14. Um passeio por Osasco

Já passava das duas da manhã, quando Sherlock e John entraram na recepção do Hospital Albert Einstein a procura de Molly.

– Sherlock tenha calma, Mycroft disse que ela estava bem. – John tentou fazer com que suas palavras soassem o mais calmo possível.

O moreno nem ao menos prestou atenção nas palavras de John, apenas continuou andando pelos corredores de um lado para o outro abrindo porta por porta atrás de Molly. Aquela euforia toda estava bem clara para John ou qualquer outra pessoa que estivesse convivendo com Sherlock nos últimos dias, de que não era apenas voltada para a Sra. Hudson e sim reencontrar Molly.

– Sherlock. – A moça apareceu no final do corredor, apresentando um enorme sorriso ao ver o moreno.

O mesmo aconteceu com ele, mas sem ter a parte do sorriso, na verdade, o sorriso de Sherlock foi substituído por sua frequência cardíaca que se encontrava totalmente descontrolada. A voz da garota lhe trazia paz e uma alegria contagiante.

– Como está a Sra. Hudson? – essa foi a primeira pergunta feita pelo moreno antes mesmo da garota explicar alguma coisa.

– Ela vai ficar bem, já esta se recuperando. – Molly respirou fundo e desviou o olhar dos olhos do detetive assim que percebeu que estava muito próxima de sua face, voltando a atenção para a prancheta em suas mãos. – Foi apenas um tiro de raspão então... – Sua voz tremeluziu – Não foi nada tão grave.

Sem pensar no que estava fazendo, Sherlock retirou as mãos do bolso de sua calça e pousou sobre o queixo da moça, fazendo com que seu rosto ficasse na mesma direção com o dele. Aquilo com toda certeza estava sendo algo totalmente novo para Sherlock.

– Poderia ter saído para beber água pelo menos. – A voz do moreno saiu com um tom baixo e tranquilizador.

John apenas observava aquilo franzindo cada vez mais o cenho e tentando digerir todo aquele afeto com Molly, isso não era uma coisa normal vinda do moreno.

– Como sabe que... – Sherlock a cortou antes mesmo que ela pudesse terminar a frase.

– Seus lábios estão secos e rachados, mostra que ficou pelo menos umas 4 horas sem ter contato com água ou qualquer tipo de alimento e o ar condicionado da sala ajudou. – Discretamente pega em sua mão. – Sua mão está gelada, não saiu da sala.

– Você disse que era pra eu não sair de perto dela então eu...eu... – dessa vez foi sua voz que falhou.

– Por isso confio em você. – Sherlock encarou a moça. Permaneceram sérios por alguns momentos, apenas olhando um para o outro.

– Eu estou indo ver a Senhora Hudson. – John cortou o clima entre os dois e seguiu em direção a sala deixando os dois a sós no corredor.

– Já passei a lista de alguns medicamentos que ela deve tomar para John, para evitar possíveis dores, nada muito sério é apenas para prevenir. Mas se quiser posso te manter informado é que... – Sua voz falhou e uma pequena risada pôde ser ouvida. – Acho que você não é muito organizado em questão de cuidar de pessoas. – riu novamente sentindo que suas bochechas ganhavam um tom avermelhado.

– Realmente, John ganha de mim no quesito arrumação. – Ele riu.

Os dois permaneceram calados, até Molly se virar para ir até a sala onde estavam John e Hudson, mas sua ação foi interrompida com o braço de Sherlock que enlaçava o seu.

– Eu sei que já te disse isso mas. – respirou fundo – obrigado por salvar a Sra. Hudson, não sei o que seria do mundo sem ela. Com toda certeza o planeta ruiria. – Ele riu, mas sua risada demonstrava mais um tom de nervosismo do que tranquilidade.

– Só fiz o que você me mandou fazer. Nem eu gostaria que algo de ruim acontecesse com ela. – encarou o rosto do moreno e as palavras seguintes saíram sem pensar. – Não suportaria te ver triste.

Seu coração gelou assim que ouviu aquelas palavras serem pronunciadas e imediatamente abaixou a cabeça e tentou corrigir o erro.

– Me desculpe, não era isso que queria dizer, esqueça.

Mas assim que levantou a cabeça pode ver um dos maiores e mais lindos sorrisos que Sherlock já fora capaz de fazer.

– Você é uma mulher extraordinária Molly Hooper. As pessoas devem ter orgulho de ter uma amiga como você. – E realmente ele tinha, se sentia honrado por conhecer aquela mulher, se pudesse permaneceria ao lado dela por toda a eternidade. Mas tudo aquilo era demais para ele, ela não o merecia, deveria ter uma vida normal ao lado de alguém normal e não um Sociopata maluco por resolver crimes.

Aproximou seu rosto do dela e lhe deu um breve beijo na bochecha, pode sentir o toque de sua pele delicada e o perfume único. Seu corpo tremeu e a vontade de arrastar seu rosto e ir de encontro com seus lábios não era pouca, mas não podia fazer isso, não podia se render a sentimentos alheios.

Molly sentiu os lábios do moreno se afastando lentamente de seu rosto, era como se o cacheado não quisesse sair nunca daquela posição. Alguns fios de cabelo roçaram seu pescoço, pode sentir um calor dominar seu corpo, queria levantar as mãos e acariciar aquela nuca e ter seus dedos enrolados por aqueles cachinhos. Mas a razão falou mais alto e assim como Sherlock ela se afastou, mas de maneira abrupta.

– Me desculpe. – O moreno disse vendo a rapidez com que a mulher se afastou.

– Não tem porque se desculpar, é que não estou muito bem esses dias.

Sherlock podia ver a mentira em seus olhos. Lógico que Molly estava bem, estava ótima, aqueles haviam sido os dias mais emocionantes de sua vida, tudo aquilo que vivera desde que Sherlock chegara na cidade não havia sido nem um terço do que vivera com Tom nos meses anteriores. Tom era um cara legal, mas quando estava perto de Sherlock tudo mudava, o mundo parecia ter mais adrenalina e diversão, por mais que pudesse correr risco de vida não se importava, queria apenas estar ao lado do detetive e entrar naquele mundo maluco e desregrado.

– Você quer ir comer batatas? – Sherlock perguntou.

– Mas está de madrugada.

– Ao amanhecer o que acha?

– Desculpe, não posso. Por ter ficado apenas na sala da Sra. Hudson deixei outros trabalhos pendentes, então vou ter que ficar aqui pela manhã e adiantar as coisas. – Olhou para Sherlock, que fazia uma cara de desapontado, aquilo foi o suficiente para Molly segurar o riso que ameaçava sair. – Mas que tal a noite? Estou livre.

– Ótimo. – Sherlock disse dando um breve sorriso e indo em direção ao quarto da Sra. Hudson, deixando Molly parada no meio do corredor observado a imagem do moreno sumindo pelos enormes corredores do Hospital.

Após visitarem a Sra. Hudson e saberem que a senhora estava melhor do que nunca, já até criticando o fato de Sherlock não estar em casa aquela hora da noite e perdendo seu tempo para visita-la e o informado que não ia arrumar a bagunça que os tiros fizeram na sala.

Sherlock e John foram para a residência Westminster e assim que adentraram pela porta do 221B, se depararam com vários cacos de vidro espalhados pelo local, almofadas bagunçadas e manchas de sangue na parede e no tapete.

Os dois passaram o restante da noite arrumando e reorganizado todo o ambiente. John terminara de quebrar o restante do vidro para colocar outro ao amanhecer enquanto Sherlock colocava alguns livros e objetos em seu devido lugar.

Quando os raios de sol apresentaram seus primeiros sinais anunciando que a segunda-feira havia de fato começado, os dois se recostaram em suas respectivas poltronas.

– Então é sério mesmo? – Sherlock perguntou de repente.

– O que?

– O caso com aquela mulher loira da cafeteria.

– O nome dela é Mary. E ela é uma pessoa legal.

– Hum. – Sherlock levou as mãos sobre a queixo. – Ela pode ser útil e nos ajudar.

– Pare com isso Sherlock, não vou envolver Mary em seus casos malucos. Pretendo sim seguir uma vida e gostei de conversar com ela ontem, é uma boa pessoa e pretendo vê-la novamente.

– Ok, ok, não estou impedindo nada. As vezes me esqueço que você é um ser humano normal que tem sentimentos.

– Nossa obrigado pelo elogio. – John encarou o moreno. – Afinal você também está se envolvendo com Molly. Ou pensa que eu não vi o clima entre vocês no hospital? Mas me esqueci, você é o grande Sherlock Holmes e não tem sentimentos, vive apenas para seu trabalho e nada mais e deixa uma pessoa como Molly Hooper esperando.

Mas o diálogo de John foi em vão, assim que parou para prestar atenção no moreno, o mesmo estava adormecido com a cabeça escorregando sobre o acento. O loiro apenas respirou fundo, se acomodou em sua poltrona e adormeceu.

Sherlock acordou com uma tremenda dor no pescoço acompanhada de um belo torcicolo. Levantou meio cambaleando até chegar na janela mostrando o sol já em seu auge anunciando o meio dia. Fechou os olhos e fez uma careta mostrando seu incômodo perante a luz.

Deu alguns paços até a cozinha ouvindo alguns barulhos de talheres.

– John! Você está aí? – Perguntou Sherlock passando a mão pelos cabelos e em seguida levando até a boca que soltava um bocejo.

Mas ao chegar na porta de entrada da cozinha se deparou com a imagem de Mycroft preparando uma xícara de chá.

– Bom dia irmãozinho. Como passou a noite? – Olhou para a sala. – Vejo que os puxões de orelha da mamãe para você arrumar o quarto serviram pra alguma coisa.

– O que você está fazendo aqui? Onde está John? – avança para pegar um copo d'água.

– Você está ficando mal acostumando nesta cidade Sherlock. Olha a hora, já são quase uma da tarde e você está neste estado.

– Pare de querer bancar a mamãe.

– Pare com isso você, é você que está tentando bancar o espertalhão mais uma vez.

– Desde quando você critica minha inteligência. Você sempre me mantém informado com casos e vive pedindo para eu me afiliar a seus homens. – Sherlock avança em direção a sala e pega uma camisa social.

– Sherlock. – Mycroft falou pausadamente tentando manter a calma. – Eu admiro sua inteligência, apesar de saber que você poderia usá-la de outra forma.

– Pare de ser entediante Mycroft e fale logo o que veio fazer aqui.

O Holmes mais velho retirou uma carta do bolso interno de seu paletó e ofereceu para o mais novo.

– O que é isso? Um convite para uma de suas festas de gala?

– Uma oferta de emprego. Um caso em Londres que está perturbando o Palácio de Buckingham, creio que seria muito importante para você.

– Por que acha que eu aceitaria o caso?

– Pelo amor, você não vê que essa história de ficar aqui e resolver este caso é inútil?

– Não posso parar agora, estou tão perto.

– Está perto de matar pessoas inocentes que não tem nada a ver com sua vida.

– Do que está falando? Não estou colocando ninguém em perigo, estou protegendo a vida dessas pessoas e evitando que outras morram.

– Sim, claro, sua proteção é tão eficaz que a Sra. Hudson poderia não estar mais entre nós.

– Mas ela está viva e é isso que importa. Não vou parar só porque meu querido irmão quer dar uma de pai protetor e dizer o que eu devo fazer.

– Nossos pais foram para Londres esta manhã, queriam vir para se despedir de você e eu disse que não seria preciso porque você iria aceitar o caso.

– Disse bem, iria.

– Sherlock aceite este caso, deixe Lestrade cuidar do caso, se quiser trazer seu novo amigo fique a vontade, acho que você trabalha melhor com um companheiro. Só não leve sua namorada.

– Que namorada?

– Molly Hooper, sei que você está se envolvendo com ela e não é mais uma amizade.

– Escute Mycroft. – Sherlock avança em direção ao irmão. – Eu não vou para Londres, vou ficar aqui e resolver o caso. Não estou namorando com Molly, ela é apenas uma amiga.

– Desde quando você tem amigas?

– Cale a boca. – Vai em direção a porta. – Vou comer batatas.

– Espere. – Mycroft seguiu o irmão. – Vou te levar para outro lugar.

– Já disse que não vou para Londres.

– Não vamos para Londres, vou te levar até John.

– Aonde ele está?

– Saiu para encontrar aquela amiga, a da livraria. John falou que queria que eu te leva-se até esse lugar.

– Desde quando você faz favores para John?

Mycroft não respondeu, apenas entrou no elevador e logo foi seguido por Sherlock.

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– Quanto tempo que não venho aqui. – John observava cuidadosamente o pequeno jardim do Centro Cultural da cidade de Osasco onde estava localizado a Biblioteca Pública Monteiro Lobato e a Escola de Artes César Antonio Salvi, onde ele e Mariane faziam vários cursos.

– Muito menos eu. – Mari riu. – Não pensa que por eu morar aqui no Estado eu tenho tempo de vir para cá. Posso não viajar muito ou ser uma ex médica e fuzileira da junta militar brasileira, mas a livraria me ocupa muito tempo.

Os dois riram e ficaram por algumas horas caminhando na pequena praça repleta de bancos e alguns estudantes que iriam entrar para começar seus devidos cursos.

A cidade era bem grande, podendo se comparar com uma pequena metrópole, mas desde que John e Mari se mudaram dali muita coisa havia mudado, novas construções, shoppings, centros culturais, eventos entre outros. Mas a essência do lugar permanecia a mesma, as lembranças de quando eram dois adolescentes, estudavam no mesmo colégio e quase todas as tardes se reuniam com os outros colegas para comer cachorro quente, como John sentia falta daquela época, pelo menos não tinha que aturar um maluco que afirmava ser um Sociopata Altamente Funcional e correr atrás de crimes.

Sentia falta das brincadeiras, conversas e enrascadas que entrava com seus amigos. Mas tudo aquilo havia sido arrancado dele quando foi obrigado, assim que se formou em medicina, a servir no exército no período da ditadura. Desde então nunca mais voltara para aquele lugar nem reencontrara sua família.

– O que acha de comermos alguma coisa? – John sugeriu, já sentindo um certo cansaço no corpo, visto que saíra de casa e bebera apenas uma xícara de café.

– Ótimo. – Mari abriu um sorriso. – Que tal um Dogão?

– Um o que?

– Aí meu Deus John, os tiros da guerra afetaram sua cabeça? Ou a simples convivência com Sherlock já estão te deixando maluco? – os dois riram – Cachorro-quente, lembra que chamávamos de "O famoso Dogão de OZ" – Mari deu ênfase nas últimas palavras.

– Mas é claro. – John riu ao lembrar daquele nome. – Como pude me esquecer.

Os dois caminharam em direção ao famoso calçadão do centro da cidade, onde se concentravam um enorme número de lojas e alguns dos Shoppings da região, sem falar nas diversas opções de barracas de cachorro-quente espalhadas pelo caminho.

Andaram mais alguns minutos, fazendo breves paradas para olhar algo na vitrine ou até mesmo admirar algo novo, conversar e rir de alguma piada até pararem em uma barraca bem conhecida pelos dois.

– Tia Nádia? – Mariane chamou a uma senhora de cabelos grisalhos que conversava com um cliente.

A senhora se virou, permaneceu parada por alguns segundos observando a imagem de Mari assim que recuperou o fôlego abriu os braços e envolveu-a em um forte abraço.

– Meus amores! – Nádia disse ao observar John atrás da moça. – Quanto tempo, achei que não os veria mais.

– Muito trabalho. – Respondeu Mari se sentando em um pequeno banco.

A senhora olha para John.

– John, achei que havia morrido. Fiquei sabendo que se alistou, depois não tive mais notícias de sua família.

John sentiu uma tristeza dominar seus sentimentos, não gostava de lembrar daquela parte de sua vida então cortou o assunto imediatamente.

– Coisas da vida, mas o importante é que estou vivo. – Sorriu forçadamente para a senhora.

Após alguns minutos de conversa e outros somados com a alegria da senhora em rever os dois, fizeram seus pedidos, um cachorro-quente completo para cada um e duas latas de Coca-Cola.

– Então o que andou fazendo enquanto eu tentava salvar o mundo? – Brincou John para Mari, que mordia seu lanche.

– Nada de mais.

– Nada de mais? – ironizou John. – Eu passo anos fora e quando voltou encontro minha melhor amiga sócia de uma das grandes livrarias do país e você não fez nada demais?

Mari permaneceu calada por alguns segundos apenas mastigando o enorme pedaço de pão que havia ingerido.

– Sua mãe implicou muito com você, não foi? – John olhou o rosto de Mari, que agora adquiria uma expressão cabisbaixa.

– Não muito. – Mari começou a explicar. – Quando nos formamos ela exigiu que eu prestasse USP, mas não era para fotografia e sim Letras, eu não queria arranjar confusão ou que minha mãe criasse uma guerra mundial então me matei de estudar mas não passei.

– Creio que ela ficou com raiva.

– Raiva foi pouco. – Ela riu. – Fiquei algum tempo trabalhando juntando dinheiro com a intenção de estudar fora e ver se minha mãe se orgulhava de alguma merda que eu fizesse na vida.

John riu ao ouvir aquilo.

– Mas então uma amiga do trabalho me indicou alguns cursos de administração gratuitos então comecei a frequentar, como minhas notas eram boas eu fui convidada para trabalhar no setor administrativo, comecei a crescer dentro da empresa, conhecer pessoas, me influenciar.

– E deu que você acabou tendo a oportunidade de estudar fora. – John deduziu.

– Estudar não, trabalhar. Pelo fato da minha alta influência no setor administrativo, fui convidada para trabalhar no setor administrativo de uma das filiais da Livraria Cultura em Portugal, subi no cargo, fui promovida conselheira mor e pedi transferência para o Brasil onde me colocaram para organizar eventos entre outras coisas aqui no Brasil.

– Nada mal senhorita Belarmino. – Brincou John.

– E você John? – Mari se volta para o amigo. – Não me refiro a sua grande experiência de vida. Quero saber se tem alguém em mente. Você sempre era péssimo com as mulheres. – Mari riu.

– Estou interessado em uma moça. Acho que ela gostou de mim também. – Um sorriso se formou em seu rosto.

– Hum. – Mari o encarou. – E quem é a felizarda?

– Mary Morstan. Encontrei ela na Starbuks antes de acontecer o acidente com a Sra. Hudson. Conversamos e ela acabou se tornando muito querida para mim. Acho que é hora de seguir em frente, mesmo com o maluco do Sherlock atrás de mim. – John ri e logo volta a atenção para Mari – E você, não namorou todo esse tempo?

– Tive um caso passageiro a um tempo atrás, nada de mais. Mas agora sou casada com meu trabalho e amo o que faço. – Ela sorriu bebericando sua bebida.

– Nossa até parece o Sherlock falando quando se trata de namoro.

Assim que John acabara de dizer aquelas palavras, os dois puderam perceber um carro preto no meio da multidão que ocupava o calçadão se afastando para dar passagem ao veículo.

– Quem será. – Mari perguntou. – Só a polícia tem acesso para circular com carros por aqui.

– A polícia e Mycroft. – John levantou de onde estava sentado. – Esqueci de falar que chamei Sherlock para cá, ele vem me atormentando que quer comer batatas, mas acho que devo lhe apresentar um lanche de verdade.

Mari riu, após tudo que lera sobre o detetive era impossível imagina-lo em Osasco comendo um cachorro-quente.

Em alguns segundos o carro preto estacionou em frente a barraca e Sherlock saiu meio desnorteado sem saber para onde ir até avistar John e Mari, que o olhavam quase se matando de rir com a cena.

– Não precisava traze-lo desse jeito, poderia estacionar o carro em outro lugar e vir caminhando. – John encarava Mycroft.

– Não estou habituado a andar no meio da multidão.

– Pare com isso Mycroft, você tem que aprender a se socializar mais. – Sherlock disse já se sentando em um banco vazio ao lado da barraca.

– E você é a pessoa exata para me dar esse conselho, não é irmãozinho? – O tom de voz do Holmes mais velho aumentou.

– Por favor rapazes não briguem aqui. – Mari interrompeu.

– Sua encomenda já esta entregue Dr. Watson. Tenho mais coisas a fazer. – Mycroft disse indo em direção ao carro.

– Então não vai se arriscar a comer o que esta cidade exótica tem a oferecer? – Sherlock disse com ironia.

Aquelas palavras subiram o sangue do Holmes mais velho, odiava ser contrariado pelo mais novo e desde pequeno fizeram um acordo de que quando um fosse desafiado o outro nunca podia negar o pedido do outro.

– Você não quer que eu coma isso. Quer? – Mycroft observou o lugar com uma expressão de nojo.

– Não me importaria de desafiar você.

Enquanto os dois discutiam, Mari fez mais dois pedidos para Nádia e entregou os dois lanches para os Holmes.

– Aqui não vende batatas? – Sherlock perguntou.

– Creio que vai gostar mais disso. – Mari lhe entregou o Cachorro-quente e em seguida entregou o outro pata Mycroft.

A expressão dos dois Holmes eram muito diferentes, enquanto Sherlock ficou parado por um tempo analisando o lanche e citando cada ingrediente que continha e cochichou algo como "Interessante", alguns segundos depois abocanhou o pão, fazendo parte do purê cair em sua roupa e parte de sua boca ficar suja com mostrada e ketchup, mas sua expressão era com toda a certeza a melhor que Mariane já vira, tinha um misto de surpresa e felicidade por estar comendo algo diferente.

Já essas palavras não podia ser referidas a Mycroft, ao contrário do irmão, que já estava quase na metade do lanche, ele ainda permanecia analisando o alimento.

– Como que se come isso? Não está nem um pouco dentro dos padrões dos que já comi em Londres.

– Apenas coloque na boca e coma. – Sherlock disse cobrindo a boca cheia de comida. – Não sabe o que está perdendo.

Com muita relutância, Mycroft pediu um prato para Nádia, que permanecia calada apenas rindo com a cena. Literalmente o Holmes mais velho colocou seu cachorro-quente em um pequeno prato de plástico e comeu alguns pedaços com garfo e faca, por volta do terceiro pedaço sua expressão dizia que já não queria mais.

– Está de regime irmãozinho? – Sherlock riu.

– Não estou a altura para comer essas coisas. Quem sabe em outra ocasião, agora tenho que ir.

Mycroft se dirigi ao carro, mas assim que abriu a porta Sherlock vê um papel cair da porta.

Imediatamente larga parte de seu cachorro-quente, deixando -o cair no chão e vai em direção ao papel.

– O que há de errado com você? – John pergunta ao ver a euforia do amigo.

Sherlock pega o papel e lê para si mesmo os seguintes versos.

"Acabe o mundo, porque é já preciso,

Erga-se o morto, deixe a sepultura,

Porque é chegado o dia do juízo."

O moreno permaneceu intacto por alguns momentos até correr em direção onde estava John e Mari.

– Precisamos ir AGORA!

– O que aconteceu agora? – Mari pergunta assustada.

– Pelo visto nossa semana já começou agitada. – Mycroft resmunga no carro.

– Explico a vocês no caminho, agora precisamos voltar para a livraria, RÁPIDO. – A última palavra foi dita quase como um pedido se socorro pelo detetive, que já adentrava no carro.

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