10. The Game Is On
Sherlock andava de um lado para o outro do apartamento. Já fazia algum tempo que havia chegado e John, ao contrário do cacheado, que não havia sentado nem por um momento, o loiro lia trechos do jornal, estava acomodado em sua poltrona e as vezes voltava a visão para o detetive.
– Por que está tão eufórico? – John pergunta já impaciente com a movimentação agitada do amigo.
– Tédio John. Tédio. – O moreno interrompeu o caminhar repetitivo e se jogou no enorme sofá preto.
– Mas você está em um caso. Não tem motivo para ficar entediado. – volta a olhar para o jornal. – Além disso, Greg está procurando mais pistas.
– Quem? – Sherlock saiu de sua posição de costume, que mais aparentava estar rezando e olhou sem entender para John.
– Greg. Ele disse para você parar um pouco e abrir espaço para a polícia poder investigar.
– Quem é Giles?
– GREG! – John aumentou o tom de voz. – É o inspetor Lestrade. O nome dele é Gregory Lestrade.
– O primeiro nome dele é Greg? – Sherlock estava pasmo. – Que tédio.
– Como assim o nome dele é Entediante? – O loiro não entendeu.
– A vida John. A vida é entediante. – Faz uma pequena manobra no sofá e se levanta.
Sherlock anda até a beirada da janela, da uma pequena observada no movimento da manhã calma de domingo, aquela calmaria trazia ainda mais tédio para o moreno. Quando olha novamente para o interior da sala, se depara com John o olhando fixamente com um rosto que dizia "Você não tem nada para me falar?".
Ficou alguns segundos olhando o amigo sentado, fazendo uma careta estranha curvando as sobrancelhas sem entender o que John queria.
– O que há? – Sherlock continuava parado com a mesma expressão de quem não está entendendo nada.
– Não acha que mereço explicações? – John dobrou o jornal e encarou o amigo.
– Pelo amor John, isso é passado. – Sherlock começou a caminhar tentando desviar o olhar. – Você esta vivo agora, isso é o que importa.
– Não é isso Sherlock. Não tente mudar de assunto. – John o mira friamente. – Por que comigo? Se o detetive é você. Seja lá quem for nem me conhecem.
– Mas conhecem seu blog. E agora você é meu companheiro e está me ajudando a resolver esse caso. – Olha para a janela e diminui o tom de voz. – Suas contribuições podem ser pequenas mas me contento com elas. – seus lábios se contraem e um sorriso se transforma em seu rosto acompanhado de uma risada.
– O que disse?
– Nada de mais.
– Vamos Sherlock, me diga o que realmente aconteceu ontem a noite.
Após alguns segundos de silêncio e os dois amigos ficarem se entreolhando, Sherlock respirou o mais fundo que pode e uma metralhadora de informações saíram de sua boca.
– É claro que você foi pego devido a notícia da preparação da publicação de seu livro, que iria ser na mesma livraria em que está ocorrendo os assassinatos. A fama de seu blog só aumentou os riscos, fazendo com que algum hacker entrasse no sistema e parasse a contagem de seguidores no número 1900, nome do seguidor, Machado de Assis, palavra chave, traição.
John continuava observando sem piscar para o amigo que falava tudo com a maior facilidade, como se aquilo fosse a coisa mais simples e a resposta de tudo estivesse bem ali na frente.
– Juro, no começo achei tudo bem confuso. – Continuou o moreno. – Mas depois de seu sequestro tudo ficou claro.
John inclinou os lábios e semicerrou os olhos para o amigo, achando desnecessária aquela pequena informação.
– Entendi tudo quando encontrei seu computador caído com a tela quebrada e o bilhete. Tudo foi baseado em símbolos. O computador era seu blog que acabara de ir por água a baixo, as mensagens e o usuário eram apenas avisos. A palavra Traição seria sua escrita e seu amor pelas palavras, ai vem a relação com a obra de Machado.
– Como seria essa relação? – John cria coragem para interromper a explicação de Sherlock e formular sua própria pergunta.
– Simples. Dom Casmurro é um romance em que o ponto principal e toda a movimentação da obra é a grande pergunta deixada pelo escritor. Capitu traiu ou não Bentinho? Cada um carrega seu ponto de vista e o da pessoa que armou seu sequestro afirma que ela traiu. Pois relacionou o amor que Bentinho sentia por Capitu ao amor que você sente pelas palavras e a assim como ela o traiu, as palavras também lhe traíram John.
– E então? – John interrompeu novamente.
– E então que foi só juntar as peças e pronto. Você foi sequestrado. O assassino sabia que se pegasse você eu iria atrás. – Sherlock se empolgou e começou a andar pela sala como se fosse um professor explicando uma matéria muito difícil mas que ele adorava. – Mas fez isso com estilo, um estilo literário. O livro da escritora morta tinha o mesmo tema, ou seja, todos os outros três livros roubados possuem temas semelhantes aos dos escritores mortos. – Sherlock parou por um instante. – Maravilhoso e inteligente. – repetiu essas palavras com uma enorme alegria na voz e andando em direção a John, que o olhava ainda tentando processar as informações. – Aquele morador de rua deve ser a pessoa que está querendo se vingar por sua obra não ter sido publicada.
– Mas por que o morador de rua? Tanta gente mais importante. – O loiro questionou.
– Pense John. Ele não é realmente um morador de rua. É um disfarce, um morador de rua pode andar por todos os lugares, observar pessoas, movimentos e arquitetar planos. Sendo que dependendo de como for sua atuação e pedido de carência, as pessoas deixam você entrar em certos ambientes.
– Assim como Mariane deixou ele entrar na livraria para beber água. – John começava a entender os acontecimentos.
– Exato. – Sherlock deu um pequeno pulo levantando os braços, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio. – E dependendo da demora de Mariane, foi o tempo suficiente para ele conseguir algumas informações, apenas observando. – Para um instante e começa a falar em um tom de voz mais baixo como se estivesse formulando uma pergunta mais para si mesmo. – Mas não teria como ter acesso a todas as informações que precisava. A não ser que ele tenha conseguido se infiltrar no sistema da livraria.
– O que? – John não havia entendido as últimas palavras, mas antes que pudesse formular outra pergunta sentiu seu celular vibrar em seu bolso.
"Livraria Cultura. Urgente"
M.H.
– Sherlock está a quanto tempo sem mexer em seu celular? – John olha irritado para o moreno, que agora estava sentado na poltrona ao lado da TV com os olhos fechados.
– Há 2 minutos atrás. Por que?
– Por que não visualizou as mensagens de seu irmão?
– Tinha coisa mais importante para me preocupar.
– Temos que ir para a Livraria Cultura. Mycroft disse que é urgente.
John mal acabou de dizer aquelas palavras e três homens de terno e gravata adentraram na residência seguidos por uma Sra. Hudson eufórica.
– Eu disse para esperarem, Sherlock é uma pessoa muito ocupada. – Sra. Hudson disse indo para a cozinha. – Vou preparar alguns petiscos.
– Não precisa, já estamos de saída. – Sherlock disse levantando.
– Quem disse que são para vocês? – A senhora colocou a cabeça para fora da cozinha. – Também sinto fome.
– Poxa vida, seu irmão cuida mesmo de você. – John disse espantado com os homens, que mais pareciam fazer parte da guarda britânica só que em uma versão brasileira.
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Dentro de 5 minutos estavam na livraria. O ambiente estava repleto de estudantes, pessoas que apenas queriam desparecer e dar algumas voltas pelo lugar, gente comprando e outras conversando na pequena cafeteria ao fundo da livraria.
Sherlock e John subiram as escadas, o último andar estava interditado, para que a polícia pudesse realizar suas buscas.
Mariane estava sentada em sua mesa, analisando algo na tela do computador, ao lado estava o inspetor Lestrade, que remexia em alguns livros da estande, logo atrás estavam Anderson e a sargente Donovan, no meio da sala Mycroft encarava o moreno se aproximando da entrada da sala seguido por John.
– Olá! Que bom te ver irmãozinho. – O Holmes mais velho movimentava os lábios tentando demostrar um sorriso.
– Pare de tentar bancar o carinhoso, caro irmão. – Sherlock se aproxima de Mycroft. – Achou que não iria vir? Então achou melhor convocar a guarda suprema. – Passou pelo irmão e entrou na sala.
– Todo cuidado é pouco irmãozinho. – Olha para John. – Olá Dr. Watson. Sei que passou por grandes apuros na noite anterior.
John cumprimentou o Holmes mais velho e fez uma careta, relembrando dos acontecimentos passados e querendo imediatamente mudar de assunto.
– É, mas já estou bem agora. Obrigado pela preocupação, vou ficar bem.
– Bom mesmo. – Retrucou Mycroft. – Hoje mesmo irei providenciar segurança nivel 3 para você e Sherlock. – os dois seguiram para o interior da sala.
– Chegou a aberração. – A sargente Donovan riu ao ver Sherlock, Anderson acompanhou o insulto.
Sherlock nunca fizera nada para eles, nem os conhecia direito, já que era novo em São Paulo e suas únicas amizades até agora eram John, Molly e a Sra. Hudson, que já era de longa data. Anderson e Donovan sabiam quase tudo sobre os casos que Sherlock havia solucionado no Sul e seu brilhante cérebro, provocando um certo ciúmes entre ambos, que agora com a real presença do detetive no caso, queriam fazer o possível para menospreza-lo e provar que ele não era a figura que se mostrava ser.
Sherlock ignorou os comentários e olhou para Mariane atenta à tela do computador.
– Olá Mari. Obrigado por ontem a noite.
Mari encarou o moreno. Achou estranho aquele pedido de desculpas, ainda mais saindo da boca de uma das pessoa mais ignorantes que conhecera. Nem o próprio Sherlock sabia o motivo daquele agradecimento.
– Só fiz o que achei certo. – volta o olhar para John e se levanta da cadeira. – Deve agradecer a Molly. Foi ela quem os salvou de verdade.
Ao ouvir o nome de Molly uma alegria dominou sua alma. Aquela mulher não saia de sua cabeça desde que a vira pela primeira vez no aeroporto. Agora ela estava só, terminara com Tom e precisava de carinho, mas não sabia se era a pessoa ideal para fazer isso, era novo nessas coisas, mas uma coisa que tinha certeza era que tinha a necessidade de encontrar Molly novamente, aquela mulher que salvara sua vida e a de seu amigo.
– John! – Mariane gritou com tanta alegria, obrigando Sherlock sair de seus pensamentos. – Você esta vivo. Não sabe o tamanho da minha preocupação. – começou a rir. – Um amigo que levei anos para reencontrar e agora perco ele. Que horror, não quero nem pensar.
– Está tudo bem. – Deu um forte abraço na amiga. – Não quero te menosprezar, mas tudo isso foi graças a Molly.
Sherlock virou o rosto e sorriu novamente ao ouvir aquele nome.
– Sim. Ela foi muito corajosa. – Volta para mesa. – Tenho que voltar ao trabalho.
– O que estão procurando? – Sherlock se aproximou da mesa.
– Achei que já sabia aberração. – Donovan riu, retirando uma micro câmera de trás de um dos livros e colocando na mesa.
– Foram encontradas câmeras espalhadas por toda a sala. – Mycroft começou a explicar. – As imagens eram levadas para um tipo de agência secreta, eram analisadas e tinham o controle de quem entrava e saia daqui. Com toda certeza foram implantadas por algum funcionário.
– Sr. Holmes. – Mariane disse após achar algo no computador.
– Qual deles? – Anderson pergunta olhando friamente para Sherlock.
– Não importa. Eu sei que se chamar apenas pelo sobrenome os dois irão vir, facilitando meu trabalho. – Mari responde seriamente para Anderson, fazendo o sorriso de deboche desparecer de seu rosto.
A teoria de Mariane se concretizou, imediatamente os dois Holmes analisavam a tela do computador.
– É o mesmo homem que me acertou com o livro. – Sherlock reconheceu a imagem.
– Como pode saber que é ele? – John pergunta se aproximando, e agora tendo a visão da imagem. – Não dá para ver nada o homem está de costas usando um capuz.
– Basta olhar o horário da filmagem e o casaco.
– Como essas coisas podem ajudar na descoberta do homem? – Donovan olhou para Sherlock, cruzou os braços e riu.
Sherlock contraiu os lábios e semicerrou os olhos na direção da sargente.
– A gravação foi feita a dois dias atrás, mesmo dia de meu desembarque aqui em São Paulo, às 18:32h, mesma hora que entrei na sala de desembarque.
– Quer dizer que tem alguém te seguindo? – John perguntou.
– Seguindo não. Rastreado.
– Isso é impossível. Aumentei o nível de sua segurança quando saímos de casa. – Mycroft diz indignado.
– As vezes muita segurança atrapalha irmãozinho. – Sherlock levanta a cabeça, seus lábios se movimentam formando uma espécie de V e mostrando um sorriso irônico para o irmão.
O telefone de Mycroft começa a tocar e este se afasta da mesa para atender a ligação.
– Veja a capa do livro que está carregando em seu braço esquerdo.
– É o mesmo que te acertou na cabeça. – John começa a ligar os fatos.
– Exatamente. E o casaco é o mesmo, basta olhar para sua movimentação quando anda. Aparenta ser um tecido pesado e resistente, posso afirmar que é sim, pois antes de cair após a pancada, senti parte de seu casaco bater em meu braço.
– Mas isso só poderia ter sido feito por algum funcionário que entra com bastante frequência aqui. – John deduziu.
– Agora está fazendo as observações certas John. – Sherlock se volta para Mariane. – Mari, sabe de alguém que entra com bastante frequência neste ambiente ou que pelo menos já faz tempo que não vê por aqui?
Mariane ficou alguns segundos calada, tentando pensar em alguém.
– Agora que você falou. – Passa a mão pelo queixo. – Já faz uma semana que Willian não vem trabalhar, diz estar doente.
– Quem é Willian? – Pergunta John.
– Meu funcionário favorito, ele sempre me ajuda a organizar os livros e alguns documentos pendentes. É meu braço direito.
Sherlock para por alguns segundos, fixa o olhar em alguns livros e sorri.
– Creio que seu fiel ajudante não era tão fiel assim.
– Sherlock! – Mycroft grita pelo irmão, assim que desliga a ligação. – Hospital Albert Einstein. AGORA.
– Ele está vivo. – Sherlock diz com um sorriso estampado na face.
– Quem está vivo? – Lestrade pergunta, após começar a entender o caso e criar coragem para perguntar algo.
– Willian ou melhor dizendo... – Se volta para John. –... O homem que você atirou.
– Sabia que não o tinha matado. – o loiro diz irritado.
– Não se preocupe, você ajudou a darmos um grande passo neste caso. – Sherlock sorri. – Vejo que esta evoluindo.
John faz uma careta para o moreno, que atravessava a sala.
– Vamos John. Temos algumas perguntas pendentes.
Sherlock estava mais do que animado, estava eufórico para continuar com o caso e ainda mais o desejo incontrolável de ver Molly.
Juntou todas suas forças e como um grito de liberdade, disse o mais alto possível.
– THE GAME IS ON!
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