10 de janeiro, 2019 - Quinta (19h43)
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10 de janeiro, 2019 – Quinta (19h43)
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Ameaçar de volta?
Desde terça-feira, quando ele ligou, estou com a cabeça pastosa, sem conseguir pensar direito, amiga. Foi por isso que não mandei e-mail ontem contando o que aconteceu depois daquilo.
Não que agora eu esteja muito melhor, mas estou sentindo a cabeça muito cheia, então assim que trancamos o portão depois do expediente vim para o quarto e peguei meu notebook.
Dando continuidade ao que falei na mensagem anterior, naquele dia fiquei no quarto, e acabei contando ao Nicolas tudo o que aquele traste falou. Mais tarde desci a pedido da Jaqueline, e fizemos uma espécie de reunião na mesa que fica no canto da sala. Eu já estava com a cara melhor, mas mesmo assim parecia que meu espírito havia sido arrancado.
O Jonas estava cuidando do Lucas, do lado de fora. Fiquei grato por isso, pois os gêmeos são os únicos nessa casa que sabem que aquilo não foi um acidente. Meu primo conhece apenas a versão que foi contada à polícia, porque pedi para que fosse assim.
Não que eu não confie nele... Eu confio. É meu parente mais decente entre todos. Mas quanto menos pessoas souberem o tipo de ser humano que sou, melhor.
"Eu liguei pra Lílian", disse minha cunhada, referindo-se à advogada. "Falei que aquele cara está querendo acusar você de assassinato, e ela respondeu que a polícia não perde tempo abrindo caso para quem estava se defendendo".
Me encolhi na cadeira, já que não estaria de todo errado. Abaixei a cabeça e murmurei:
"A versão que ela sabe é a de que brigamos, e que o Marcus caiu por acidente na frente do caminhão... Né?"
"É isso. E naquele dia você pediu pra confirmar pra polícia que seu progenitor era vítima também".
"Uhum... Porque senão ele pode contar. Sei lá..."
O Nicolas se arrumou na cadeira e apoiou os cotovelos na mesa.
"Acontece que a gente não concorda com isso, Zak. O que você fez foi se defender. Já o seu... progenitor... foi realmente cúmplice".
"Mas não é mentira que ele também estava na mira da arma de vez em quando. Eu odeio aquele traste com todas as minhas forças, e queria que ele engasgasse até a morte com as cachaças que bebe. Mas não quero arranjar mais uma dívida com Deus, acusando ele de algo que nem tenho certeza..."
Eu estava na cadeira que fica na ponta da mesa, tendo um Belson de cada lado. Ambos estavam curvados, bem perto de mim para que pudéssemos conversar quase aos sussurros.
"Então talvez seja hora de você contar à polícia que fez aquilo por legítima defesa, Dáki... Nesse caso, seu progenitor perde o elemento de chantagem, e para de te perturbar".
"Não, não quero! Tenho medo do que podem fazer se eu contar!"
O Nicolas pousou a mão em meu ombro.
"Se a história for contada por aquele cara, aí sim vai ser distorcida, e vão querer te interrogar de novo..."
Cruzei os braços sobre a mesa, e escondi o rosto ali. Minha voz saiu abafada:
"Não tô pronto pra falar com eles de novo..."
Os gêmeos ficaram quietos. Fico imaginando que estava olhando um para o outro com aquela cara de quem não sabe o que fazer comigo.
Foi o Nicolas que cortou o silêncio.
"Zak... Eu não gosto de ficar lembrando daquela madrugada, mas... Ele não tinha falado algo para o Marcus sobre dar um dinheiro para ele?"
Pensei um pouco. Me endireitei na cadeira.
"Sim. Parece que foi isso que convenceu ele a vir para cá com o Marcus. Reaver o dinheiro que não existe mais, e que ele ainda acha ser dele. A mesma porcaria de grana que ele me cobrou no telefone".
Dessa vez eu realmente vi os gêmeos se olhando entre si.
"Zak, escuta... Mesmo que você não tenha certeza se ele foi ameaçado, é fato que aquele desgraçado estava agindo por causa de dinheiro. E eu sou prova de que ele não ficou nem um pouco mal com o que aconteceu com você".
"Onde você quer chegar?", perguntei.
"Dá pra usar isso contra ele, Zak. No seu caso, o que fez foi para evitar algo pior... A nossa vida estava em jogo lá. Já seu progenitor estava fazendo aquilo por dinheiro. E ele podia ter ajudado, se quisesse. A arma não estava apontada para ele o tempo todo, mas sim para você e para mim".
Eu sabia que era verdade. Sabia que estavam certos. Mas não achava que seria o suficiente para a polícia afastá-lo de mim.
"Não sei... Eu não sei o que fazer ainda. Por favor, não falem com a polícia pelas minhas costas".
"A gente nunca faria isso!", enfatizou a Jaqueline, quase brava. "Mas pensa no assunto, Dáki. Viver com essa ameaça vai deixar você e a gente doidos. A gente precisa tirar todos os motivos de chantagem que ele tem, e explicar à polícia seu lado é o jeito".
"Não tô pronto para falar com eles..."
"A gente sabe... Mas pensa no assunto".
Concordei com um aceno e saí da mesa, arrastando os pés até as escadas.
"Estou com dor de cabeça... Vou ficar no quarto".
E subi sem olhar para eles. Minha mente estava mostrando novamente aquelas imagens, como um filme de terror que sou obrigado a assistir mesmo quando fecho os olhos. E toda a cena era permeada pelas palavras do traste, ditas pelo telefone naquela manhã.
Não me deitei na cama. Fui até a sacada, e me estirei lá, olhando para a copa das árvores chacoalhando com o vento morno de verão. Voltei a descer apenas quando fui chamado para a janta, e mesmo assim continuei em silêncio.
Pensa no assunto, eles disseram.
Eu estava pensando. Pensando tanto que minha cabeça parecia querer explodir. E dormi pensando nisso, tendo estranhos sonhos onde eu estava num palco, tendo meu corpo nu mostrado para uma multidão risonha. Eu procurava o Nicolas, mas ele não estava em lugar algum de meu sonho. Acordei, tomei um comprimido para dor de cabeça, e voltei a deitar.
Na quarta-feira desci para ajudar na floricultura, e até consegui fingir que estava tudo bem, mas fiquei realmente pensando na sugestão dos gêmeos. E ainda não me decidi. Eu preciso ter um argumento mais forte do que a ameaça daquele demônio. Cheguei a pensar em denunciá-lo por abuso, sei lá. E isso é algo que tem como provar apenas olhando para algumas manchas roxas no braço de minha avó. Ela sempre mente para as pessoas dizendo que bateu numa quina, ou esbarrou na mesa, mas os vizinhos e meu primo são testemunhas disso.
Eu mesmo já sofri nas mãos daquele nojento quando era pequeno.
Droga... Estou com medo do que ele pode fazer. Não comigo, mas com ela. Não conversei ainda com os gêmeos sobre essa possibilidade, mas agora está me parecendo uma ideia plausível.
Ah, que tensão horrível. Mandei mais cedo uma mensagem perguntando se minha avó está bem, e resposta foi: "Estou na bênção do Senhor". Pra mim, isso não diz porra nenhuma. Se eu fosse depender da bênção Dele, eu estava fodido.
Por isso vou ver com os gêmeos e com meu primo sobre isso, de ameaçar o traste sobre o que ele faz com a própria mãe.
A diferença é que eu não pretendo ficar só na ameaça. Quero colocar um ponto final nisso.
Boa noite, minha amiga e anjo da guarda.
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K I S S E S ~ K I S S E S
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