07 de Novembro, 2018 - Quarta (23h14)

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Este livro, O MONÓTONO DIÁRIO DE ISAAC, está em fase BETA. Isso significa que essa ainda não é a versão final (passará por revisão, correção essas coisas).

Caso você encontre frases mal escritas, erros ou qualquer coisa estranha no texto, ME AVISE SEM MEDO. Dessa forma, você estará ajudando uma aprendiz de escritora (eu) a melhorar o trabalho. 😊

Conto com a ajuda de vocês sempre que notarem algo a ser melhorado ✊

Um suuuper abraço da autora de Boys Love...

Lyan K. Levian 🐌


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07 de Novembro, 2018 – Quarta (23h14)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: O objetivo do ladrão de arquivos


Boa tarde, amiga... Vou começar este e-mail pelo que considero mais leve, e depois falo das coisas que me preocupam.

Se bem que poderia ser melhor falar as preocupações antes e deixar as informações bobas para depois, e assim finalizar esta mensagem fingindo que estou super tranquilo, não é mesmo? Mas não é assim que quero fazer. Afinal, acabei de voltar da autoescola, e... Ah... Estou começando errado novamente.

Amiga, minha mente está meio nebulosa. Mais precisamente, embaraçada... Porque o tempo todo fico pensando em possibilidades que...

Ah, droga. Deixa eu começar do início de uma vez por todas antes que você desista de ler esse monte de porcaria fora de ordem.

Certo. Na segunda-feira me matriculei naquela autoescola que comentei com você. Eu não sabia, mas eles são bem careiros. A vantagem é que os exames de vista e psicotécnico (que apelidei carinhosamente de psicodélico, de tão besta) já puderam ser feitos lá mesmo, na terça-feira. Aquela autoescola é bem bonita, com três andares e a fachada toda em vidro escuro (daqueles que só quem está dentro vê através). Ao olhar por fora parece um escritório chique daqueles que vemos em filmes. O preço estava quase o dobro do que eu esperava, mas cabei parcelando para não pesar muito.

Na terça fui fazer os exames, e aparentemente estava tudo bem. Os testes psicodélicos (ou psicotécnicos, como preferir) é um bando de perguntas de lógica, testes de coordenação motora e sei lá o que mais eles analisam ao ver aquele monte de risquinhos que fiz numa folha de papel. A psicóloga encarregada só ficava olhando com cara de "humm, interessante", mas eu nunca soube quais as conclusões que ela tirou de fato sobre minha pessoa. No fim das contas, o que realmente importava, na opinião da escola, era se eu estava ou não apto a guiar um veículo – e aparentemente eu estou, pois a psicóloga deu sinal verde. Eu adoraria saber se fui bem no teste de lógica, pois de alguma forma aquilo infere muito em meu orgulho, sabe? Principalmente porque neste exato momento as informações que recebi (que nada têm a ver com autoescola) estão pipocando em minha mente, e estou contando demais com essa capacidade lógica de minha mente para tentar entender tudo. Ou melhor: para desvendar a merda toda antes que exploda no ventilador.

E se for o que estou pensando... Ahh...

Mas antes de contar isso, falarei sobre a aula de hoje, na autoescola.

Bem, será todas as manhãs, de todos os dias. Confesso que fiquei surpreso com isso, e acabei falando para a moça que estava fazendo meu cadastro:

"Achei que fosse uma vez por semana"

Ela me olhou com uma cara de tédio misturada com desprezo, e um quê de surpresa, como se eu tivesse falado um absurdo. E logo entendi o motivo:

"Isso aqui é uma autoescola, não um cursinho de inglês! Estamos ensinando pessoas a manejarem uma máquina de uma tonelada, pelo amor de Deus! É claro que são todos os dias!"

Perante isso não tive outra alternativa a não ser abaixar minhas orelhas. Pensei em pedir desculpas, mas eu estava me sentindo tão idiota que nem isso saiu direito.

Mas isso foi na segunda-feira (olha eu bagunçando a linha do tempo de novo... Que porcaria de relato é esse que estou fazendo?).

Hoje, quarta-feira, foi minha primeira aula teórica. Começou bem cedo, às sete e meia, e foi acabar apenas faltando vinte minutos para o meio-dia (com um intervalo nesse meio tempo para não morrermos de tédio com a bunda quadrada). Haviam dois instrutores (sendo que um deles era ex-motorista de uma van de resgate), vários alunos sentados naquelas cadeiras com um braço desajeitado, e uma televisão quatro vezes maior do que aquela do Nicolas que está na sala.

Eu achei que eles fossem passar vídeos educativos sobre o trânsito, mas a função do televisor foi outro. No início eles falaram sobre o objetivo do curso teórico, nos deram um livrinho (com mais teoria ainda) e começaram a alertar que o que estávamos prestes a aprender era como conduzir um veículo, e não uma bicicletinha de criança. A princípio desconfiei que a intenção daqueles dois era a de desencorajar pessoas com intenções fracas. Poucos minutos depois, essa desconfiança virou certeza.

Eles começaram a falar dos acidentes que o alcoolismo ou o excesso de sono podem causar, sem falar dos perigos de desrespeitar as leis de trânsito. E para ilustrar esse perigo todo eles tiveram a bondade de colocar imagens explícitas de carnificinas causadas por acidentes. Eles passavam os slides com fotos cheias de sangue, pessoas mortas em posições impossíveis para a anatomia humana, e algumas mutilações que faziam eu pensar que estava assistindo a um painel de ofertas de açougue humano.

Sério, amiga... Não eram imagens legais de se ver. Eu me senti bem desconfortável, e percebi que duas pessoas saíram da classe. Uma delas vomitou no corredor.

Como bom introvertido que sou, escolhi a cadeira mais ao fundo da classe com paredes de vidro. E de onde eu estava foi possível ver que a maioria dos cerca de vinte alunos estavam com as mãos na boca, em choque.

Eu não cheguei a colocar as mãos na boca, mas cravei os dentes e segurei a caneta com mais força, tentando pensar em coisas mais felizes. O problema é que, enquanto aquelas imagens persistiam na tela, os pensamentos felizes geralmente culminavam em um acidente em que alguém tinha sido partido ao meio com as tripas de fora – exatamente como a foto que estava sendo exibida naquele momento.

"É isso que eu via quase todos os dias quando era motorista do resgate", falou um dos instrutores, com uma cara séria de quem desafia a todos a serem mais fodões e resistentes do que ele. "E em grande parte, a causa era alguma irresponsabilidade por parte do motorista. É por isso que pedimos para que não levem essas aulas na brincadeira. Tá combinado, turma?", mas ninguém respondeu. Ele gritou novamente: "Eu não ouvi! Está combinado?"

A maioria finalmente falou "sim", mas eu continuei quieto. Tive a impressão de que, se eu abrisse a boca, minha alma escaparia por ela.

Com isso você pode imaginar que, apesar de me fazer de forte perante aquelas imagens, eu fiquei um pouco abalado. Fiquei pensando em como teria sido, se sofreram antes de morrer, ou como ficaram os parentes ao ver a foto dos falecidos.

Ainda bem que eram fotos, e não vídeos. Algo me diz que se fossem vídeos eu seria outro a sair da classe para vomitar no corredor (sobre isso, uma das pessoas sequer voltou depois). Ver aquele excesso de vermelho... Sangue e carne fresca de humano, é meio perturbador. E o mais bizarro é que em várias das fotos dava para ver um monte de transeuntes em volta, olhando a cena (todos com as mãos na boca, igual os alunos da classe).

Eu fico me perguntando que curiosidade mórbida é essa que nos assola? Sempre que há um acidente acontece a famosa lentidão no trânsito... E a lentidão sequer é porque a via ficou estreita com o acidente. O motivo é que todos, sem exceção, dão uma paradinha para matar a curiosidade – mórbida – sobre o que aconteceu. É como se todos estivessem curiosos para ver como é, de fato, um açougue com carne humana.

Eu posso garantir: não é nada legal. Se não fosse pela cabeça, mãos e pés, daria para dizer perfeitamente que são porcos mortos.

Sério. A massa de pele e carne humana exposta se parece muito com porcos grandes.

Depois de muito falar sobre diversos acidentes de carro (sempre bem ilustradas com as fotos), os instrutores nos liberaram para o que eles chamaram de breakfast. Acho muita frescura usar nomes estrangeiros para coisas que tem perfeita tradução para o português. Eles poderiam dizer que era uma pausa para o café da manhã, mas não. A escola é chique demais, então eles falam breakfast. É tão ridículo quanto quem escreve receitas na internet falando bowl em vez de tigela.

Qual o problema com nossas tigelas, porra? É tudo a mesma merda!

Enfim... O breakfast fresco tinha chá, café, biscoitos de polvilho e algumas bolachinhas doces. A parte mais curiosa é que quase ninguém comeu, e eu tenho uma teoria de que a causa eram os estômagos embrulhados devido a muitas fotos maravilhosas de nossa anatomia do avesso.

O que eu fiz? Pensei: beleza, sobra mais pra mim. E comi quase todas as bolachinhas, finalizando com um chá de gosto horrível. Parecia uma infusão de pano velho com uma lembrança de sabor de camomila. Só lembrança, porque o sabor mesmo era de pano velho. Provavelmente usaram aqueles chás de saquinho que se vende no mercado. Se existisse uma Polícia do Chá, eles prenderiam as pessoas que enfiam as ervas nesses saquinhos por "atentado ao sabor".

Quando voltamos do intervalo a televisão já mostrava outra coisa. Iríamos começar a ver sobre Legislação de Trânsito, que nada mais é do que um conjunto de leis de boas práticas para que aquelas carnificinas não aconteçam.

Essas duas partes da aula pareceram estrategicamente pensadas: primeiro deixaram as pessoas enjoadas, fazendo com que a escola economize nos biscoitos e bolachas, e depois que todos estavam já cheios de chá mas vazias de biscoitos, forçaram nossas mentes a prestarem atenção num discurso insosso sobre coisas altamente cansativas. É quase como se eles quisessem que saíssemos de lá com uma péssima impressão sobre o processo de aprender a dirigir, de um modo geral. Só faltou terem feito uma palestra sobre a vantagem de usar ônibus e bicicletas para fechar com chave de ouro. Em vez disso, apenas avisaram que na próxima aula continuaríamos a matéria legislativa, tão divertida quanto outro corte na testa.

Quando voltei para casa, eu estava verdadeiramente com fome. Não ter tomado nada antes de ir para a autoescola e ter me enchido de chá-de-pano e bolachinhas não foi exatamente bom para meu organismo.

Acabei me entupindo das almôndegas que a Jack preparou, e essa é a pior parte: o telefonema que recebemos durante o almoço fez com que tudo isso virasse chumbo dentro de mim.

Oh, ok. Agora cheguei na parte que fez esse e-mail parecer um retalho de ideias mal colocadas... Acontece que o pessoal da imobiliária finalmente teve a permissão da polícia para arrumar os arquivos. Enquanto eles verificavam, notaram que os meus dados de fato sumiram. Não dos computadores, mas sim do armário que foi violado. De acordo com eles, ainda não houve tempo para saberem se o meu foi o único contrato desaparecido, pois a bagunça era imensa e eles estão tendo trabalho para verificar tudo junto aos dados virtuais. Mas por pedido especial da Lílian eles procuraram o meu primeiro, e não encontraram.

"Não se preocupem tanto", eles disseram. "Pode ser apenas uma coincidência... Deve ter mais outros faltando, não apenas o seu! Assim que descobrirmos a gente avisa vocês, tá?"

Apesar desse otimismo barato de revista de banca, tem uma pulga gritando atrás de minha orelha. Minha querida amiga, pense comigo, e veja se estou ficando louco ou não... Por que caralhos um ladrão aleatório vai ter o trabalho de arrombar uma imobiliária para fuçar em arquivos que não valem um tostão, em vez de roubar itens ou dinheiro? Até uma caneta velha seria de mais utilidade que arquivos! Minha lógica não consegue conceber nada além de: Marcus.

Mas a parte que está me desgastando os neurônios é entender: o que ele ganha sabendo quanto eu paguei nessa casa? Ou será que ele queria ver como era minha assinatura?

Não, isso ele também poderia conseguir mais facilmente com meus documentos. E também, não é como se ele precisasse do arquivo para descobrir o endereço daqui. As únicas informações extras que tinha lá eram...

Ah... Aaahhh!

Merda. MERDA! Eu entendi! Droga, eu queria não ter entendido, mas... Ah, merda, é tão ridiculamente óbvio!

Meu endereço antigo... Está lá!

Eu não devia ter comido aquele monte de almôndegas... Aahh, que dor de barriga...

O Marcus falou algo sobre se vingar, não foi? Ele falou, me lembro perfeitamente. Ele não suportou ver os pais dele na situação atual, e disse alguma coisa sobre descontar na minha família... Como eu pude ser tão burro? Eu tive que dar meu endereço antigo na hora de fazer a compra desse casarão! Eu tive que mandar um monte de comprovantes da antiga residência, e se ele de fato está com essas informações... Fodeu!

É isso. Ah, mas que inferno! É isso! Porra, é exatamente isso!

Meu Deus, eu tenho que falar com a Jack. Ela vai saber o que fazer... O Nicolas ainda está na faculdade, e não quero preocupá-lo agora.

Acho que vou ligar para minha avó. Da outra vez que dei o aviso ela não deu muita bola, mas... Agora é real. O perigo é real, e ele sabe como chegar lá.

Merda... Como sou burro!




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