10 de Setembro, 2018 - Segunda (22h58)
ATENÇÃO: este capítulo ainda não foi revisado. Então o que você está prestes a ler é a primeira versão, ok?
A versão final deste livro receberá ILUSTRAÇÕES NO ESTILO MANGÁ em alguns capítulos (não todos).
Como pode ver, o projeto é ousado... Ficará pronto apenas lá pelo final de 2021.
Por isso PEÇO AJUDA para que você seja MY BETA READER: ao encontrar erros, palavras repetidas, cenas confusas, problemas de continuidade (ou qualquer coisa que interrompa o fluxo de leitura), pode comentar sem medo. Serei grata pela ajuda.
Você está acompanhando o nascimento de um livro! ^_^
10 de Setembro, 2018 – Segunda (22h58)
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Conversa inesperada
Ah, amiga... Queria que houvesse um manual para entender as pessoas. Principalmente, o meu namorado.
Mas vamos por partes, né.
Hoje cedo a Jaqueline foi buscar o Lucas na casa da Sônia para levar ele na escolinha, porque a infeliz daquela mulher nem isso mais tem feito pelo filho. Antes ela sempre levava mas, como você sabe, de uns tempos pra cá ela está endoidando. Se depender da megera, o Lucas acabaria mofando naquela casa. E na hora do almoço, quando a Jack foi buscá-lo, o Pinguinho já tinha voltado com a Sônia. Provavelmente ela fez isso com medo de o trazermos para cá.
A professora diz estar preocupada com o desempenho dele. Quase não faz lição, se distrai fácil, grita com os coleguinhas e às vezes bate neles... Enfim. As ações descabeçadas da mãe estão repercutindo nele, e isso é perigoso.
Agora, olha que bizarro... No período da tarde, enquanto eu estava terminando uns anúncios online para a Belson's Flora, tive que atender a uma chamada no celular da floricultura, porque a Jack estava ocupada arrumando uma remessa de girassóis perto da entrada, e o Jonas estava descarregando uns vasos de frésias (e o Nicolas tem faculdade de manhã até o fim da tarde). Para minha surpresa, ouvi uma voz preguiçosa e familiar: "É o esquisito? Aêêê, era contigo mesmo que eu queria falaaar".
Nem preciso dizer quem era, né? O que me deixou apreensivo foi que o Claus pediu que eu o encontrasse num endereço do outro lado de Vale do Ocaso. Essa cidade é pequena, mas minha casa fica praticamente do lado oposto do lugar onde ele marcou. Quando ele percebeu que eu estava dando desculpas para não ir, ele disse: "Relaaaxa, brother... Só quero bater um papo contiiigo. E traz grana pra gente bater um raaango, falow? Ah! Não comenta nada com tua cunhada, senão ela vai pensar que tô tramaaando...".
Agora me diz, amiga: quem em sã consciência iria num lugar do outro lado da cidade com o irmão da mulher que quer tua cabeça numa bandeja? Ninguém, né? Mas quem disse que eu tenho minha consciência sã? Não sei se foi a coragem (ou só curiosidade, mesmo), mas acabei indo. Falei para a Jack que iria dar uma volta de bike, para espairecer um pouco, e ela nem questionou.
Enquanto seguia pro endereço, fiquei pensando que tipo de lugar seria. Passou pela minha cabeça que pudesse ser um ferro velho, ou um prédio abandonado. Se fosse, eu daria meia-volta antes mesmo de ele me ver. Mas para a minha surpresa, o lugar era uma lanchonete relativamente bem movimentada. Mas a surpresa maior mesmo foi quando vi o Claus. Ele quase parecia outra pessoa: não estava imundo, as olheiras tinham diminuído, e os olhos não estavam tão vermelhos. Eu quase confundiria ele com um cara comum. Em vez de me cumprimentar, ele disse: "Trouxe a grana?", e eu mostrei uma nota de cinquenta para ele, já pensando em quanta maconha seria comprada com aquilo. Mas ele não pegou e disse: "Beleeeza, porque tô com fome. Cê que paga, vamo!". E entramos na lanchonete.
No início ele só ficou quieto enquanto escolhia três lanches do cardápio. Para mim, peguei só uma porção de fritas para fingir que estava acompanhando (a tensão era tanta que, se pedisse lanche, acabaria em congestão). Depois, enquanto ele comia, finalmente revelou a intenção dele: "Já faz um tempo que tô na tua cooola, cê sabe, né? A mana pediu pra eu ficar de ooolho. E isso porque o Luquinha só falava do tal tio Dáki, então fiquei cismaaado, tá ligado? Nunca ninguém tinha ficado tão perto deeele e dos Beeelson. No início te achei esquisitããão... Aliás, ainda aaacho, brother. Mas tô tentando entender como cê conseguiu quebrar o gelo até do pai do Lu. Cê não tem noção, eu sempre achei que o Nicolas estava ainda a fim da maaana".
Eram muitas informações para pouco Isaac, mas fiquei ouvindo. Eu não tinha nada o que responder, então ia roendo as batatas lentamente, esperando que apenas o Claus falasse. Se aquele cara me achava esquisito, o que ele era? Putz, o doido ficava de tocaia me espionando até uns dias atrás... Dava medo.
"E do naaada o Nicolas pá! Começou a gostar da outra fruuuta... E ele ainda não quer que eu te chame de esquisiiito. Por isso que te chamei aquiii, brother. Quero entender o que ele e o Luquinha viram num moleque gótico e sem sal que nem vocêêê".
Nessa hora dei de ombros e respondi com a maior sinceridade do mundo: "Não faço ideia". Não sei como um cara como o Nicolas consegue preferir a mim quando tem carisma e beleza para atrair qualquer um pros pés dele.
Então ele começou a perguntar como nos conhecemos, e eu dei uma resumida sobre o primeiro jornal que o Nicolas levou (o mesmo que denunciou nosso relacionamento para a Sônia), e sobre a festa de boas vindas, de quando a Jaqueline voltou do Canadá. E ele fez perguntas sobre o Lucas, de como encarei o fato de o Nicolas já ter um filho.
Ah... Bem... Nessa hora eu menti um pouco. Eu não iria contar que me embebedei, que me cortei e que quase me afoguei em meu próprio vômito quando descobri.
Nossa... Hoje ao lembrar disso vejo como criei um problema desnecessário por conta de um ciúme infundado. Naquela época a gente nem namorava ainda. Só estávamos nos beijando aqui e ali. Mas o que contei pro Claus foi que fiquei um pouco chocado, mas que levei de boa.
A verdade é que demorou um tempo para que eu aprendesse a levar de boa. Mesmo hoje, quando penso no que teve que acontecer pro Pinguinho nascer eu fico com o peito ardendo. E antes que você diga, eu mesmo direi: como sou idiota... É, amiga, eu sei. Idiota, deplorável por ter ciúmes de um passado que, de acordo com o Nick, foi insignificante.
Algumas perguntas sobre Lucas depois, o Claus já tinha terminado os três lanches, e pediu meio litro de milkshake. Quando ele pegou minhas batatas e começou a mergulhar no sorvete para comer, riu da minha cara de espanto.
"Cê sabe mais sobre o Luquinha do que a maaana, esquisito... Eu estive de olho nele desde aquele dia, tá ligaaado? Desde então tô liiimpo. Tá me dando faniquito ficar sem usar, mas pelo Luquinha vai valer a peeena. Mas pra isso tenho que comeeer pra disfarçar a vontade de outra coooisa, brother. Cê já usou alguma parada? Curte essas coisas?". Talvez eu tenha sido mais enfático do que o necessário ao dizer que não, porque ele disse: "Aêê, tá com medo de miiim? Não fica nããão, esquisito. Só quero entender que tipo de geeente tá com o pai do meu sobriiinho. Eu posso não ser o melhor tio do muuundo, mas não quero qualquer pessoa pra ser o padrasto do Lu, tá ligado?".
Amiga... Nessa hora eu devo ter feito uma cara estranha, porque ele deu risada. É que eu nunca tinha pensado por esse lado. Essa alcunha de "padrasto" soou de uma forma estranha para mim. O Pinguinho sempre me chama de tio, então não parei para pensar na minha verdadeira posição dentro da família Belson. Está certo que nós ainda só namoramos, mas realmente o Lucas seria meu enteado se nos casássemos.
"Cara, parece que viu o Papai Noel de verdade! Quer dizer que nem tinha pensado nisso?", e continuou a rir, mergulhando mais batatas no milkshake para depois enfiar todas juntas na boca, como se os três lanches não tivessem sido o bastante.
Fiquei um tempo aéreo até ele terminar de rir (e de mastigar de boca aberta... Que nojo), e quando silenciou parece que caiu uma nuvem cinzenta sobre ele.
"Entããão, me fala... Se você precisasse se afastar do Niiicolas, o que você fariiia?"
Meu peito gelou. Parece que toda a conversa fiada até o momento, todas as perguntas sobre o Nicolas e o Lucas convergiram para esse momento. Na verdade, acho que foi para fazer essa pergunta que o Claus tinha me chamado. Mas aquilo não fazia sentido para mim, por isso perguntei: "Como assim?".
Ele pensou um pouco, finalizando as batatas que eu já tinha abandonado, e refez a pergunta: "Se a situação se complicaaasse, e o Nicolas tivesse que escolher entre você e o Luquiiinha, quem acha que ele escolheriiia? Aliás, melhor que iiisso... Quem você prefeeere que ele escolheeese?"
E a armadilha estava posta. Ou, pelo menos, imagino que Claus pensasse assim, porque ele me olhou com cara de Cheque Mate. Bom, é verdade que a pergunta me pegou de surpresa, mas não fiquei preocupado. Em vez disso, pensei verdadeiramente num cenário onde isso ocorresse: a situação dramática de eu e Lucas caindo num desfiladeiro, e Nicolas correndo para salvar somente um, deixando o outro cair para a morte.
Foi com essa cena em mente que respondi: "O Nick escolheria o Lucas. O homem por quem me apaixonei não faria diferente disso. O Nicolas que conheço, e que eu quero ao meu lado, colocaria o filho em primeiro lugar. E se em alguma hipótese ele me escolhesse em vez do Lucas, eu não olharia mais pra cara dele".
"Então você se afastaria do Niiicolas? Pra que ele fosse feliiiz?"
Nessa hora senti um beliscão dolorido no coração: "Claus, eu não sei onde você tá querendo chegar, mas eu amo o Nicolas... Se fosse pela felicidade ele, eu me afastaria, sim. Por que essas perguntas?".
Ah, amiga... Essa conversa pareceu um agouro. Ele ficava ouvindo e balançava a cabeça, como se concordasse comigo.
"Olha, esquisiiito... Eu juraaava que diria o contrááário, tá ligado? Que ia querer o cara só pra tiii. Mas acho que cê é diferente do que eu e a mana pensaaamos"
"Então era um teste?", perguntei meio que debochando.
"Nããão... Ou era? Não sei, brother. Me paga outro lanche que te conto um negóóócio".
Eu comprei o tal lanche, quase sem acreditar no quanto aquele cara conseguia comer. E quando o pedido do Claus chegou à mesa ele revelou algo que eu temia há um tempo:
"Parece que a mana tá procurando advogaaado. Não sei da onde ela vai tirar a graaana, já que ela tá quebrada, mas parece que tá decidiiida, brother. Ela quer impedir o Luquinha de ver o paaai... É um negócio de 'guarda uni' não sei o quê".
"Guarda unilateral?", perguntei, para confirmar.
"Iiisso, esquisito. Esse nome meeesmo. Como você sabia?"
O fato é que naquele dia que eu e os gêmeos conversamos, esse termo acabou aparecendo no assunto. Era um de nossos medos com relação à Sônia, e quando ouvi o Claus falando aquilo, parecia que eu não ouvia mais nada em volta. A sorte foi que não comi muito, porque senti o estômago embrulhar.
Aquela vaca, além de ser uma mãe desnaturada, ainda quer deixar o Pinguinho sem pai. Guarda unilateral significa que o Nicolas perderia os direitos como pai, de participar das coisas da vida do Lucas, e dependendo do que a Sônia inventar, ele poderia ser impedido até de vê-lo com frequência. Os poucos dias que eles têm juntos nos finais de semana já estão sendo arrancados aos poucos. Nessa sexta, sábado e domingo ele já não ficou conosco, e hoje à tarde o Claus me vem com essa.
Como ele me testou de várias formas, paguei na mesma moeda: "E o que você acha disso?".
"Ahhh, é ruim pro Luquinha, né, brother. Coitado do moleque... Já tem que ver a mana se drogando em casa. Esses dias ele perguntou o que era aquilo que a mana tava usando... E me mostrou uma seringa, velho. Tava lacrada, mas imagina o perigo se o moleque aprende como abrir! Eu tive que falar que era injeção com remédio pra mãe dele".
Naquela hora, minha vontade era de aparecer na casa da víbora e sumir com ela. Desaparecer com aquela mulher. Puta que pariu... O Lucas é um menino tão meigo, ele não merece isso. Ele não merece nada disso que está acontecendo. E o pior é que ele é o pivô dessa merda toda, e não faz ideia do que tá rolando. O coitado tá agressivo na escola, se distrai facilmente, perde o apetite com facilidade e está aos poucos cada vez mais fechado. E tanto eu quanto o Nicolas e a Jaqueline (e o Claus, pelo visto) sabemos que o motivo é a mãe dele, que está se demonstrando tóxica para todos ao redor.
Quando eu soube da história da seringa, parece que toda aquela tensão dos dias anteriores explodiram. A puta me arranhando e batendo minha cara no portão, a gritaria dela na rua, o Nicolas se fechando num casulo e levando o Lucas ao mesmo comportamento... Eu abaixei a cabeça na lanchonete e tapei o rosto, tentando não chorar. Mas foi difícil. Mesmo agora vejo que minha maré de azares está afetando as pessoas ao meu redor, e eles não merecem isso. Os Belson não merecem isso...
"Aê, não achei que cê fosse ficar mal assim nããão... Foi maaal, brô"
Ele deu um tapinha desajeitado no meu ombro, e isso meio que fez eu me lembrar onde (e com quem) eu estava. Consegui me recompor (mas não sem ficar com o nariz e olho vermelhos), e o Claus só continuou falando porque eu pedi. A Sônia está decidida a tirar o Lucas do Nick. E até onde eu entendi, não é por amor ao filho (como já comentei com você no outro e-mail) e sim por causa de uma birra infantil que ela carrega contra o Nick desde sei lá quando, e só piorou quando cheguei em Vale do Ocaso.
E agora que ela sabe que o Nicolas está namorando um cara, talvez o orgulho dela tenha se esmigalhado. Não estou dizendo que seja isso, mas é uma teoria que não vou conseguir confirmar enquanto eu não souber da história dela com o Nicolas direito. E ele nunca fala sobre isso. Tudo o que sei é que a coisa rolou numa festa, e que eles não se conheciam.
Só não digo que eu daria "tudo" para saber dessa história, porque eu não daria tudo porra nenhuma. A única coisa que presta que saiu disso foi o Lucas, e por mim tudo o mais poderia explodir.
Enfim, estou devaneando novamente...
Quando consegui ficar normal de novo, perguntei como eu poderia ajudar. Eu achei que o Claus tivesse alguma ideia, mas a resposta foi: "Sei lááá, brother... Só contei porque te achei de confiaaança. Cê mostrou que se importa de verdaaade com o Lu, e isso baaasta pra mim. Então... Vambora?".
Como eu já tinha pago tudo, levantei e fui até minha bicicleta. Vi que ele também estava com a dele, e até certo momento fizemos o mesmo percurso. Um pouco antes de chegar na Rua Pelicanos (a de minha casa) ele disse que preferia ver o Lucas com um casal gay do que nas mãos da Sônia. Não tenho certeza de que tipo de conotação ele usou quando falou isso (sei lá, como se em situação normal fosse reprovável ele ficar com um casal de homens... Mas pode ser coisa de minha cabeça). E depois ele continuou: "A mana tá numa fossa que nem eu estive... Ela sai quase toda noite e deixa o Luquinha com nossa mãe, que nem aguenta ele no colo. E ela volta sempre só na hora do almoço, chapada, gritando e fazendo o inferno lá em casa".
A única coisa que consegui dizer foi: "Isso não pode continuar assim".
Ele parou a bicicleta e concordou comigo. Estendeu a mão para um cumprimento: "Eu vou pra esse lado, agooora... Aê, brooother, eu tô contiiigo, falou?".
Eu cumprimentei e acabei perguntando se ele realmente estava sóbrio (aquele jeito malandro de falar parecia dizer o contrário), mas ele jurou que desde quando a Sônia fez aquele fuzuê (palavra dele) não usa mais, e por isso acaba comendo tanto, para disfarçar a ansiedade.
Antes de se virar e ir embora, ele deixou o número de celular comigo: "Se precisar de algo é só falaaar... Seu nome é Isaac, né?". Eu concordei, quase contente por ele finalmente me chamar pelo nome.
Assim que entrei, a Jack voou preocupada em cima de mim. Nem minha mãe se preocupava tanto. Enquanto o Nicolas não chegava da faculdade, acabei falando para ela e para o Jonas tudo o que acabei de te contar, inclusive as perguntas sobre a provável escolha de Nicolas. Eles ficaram abalados com a coisa sobre guarda unilateral, mas demonstraram mais compostura do que eu, na lanchonete. Assim que o Nicolas chegou, contamos a ele os planos da megera, e ele não disse nada (nem estranhou o fato de eu ter ido a uma lanchonete com o Claus, coisa que normalmente ele teria, no mínimo, achado curioso). Meu namorado parecia um robô sombrio pegando coisas da floricultura para fazer, mexendo na terra e podando plantas – coisas que ele faz sempre, mas hoje aquele ato pareceu estranhamente lúgubre.
Assim que a Jack e o Jonas voltaram para a Casa das Flores ele foi para a cozinha, como eu já imaginei que aconteceria. Como ele não tinha comentado nada sobre eu ter saído com o Claus, me bateu uma culpa. Aí também lembrei da Sônia com o jornal, apontando nossa foto, onde eu estou com o Lucas no colo...
Amiga, eu estou tentando não pensar essas coisas, mas está difícil... Se eu não tivesse me aproximado dos gêmeos, esse monte de merda não teria acontecido. Enquanto o Nicolas fazia o chantilly, fui atrás dele e o abracei na cintura. Ele continuou quieto, cozinhando. Quando murmurei "desculpa", ele continuou quieto... Então falei mais alto, porque achei que não tivesse ouvido.
Em vez de responder "tudo bem" ou qualquer coisa do tipo ele se virou bravo, e se desvencilhou de meu abraço, bem irritado: "O que está acontecendo não sua culpa, Isaac. Então não peça desculpas por isso!".
Agora, entenda... O problema não foi o que ele falou. Foi como ele falou. Parece que naquelas poucas palavras, quase toda a frustração dele tivesse explodido em cima de mim.
Para não irritá-lo ainda mais (pois minha vontade era de pedir desculpas novamente) fui pro colchão na sala e liguei a televisão. Acabei deixando num canal de clipes, porque não tinha nada que eu realmente quisesse assistir. Logo depois, com o cheiro de bolo recém tirado do forno, ele se aproximou de mim.
Mais uma vez aconteceu aquilo. Ele cheirou meu pescoço e me deitou no colchão, me virando e transando comigo de forma mecânica e sem graça, como se eu fosse apenas um boneco de plástico. E por que eu falo isso? Porque bonecos de plástico não precisam de permissão para entrar, bonecos de plástico não precisam de beijos ou de estímulos.
Esse era eu: apenas uma ferramenta.
Sei que o momento atual não permite que a gente tenha aquele sexo delicioso que ele sabe fazer. Sei disso... Sei que nem eu, nem ele temos cabeça para fazer brincadeiras eróticas ou nos perdermos em preliminares. Os problemas estão se acercando, e a concentração para esse ato acaba se dispersando. Mas não muda o fato de que me senti mal. Tentei conversar com ele quando acabou, mas o Nicolas foi tomar banho e depois voltou pro colchão da sala, vendo televisão até cair no sono.
É como se eu não estivesse ali. Apenas fui fodido, e pronto. Minha missão de prostituto descartável estava cumprida. Eu não queria que fosse assim... Preferia que, em vez de sexo, tivéssemos conversado. Que ele tivesse falado o que está pensando e como está se sentindo. Mas o Nicolas está quieto demais... Pensei em falar com a Jack, mas estou com vergonha de parecer intrometido. E com medo, também... Porque acho que fiz algo de errado, e é como se eles não me contassem o que foi. Não que a Jack esteja sendo fria comigo. Na verdade ela continua sendo a Jack de sempre, mesmo nesse furacão de merda.
Mas, sei lá... Talvez o Nicolas esteja percebendo que ficar comigo tenha sido um erro. O namoro dele comigo está tirando o que ele tem de mais precioso... Parece que a cada dia que passa o Lucas fica mais distante do Nick...
Assim como o Nick de mim...
Foi logo depois que fizemos que vim escrever esse e-mail. Ele já apagou na frente da televisão faz tempo. Eu estou na sacada de meu quarto, com as luzes apagadas. Apenas a luz de meu notebook basta para eu digitar.
A noite está fresca e linda, e sempre que vejo noites assim penso como o mundo está pouco se lixando para nossos problemas. Os ipês amarelos estão despertando, e logo a primavera está aí, sem ligar para o que acontece com a humanidade.
Sei que é um pensamento pessimista, mas não deixa de ser verdadeiro. O mundo não vai parar de girar só porque meu peito está ardendo. As pessoas não vão deixar as rotinas só porque estou com vontade de gritar de raiva e frustração. Nem os advogados vão deixar de fazer seus trabalhos... Desde que os paguem, vão tirar uma criança inocente de um pai dedicado e jogar para uma mocréia drogada criar.
Ah, como eu queria que o Nick conversasse comigo, amiga...
Se estiver com um tempinho, poderia responder a estas perguntas?
1) No geral, o que achou do capítulo?
2) Tem algo NA ESCRITA que poderia melhorar? Me deem dicas para a revisão ^_^
3) Votaria neste capítulo para me ajudar?
Muito obrigada por acompanhar meu trabalho! ^_^
K I S S E S ~ K I S S E S
🔷 🔶 DICA EXTRA para quem escreve histórias e fanfics: no link abaixo você será direcionada/o para um vídeo falando sobre a criação de personagens.
bit.ly/Vilto-CriarPersonagens
Recomendo que dê uma olhada 😍
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