Capítulo 12

A vida exigia um preço demasiado alto para algo tão finito, tão ininteligível, tão surreal, sem nexo...

Por vezes acreditava ser uma mulher de fé. Fé na possibilidade de existir mais que apenas isto... Outras vezes achava que era um disparate, e que muitas das várias teorias que ia conhecendo não respondiam, de todo, às perguntas que fazia.

Seria tão mais fácil não pensar... mas ela não era assim e a vida dela não fazia sentido nenhum. Era apenas mais uma, sobrevivendo, tendo sorte claro. Podia ter nascido em África, ou ser muito pobre, ou ter uma deficiência incapacitante... sim sabia que tudo podia ser pior... mas ela só podia sentir a sua realidade, e a infelicidade dos outros não lhe servia de consolo.

Já desejou tornar-se invisível e transformar-se num sem abrigo, beber até cair e finalmente até morrer... mas o grande problema é que ela não conseguia fugir de si mesma.

Percebeu que nada sabia de Raúl. Nada, mesmo nada.

Não sabia o que fazia, se era casado ou se tinha sido, se tinha filhos, pais, irmãos... nada! Não sabia nada. Por um lado, até era bom, não fantasiava, não fazia filmes, e eles só existiam naquele momento, juntos.

Mas por outro lado ela era curiosa e embora fosse facilmente dececionada, precisava... não. Queria saber mais sobre ele, conhecê-lo, poder ser fascinada, ou não por algo mais que bom sexo e calor de um corpo.

- Sabes que nada sei sobre ti?

- Não sabes o necessário?

-Que és bom na cama e ótimo conversador? Uau! isso é mesmo muita informação.

Ironizou Flávia

- Tu sabes bem mais de mim!

Raúl olhou para ela

- És muito conversadora.

E sorriu

Flávia manteve-se séria.

- O que queres saber? Vá, faz lá o teu inquérito.

- Dito dessa forma fazes-me perder a vontade de te perguntar o que quer que seja. Mas a curiosidade mantém-se.

- Ok. Pergunta!

Tinha mesmo que concordar que só bêbeda é que era feliz. À noite, sozinha, bebia até cair e adormecer. Era apenas um momento em que saía de si. O acordar era horrível. A má disposição e a hora, sempre de madrugada, e claro a sua própria companhia...

Pensava que o "colo" de Raúl lhe vinha aliviar e acabar com todos os fantasmas. Ela ia sentir-se mais... tudo! Era bom quando estava com ele. Era como o vinho, um momento, depois voltava de novo a estar consigo própria e nada nem ninguém podia fazer nada.

Carpe diem certo?

Errado. Por vezes fazia isso. Fazia de conta que era uma mulher equilibrada e que tudo estava bem. E durante um momento, ela acreditava nisso...

"Nesta terra sem Deus, que me enganou, eu chorei tantas lágrimas que até os cegos podem ver" como diz a canção e Flávia já não queria chorar mais, não queria mais enganos, mais deceções nem tristeza. Já transbordava porque ela como recipiente, já não tinha mais espaço.



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