5. Apagão
A noite estava agradável, a chuva, que mais parecia o fim do mundo, havia deixado um ar fresco e ideal para caminhar, o céu estava completamente limpo repleto de estrelas. Sherlock e John andavam pela causada praticamente vazia, o que possibilitava o detetive realizar suas pausas momentâneas para analisar a arquitetura da cidade adormecida.
– Essa não. O restaurante está fechado. – John olha para o restaurante na esquina da rua. – Que horas são? – Pergunta para Sherlock.
– 11:45. – Sherlock diz olhando para o céu.
– Como sabe? – questiona John irritado para o amigo. – Nem ao menos olhou para o relógio do celular.
– Basta olhar para a posição da lua. É a maneira mais óbvia. – ri e olha para John, que fica com uma cara de bobo olhando para o amigo.
– Bem... – começa o loiro olhando ao redor da avenida quase deserta. – Não me lembro de mais nenhum lugar que possamos comer por aqui. – passa a mão pelos cabelos dourados. – Acho melhor voltarmos para casa e pedirmos uma pizza. O que acha Sherlock? – Olha para o lado a procura do companheiro.
– Sherlock! – grita John ao perceber que ele já não está mais ao seu lado. – Sherlock onde você está? Eu não gosto dessas brincadeiras. Volte aqui agora. SHERLOCK! – John grita ainda mais, já entrando em desespero. – Essa não, eu perdi ele aqui em São Paulo. Nunca vou me perdoar. – pensa para si.
– Fale mais baixo, pode despertar a atenção de algum policial. – O moreno chega por trás e tapa a boca do amigo com suas mãos.
– Por onde andou? – diz o loiro se desvencilhando das mãos que tapavam sua boca. – Sabe o quanto fiquei preocupado? – passa as mãos pelo rosto.
– Percebi. Dava para te ouvir lá do outro lado da rua. – Sherlock riu e encarou o amigo que também o encarava com cara de bravo.
Sherlock se sentia diferente, nunca teve alguém que se preocupasse daquele jeito com ele. Tudo bem, poderia ter seus pais e até o louco do Mycroft que era capaz de paralisar o mundo apenas para visitá-lo, mas nunca era compreendido pela família ou qualquer um que estivesse a sua volta.
Sempre fora rejeitado pelos amigos, recebia xingamentos, indiretas, mal olhares, além de não conseguir se socializar com as pessoas. Crescera ouvindo que não tinha coração, mas sabia que tinha, na infância amava Redbeard, seu único amigo animal, mas esse coração se perdeu com o tempo.
Em São Paulo as coisas eram diferentes, tudo corria, existiam horas, compromissos, lugares, pessoas e John Watson. John, a pessoa com o maior coração que conhecera até agora, por mais que tivesse acabado de conhecê-lo já nutria um carinho por ele, considerava-o como um irmão. Ele se preocupava realmente com ele, era fiel e trazia vida para sua viagem solitária.
– Não fique assim. – Coloca a mão no ombro do amigo. – Estou aqui agora.
John sorria e uma expressão de alívio dominava seu rosto. Ele também não tivera uma vida fácil, havia servido o exército militar, sua mente era repleta de pensamentos e imagens que vinham e voltavam. Também vivia só e agora, assim como Sherlock, havia encontrado um amigo, que agora o considerava um irmão.
– Vamos. – Sherlock puxa a mão do amigo.
– Para onde?
– Comer é claro. Achei um bar sofisticado que deve vender batatas.
– Bar sofisticado? – John não tem tempo para raciocinar, quando sente seu corpo ser puxado pelo moreno.
– Isso é uma Boate. – Diz John assim que entra no ambiente cercado por luzes e um som ensurdecedor.
– Uma o que?
– BO-A-TE. – John grita no ouvido do amigo. – Você é tão esperto que não sabe diferenciar uma Boate de um bar.
– Vi as luzes e deduzi que a clientela estava em decadência e por isso estavam usando esses recursos para chamar a atenção.
John não conseguia acreditar naquela explicação, lançado um olhar inconformado como resposta.
– Olhe, uma mesa. – aponta Sherlock empolgado por ter descoberto aquele lugar. – Olá, vocês vendem porções de batatas? – senta no banco e pergunta para o garçom.
– Não trabalhamos com batatas senhor, apenas bebidas. – O garçom riu com a pergunta.
– Que tipo de bebidas me sugere?
– Sherlock é melhor irmos embora. Compramos uma pizza e eu posso fritar batatas pra você. – John tenta convencer o moreno.
– Me deixe. Como vou conhecer São Paulo se não experimentar o que ele tem para me oferecer. E além disso – continua Sherlock. – suas batatas devem ser horríveis. – vira para o garçom. – Qual é sua melhor bebida?
– Bruichladdich, um uísque Irlandês, temos também uma Pinga especial, que recebe o nome de Spirit, originada dos Estados Unidos e é claro nosso querido Rum.
– Poxa quanta coisa. – Sherlock passa a mão pelo rosto. – Estou em dúvida.
– Sherlock vamos embora. – John continua insistindo.
– Por Merlin, tenha calma homem. – grita o moreno. – Já bebi muitas coisas nessa vida, estou pronto para tudo.
– Já sei. – Disse o garçom. – Black Russian. Uma mistura de Vodca e Kahlúa, um licor à base de café. O que acham?
John e Sherlock olhavam pasmos para o moço atrás do balcão, nunca ouviram falar naquelas bebidas. Talvez John soubesse lógico, da existência da Vodca e do Rum, mas não era de frequentar boates nem de beber bebidas alcoólicas.
– Ótimo, vamos com esse então. – O moreno da um grito de alegria.
– Ei Sherlock. – a atenção do loiro se volta para outra direção enquanto o garçom sai para preparar o drink.
– Sim. – responde observando o cardápio.
– Parece que aquela moça está chorando.
Os dois olham em direção ao outro lado do balcão em formato de circunferência, onde analisam a silhueta de uma mulher que aparentava estar com os braços cruzados e a cabeça baixa chorando.
– Será que ela está bem? – se preocupa John.
– Está de ressaca. Terminou o namoro e veio aqui afogar suas lágrimas no álcool. – Olha novamente para o cardápio. – Passou metade da vida sendo trouxa. Uma vida muito entediante por sinal.
– Por que tem que ser tão cruel com as pessoas que nem ao menos conhece?
– Não sou cruel. Apenas falo o que é óbvio e o que vejo.
John se irrita, levanta e anda em direção a moça que está chorando.
– Ah céus John. Aonde vai agora? – Sherlock levanta e segue o amigo.
– Com licença. – O loiro se aproxima da mulher, que tentava se recompor ao sentir a mão do homem encostando em seu ombro. – Vimos você chorando. Está tudo bem? – senta no banco ao lado da mulher.
– Sim. Não se preocupe. – passa a mão no rosto para secar uma lágrima que cortava sua bochecha.
– Pelo amor John, precisava sair daquele jeito. – o raciocínio de Sherlock falhou ao ver quem era a moça que chorava.
– Sr.Holmes. – o cérebro da moça esqueceu de processar a respiração.
– Vocês já se conhecem? – John deu um sorriso de felicidade. Não sabia que Sherlock tinha mais amigos na cidade.
O moreno permanecia paralisado olhando para moça. Sua respiração oscilava, sentia uma corrente elétrica percorrer todo seu corpo. Sentia que algo de errado estava acontecendo com ele. Sempre dominava seus sentimentos e colocava o trabalho a frente de tudo e de todos, mas na frente daquela moça era algo incontrolável, algo ainda maior que seu ego.
– Senhorita Hooper. – Inclina um pouco a cabeça e fixa o olhar para Molly. – Sim John. Nos conhecemos no aeroporto.
O detetive anda em direção a garota e se senta em uma cadeira ao lado dela.
– Pode me chamar apenas de Sherlock.
– E você, apenas de Molly. – Tenta rir disfarçando o choro. – Não queria que me vissem nesse estado. – Tenta encobrir o rosto.
– Brigou com Tom. – olhou para Molly, que agora levantava a cabeça para olhar para o moreno. – Pelo visto é definitivo.
– Eu acho que a errada era eu. – lágrimas ameaçavam a escorrer de seus olhos castanhos. – Eu trabalho muito, quase não fico em casa. – começa a chorar assim que pronúncia as últimas palavras.
– Não chore. Você é maior que ele. Você não pode parar sua vida por ele. – John tenta acalmar a moça.
– Você é a pessoa mais certa que conheci. – Sherlock passou a mão nas costas da moça .
John olhava sem acreditar no que acabara de sair da boca de Sherlock e no gesto do moreno, até então nunca demonstrara um ato de amor, a não ser com ele em raros poucos momentos.
– Pensei que ela era trouxa, Sr.Holmes. – ironiza John.
– O que? – Molly não entende muito bem a indireta.
– Nada. – Sherlock corta o assunto. – John é muito insensível.
John mira um olhar indignado para o amigo.
– Não fique assim. Nem todas as pessoas são espertas o suficiente para achar as pessoas com quem querem passar o resto de suas vidas. E você não foi nada esperta.
– Mas você acabou de dizer que ela era a pessoa mais certa que conhecera. – O loiro volta a interromper.
– Fique quieto John. Não vê que estou dando conselhos para um ser humano que caiu na tentação química do amor?
– Nossa e você sabe muito bem o que é amor não é mesmo, Senhor Sem Coração. – John bate na mesa.
Sherlock permanece calado, como se uma faca atravessasse seu peito e tivesse destruído o resto de coração que estava perdido em seu peito. Mas como sempre inibiu esse sentimento.
– Ela perdeu John. – Olha para Molly em prantos com a cabeça apoiada na mesa. – Não consegue ver isso? Ela amava, seus sentimentos pregaram uma peça nela.
– Ela não perdeu nada. Vai conseguir dar a volta por cima. – John tenta animar a situação.
– Sentimento é um defeito químico de quem está perdendo. Ela perdeu.
– Rapazes por favor. Não briguem por minha causa. – Molly consegue tomar fôlego entre as lágrimas para falar. – E eu estou bem. Não preciso de conselhos, muito menos os seus Sherlock. – O fixa com o olhar.
Aquilo poderia ter soado normal para o moreno, mas naquelas últimas horas tudo que vinha da boca daquelas duas pessoa que estavam ali presentes, era fatal e não conseguia controlar. Assim como as palavras de John, as de Molly soavam ainda piores para ele.
– O drink senhores. – anuncia o Garçom colocando as duas bebidas na mesa.
– Espere. – Grita Sherlock em direção a Molly, que já se levantava para ir. – Traga mais um, por minha conta. Todos os Drinks serão por minha conta. – puxa o braço de Molly. – Fique. Não quero que vá embora magoada comigo. – Sherlock se espanta consigo mesmo após falar aquilo. Nunca sentira um sentimento tão forte a ponto de pedir que outra pessoa ficasse.
John apenas observava a cena sem entender o que se passava na cabeça do moreno.
Passaram parte da madrugada bebendo e conversando. John nunca pensou ver Sherlock bebendo daquela forma, Molly parecia não gostar muito de bebida alcoólica mas devido sua situação e a empolgação de Sherlock, deixou se levar. John parou no primeiro drink, permanecendo o resto da noite na base de água e suco de laranja.
O loiro percebeu a hora de levar Sherlock e Molly, assim que o moreno levantou bruscamente, arrastando Molly, que também não estava nenhum pouco sóbria, para o meio da pista de dança. John ficou impressionado com a habilidade e flexibilidade do corpo de Sherlock, que improvisava movimentos cada um mais complicado que o outro, até que uma hora Molly tropeçou em seus próprios pés e sua queda foi impedida pelos braços fortes do moreno.
Os dois riam sem parar, Sherlock nunca parecera tão feliz e humano naquela noite, até que o corpo dos dois se aproximaram ficando a meros milímetros de um possível beijo, mas que também foi interrompido por um homem dançando em circulos desnorteado e empurrara Sherlock, o fazendo cair no meio do salão.
John levantou imediatamente e correu para ajudar o amigo antes que este fosse pisoteado pelas pessoas que dançavam em sua volta.
– Ei galera. – Disse John adentrando no meio da multidão que dançava freneticamente, puxando Molly e Sherlock para a saída. – Vamos. Já está tarde.
John quase caiu ao passar pela porta de saída segurando os dois, que praticamente estavam caídos nos ombros do loiro. Com muito custo, John conseguiu levá-los até a esquina da rua principal.
– Por Merlin Sherlock. – Disse soltando o amigo que mal parava em pé. – Você está péssimo. Não deveria ter bebido daquele jeito. Venha – Pega Sherlock pelo braço. – Precisamos chamar um Uber para Molly, ela tem que ir para casa. – observa Molly meio sonolenta na beira da calçada.
– Exxtá tudo ótxxximo homem. – Sherlock tenta pronunciar algumas palavras, que acabam se tornando uma tarefa quase impossível. – Cadê o carro? – ameaça cair novamente, mas é pego por John.
– Sente-se na calçada. – Acomoda o moreno ao lado de Molly. – e veja se consegue parar em pé. – Pega o celular para chamar o carro.
Assim que termina a solicitação se depara com uma Molly e um Sherlock muito sorridentes, os dois conversavam e riam um do outro contando histórias e palhaçadas que fizeram durante a infância. John ficou feliz pelo amigo estar alegre, nunca o vira assim desde que o conhecera. Já sabia que ele havia construído um escudo que o impossibilitara de sentir qualquer sentimento e aquela mulher o tornava mais humano, chegando a conclusão de que deveria mantê-la por perto.
– Bem. – John se aproximou dos dois interrompendo o pequeno momento de euforia de Molly que ria incontrolavelmente. – O Uber já está chegando para te levar Molly.
– Como sabe meu endereço? – Questiona a moça encostando no ombro de Sherlock após uma breve tontura.
– Peguei um papel pequeno que caiu do seu bolso, junto estava com o nome de uma rua e o endereço. Imaginei ser de algum conhecido ou seu.
– Ah, o papel. – riu envergonhada. – Minha mãe sempre me obrigava a sair com um papel na carteira com o endereço de casa caso eu me perdesse e o costume pegou.
– Vamos, levantem. – Puxa o braço de Sherlock. – O carro virá buscar a Molly naquela esquina.
Os dois mal conseguiam parar em pé ora por se desiquilibrarem em seus próprios pés ou por uma gargalhada que fazia a cabeça girar e se inclinarem para trás.
John tentou colocar Molly sentada em um banco enquanto Sherlock permanecia em pé observando um morador de rua que o encarava do outro lado da avenida.
– Quem ele pensa que está olhando? – Sherlock prendeu o olhar analisando o homem.
– Quem? – O loiro volta sua atenção para o outro lado da rua. Mas uma enorme escuridão toma a rua tornando a visão de John quase nula.
– Meu Deus, o que houve? – Molly pergunta assustada.
– Um apagão. – Sherlock fala em voz alta quase gritando. – Mas que estranho.
– O que é estranho? – O loiro se aproxima do detetive.
– O apagão. Não tinha carros da companhia elétrica por aí, e a chuva já acabou faz muito tempo. – Olha para o amigo. - É uma coisa planejada. Não saiam dos lugares de onde estão.
– Ah Sherlock, por favor. Até bêbado tenta resolver casos. Deve ser só um fio que se partiu. – John tenta convencer o detetive.
– Analisei todos os fios enquanto andava durante o dia e nenhum estava fraco ou com perigo de se arrebentarem.
– Pare de criar essas deduções.
– Não saiam dos lugares! – Grita mais uma vez.
Um forte barulho de alguém batendo no banco de metal onde se encontrava Molly chamou a atenção dos dois, seguido por um grito de socorro da garota.
– Molly! – Sherlock empurrou John e correu em direção ao som do grito.
Era praticamente impossível correr em direção aos gritos da mulher uma vez que quase não se via nada e a tontura de Sherlock o impossibilitava de correr em linha reta.
– Sherly! Socorro! – O grito ficava cada vez mais longe e se misturava com os sons de braços se debatendo.
– John, corra atrás dela. – gritou
Sherlock ao ver que era quase impossível correr. Pega uma arma que estava presa em seu bolso e mesmo na escuridão sem saber onde atirar mira na direção do vulto de John e dos gritos de Molly.
Mau consegue segurar a arma e sente uma pancada na cabeça fazendo-o desmaiar.
John ouve o grito do amigo mas corre para salvar Molly, que com muita sorte conseguiu chutar as partes baixas do homem que estava quase a ponto de enforca-la, conseguindo se desvencilhar e correr para trás de John.
John ainda conseguiu dar um tiro na região do abdômen do homem que tentava se recompor após o chute recebido, apenas um grito foi ouvido seguido pelo som de um corpo caindo no chão.
– Você o matou? – Molly corria atrás de John, que ia em direção ao amigo desacordado na beira da causada.
– Creio que não. Ainda estou ouvindo gemidos de dor. – Tenta levantar Sherlock. – Vamos me ajude. Eu pego os braços e você as pernas. – se volta dando instruções para Molly, que ainda se recuperava da tontura e do susto. – Temos que sair daqui antes que voltem.
Rapidamente pegaram Sherlock, que mesmo já se recuperando da pancada, não estava totalmente consciente devido ao efeito do álcool. Mas mesmo assim conseguiu pronunciar uma palavra.
– O livro.
– O que? Onde? – John pergunta sem entender.
– De dois passos para trás e pegue o livro.
– Não tem livro aqui Sherly. – Molly disse tentando ver algo em meio a escuridão.
– Sim. Ouvi o barulho de algo sendo jogado no chão e pelo volume e o impacto da queda, me acertaram com um livro e este foi jogado de propósito perto da minha cabeça enquanto eu estava caído.
John e Molly se entreolham. Após alguns segundos de raciocínio, o amigo se rende as deduções do moreno e anda dois passos para trás pisando em um livro.
– Precisamos sair daqui. – Sherlock fala quase desmaiando novamente.
John pega o livro, o coloca em baixo do braço e junto com Molly levam Sherlock para o apartamento Westminster.
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Olá leitores. Espero que estejam gostando da leitura. 😏
Bem eu estou passando aqui pra informar que não se trata de uma fic Johnlock, por mais que eu ame esse casal maravilhoso e tudo mais. Se trata de uma fic Sherlolly, então não se confundam com alguns acontecimentos ao decorrer da história, pois Sherlock e John não terão um caso aqui ok.
Nos próximos capítulos o rumo das coisas começarão a mudar, Molly vai aparecer mais na história e os ideias de John vão mudar um pouquinho.
Até mais meus amores! 😙
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