16.Pérola

O tempo havia mudado bruscamente, o Sol e o calor que acompanhava o dia em São Paulo agora havia dado lugar para uma noite fria que se misturava com a constante garoa.

Após sair da residência Westminster, Sherlock não conseguia pensar em nada ou ter um raciocínio correto dos últimos acontecimentos, aquele pesadelo não saia de sua cabeça, sabia que a próxima vítima seria Molly Hooper, a pessoa com quem vinha nutrindo certos sentimentos todo esse tempo, a pessoa que o fizera descobrir coisas de si mesmo que jamais poderia imaginar que era capaz e agora aquela mulher, que também nunca saia de sua cabeça, estava correndo perigo e o maior detetive do mundo não era capaz de ajudá-la.

O moreno, que ainda estava parado na esquina próximo a residência remoendo seus pensamentos, puxou parte das longas golas pretas de seu sobretudo, fazendo com que parte de seu rosto ficasse protegido da chuva e seguiu uma pequena rua sem saber ao certo para onde estava indo.

Já se passavam das 21:00 horas, a rua estava deserta, comércios fechados, pouca movimentação de carros, não havia uma pessoa se quer tentando se proteger daquela noite gélida, apenas a imagem de um homem vestido com um enorme casaco preto, caminhando sem rumo pelas ruas.

Após alguns minutos de caminhada, o moreno avista uma pequena lanchonete que também era considerada um bar, pelo menos foi isso que Sherlock entendeu ao ver a sua frente uma placa, que mal se conseguia ler, devido a garoa que encobria parte de sua visão e devido a própria placa desgastada com o tempo, mas mesmo assim pode ler o nome do lugar, "Paulista Bar e Restaurante".

Assim que entrou no pequeno comércio, se deparou com um lugar aconchegante, bem diferente do que vira na parte externa que era bem humilde. O lugar não era grande, mas o proprietário soube aproveitar cada pedaço dali. O lado direito era composto por pequenas mesinhas redondas onde as pessoas podiam se sentar e apreciar uma boa comida, a outra parte do lugar era dividida por um pequeno bar, com um balcão em formato de semicírculo que ocupava quase toda a parede lateral onde fora enfeitada com diversas estandes contendo cervejas, vinhos entre outras bebidas alcoólicas.

Sentou-se em um banquinho próximo ao balcão, retirou seu sobretudo, já que o lugar estava bem aquecido, se virou para a enorme TV na parte superior do restaurante, que se encontrava no centro de uma das paredes da entrada do lugar para que todos pudesse assistir.

O moreno encarou a TV por alguns minutos, seus pensamentos sobre Molly ficavam cada vez mais fortes assim que se lembrou que a moça adorava a novela que estava passando naquele exato momento. Não se lembrava o nome da novela, nem ao menos gostava dessas coisas, achava uma perca de tempo se interessar por histórias e personagens que nem ao menos existiam, mas se lembrara do nome da emissora, Globo, pelo menos foi esse o nome que veio em sua mente e sabia, porque desde que chegara na cidade muitas pessoas comentavam sobre essa emissora.

– Posso ajudar senhor? – Um senhor alto e magro apareceu no balcão, tirando Sherlock de seus pensamentos e o impedindo que lágrimas caíssem de seus olhos.

– Vocês têm batatas? – O moreno disse encarando o rosto do senhor, evitando ao máximo olhar para a novela, que trazia Molly a seus pensamentos.

– Sim, temos. – O senhor pega um pequeno cardápio e o entrega a Sherlock. – aqui estão algumas porções, basta escolher.

Sherlock ficou um tempo parado olhando para o papel plastificado em sua mão, relembrou-se de que havia prometido a Molly que comeria batatas com ela, aquilo não estava certo, queria ter uma companhia naquela noite, queria que Molly estivesse com ele, para rir, apreciar aquele sorriso, o perfume amadeirado e observar cada detalhe daquele rostinho.

– Senhor? – Mais uma vez o balconista tirou Sherlock de seus pensamentos.

– Pensando melhor. – A voz do moreno falhou. – Não estou em um bom dia para essas coisas. – O moreno levanta a cabeça e observa algumas bebidas nas prateleiras. – Me dê a bebida mais forte que o senhor tem e por favor, não deixe meu copo vazio nem por um segundo.

O senhor apenas o encarou sem entender o que estava acontecendo, mas sabia que iria lucrar muito aquela noite, mesmo sabendo que aquele homem poderia causar algum prejuízo quando estivesse completamente bêbado.

Não demorou muito tempo para que o álcool começasse a fazer efeito, haviam se passado apenas uma hora e Sherlock já sentia o efeito do álcool dominar seu corpo. Levantou meio cambaleando, foi em direção ao caixa, mas acabou caindo e batendo a cabeça na pequena mureta de madeira que enfeitava o lugar, provocando uma corte na testa.

Um homem de estatura média, mulato e cabelos negros, correu imediatamente para ajudá-lo, mas foi surpreendido com um soco na região do nariz, dado por Sherlock que tentava se levantar.

– Como ousa tocar em um Detetive Consultor? – O moreno se segura no balcão, tentando ganhar impulso para levantar.

– Você está maluco? – O homem o puxa pelo braço para que o moreno ficasse de pé novamente.

– Quem você pensa que é? Por acaso não me conhece não é mesmo? – A voz de Sherlock quase não saia, nem ele sabia o que estava falando.

– Você é Sherlock Holmes. – O homem gritou o mais alto que pôde. – O idiota que está tentando achar o assassino que matou meu filho mais velho. – O Homem agarrou com mais força o colarinho de Sherlock. – E agora, ao invés de estar atrás desse imprestável, está se embreagando e trazendo prejuízo para meu bar.

Sherlock não estava entendo o que o homem queria dizer com tudo aquilo, apenas via tudo ao seu redor girar, mas conseguiu entender as últimas palavras.

– Você é o pai de um dos escritores? – Foi necessário uns cinco minutos para que o detetive formulasse aquela pergunta.

– Sou, mas isso não importa agora, ele está morto e eu tento seguir a vida como posso tomando conta desde bar, que foi ele quem me deu, ao vencer um concurso de escritores e o dinheiro do premio investiu na construção desse bar. – Pressiona ainda mais o pescoço do moreno contra a parede. – Você é um péssimo detetive, desde que chegou não resolveu nada e nem vai resolver, saia do meu bar e nunca mais volte aqui.

Antes que Sherlock pudesse sair do ambiente, foi presentiado com um soco próximo ao nariz, fazendo o sangue que escorria em sua testa se misturar com o que começava a sair de seu nariz.

Andou cambaleando até a saída e cair em uma poça de água, em seguida pode sentir seu casaco sendo lançado pelo homem e cair na mesma poça de água.

A chuva havia parado, mas Sherlock estava mais encharcado do que se tivesse continuando andando naquela garoa. Se antes não fazia ideia para onde ir, agora a situação estava pior, estava bêbado, com o rosto ensanguentado, todo molhado e seus pensamentos o atormentavam ainda mais.

Conhecera um dos pais das vítimas, aceitava estar perdendo para Arantes, o mestre dos disfarces, por mais que tivesse decifrado o enigma, aquelas frases e livros, estava perdido. Se capturasse ele ou não, pessoas iriam morrer, inocentes que nem se quer conhecia, ou seus próprios amigos que não tinham nada relacionado com o assunto, mas sabia que Arantes era capaz de tudo aquilo, o cara era inteligente, sabia movimentar cada peça do jogo com cuidado e esperteza, até aparecera na frente de Sherlock e o próprio não conseguira pegá-lo.

Sherlock finalmente estava se dando por vencido, o jogo havia acabado para ele e a única coisa que poderia fazer era voltar pra o Sul e aceitar o caso em Londres, mesmo sabendo que outras pessoas iriam morrer, mas se ficasse, Molly iria morrer e não podia permitir isso.

– Pérola. – Exclamou o moreno enquanto andava desorientado pelas ruas.

Aquela palavra veio seguida de uma tristeza e um nó na garganta, começou a lembrar da frase de Mycroft no sonho e da do próprio Arantes, as duas se referiam à pérolas e afirmavam que Sherlock perderia sua pérola. De início o moreno se recusava a entender o que já era óbvio para ele, mas agora era impossível negar a verdade. Sua pérola era Molly Hooper, estava apaixonado por ela e era uma das coisas mais preciosas que aparecera em sua vida naqueles últimos dias, ela era corajosa, enfrentava e se submetia a coisas só para ajudar o detetive, mas não iria escapar de Arantes e sabia que poderia perde-la a qualquer momento, nem mesmo a proteção nível máximo de Mycroft iria protegê-la.

Envolto em pensamentos, quando deu por si, já estava em frente a portaria do apartamento de Molly, seu subconsciente o levara até o local fruto de toda aquela confusão mental.

De início não entendeu o que estava fazendo naquele lugar, sentou na beirada da calçada, o vento gelado bagunçava os cabelos negros e podia sentir suas feridas arderem com a brisa. Olhou para o alto, o prédio da Livraria estava escuro, apenas com algumas luzes acesas em alguns corredores. Lagrimas escorreram e todos os pensamentos voltaram a tona, não tinha mais saída, em poucos dias iria receber a notícia da destruição daquele lugar. Sentiu um peso dominar seu corpo, se inclinou para trás até estar completamente deitado no chão frio e úmido.

– O que você está fazendo aqui? – O porteiro, já bem conhecido por Sherlock, vira o momento em que o moreno chegara e se sentara em frente a portaria, mas quando viu ele se reclinando no asfalto ficou preocupado e foi em sua direção.

– Me deixe entrar, por favor. Tire a visão desse prédio da minha mente. – Apontou para a Livraria, assim como sua mão, todo seu corpo tremia. Estava gelado e com o rosto avermelhado pelo sangue e um pouco roxo pela perda de calor corporal.

O porteiro ficou pasmo com o estado do detetive, ele não aparentava aquela figura louca que aparecera ali nos últimos dias, gritando e afirmando ser um tal de Sociopata alguma coisa, nem ele sabia o significado daquilo que o moreno inventara. A figura de Sherlock era outra, estava com medo, fraco, além de estar com um bafo horrível de álcool, poderia muito bem expulsa-lo dali, mas a imagem do detetive era lamentável, sabia que se o largasse ali, Sherlock podia se meter em sérios problemas.

O porteiro pegou a mão de Sherlock ajudando-o a levantar, colocou os enormes braços do moreno ao redor de seu pescoço, tentando fazer com que os dois ganhassem equilíbrio. Foram cambaleando até entrarem na residência, o porteiro colocou Sherlock sentado em um dos bancos, este quase caiu ao sentar, mas permaneceu firme tentando conter o equilíbrio.

– Vou ligar para Molly. – O homem encara Sherlock, que permanece com a visão voltada para o chão da portaria. – Eu não deveria, mas você precisa de cuidados e ver se ela pode usar seus dotes de medicina para ajudá-lo.

O porteiro se dirigiu ao telefone, fez algumas ligações, três ao todo, mas todas foram em vão, Molly não atendia.

– É meu amigo... – Diz colocando o telefone novamente no gancho e saindo da cabine. – Espero que não se incomode de passar a noite no banco. Molly deve estar dormindo...

Não teve tempo de terminar a frase, assim que viu o banco vazio, sem nenhuma pista do detetive, olhou em direção ao elevador e viu o momento que a porta se fechava com Sherlock lá dentro. Ele poderia muito bem ir atrás dele, mas estava com muita pena da imagem deplorável do detetive. Resolveu confiar em seu anjo da guarda e pedir a Deus para que Sherlock não fizesse nada que colocasse seu emprego em risco.

_______________________________________

Molly acordara assustada com o som do interfone, já fazia algumas noites que estava sem dormir, na verdade essas noites se resumiam aos dias que Sherlock havia chego, ou não dormia por estar com ele em algum caso ou por estar no hospital, ou pelo simples fato de sempre pensar no detetive, se ele estava bem ou em apuros precisando de sua ajuda.

Havia sido um dia tranquilo para ela, passara o dia todo no Hospital, havia pesquisado alguns lugares para sair com Sherlock naquela noite, já que o moreno fazia tanta questão de comer batatas, queria leva-lo em um lugar especial. Após o expediente foi para casa se arrumar e esperar alguma mensagem ou ligação de Sherlock. Mas como já era de se esperar, não ouve nenhum retorno do moreno, até pensou em ligar ou mandar alguma mensagem para John, já que Sherlock quase nunca lia suas mensagens, mas logo esse pensamento saiu de sua mente, não iria se rebaixar a esse ponto e não iria se iludir novamente por outro homem.

Já passavam das 20:00 horas, quando ela definitivamente desistiu da hipótese de sair com Sherlock, com toda certeza ele estava ocupado resolvendo os crimes.

Vestiu seu pijama, preparou uma xícara de chocolate quente e foi para seu quarto assistir sua novela. Foi dominada pelo cansaço e acabou adormecendo, acordou apenas para desligar o aparelho que estava ligado e voltou a dormir, estava feliz porque após todos aqueles dias, ela estava definitivamente com sono e sabia que conseguiria dormir.

Mas sua tão esperada noite de sono foi interrompida pelo som do interfone. Ela ouviu a primeira vez, mas deixou tocar, não queria sair da cama e tapou os ouvidos com o travesseiro. O som sessou por alguns minutos, mas em seguida voltou a tocar. Ela se remexeu na cama, afundando ainda mais nos travesseiros tentando não ouvir o som. Mais uma vez houve uma pequena pausa mas que logo voltou a tocar.

Já começando a se irritar com aquilo, Molly olhou o relógio ao lado de sua cama, era 00:30h e aquilo indicava que só podia ser coisa de Sherlock. "Já não bastava ele ter furado o encontro, agora justo na hora em que ia tentar dormir, ele aparece.", pensava nisso enquanto se levantava para atender o interfone.

Assim que chegou na sala o som cessou, a garota ainda permaneceu ali um instante esperando que o aparelho voltasse a tocar, mas seja lá quem estivesse precisando falar com ela havia desistido.

O sono de Molly já havia sumido e um nervosismo começou a dominar seus pensamentos. "Será que Sherlock está bem?", "Devo ligar para ele?", "Nem John falara comigo hoje. Ele sempre me mantém informado sobre as atitudes de Sherlock.", esses e muitos outros pensamentos relacionados ao detetive estavam acabando com a tão esperada noite de sono da garota.

Tudo estava silencioso, não havia um barulho de carro sequer na rua. A chuva e o frio literalmente espantara o povo, já que estava sem sono e não estava passando nenhum programa legal na TV, resolveu sentar no sofá e tentar relaxar um pouco e esquecer todos aqueles acontecimentos, mas nem isso foi capaz de fazer, assim que se sentou no sofá ouviu um barulho, que mais aparentava um choro de uma pessoa se misturando a pequenos resmungos.

– Três toques de interfone em plena madrugada e agora um choro? Molly em que você se meteu? – A garota falava em um tom baixo para poder ouvir o barulho no corredor.

Se aproximou da porta e pode perceber que a pessoa que chorava também dava leves batidas em sua porta.

– Quem está aí? – Molly estava começando a achar que ela seria a próxima vítima do suposto assassino e tudo aquilo era um truque. – Tom? É você?

Um silêncio se formou, até a pessoa que chorava havia cessado. Ela podia jurar que era Tom tentando reatar o namoro, ele era a pessoa ideal para fazer essas ceninhas de amor.

– Olha. – Começou a garota aumentando o tom de voz em direção a porta. – Eu não quero mais nada com você, meu coração está com outra pessoa, mesmo que esta não sinta nada por mim. Saia daqui.

O silêncio permaneceu por mais alguns minutos e isso, com toda a certeza se fosse um assassino, já teria jogado uma bomba em sua casa. Tomou coragem e abriu a porta em um gesto rápido e abrupto. O efeito de sua ação foi a imagem de um homem, que estava encostado em sua porta, cair violentamente na entrada de sua sala.

– SHERLOCK? – O espanto foi tanto que não sabia se ficava feliz em ver o moreno ou com raiva por tê-la assustado daquela forma.

Sherlock estava completamente jogado no chão do apartamento de Molly, não conseguia pronunciar uma palavra se quer. Lagrimas escorriam por sua face e se misturavam com o sangue seco que o deixava com uma aparência irreconhecível.

– Oh meu Deus. O que houve com você? – Molly começava a sentir pena daquela imagem, nunca vira Sherlock daquele jeito.

Molly tentou levantar o moreno e o apoiou no sofá, correu para a cozinha, aqueceu a água para fazer um chá e ao mesmo tempo limpar as feridas do detetive. Foi para seu quarto e pegou algumas gases, pomadas, entre outros medicamentos para estancar o sangue.

– Aonde você se meteu? – A voz de Molly saíra embargada, não suportava ver aquela imagem, era demais para ela. Desde que chegara Sherlock não dissera uma palavra, apenas a observava correndo pela casa em busca de medicamentos e curativos.

– Desculpe por não ter ido comer batatas com você. – Sua visão não saia dos olhos da moça, que passava cuidadosamente os medicamentos em seu rosto. – Eu estava ocupado.

– Testando para ver quem tem o soco mais forte da cidade de São Paulo? – Molly ironizou e sorriu.

Sherlock fez o mesmo, por mais que os ferimentos o impedisse de fazer um movimento se quer com o rosto, mas aquele sorriso lhe trazia conforto e uma segurança inimaginável. Mas logo os pensamentos de perder Molly voltaram e lágrimas voltaram a dominar sua face.

– Você não está bem. – Molly passava as mãos no rosto de Sherlock, tentando secar as lágrimas. – Você está com um cheiro horrível de álcool. – olhou para o bolso do sobretudo e viu alguns pacotes de cocaína. – Sherlock, pare de usar drogas, isso ainda vai te matar. Não vê o seu estado?

– Não usei drogas hoje. Estou em um caso, não preciso disso. Devo ter esquecido de tirar do bolso antes de sair.

– Por que está assim? – Molly Insistiu sem entender o motivo de tudo aquilo e o fato de Sherlock estar daquele jeito. – Pode confiar em mim. – Passa a mão pelos cachinhos do moreno.

Sherlock permaneceu alguns segundos em silêncio, não podia contar para Molly que ela corria perigo, mas não aguentava mais tudo aquilo, precisava proteger a garota e o único jeito de protegê-la era lhe deixando a par dos acontecimentos.

O moreno explicou tudo a Molly, tudo que havia acontecido naquela segunda, desde sua ida a Osasco, os bilhetes informando os últimos avisos, o sonho, sua ida ao bar e como havia chego ali naquele estado.

Molly permaneceu calada, tentando absorver tudo aquilo, em nenhum momento tentara interromper a história de Sherlock, a voz do moreno era acolhedora e quando este começava a falar, se afundava no som de suas palavras, era um efeito quase hipnotizante para ela, mas tentou ao máximo prestar atenção em todos os detalhes, por mais que uma hora ou outra se perdesse naqueles olhos maravilhosos e voltasse para a terra.

– Eu ainda não entendi uma coisa. – Molly tomou coragem para falar. – O que ou quem é essa pérola?

Sherlock ficou paralisado com a pergunta, em nenhum momento durante a explicação citou o nome de Molly, quando seus pensamentos se voltavam para ela, sempre substituía a palavra para pérola.

O moreno se aproximou da garota, seu perfume inundava seu corpo e um desejo incontrolável de beijá-la, tê-la em seus braços aumentava a cada instante, definitivamente não conseguia controlar seus sentimentos quando estava próximo da garota, respirou fundo e disse em um tom baixo como se aquela palavra lhe tomasse todas as forças.

– A pérola é você, Molly Hooper. – Mais lágrimas escorreram de seus olhos.

Os dois permaneceram se olhando por longos minutos, ninguém sabia como agir ou o que falar.

– Como assim? Sua pérola? – Molly soltou um sorriso inocente.

– Como te disse no sonho, falavam que eu iria perder uma pérola, ou seja, uma pessoa que amo muito, mas que até agora estou tentando esconder esses sentimentos. – Respira o mais fundo que pode. – Mas não consigo, você conseguiu despertar coisas que até então eu conseguia desviar, mas toda vez que fico perto de você é como se um outro Sherlock tomasse conta do meu corpo, eu sinto vontade de abraça-la, não suporto te ver sofrer, muito menos irei suportar sua morte.

Quanto mais falava, mais sua voz ia ficando embargada, não conseguia entender seus sentimentos, um calor dominava o corpo de ambos e aquelas palavras, com toda certeza, saiam com muito custo da boca de Sherlock.

– Você não pode ir embora só para me proteger. Tem um assassino para prender. – As lágrimas começavam a dominar o rosto da garota.

– Se eu ficar, você, John, Mary e a Sra. Hudson irão morrer.

– E se você for, outros irão morrer.

– Eu irei morrer no lugar deles.

– Como assim? Você?

– Não suportaria ver ninguém morrer por minha causa. E é isso que ele quer, que eu morra. É melhor assim, não trarei mais prejuízos para o mundo.

– Pare de falar assim, você não pode desistir agora. – Molly pega nas mãos do moreno. – Eu acredito em você e sei que não vai deixar ninguém morrer, muito menos você.

Sherlock sorriu, era como se tudo e todos os problemas sumissem quando estava perto da garota.

– Então é verdade? – Sherlock a encara.

– O que?

– Seu coração pertence a outra pessoa e não mais a Tom?

Molly pode sentir uma vermelhidão tomar seu rosto. Voltou a atenção para baixo e sorriu.

– Bem... Se a outra pessoa quiser receber meu coração, então acho que Tom não tem mais espaço. – Volta o olhar para o moreno. – Mas acho que vou me tornar maluca se me apaixonar por essa pessoa.

Sherlock pousa a mão no rosto de Molly e coloca uma mecha de cabelo para trás de sua orelha.

– Molly Hooper, você é a pessoa mais louca que já conheci. Tirei essa prova no dia do sequestro de John e o fato de me aturar todo esse tempo.

Antes mesmo que Molly pudesse falar alguma coisa, sentiu os lábios do moreno se encostarem nos seus. Primeiro foi um beijo calmo e cuidadoso, mas que logo se tornou mais intenso.

Sherlock literalmente estava cedendo a seus sentimentos, Molly passava suas mãos nos cachos do moreno, ele afundava suas mãos pelos longos cabelos da garota. Sherlock enlaçou seu braço na cintura da moça trazendo seu corpo mais próximo do dela, sentia o colo de Molly subir e descer, sua respiração estava frenética, assim como a dele, era como se estivessem com medo de perder um ao outro ou que este fosse o último momento em que os dois estariam juntos.

Os dois tiveram que se afastar por falta de ar, permaneceram calados se entreolhando tentando entender se tudo aquilo era real.

– Você precisa dormir Molly. Tem que levantar cedo para trabalhar amanhã. – Passa a mão pelo rosto da moça. – Passarei a noite aqui se não se importar.

– É claro que não me importo.

Sherlock abriu um pouco de espaço entre os dois, pegou algumas almofadas e fez um pequeno acolchoado para que pudesse se deitar.

– Vou me arrumar por aqui. – Deita sobre as almofadas. – O que está fazendo? – Pergunta para Molly, que deita ao seu lado.

– Não pensou que ia te deixar aqui sozinho. – Ela riu. – Afinal, estou correndo perigo senhor Holmes, preciso de alguém para me proteger.

– Então durma senhorita Hooper. – O moreno disse rindo. – Eu irei lhe proteger, nem que seja minha última noite.

– Pare com isso, você ainda terá muitas outras chances de me proteger.

Os dois permaneceram calados, Molly foi a primeira a adormecer, embalada com os carinhos do moreno, juntamente com o peso de seu braço que enlaçava sua cintura e o calor de seu corpo.

Havia acabado de amanhecer, assim que Molly abriu os olhos se deparou com a imagem de Sherlock encarando-a e sorrindo para ela.

– Já faz tempo que acordou? – Ela levanta e retribui com um sorriso para o moreno.

– Algumas horas. Mas não tem problema, adorei te ver dormindo.

– Pare de ser idiota. – Ela riu. – Estou atrasada, nem ao menos me acordou.

– Já liguei no Hospital e você não vai trabalhar hoje.

– Como assim? O que você fez? – Molly levantou desesperada sem entender o que estava acontecendo.

– Lembra quando disse que eu teria outras oportunidades de protegê-la?

– Que loucura você vai fazer agora?

– Nada demais, apenas o suficiente para prender Arantes de Sá Ribeiro.

– Não estou entendendo.

Sherlock retira um pedaço de papel do bolso e entrega a Molly, que lê em voz alta.

"Soa a trombeta da maior altura,

A que a vivos, e mortos traz o aviso

Da desventura de uns, d'outros ventura."

– Isso é mais um aviso? O que vamos fazer?

– Sim, é. Mas se você seguir meus planos, tudo dará certo. Isso é... – Olhou para a moça. – Se você estiver disposta a mostrar sua loucura mais uma vez.

Molly se aproximou do detetive.

– Você confia em mim, não é? – Coloca a mão no rosto do moreno. – Então eu confio em você.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top