06.06.18 - Quarta


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Quero carinhosamente dedicar este capítulo para a querida leitora KekaChibi, Técnica em Enfermagem que trabalha numa UTI ajudando pacientes oncológicos.

Ela está sendo de suma importância para todos estes capítulos de assuntos que não entendo NADA, e suportou corajosamente minha enxurrada de perguntas, respondendo todas com um carinho imensurável.

Keka, agradeço de coração!

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De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Seus olhos azuis


A Jack sabe ser maravilhosa quando quer, né... Ela fez amizade com uma das enfermeiras que cuidam de você na UTI, a Sant'Ana (que a gente chama de Ana). Por causa disso, ela ligou para nós primeiro quando você abriu os olhos, essa manhã.

Eu estava no mercado quando a Jack me avisou (eu não podia ficar mais um dia parado, esperando as coisas acontecerem). Esperei a hora do almoço para te ver, mas quando cheguei você tinha voltado a dormir. Eu me preocupei na hora, mas a Ana explicou que era apenas um descanso mesmo, porque você acordou desorientado e toda a explicação que os médicos deram te deixou exausto (foi o que eles disseram).

Ah, Zak... Queria ser eu a estar aí, do seu lado, para te dar as boas vindas... Mas ao menos você está se recuperando, e somente isso importa, agora.

Quando eu entrei no quarto onde você está, gostei de ver que não tem mais aquele monte de tubos enfiados na sua boca e nariz, mas mesmo assim foi meio chocante. Você está tão diferente... Tem fitinhas adesivas suturando o corte no seu rosto, e você está mais magro e pálido que o normal (se é que isso é possível). E com a boca toda ressecada...

Eu queria te tocar, te abraçar e fazer você ficar bom num segundo. Mas a Sant'Ana pediu para não ficar te tocando. Eu aproveitei que a Jack estava esperando do lado de fora, e conversei um pouco com você. Mesmo que estivesse dormindo. Agora, te escrevendo isso aqui, me sinto meio bobo, mas...

Zak, tem noção do alívio que eu estou sentindo? Você está meio acabado, com olheiras escuras, todo costurado, mas está vivo. Zak, isso poderia ter tido um destino tão pior! Eu acho que nunca rezei tanto na minha vida como esses dias...

Seu tonto descabeçado! Graças a Deus está melhorando... :')

Eu queria ter ficado mais tempo do seu lado, mas eles não permitiram. Você ainda tem muitas restrições nas visitas. Os vasos de flores que eu e a Jack levamos tiveram que ficar na recepção, e depois trouxemos embora, porque nem lá poderia ficar. Eles são bem rigorosos, porque a UTI é uma unidade fechada. Todos os pacientes aí estão num estado delicado ainda.

Por isso quero que saia logo deste lugar. Significará que já está bem.

Tudo lá parece tão frio... Aquelas camas de metal, e aquela aparelhagem toda. Pessoas com caras tristes, enfermeiros concentrados andando de lá pra cá... Pelo menos a Ana é um doce. Me deixa mais aliviado.

Depois de tudo aquilo, de ter visto você daquela maneira... Ahh, só sei que não quero te perder, Isaac. Saber que você já está respirando sozinho só faz essa certeza aumentar.

Lembra de quando a gente se conheceu? Já deve fazer mais de um mês, agora... Eu fui entregar o jornalzinho pra você... E na hora que te vi, reconheci que já tinha te encontrado antes, no mercado. E eu te contei sobre o antigo morador de sua casa.

Pensei que fosse te aterrorizar, mas você me olhava de um jeito tão fascinado... Na época pensei que você fosse um fissurado em histórias de terror, mas hoje eu tenho cá para mim que o motivo de você ter ficado daquele jeito era outro... Eu não sou ingênuo, mas naquele momento eu fui bastante.

Nesse dia senti como se nos conhecêssemos há eras. Sei que já falei isso mas, a maneira que você me olhava... Nunca ninguém me olhou assim antes. Um monte de coisas aconteciam ao redor, mas você parecia hipnotizado... Não despregava esses seus olhos azuis de mim. Eu cheguei a ficar sem jeito, mas confesso que gostei da atenção exclusiva.

Naquele dia eu reparei em como você é diferente (e falo isso num ótimo sentido!). Você é... Sei lá... Tem uns traços que te fazem parecer um anjo. Você é delicado, e ao mesmo tempo perigoso, porque sempre parece que está tentando me interpretar. O tempo todo parece que você estava tentando ler minha mente, e isso me fazia sentir nu.

Aquele dia eu não queria parar de te olhar. E foi estranho para mim, na época, perceber isso.

Eu sempre estive procurando por algo. Minha vida toda eu procurava por uma coisa que não sabia o que era. E mesmo indo às vezes na igreja com o Lucas (porque a Jack dizia que me faltava espiritualidade), ainda sentia isso. Você tem noção do quanto é horrível procurar por algo que não se sabe o que é? Faz ideia de como é desolador sentir um vazio que não se sabe como preencher?

Mas quando eu te conheci, senti uma coisa estranha. Era como se esse vazio começasse a diminuir... Eu demorei um tempo pra entender. Isso ainda é novo pra mim...

Minha ficha só foi cair naquele dia em que limpamos seu quintal... Quando ficamos juntos, perto do córrego no fundo da sua casa. Teve aquele momento que a gente brincou na água, e... Nossa. Fazia tempo que eu não me sentia tão leve daquele jeito. E mais tarde, quando eu estava indo embora, você me beijou.

Zak, aquele simples selinho seu mexeu comigo mais do que imagina. Na hora, eu não pensei em mais nada... Só quis te beijar de volta, porque notei (só naquela hora) que eu estava querendo te beijar faz tempo. E foi uma onda de sentimentos muito, mas MUITO forte, que tomou conta de mim.

É que eu finalmente tinha entendido que você parecia ser o que eu estava procurando. Primeiro, naquela brincadeira nossa, no córrego dos fundos de seu quintal. E depois com seu beijo... Você me surpreendeu. E quando eu retribuí, senti algo que eu nunca tinha sentido antes.

E isso me assustou... Na verdade, ainda tenho um pouco de medo, porque é diferente de tudo o que eu tinha sentido antes, de tudo o que eu havia imaginado para mim.

A Jack tinha pedido para eu não me aproximar de você daquela maneira (para não te dar esperanças sem que eu tivesse certeza do que queria), e isso foi depois daquele seu surto, na sua casa.

Eu não quero te machucar, Zak... Eu nunca quis ser o motivo de você ficar mal... Eu sei que posso acabar sendo nocivo pra você, mas neste último sábado eu simplesmente não aguentei mais. Eu estava sentindo necessidade de me aproximar. Te beijar... Sentir você, te abraçar. Mesmo que seja estranho um homem sentir desejo por outro... Mesmo que as pessoas me olhem torto. E é disso que eu mais tenho receio: dos outros. Não do que eles podem pensar, porque eu já aprendi a não me importar tanto com isso. Mas sim do que eles são capazes de fazer. Os desgraçados que pensam que podem julgar e "corrigir" o mundo usando a força.

E foi um filho da puta dessa laia o responsável por você estar no hospital agora.

Às vezes penso se o que aconteceu foi uma espécie de aviso, para eu me afastar definitivamente de você. Uma mensagem dos céus para eu te deixar em paz, e parar de ter esse interesse que eu não consigo entender. Porque eu nunca antes olhei para homens. Eu sempre me vi como hétero, e até sentia atração por mulheres, e de repente estou me vendo com os pensamentos em um garoto. Mas um garoto realmente lindo. Angelical, intenso, e que mexeu completamente com minha cabeça...

Eu quero você ao meu lado, Zak. Quero poder ouvir seu riso de novo, poder ouvir sua voz doce... E também quero te beijar de novo, te tocar, conversar com você, estar ao seu lado... Mas não sei como lidar com toda a bagagem que isso vai trazer.

Como foi para você, quando soube? Digo, no momento em que admitiu para si mesmo, como foi? Essa é uma coisa que eu quero entender em mim, também. Você é uma das pessoas mais fechadas e introvertidas que conheço, então imagino que não deve ter sido fácil.

Eu ainda não consigo olhar no espelho e afirmar simplesmente que "sou gay". Mas, por causa do que vem acontecendo, sei que também não sou um "hétero".

Isso é tão confuso, Zak... A verdade é que você é a primeira pessoa por quem tenho um olhar diferente. Talvez eu não me encaixe em Hétero, nem Homo (e nem em "Bi"... se existisse a categoria "Isaacsexual" acho que seria o mais apropriado).

Nossa... Quanta porcaria eu estou falando... Acho que nunca vou te revelar que estou te mandando esses e-mails. É muito vergonhoso.

Mas, enquanto você estiver naquela cama de hospital, quero fazer isso. Eu preciso fazer isso. Se não enlouqueço, com tantos pensamentos na minha cabeça. E escrever isso é uma forma de drenar tudo para fora. Passar esse monte de paranóia e devaneios absurdos para cá está me ajudando.

Acho que agora entendo aquele e-mail inicial que você começou a escrever para uma amiga. Escrever nossos pensamentos realmente ajuda, né?

É, ajuda... Mas a verdade é que eu queria falar diretamente com você... Olhando em seus olhos... Quero que saia logo daí.

Por que a gente é assim? Precisamos correr o risco de perder algo para nos darmos conta da dimensão da importância. E pode crer que eu percebi, Zak. Percebi que se tirassem você de mim eu iria jogar minha vida no lixo, e iria atrás do desgraçado que fez isso para me vingar. Se você não tivesse sobrevivido, AHH, eu iria! Pode ter certeza disso.

Mas você está melhorando. E eu tenho que parar com isso, porque toda hora que penso em quem teve a audácia de enfiar um canivete em você, eu... Ah, merda. Acho que eu nunca senti tanto ódio na vida.

Eu não suporto lembrar do seu rosto daquele jeito, mas é tudo em que penso quando minha mente esvazia. Quando os paramédicos te levaram pra sala de cirurgia, e você ficou me chamando, eu não queria soltar sua mão, eu não queria ter te deixado sozinho, mas eu não podia ir além.

E essa foi a última vez que vi seus olhos abertos. E por isso que é só essa imagem maldita que me vem à mente. A imagem do Zak sofrendo (foi a segunda pior imagem de minha vida).

É, eu sei que estou dramático demais. Mas ficar aqui, sozinho nesse quarto, sabendo que você está no hospital e não na sua casa... É muito ruim.

Amanhã vou novamente para Eloporto, te ver no horário de visita. E a Jack falou que seus pais chegam amanhã também. Ela está com receio, e me contou um pouco do que vocês conversaram sobre seus pais. Depois disso, até eu fiquei tenso.

Mas são seus pais, né. Não poderíamos simplesmente deixar de avisar.

Espero que aqueles papos tenham sido só exagero da Jack. Ela sempre romanceia demais tudo o que me conta. Sempre aumenta uns pontos nas histórias. Então... é esperar para ver com meus próprios olhos.

E falando em olhos... Amanhã quero finalmente poder olhar para os seus. E se possível, quero te dar as boas vindas ao mundo dos vivos com um beijo... Porque depois daquele sábado, percebi que você é tudo o que eu quero.

Eu ainda vou ter que aprender a viver nesse mundo cretino de preconceituosos. Mas se for com você ao meu lado, eu aguento o tranco.

Só que isso não vai ser possível se você continuar nessa cama de hospital gelada.

Então, por favor... Fique bom logo...



Atenciosamente,

Um Nicolas aflito e com muita saudade de seu sorriso.


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💕 Agradeço muito pela leitura 💕

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