Capítulo Três - O aviso do velho
Era segunda-feira e a semana de mais um dia de aula se iniciava para os nossos amigos do clube secreto. Eles adoravam estudar, os meninos gostavam de arte e educação física, enquanto as meninas amavam português e matemática. E eles respeitavam seus professores, ensinavam seus amigos quando os professores permitiam e, além disso, estavam todos preocupados como melhorar mais a qualidade da escola, tornando ela cada vez melhor para os alunos e funcionários. Os quatros amigos sempre davam sugestões à diretora Haldrey e ela sempre que podia dava um jeito de atender as ideias deles, pois ela sabia que aqueles meninos e meninas eram os melhores alunos daquela escola, forçados e educados! Todos os outros alunos respeitavam nossos quatros amigos, porque sempre que precisavam de ajuda eles estavam disponíveis a ajudar. Os pais de nossos amigos sempre recebiam elogios de como seus filhos era super queridos na escola toda.
Na diretoria da escola tinha uma estante cheia de troféus de campeonatos que a escola uma vez ao ano tinha com outras escolas da cidade e da região, e muitos daqueles troféus os nossos amigos do clube secreto conquistaram pra escola. Marcos fizera uma estátua de argila que ganhara até uma página numa das revistas mais famosas do país no ano passado!
Depois de mais um período completo de estudos os amigos saíram juntos da escola e decidiram no caminho ir tomar um sorvete na sorveteria do Manoel, um dos melhores sorvetes da cidade, com sabores incríveis que o senhor Manoel gabava-se ser o único a ter as receitas dos sorvetes. Os amigos entraram e tinha poucas pessoas na sorveteria.
- Boa tarde meninos e meninas – veio o senhor Manoel até a mesa onde eles resolveram sentar, de frente a vitrine. – Qual será o sabor que vão querer? Eu fiz um sabor novo ontem e preciso de opiniões sinceras... não gostariam de prová-los? Esse ficará por conta da casa! – animou ele aos amigos.
- Opa! – exclamou Marcos, esfregando as mãos ansiosas. – Manda logo pra cá senhor Manoel! – o sorveteiro saiu às pressas voltando logo depois com quatros taças bem cheia de sorvete de cor verde. Ele serviu os amigos que estavam de águas na boca.
- Huuuuummmmmm!.... – aprovaram os quatros ali na mesa, saboreando o novo sabor inventado pelo senhor Manoel que enchia de orgulho ao ver os meninos aprovando mais um sabor que seria com certeza a sensação daquela semana!
- Que delícia senhor Manoel! – falou Pedro. – Tem gosto de... de... abacate! Espera! Agora tem gosto de maçã? Chocolate? Nossa quantos sabores tem aqui? – Pedro estava admirado, nunca experimentara algo assim antes na vida.
Gabriela e Luiza estavam sem palavras pra elogiar porque a boca não parava de engolir o sorvete delicioso.
- Nossa esse será sem dúvida o melhor sorvete de todos do mundo! – comentou alto Marcos que outras pessoas em outras mesas ficaram interessadas. E logo o senhor Manoel estava de lá pra cá e de cá pra lá atendendo os clientes com seu novo e sensacional sorvete.
- Qual é o nome desse sorvete senhor Manoel? – perguntou Luiza curiosa, quando ele parou pra descansar um pouco.
- Nossa taí, não inventei ainda o nome! – se preocupou ele.
Gabriela acabara de tomar todo o sorvete quando disse satisfeita.
- Foi o melhor sorvete que tomei... parece ter de tudo um pouco de todas as frutas!
Manoel escutou e pulou da cadeira, assustando uma senhora que entrava.
- Você me deu uma inspiração! – disse ele eufórico. – Vou chamar esse sorvete de "Todafrutas"!
- Uau excelente nome! – concordaram Pedro, Marcos e Luiza, enquanto Gabriela recebia um abraço do feliz sorveteiro.
Os amigos saíram da sorveteria contentes e quando passavam perto do ponto de ônibus viram o velho manco vindo em suas direções, com aquela bengala esquisita, mas não era tanto quanto o homem que se apoiava a ela. Luiza gemeu de medo, e Gabriela não se importou quando agarrou o braço do amigo Pedro pra se proteger. Marcos cerrou os punhos de raiva, enquanto Pedro torcia que ele desviasse de seu caminho, mas ele não desviava e cada vez chegava mais próximo aos meninos.
- Vamos pra outra calçada turma... – murmurou Gabriela sentindo pavor daquele homem.
- De forma alguma! – exclamou Marcos irritado. – Ele nos expulsou do bosque, mas quero ver se ele tem coragem de nos expulsar dessa calçada! Isso eu pago pra ver! – desafiou ele. Pedro apenas disse.
- Vamos continuar em frente e não precisamos olhar pra ele.
Os amigos continuavam e o velho também. Mas o velho não desviou os passos pro lado e os amigos também não, e iam dar de frente um ao outro. O velho parou apontando a bengala na direção de Pedro, que parou com os amigos ao lado.
- Boa tarde senhor... – disse Pedro tentando ser educado, enquanto Marcos olhava pro homem com o peito estufado e um olhar sério. As meninas tremiam as pernas.
- Eu aviso a vocês meninos... – começou o velho a dizer com sua voz rouca, com sua boca torta e seus olhos furiosos. – Eu aviso que fiquem longe daquele bosque... não quero voltar a vê-los lá nunca mais!...
- Aquele bosque é seu por acaso? – perguntou Marcos desafiador.
O velho olhou pro menino e mostrou os dentes amarelos e feios. As meninas gemeram de pavor, imaginando que ele ia atacar o amigo.
- Eu cuido daquele bosque muito mais tempo do que você imagina seu moleque!
Marcos ia dizer um palavrão mais Pedro o impediu. E disse ao homem.
- Não vamos mais entrar no bosque senhor, não se preocupe.
O velho riu.
- Não sou eu quem deve me preocupar. Vocês nem imaginam o que tem lá naquele bosque... – disse friamente, e lançou um olhar pras meninas que estavam apavoradas. – Coisas que vocês nem sonhariam... nem mesmo nos seus mais tenebrosos pesadelos... Portanto aconselho vocês nem chegar perto do bosque, não sabem as coisas terríveis que aconteceram lá antes de ser fechado e nem sabe as coisas mais terríveis que ainda estão por virem...
Os amigos ficaram com os olhos arregalados quando ele disse aquilo e sorrindo misteriosamente deu a volta e continuou caminhar mancando, deixando os amigos parados no meio da calçada estarrecidos de medos. Até mesmo Marcos estava de cabelos em pé!
- O que ele quis dizer com aquilo gente?... – perguntou Gabriela trêmula, sentindo um frio nas espinhas. Luiza estava mais pálida que o normal.
- Isso é que vamos descobrir amigos – disse Pedro. – Depois do almoço, lá pra uma e meia da tarde vamos nos reunir no clube secreto e falar sobre isso. Mas não comentem a mais ninguém isso que aconteceu... tenho certeza que está acontecendo algo muito sério... e nós vamos descobrir!
Os amigos concordaram com ele e cada um foi pra sua casa. Depois do almoço cada um rumou ao clube secreto pra primeira reunião. Pedro encontrou Marcos no caminho, e depois lá mais a frente vinha às meninas.
Os quatros foram juntos e encontrou o tio Paulo trabalhando no portão.
- Olá pessoal – cumprimentou ele. – Fiz uma coisa que vocês irão adorar.
- Pudim? – perguntaram as meninas ao mesmo tempo, e tio Paulo riu.
- Não, não é coisa de comer... – Marcos ia dizer quando ele avisou. – Também não é nada de super computadores.
- Então o que você fez tio? – perguntou o sobrinho.
- Fiz uma entrada especial pra vocês. – os garotos ficaram curiosos. Ele explicou com detalhes. – Caso algum dia eu esqueça de deixar o portão aberto e vocês ficassem sem poder entrar no clube secreto, agora não terá mais essa preocupação, pois eu criei um botãozinho que automaticamente abrirá esse lado do portão a vocês! – e ele mostrou como funcionava. Os amigos adoraram a ideia dele.
- Esse botãozinho ficará do lado de dentro, nesse canto no muro, só vocês esticarem os braços por dentro e alcançar o botão, e pronto, o portão irá abrir e fechar logo depois que vocês entrarem!
Pedro e os outros agradeceram mais uma vez o tio Paulo e contentes todos subiram a escada giratória e estavam mais uma vez no clube secreto.
Os amigos sentaram num velho tapete, e Pedro dizia.
- Reuni vocês aqui pra discutir o que faremos.
- Você se refere ao que o velho disse hoje pra nós? – perguntou Marcos.
Pedro balançou a cabeça afirmativamente. Gabriela e Luiza olharam assustadas.
- O que você pensa em fazer? – perguntou para o Pedro.
- Eu queria investigar.
- Investigar exatamente o quê? – Luiza estava começando a se preocupar.
Marcos estava interessado.
- Pessoal, é estranho o que ouvimos hoje daquele senhor... ele pareceu que estava querendo dar a nós uma dica, e não bem um "aviso"...
- Uma dica de quê? – Gabriela estava sem entender.
Pedro pensou por uns instantes antes de dizer o que suspeitava.
- Ele disse de uma maneira diferente, de uma maneira que era como se ele quisesse que a gente seguisse em frente... – as meninas não estavam compreendendo a lógica do amigo, mas Marcos começara a pensar da mesma forma que ele.
- É verdade – disse Marcos entrando na conversa. – Também percebi isso agora que você mencionou. Houve um certo sentido nas palavras dele, como se convidássemos pra não fazer o que ele pedia.
Pedro concordou com o amigo.
- Exatamente Marcos! – as meninas estavam começando a entender o que os meninos suspeitavam.
- Então quer dizer que o velho disse aquilo só pra atiçar nossas curiosidades e fazer que voltássemos ao bosque? – perguntou Gabriela meio que incrédula com aquela hipótese.
- Isso mesmo! – afirmou Pedro.
- Eu já não acho isso não – disse Gabriela. – Ele pareceu ser bem sério quando disse que éramos nós que devíamos nos preocupar em voltar aquele bosque abandonado. E, além disso, quem está disposto a voltar lá com aquele homem rodeando o local?
Pedro, Marcos e Luiza concordaram com Gabriela. Não queria repetir tão rápida a experiência de um novo reencontro com aquele estranho homem, ele dava calafrios. Mas Pedro disse novamente.
- Não precisamos voltar lá, isso é não por enquanto. Podemos investigar alguns pontos curiosos que ele mencionou no "aviso".
- Pontos curiosos? – perguntou Marcos confuso.
- Ele disse algumas coisas misteriosas como o verdadeiro motivo pro bosque ter fechado... e que coisas inimagináveis... – Gabriela interrompeu-o o amigo, dizendo.
- Sabe Pedro, acho que de certa forma você está com a razão. – Pedro sorriu. – Talvez aquele velho quis de alguma forma fazer a gente voltar lá no bosque... mas sabe pra quê? Pra pegar a gente no flagra e chamar a polícia! Não vê o que ele disse quando estávamos no bosque? Ia chamar a polícia! Imagine a gente na delegacia, ou no conselho tutelar dando explicações, e por mais que falemos o que a gente acha, aquele velho pode inventar coisas de nós, e em quem eles vão acreditar? E nossos pais Pedro vão deixar a gente talvez por um ano de castigos! – dizia Gabriela rápida pra fazer os amigos desistirem da ideia de querer investigar o bosque. – E a nossa escola vai saber que a gente foi parar na delegacia porque resolvemos invadir o bosque, e vamos passar a maior vergonha do mundo Pedro! - Gabriela olhava pros meninos pra ver se eles concordavam com ela, mas não houve consentimento deles, e ela tentou ganhar apóio da amiga ao seu lado. Mas Luiza parecia que estava em outro mundo, e depois sussurrou.
- Coisas que nem mesmo sonharíamos... ele disse isso né pessoal? - Pedro, Marcos e Gabriela olharam atentamente pra amiga. Marcos percebeu o que a amiga talvez estivesse querendo dizer e aproveitou a oportunidade.
- Sim ele disse isso mesmo... mas o que teria naquele bosque que nem mesmo em sonhos poderíamos sonhar?... – e olhou pra Luiza e se fez de lembrado. – Você disse que tinha visto um... – e Gabriela percebeu a intenção do amigo e interveio se levantando inconformada.
- Não vem com essa agora Marcos! – falou a amiga. – Sei no que está pensando. Quer ganhar apóio de Luiza em cima do unicórnio que ela disse ter visto! Mas tanto eu, Pedro e você sabe muito bem que Luiza não viu um unicórnio! – Luiza abaixou a cabeça tristemente, e Gabriela sentiu que magoara a amiga, abaixou e abraçou-a dizendo. – Não se ofenda Luiza, por favor, não estou querendo dizer que você inventou isso pra chamar atenção, juro que não é isso, mas você deve tentar compreender que um... um unicórnio é uma fantasia, e que talvez você tenha apenas imaginado que viu... – tentou se justificar.
- Tudo bem amiga... – disse ela tentando sorrir. – Parecia tão real que eu... que eu realmente acreditei que tinha visto um unicórnio de verdade. Fui mesma uma boba ao pensar isso... – Marcos se pôs de pé.
- Querem saber o que vou fazer? Vou hoje mesmo à noite ao bosque e levar minha filmadora! – e os amigos ficaram de boca aberta. – E se eu conseguir filmar alguma coisa sobrenatural você Gabriela será a primeira pessoa a ver o vídeo!
Antes que Pedro pudesse acalmar os ânimos dos amigos Gabriela começou a rir de Marcos.
- Você no bosque à noite? – apontou ela. – Você morre de medo de cobras! – Marcos sentiu raiva da amiga por aquilo e desafiou.
- Duvido que você tem coragem sua medrosa! Você é tão delicadinha e cheio de frescuras que até em pensamentos você morre de medo. Deve dormir com a luz do quarto acesa né? – caçoou ele, e Gabriela sentiu ofendida agora.
- Eu não sou medrosa Marcos! Retire o que disse agora mesmo! – gritou ela, batendo os pés firme no chão. Marcos lhe deu as costas sorrindo por ter conseguido deixá-la irritada. - Não vire as costas pra mim Marcos, seu... – Pedro se levantou dizendo zangado.
- Parem vocês dois! – Gabriela cruzou os braços com raiva do amigo Marcos, e ele também não deu o braço a torcer. – Não precisam discutir por causa disso tá? Eu já me decidi e vou eu sozinho pesquisar sobre o bosque.
Marcos virou pro amigo rapidamente.
- Sem mim você não vai! – garantiu que estaria com o amigo naquela aventura que se iniciava.
- Eu também vou – disse Luiza se levantando, deixando Gabriela de boca aberta. – E não adianta tentar me impedir que eu vou da mesma forma! – disse decidida quando Gabriela já pensava em abrir a sua boca. Os três amigos ficaram olhando pra ela. Gabriela cerrou os punhos, como se evitasse a dizer, mas por fim se resolveu.
- Três contra um... vocês venceram!...
- Não precisa ir com a gente se não quiser Gabriela... – avisou Pedro. Gabriela viu o amigo Marcos tentando esconder um sorriso com a mão e disse olhando fixamente pra ele.
- Não se preocupe comigo, eu irei sim, quem sabe eu me divirto com essa brincadeira de detetives. – e depois deu as costas resmungando baixinho. – Eu não sou medrosa seu paspalho...
Pedro então procurou o caderninho de anotações e colocou no bolso, junto com a caneta.
- Então vamos por as nossas mentes em ação e não deixar escapar nem um fio se quer de qualquer informação que obtermos, ok? – os amigos concordaram. Desceram todos e no quintal encontrou o tio Paulo estendido na cadeira de praia no gramado, tomando sol!
Gabriela e Luiza precisaram se esforçar pra não rir do tio Paulo de óculos escuros, sem camisa e de short de bolinhas vermelha. Pedro até ficou com vergonha dos amigos por ver seu tio tão ridículo!
- Já vão meus amigos? – perguntou ele e estendeu a mão pro protetor solar ao lado e recomeçou a passar sobre sua barriga. – Nossa esquentou demais, é bom muito protetor solar... – mas ele apertou com tanta força que a tampinha do frasco de plástico saiu, espalhando creme em todo seu corpo.
As meninas não conseguiram se segurar e caíram na risada, até tio Paulo não agüentou e riu tanto que se esquecera de limpar o short. Pedro tratou logo de perguntar ao seu tio antes que ele fizesse mais alguma coisa desastrosa.
- Tio Paulo você sabe alguma coisa sobre o bosque? Quero dizer, porque ele fechou?
Tio Paulo se endireitou na cadeira de praia e ficou super interessado.
- Sobre o bosque fechado é?
Os amigos disseram juntos: "Sim". Tio Paulo coçou a cabeça, como se esforçasse a mente a voltar ao seu tempo de juventude quando ainda freqüentava o bosque.
- Quando eu era jovem ia bastante naquele bosque. Era muito divertido lá sabem, íamos com uma turma de amigos, fazíamos trilhas e até se perdia por lá, mas era super emocionante, a gente fazia a aventura acontecer... bem naquela época não tinha shopping, cinema como tem hoje aqui, e por isso o bosque era nossa fonte de aventura e laser. – as meninas estavam encantadas ao ouvir o tio Paulo descrevendo os velhos tempos de sua juventude. Pedro queria saber se ele sabia algo sobre o fechamento do bosque, se não ia passar a tarde toda ali ouvindo as aventuras do seu tio quando era jovem...
- Mas o senhor sabe por que o bosque foi fechado? Deve ter tido uma boa razão pra isso não é?
- Olha, houve muitos boatos e rumores de que o bosque havia se tornado um lugar perigoso.
- Perigoso? – perguntaram as meninas juntas.
- Diziam, isso é, devem ser lendas criadas por alguém que foram encontradas coisas assustadoras pelo bosque...
Os amigos ficaram com atenção presas nas palavras do homem sentado sem camisa.
- Que tipo de coisas? – perguntou Marcos.
Tio Paulo começou a rir antes de dizer.
- Monstros! - Pedro, Marcos, Gabriela e Luiza se entre olharam com os olhos arregalados. – Mas não se preocupem crianças, foi como eu disse, não deve passar de histórias pra atrair atenção. Monstros não existem, e o bosque deve ter sido fechado por outras razões, mas eu desconheço qualquer informação. Mas porque vocês não vão à biblioteca municipal? Se não me engano lá tem os jornais arquivados da época em que o bosque estava com seus dias contados... – informou ele.
Os amigos agradeceram pela dica e correram pra biblioteca que ficava no centro da cidade. Chegaram ao antigo casarão amarelo que outrora décadas era um antigo restaurante, mas que agora era a biblioteca. Chegaram todos os quatros e foram ao lado assinar seus nomes no livro de presença, e depois Pedro foi ao balcão perguntar a bibliotecária.
- Boa tarde... gostaríamos de saber se aqui tem jornais arquivados da época em que o bosque estava sendo fechado?
A mulher abaixou os óculos pra Pedro e depois olhou o resto dos amigos com ele.
- Pesquisa escolar?
Pedro sorriu meio que sem graça, dizendo.
- Mais o menos isso, senhora.
A mulher balançou a cabeça.
- Infelizmente todos os velhos jornais daquela época foram doados há muito anos atrás. Não temos mais nada sobre o antigo bosque. – os meninos se desanimaram, e Pedro agradeceu triste e ia saindo com a turma quando a mulher os chamou de volta. – Esperem, se vocês querem saber detalhes sobre o que procuram talvez eu possa ajudá-los... – os amigos ficaram ansiosos enquanto a bibliotecária sentava de frente ao computador e procurava por alguma coisa. – Achei! Aqui está, e ela pegou seu caderno de anotações em cima da mesa e começou e escrever, depois arrancou a folha e estendeu para o menino.
- O que é isso? – perguntou ele.
- O endereço do asilo. – Pedro estranhou. – O nome da pessoa que pode ajudá-los está mais abaixo. Senhor Bernardo. Foi um dos últimos guarda do bosque antes que ele fosse fechado creio eu. Ele está vivendo no asilo ultimamente, mas se alguém conhece melhor o bosque que ninguém é ele mesmo! Deveriam ir lá fazer uma visita pra ele, tenho certeza que ele ia adorar, ele sempre gostou do bosque, acho que terá o prazer de falar tudo que sabe sobre ele.
Pedro guardou o papel no bolso, agradeceu à senhora e saiu com os amigos pra fora.
Gabriela estava preocupada.
- Não vamos ao asilo não é mesmo?
- Porque não vamos? – perguntou Pedro. Marcos e Luiza observava o comportamento da amiga. – O asilo é perto e é permitido entrada para visitantes.
- Bem... – ela estava nervosa e não resistiu, e se emocionou ali na presença dos três amigos. Marcos foi o primeiro a chegar perto dela.
- O que você tem Gabriela? Está sentindo alguma dor? – Pedro observou que Marcos se preocupava muito com a amiga, apesar de se desentenderem às vezes, mas gostava muito de Gabriela. A menina limpou as lágrimas com as mãos e sorriu timidamente.
- Não é nada sério só que... meu avô morreu nesse asilo, e pra mim é difícil retornar nesse lugar porque as lembranças de que eu tenho de lá não são tão agradáveis... me desculpem. – ela olhou meio que envergonhada para o amigo Marcos e sorriu pra ele, por ter se preocupado com ela. Pedro entendeu a situação.
- Então podemos deixar para outro dia... – Gabriela o interrompeu.
- Não precisam fazer isso, eu só acho que não consigo.
Marcos segurou a mão dela e disse.
- Ficarei com Gabriela aqui na biblioteca. – Gabriela ficou surpresa e já ia se recusar, mas ele continuou. – De qualquer jeito não iriam deixar a gente entrar todos juntos pra ver o senhor Bernardo mesmo, e vou ficar aqui com você Gabriela, se é que aceita.
Gabriela ficou com a carinha pegando fogo de vergonha, talvez porque o amigo estivesse segurando sua mão de forma tão carinhosa que os amigos Pedro e Luiza podiam estar pensando em algo a mais. Ela balançou a cabeça, dizendo em voz baixa e trêmula.
- N-Não me incomoda de j-jeito algum... – Pedro e Luiza estavam sem saber o que falar, e apenas disse.
- Não iremos demorar muito, talvez uma hora e meia!
Pedro e Luiza deram as costas aos amigos e rumaram apressadamente para o asilo. Decidiram pegar o ônibus circular e chegou menos de cinco minutos próximo ao asilo que era uma grande casa com um belo jardim. Pedro e Luiza já passaram perto dele algumas vezes, mas nunca entraram. Pedro e Luiza correram até chegar ao portão, e apertou a campainha.
Uma mulher de uniforme branco com um crachá de identificação saiu pra atendê-los.
- O que desejam? – a mulher perguntou do lado de dentro do portão.
- Boa tarde senhora, queríamos saber se podemos fazer uma visita ao senhor Bernardo? – a mulher estranhou a pergunta dele, talvez não estivesse acostumada a ver crianças querendo visitar os pobres velhinhos.
- Hummm... – começou a mulher, coçando a testa. – Esse asilo recebe visitantes três vezes na semana. Domingo, Quarta e Sexta, sempre das nove até as onzes da manhã e das duas até as cinco da tarde crianças.
Luiza olhou para Pedro preocupada.
Pedro não ia desistir de ver o senhor Bernardo, e começou a explicar.
- Perdão senhora é que somos estudantes e estamos fazendo um trabalho de escola... e nós escolhemos fazer um trabalho que retrata a profissão de antigos guardas... – Pedro não gostava de mentir, mas tinha que convencer ela a deixá-los entrar. Luiza começou a fazer uma cara de quem ia chorar, e ajudou na farsa do amigo.
- Nós viemos de tão longe pra podermos fazer esse trabalho escolar e amanhã será sorteado o melhor trabalho pra ser publicado no jornal da cidade. – e Pedro viu que a amiga encenava tão perfeitamente o drama que a mulher logo começou a se interessar. – Mas já que perdemos a oportunidade de fazer o trabalho nesse asilo só nos resta fazer qualquer outro trabalho, né Pedro? – ela piscou pra ele sem a mulher notar.
- Infelizmente Luiza... – e olhou pra mulher, desanimado. – Obrigado senhora pela atenção. – e virou pra sair quando escutou o portão sendo destrancado.
- Esperem um pouco. – a mulher saiu pra calçada formando um sorriso no rosto. – Talvez uma rápida visita possa resolver o problema não é?
Luiza e Pedro sorriram um para o outro. A mulher conduzia as crianças para dentro do asilo, e ia dizendo toda orgulhosa.
- Nosso asilo é o único da cidade sabem? E os tratamentos aqui com os idosos são de primeira categoria, um exemplo para outros asilos da nossa região! – Pedro e Luiza sabiam que ela dizia aquilo pra eles elogiarem bem o asilo no "trabalho escolar". – Por favor, esperem nessa sala enquanto vou chamar o senhor Bernardo. – eles sentaram num sofá e a mulher desapareceu por um corredor cumprido.
- Que lugar mais angustiante... – comentou Luiza sentindo uma certa tristeza no local.
- Asilo nenhum pode ser um bom lugar. Os lugares dos idosos eram para ser junto com seus filhos e netos! Espero que meu pai nunca mande meu avô pra cá quando ele ficar bem velhinho... – lamentou. Eles se levantaram quando um senhor veio se aproximando. O senhor Bernardo tinha uma barba rala e branca, uma cicatriz acima do olho direito, e usava um chapéu preto.
- Podem continuar sentados. – falou ele, sentando numa poltrona de frente aos garotos. – Então vocês vieram aqui pra saber sobre o bosque... – disse ele lançando um olhar penetrante nos olhos de Pedro, como se quisesse enxergar a mente do menino pra saber a verdade.
- Sim... é para um trabalho de escola, sabe? – mentiu Pedro. O velho pareceu não acreditar em nada, mas por fim balançou levemente a cabeça.
- E o que vocês querem exatamente saber?
Luiza cruzou as pernas sentindo-se nervosa com o jeito daquele senhor. Pedro tinha que manter a calma ao máximo possível.
- O senhor foi o guarda do bosque, certo? – perguntou ele. O velho balançou mais uma vez a cabeça confirmando. – O senhor gostava do seu trabalho?
- Não tinha o que me queixar... – disse ele. – Às vezes tinha que sair gritando e correndo atrás de uns moleques que faziam bagunças no bosque, mas fora isso era tudo calmo. – o velho estralou os dedos das velhas mãos e desafiou Pedro. – Sei que vocês querem saber por que o bosque foi fechado não é mesmo?
Pedro ficou um pouco apreensivo com a desconfiança certeira do homem, enquanto Luiza tremia ao seu lado sem dizer uma palavra, mas Pedro disfarçou o nervosismo.
- Para o nosso trabalho escolar ficar completo temos que saber sua versão ao fato dele ter sido fechado ao público, senhor... – o homem na poltrona gargalhou.
- Você até que esconde bem suas verdadeiras intenções, mocinho... mas eu ainda não estou um velho caduco pra acreditar nessa história! – disse seriamente. Pedro mordeu os lábios e sabia que estava com o jogo vencido, por isso ele foi logo perguntando sem medo algum.
- Sabemos que tem algo estranho naquele bosque, mas não sabemos o que tem lá dentro... – dizia ele encarando o rosto do homem que estava bem interessado nele. – O senhor deve saber de algo que ninguém mais sabe, deve saber a verdadeira razão pelo qual os portões do bosque foram fechados.
O velho se levantou furioso da poltrona, que Luiza se agarrou no braço do amigo de medo.
- Eu não sei de nada e mesmo que soubesse de alguma coisa anormal no bosque eu não diria a ninguém... principalmente a vocês!... – respondeu aborrecido. – Agora vão embora daqui e não apareçam mais. - O velho virou as costas pra eles pondo um ponto final na visita, quando Luiza abriu a boca.
- Eu vi o unicórnio!... – Pedro olhou pra ela de boca aberta e depois viu o homem que se apoiou na parede como se tivesse recebido um impacto tão forte no seu corpo que precisou se apoiar pra não cair. Luiza sentiu que ele sabia que ela estava dizendo a verdade. O velho virou pra ela bem lentamente. Estava com lágrimas nos olhos, e murmurou em voz trêmula.
- N-Não existe... nenhum u-unicórnio naquele b-bosque... Nenhum! – disse por final com uma voz forte, e a mulher entrara na sala pra ver como estavam se saindo. – Levem essas crianças embora senhora Nilda... e por favor, procure não deixar que visitas inesperadas me incomodem... – ele disse e saiu arrasado da sala, deixando a mulher com uma cara de espanto.
- O que vocês fizeram pra ele ficar assim tão zangado? – olhou para os dois.
- Não tínhamos intenção de magoá-lo – começou Luiza.
A mulher deu por convencida, forçando um sorriso aos meninos.
- Ele deve estar cansado por isso ficou assim. Vamos crianças, hora de ir embora. – ela acompanhava os meninos de volta para o portão e ia avisando. – E não se esqueçam de trazer um exemplar do jornal caso vocês ganhem, preciso ler a matéria de vocês, tá?
Pedro e Luiza balançaram a cabeça, agradeceu ela e saíram do asilo. Foram caminhando até chegar novamente a biblioteca. Marcos estava com Gabriela na sala de leitura, e poucas pessoas estavam ali lendo livros e revistas quando Pedro e Luiza entraram.
- Até que fim vocês chegaram! – disse ele em voz alta, e a bibliotecária de lá do balcão chamou sua atenção.
- Faça silêncio senhorzinho você está na biblioteca! – Pedro fez sinal pros amigos irem embora. No caminho de volta pro clube secreto Pedro ia comentando como foi à conversa com o senhor Bernardo.
- Ele sabe de alguma sim, pessoal, percebi que ele escondia a verdade de nós!
Luiza entrou na conversa.
- Ele até chorou quando eu disse que tinha visto o unicórnio. – e Marcos e Gabriela olharam pra amiga surpresos.
- Porque ele chorou? – estranhou Gabriela. Luiza deu de ombros.
- Será que ele sabe que... que existe um unicórnio por lá?
Marcos achou a opinião da amiga um tanto exagerada. Gabriela ainda não conseguia acreditar na possibilidade de um unicórnio no bosque. Aquilo seria muita fantasia. Mas os dois amigos ficaram quietos sem dar suas opiniões. Porém Pedro disse.
- Uma coisa podem ter certeza amigos... Aquele bosque esconde muitos segredos...
De repente Marcos levou um susto. Era Gabriela que agarrou seu ombro dizendo.
- Mostre a ele o que conseguimos na biblioteca, Marcos! – e o menino se lembrou, tirou do bolso da calça um pedaço de papel e estendeu pro Pedro.
- Mais um endereço? – verificou Pedro curioso.
- A bibliotecária acabou achando o endereço da pessoa que recebeu os jornais antigos!
Luiza abriu um sorriso largo, e Pedro suspirou.
- A sorte está ao nosso favor amigos... – e todos foram para o clube, decidiram ir no dia seguinte no endereço daquela pessoa e saber mais sobre o bosque abandonado. Depois voltaram pra casa cada um, com expectativas de que a próxima investigação seria mais emocionante!
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