A vida dela ficou retida num momento, passado, e esse momento era aquele do qual nunca saía, por mais que trabalhasse, por mais que se esforçasse... nada verdadeiramente mudava. E o passado, essa coisa horrível e ao mesmo tempo maravilhosa, que ela queria deixar efetivamente para trás, vinha sempre ter com ela... nas mais improváveis situações voltando todos aqueles sentimentos, que ela pensava ter deixado de sentir e que controlava, ao de cima, sempre, cada vez mais intensos, viscerais e dolorosos... tão absurdamente dolorosos...

Não sabia mais o que fazer...

A mãe dela, sim ela teve uma mãe crente, dizia "pede e ele ajudar-te-á!". A experiência, a vida, o caminho percorrido fez com que se afastasse de qualquer crença institucionalizada, mas o seu desespero era tão, imensamente monstruoso, que ela pediu. A ajuda não veio, se veio não a entendeu, não percebeu... provavelmente culpa da sua "selfie pity".

E deus como se sentia só e cansada...

A conversa tinha corrido muito bem!

Lá estava ele a seu lado na cama, a dormir como se não houvesse amanhã...

E nesse momento, sabia que era uma imagem que não a cansava. Adorava poder estar naquela posição: olhar para ele, ali deitado na sua cama, sem armas nem armadura... ele, simplesmente...

Havia respostas a perguntas que ainda não tinha..., mas também não tinha feito as perguntas e, não sabia se queria fazer... "Carpe diem" tantas vezes lhe disseram e agora parecia fazer sentido.

Aquele homem enigmático e por vezes irritante, pronto, muito irritante, seduzia-a e fazia sentir-se mulher, como nunca pensou voltar a sentir. E para todos os efeitos, ela sentia que ele era dela... naqueles momentos, completamente!

Seria ingénua? Se calhar..., mas toda a vida tinha sido, de alguma forma, e agora, pelo menos, sentia-se viva e acompanhada. Tudo isto, racionalmente, a assustava. Esta sensação de que era amada, admirada e desejada nesta fase tardia da vida... nunca pensou... mas talvez fosse a última vez que iria sentir tudo o que sentia e que a deixava tão inebriada...tinha que aproveitar!