09 de Novembro, 2018 - Sexta (21h33)

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Este livro, O MONÓTONO DIÁRIO DE ISAAC, está em fase BETA. Isso significa que essa ainda não é a versão final (passará por revisão, correção, essas coisas).

Caso você encontre frases mal escritas, erros ou qualquer coisa estranha no texto, ME AVISE SEM MEDO. Dessa forma, você estará ajudando uma aprendiz de escritora (eu) a melhorar o trabalho. 😊

Conto com a ajuda de vocês sempre que notarem algo a ser melhorado ✊

Um suuuper abraço da autora de Boys Love...

Lyan K. Levian 🐌


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09 de Novembro, 2018 – Sexta (21h33)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Ouço o tique-taque da bomba relógio


Não estou com ânimo para fazer cumprimentos hoje, amiga. Me desculpe.

Liguei para minha avó anteontem, logo após enviar aquele e-mail para você. E sabe o que ela me disse? Que eu tenho que parar de fantasiar coisas em minha cabeça, e começar a ir à igreja para afastar os demônios. E a parte que mais me dói é que ela disse isso com uma voz afável, como se quisesse me tranquilizar. Disse que me ama, e que sabe que me preocupo com ela, mas que era uma preocupação inútil.

Desliguei o telefone com um buraco no peito, e fui falar com a Jaqueline para explicar minha teoria. Ela me deu ouvidos, e falou com a Lílian, que disse que deixaria a polícia avisada.

O problema é que polícia não é guarda-costas. Eles não iriam até a casa de meus pais a não ser que houvesse um chamado com perigo real.

E o maior problema aconteceu hoje cedo, quando minha avó deveria ter ligado para a polícia mas em vez disso ligou para mim.

"Esteve mais cedo aqui um rapaz estranho, dizendo que te conhece", minha avó contou. "Ele ficou perguntando o que eu sou de você"

"Ah, não, vó... E o que você disse?"

"Eu falei a verdade! Ou você tem vergonha de me ter como sua avó? Por acaso esse é aquele pecador que você chama de namorado? Foi ele que te levou para o mal caminho? Me conta tudo, Isaac".

Não adiantaria explicar nada. A história toda já é complicada por si só. Se eu contasse os fatos para aquela velha teimosa, que ouve tudo retorcido e interpreta de acordo com crenças torpes, a coisa só iria piorar.

"Como ele era, vó? Fala como ele era..."

E a descrição que recebi foi basicamente a que eu já esperava.

"Tsc, merda! Deve ser o Marcus... Puta que o pariu, que merda!"

"Olha essa boca, menino! Não foi assim que te criei!"

"Tá, me desculpa..."

"... Mas, sim, foi esse o nome que aquele adorador do diabo falou!"

"O que ele fez com a senhora, vó?"

"Hein? Comigo? Cruzes! Deus me protege! Se aquele pecador encostasse um dedo em mim as mãos do inferno o arrastariam na mesma hora!"

"Vó, por favor... O que ele fez? O que ele disse?"

"Fez nada, não. Só ficou fazendo perguntas, querendo saber quem morava comigo. Aí seu pai chegou, fez umas perguntas também. Queria saber quem era ele. Depois os dois acabaram indo pro bar".

Ouvir de minha avó que o Marcus e meu pai estavam se enturmando me deu vertigem.

"O QUE? Como assim? O que eles conversaram para chegarem ao ponto de irem a um bar juntos?"

"Nada importante", ela respondeu. Mas eu a conheço bem o suficiente para ter notado uma hesitação na voz. Tive que insistir um bocado para ela finalmente confessar: "É que os dois acabaram concordando que você não presta. Isso é o que eles acham, Isaac, não é o que eu penso... Sei que no fundo você é um bom menino que apenas está infectado. Se, pelo menos, você voltasse e frequentasse comigo a igreja..."

Enquanto conversávamos, vi a Jaqueline andando por perto, com cara de quem já havia entendido tudo. Como não havia muito mais o que conversar com minha avó, me despedi e desliguei.

Minha cunhada já estava ligando para a polícia, informando o que havíamos acabado de descobrir. Mas o destino gosta de brincar comigo das formas mais bizarras e cruéis. Só para você entender melhor do que estou falando, saiba que minha avó é o tipo que segue à risca algumas rotinas diárias, e a conversa com o Marcus quebrou tanto essa rotina que ela se preocupou mais em adiantar as tarefas do que em ligar imediatamente para mim. Caso não tenha entendido o que isso significa, eu explico: esse atraso fez com que a polícia chegasse tarde demais. Primeiro tiveram que ir até a casa de minha avó, e depois que descobriram o endereço do bar foram até lá.

Lento demais. Quando chegaram, o ser humano que me recuso a chamar de pai já estava bêbado, e sozinho no balcão. Interrogaram todos os presentes, e todos confirmaram que o Marcus de fato esteve conversando com meu pai, mas que havia ido embora há tempos e, o que mais deixou a todos espantados, sem beber nada.

Eu não conheço os hábitos do Marcus, mas arrisco dizer que ele não é do tipo que rejeita uma bebida à toa. Com certeza ele deve estar se mantendo sóbrio propositalmente por conta de qualquer plano que eu não consigo nem imaginar.

Ao interrogarem meu progenitor, a polícia não descobriu muita coisa. De acordo com ele, conversaram trivialidades.

Mas eu duvido. O Marcus deve ter enchido meu pai de qualquer porcaria alcoólica para ele dar informações. O problema agora seria saber que tipo de informação iria ajudar aquele desgraçado de alguma forma contra mim.

E para piorar eu estou com uma raiva terrível de minha avó. Se ela tivesse avisado na mesma hora, esse e-mail poderia ter sido com um conteúdo bem mais promissor. Mas não. Aquela velha ignorante precisou fazer antes as tarefinhas ridículas dela, para não ficar atrasada com o cronograma, e só depois se preocupou em se lembrar que eu tinha dado um aviso sobre um criminoso à solta.

Eu juro que não consigo conceber tanta ignorância num único ser humano. Estou num momento que não consigo nem admitir que eu fui criado com os mesmos genes deles. Meu pai, que se junta com um criminoso só porque ambos concordam que me odeiam... Minha avó, que não entende o quão burra foi por não ter me avisado em tempo... E minha mãe, a maior coitada ignorante de todas que nem sabe o que está acontecendo em volta, e provavelmente naquela hora estava ocupada demais apodrecendo na frente da televisão da casa da frente, e nem deve ter ouvido baterem palmas no portão.

Essa frustração também estava estampada na cara da Jack, e juntos decidimos algo que você deve julgar sensato, amiga: trancar o portão novamente.

O problema é que, nesse ritmo, a floricultura pode acabar ficando conhecida como o comércio de horário mais aleatório da cidade. Somos a "floricultura de Schrodinger": está aberta e fechada ao mesmo tempo, até que alguém resolva observar.

Mas não temos outra alternativa além de nos protegermos. Sabe-se lá o que aquele cara está planejando ao ter conversado com meu pai.

Até o último e-mail eu estava achando que se eles se encontrassem o Marcus daria um jeito de se vingar imediatamente, ferindo-os ou pegando-os de refém (não que eu me importe tanto com o que fosse acontecer com meu "pai" – entre aspas porque sempre tenho asco de escrever essa palavra quando se refere ao meu progenitor).

No fim, eu continuo no mesmo lamaçal de incertezas de antes, me perguntando se o Isaac de Schrodinger vai estar vivo ou morto amanhã, quando abrirem a caixa.

Eu sei que estou fazendo piada com isso, mas... Essa é minha tentativa ridícula de fingir que estou conseguindo seguir em frente. Como não tenho mais nenhuma novidade para lhe contar, acabo falando essas besteiras.

Aliás, tem uma pequena novidade, sim. O Claus conseguiu o emprego de coveiro no cemitério. Não falei diretamente com ele, apenas ouvi da Jaqueline, que sempre leva e busca o Lucas da escolinha. E quem contou para ela foi a Dona Rosa, toda feliz porque o filho tem um motivo decente agora para acordar cedo e sair de casa.

Estou contente por ele. De verdade. O tio do Lucas finalmente está entrando nos eixos, e isso é positivo para o Pinguinho. Fico imaginando que se não fossem essas preocupações, que só aumentaram, nós teríamos ido comemorar em algum lugar. Ou qualquer coisa do tipo.

Sobre o Nicolas, contamos sobre o desencontro de polícia e criminoso apenas quando ele voltou da faculdade. A conversa entre eu e os gêmeos foi curta, e o clima ficou denso após isso. A janta aconteceu em meio a um silêncio quase total, com poucos comentários aqui e ali, e depois disso a Jaqueline subiu para o quarto enquanto o Nicolas pegou os livros dele para mergulhar em estudos – de acordo com ele, a melhor forma de espairecer.

Já eu estou aqui, com o notebook no colo, sentado no sofá de nossa sala.

Os lençóis ainda nos servem de cortina, e ainda tem algumas latas presas a fios lá fora – não muitas, apenas o suficiente para que um hipotético invasor faça barulho e nos alerte do perigo antes que seja tarde.

Como você deve imaginar, amiga, estou vivendo à base dos nervos à flor da pele. O tempo todo fico fingindo que está tudo bem, mas creio que você sabe que não sou esse tipo tranquilo de pessoa. Se eu fosse o tipo que rói unhas eu estaria com os dedos em carne viva. Como não sou esse tipo, meus dedos estão bem. Em compensação, minha cabeça não está. Definitivamente, não está.

Quando eu começo a ficar com tiques, andando de um lado para outro, o Nicolas fala "Ei, vem cá", e me distrai com alguma conversa sobre os estudos, ou sobre alguma coisa que tenhamos assistido.

O problema é que não sei até quando esse artifício vai durar. Em nosso último bate-papo trivial eu estava mais preocupado em observar as janelas do que em saber sobre a opinião dele sobre o filme que estávamos assistindo.

É tipo um despertador armado: o tique-taque fica me incomodando constantemente, e a maior dor é não saber quando vai tocar. Ou melhor... Explodir.

Acho que fui até otimista demais ao comparar essa situação com um despertador. É de fato uma bomba-relógio, cujos números vão diminuindo sem que eu saiba quando virá a explosão.

Pode ser que algum herói apareça e corte o fio vermelho antes (ou seria o azul?), mas enquanto isso não acontece tudo o que me resta é tapar os ouvidos e me encolher quando a bomba chegar no zero. O problema é que, geralmente, quando se ouve o "boom" significa que já estamos a um passo da morte, então me encolher num canto pode ser tão eficaz quando pular sobre a bomba para abafar o som.

Entende o que quero dizer? Não tenho para onde correr. Tudo o que nos resta é esperar que ele apareça novamente e torcer para que o aviso que a polícia deu para minha avó tenha efeito.

"Se ele fizer contato de novo, nos avise imediatamente".

Meu medo é de ela achar que estender a roupa no varal é mais importante que fazer uma ligação para a polícia. Pode parecer absurdo, mas vindo dela é totalmente plausível.

Ah... Estou cansado. E não é de escrever, mas sim de pensar. Queria desligar minha mente um pouco, mas sei que não conseguirei dormir. Acho que o jeito vai ser jogar um pouco até minhas pálpebras não se aguentarem mais.

Vou parar por aqui, anjo-irmã de alma. Torço para que sua noite seja melhor que a minha.


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