizando). Fico agora me perguntando se foi uma indireta para mim, ou se ele de fato estava apenas educando o filho sobre os efeitos da bebida.
Bom, não importa. No fim das contas, ele esta certo de qualquer maneira.
Ao entrar na loja de brinquedos, me deu uma coisa estranha. Amiga, fazia anos que eu não entrava em uma. E, só para que fique claro: meus pais nunca entraram comigo num shopping (muito menos em uma loja de brinquedos), então todas as minhas experiências em locais assim foi graças a minha avó, ou a mim mesmo, pois tinha uma perto de casa quando eu era criança (não tão perto assim, mas o suficiente para dois pirralhos de doze anos irem sozinhos – eu e a piranha da Hellen).
Estar numa loja de brinquedos tão grande com o Nicolas e o Lucas foi meio que mágico. Parecia que tinha um gelinho no peito, pois era tudo tão colorido e lúdico! É claro que eu não tenho as mesmas vontades de antes, e não são mais as mesmas coisas que fazem meus olhos brilharem... Mas com certeza lojas de brinquedos ainda têm lá seus efeitos num cara de vinte e um anos. Com certeza.
O Lucas já entrou pulando, puxando o Nicolas e a mim pelas mãos, mostrando tudo o que ele queria (basicamente, a loja toda), então o Nick disse que só poderiam pegar algumas coisas, e que não poderiam ser muito caras. E o Lucas apenas concordou, sem birra (me deu vontade de morder a bochecha dele).
Enquanto a gente ia andando pelos corredores, fiquei observando o Nick de longe. Fazia tanto tempo que pai e filho não se reuniam, que acabei ficando um pouco atrás de propósito, fingindo estar muito interessando num kit de soldados com tanque de guerra (mentira, não era fingimento... Aquela coisa era legal pra caralho, mas caro demais).
O que eu mais gostei de ver foi o sorriso do Nicolas. Naquele momento, deu para ver que eram sorrisos verdadeiros, sem nenhum fingimento. Num momento ele sentou no chão com o Lucas, na frente de uma das prateleiras, e ficaram decidindo qual quebra-cabeças levariam. Havia uma variedade enorme de imagens e diferentes quantidades de peças, então tanto pai quanto filho estavam com sérias dúvidas. E como eles estavam sentados, de costas para a prateleira de trás, não viram um conjunto de quebra-cabeças 3D feito em madeira. Acabei pegando um em forma de dinossauro (cento e cinquenta peças) e mostrando para eles. Amiga, o Lucas pirou. Ele disse: "Meu Jesuzinho amado!", e a gente caiu na gargalhada, porque esse é um bordão da tia-avó do Lucas. Ele deve ter pego dela, ao ficar tanto tempo lá.
No fim, saímos de lá com dois quebra cabeças 3D (o dinossauro e um navio, que o Nick amou), uma caixa de blocos de montar, e uma bicicletinha com rodinhas auxiliares para o Lucas. Ah, sim! E um baralho... Eu não gosto muito de jogos de cartas, mas o Nick insistiu que seria divertido em grupo.
Bom, pode até ser... Desde que não seja aqueles estilos em que "aquele que perder paga mico". Sei lá, acho isso meio tenso. Nem comentei com o Nicolas para não dar ideia.
No carro, de volta, sentei ao lado do Nicolas, pois o Lucas já estava bem animado. Estava ansioso para chegar logo na Casa das Flores e poder andar de bicicleta (que foi o que mais brilhou os olhos dele), então assim que chegamos ele mal aguentou esperar até abrirmos o portãozinho. Antes de entrarmos pela porta ele já estava pedalando pelo corredor externo, dando uma volta nos fundos e depois voltando para a varanda (e ficou neste ciclo por vários minutos). Eu e o Nick ficamos com ele por um tempo, brincando de fazer obstáculos para ele passar. Depois o Nicolas pegou na sacola um dos quebra-cabeças 3D (o de dinossauro, que o Lucas gostou) e sugeriu de irem montar.
A verdade era que o Nick estava só o pó (foi um dia longo pra caralho), e queria ficar de boa na sala, fazendo algo tranquilo.
Ele colocou uma música nacional para tocar (acho que era "O Teatro Mágico") e espalhamos as peças de madeira no chão da sala. E acabei vendo uma coisa que é raro demais de ver, raro demais... Enquanto o Nicolas se concentrava com o Lucas, procurando as peças, ele ia cantando a música, baixinho. Eles estavam tão distraídos que não devem ter me notado assistindo-os. Aliás, desde que pegamos o Lucas foi basicamente isso que fiz boa parte do tempo: ficar vendo os dois.
O que passava em minha cabeça o tempo todo era: Finalmente! Finalmente a tranquilidade e, para mim, finalmente estar com quem eu amo, e sorrindo novamente.
Eu não esqueci minha culpa, e sei que o Nicolas também não. Mas depois de nossa conversa nesse fim de semana e, principalmente, depois da alegria de hoje, a tristeza que eu sentia pelas merdas que fiz não existe mais. Sobrou só a consciência de que devo melhorar (e muito!) como pessoa para merecer estar com esses dois anjos incríveis (aliás... três anjos, pois a Jack também conta).
Então. Você se lembra que no início deste e-mail eu falei que estava nos fundos da Casa das Flores por um bom motivo? É que os dois acabaram pegando no sono, lá na sala. O Nicolas havia colocado uma almofada no chão, para ajudar o Lucas com as peças "em uma posição mais confortável", e acabou capotando. O Lucas ficou comigo mais uns minutos, encaixando uma peça ou outra, e depois falou: "Tio Dáki, vou fechar o olho um pouco", e capotou junto, deitado no braço forte do pai.
Eu me afastei um pouco e fiquei olhando a cena por vários minutos (depois de tirar uma foto, claro), e depois resolvi vir para os fundos a fim de escrever sem acordá-los.
Agora quem está cansado sou eu... Acabei ficando bastante tempo digitando, e minhas costas estão trituradas. Vou ver como eles estão, comer alguma coisa e depois dormir.
Espero que este seja apenas o primeiro de muitos (e muitos!) dias felizes.
Sei que às vezes falo que sou um ímã de azar, mas... Porra, neste momento só consigo pensar que sou o cara mais sortudo do mundo!
Boa noite, amiga! Que sua vida seja repleta de luz!
🌹
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Para me ajudar, poderia responder a estas perguntas?
1) Qual foi o sentimento predominante que sentiu ao ler este capítulo?
2) Como posso deixar este capítulo melhor?
3) Votaria neste capítulo? ^_^
Muito obrigada por acompanhar meu trabalho!
K I S S E S ~ K I S S E S
Lyan K. Levian
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