Capítulo Dois - O piquenique no bosque
A tarde passou e logo a noite chegou, passou a noite e o sol nascia acordando quatros amigos para um dia especial. Gabriela dissera à mãe que ia fazer um piquenique no bosque, e quase sua mãe não a deixara ir, mas acabou deixando-a ir depois que ela disse que tomaria cuidado. Luiza teve o mesmo problema, mas prometeu que não ia fazer nada de errado, e que tomaria cuidado e voltaria antes do almoço, se não ia ficar de castigo por uma semana! Já os meninos não tiveram problema alguns, pois falaram que iam colher peixinhos pra atividades escolares, e só o que escutaram das mães foram: - "Nada de mergulhar no lago se não eu arranco a sua pele quando chegar!"- Enfim os amigos saíram de suas casas cada um levando o que fora combinado no sótão na tarde de ontem.
Fazia um dia maravilhoso e a cidade estava calma no domingo. Os amigos chegaram quase ao mesmo tempo na praça central.
Gabriela e Luiza traziam uma cesta de piquenique, enquanto os meninos traziam um carrinho de mão com uma caixa térmica com gelo.
- Bom dia a todos – disseram elas aos meninos, e abaixou a cesta no chão.
Tiraram as latinhas de refrigerantes e colocaram dentro da caixa, e juntos foram para o bosque que ficava uns dez minutos dali. O bosque era grande e ocupava dois quarteirões de área verde, e tinha um pequeno riozinho que circulava todo o bosque, pequenas colinas de pedras, e trilhas entre as árvores grandes. Era um lugar lindo que estava fechado há anos, ninguém ao certo sabia qual tinha sido a verdadeira razão dele ser fechado aos visitantes.
Os quatros amigos chegaram ao grande portão de entrada do bosque. Ficaram olhando por alguns instantes, até que Marcos rompeu aquele silêncio.
- Ei pessoal é um pouco mais abaixo a entrada na cerca.
Os amigos começaram a descer à calçada e finalmente chegaram. Tinha um pequeno arbusto que crescera junto à cerca, tampando a entrada discretamente, poucos sabiam que ali tinha o buraco, mas os poucos que sabiam não davam importância alguma. Pedro olhou os dois lados da rua e ninguém passava naquele momento.
- Marcos entre na frente, meninas sigam o Marcos e eu entrarei por último – disse Pedro. Ele ajudou as meninas passar pelo arbusto com a cesta e depois entrou também. Estavam os quatros do lado de dentro do bosque. Apesar de estar fechado há muito tempo o bosque continuava lindo. A natureza em si se carregara de zelar de tudo ali. Havia várias trilhas pra caminhadas, e várias rochas lisas que davam pra se estender e pegar um solzinho...
Havia flores lindas e coloridas que as meninas ficaram enlouquecidas... sem contar em diversas borboletas diferentes que até os meninos ficaram de queixo caídos. Gabriela aspirou o ar com força e soltou satisfeita. Nem se lembrava direito a última vez que estivera ali, talvez tivesse quatro anos de idade, era muito novinha na época. Gabriela deu a mão a sua amiga Luiza e juntas saíram, deixando os meninos pra trás com todas as coisas.
- Mais que meninas folgadas! – disse Marcos que teve que levar a cesta, enquanto Pedro puxava o carrinho com a caixa cheia de refrigerantes e gelos.
- Vamos procurar um lugar adequado pra estender a toalha e comer logo!
Os meninos seguiam as meninas que iam examinando tudo com mãos e olhares.
- Veja Luiza! – apontou pra algo numa árvore perto delas. Era um fascinante sagüi, um pequeno macaquinho que ao ver as meninas subiu na árvore e ficou pulando de galho em galho, até desaparecer nas copas mais altas. Marcos estava cansado de carregar a cesta que nem era tão pesada assim, estava era mais pra preguiça mesmo, e parou pra descansar. Sentou numa rocha, e ficou se relaxando. Mas aí sentiu a rocha tremer e deu um pulo de susto quando viu que não era uma rocha e sim uma enorme tartaruga!
- Nossa veja isso! – e disse ele de olhos arregalados, e pegou a máquina fotográfica da bolsa que carregava nas costas e começou a tirar fotos do réptil. – Aqui deve ter vários animais Pedro! Veja o tamanho dessa tartaruga, é incrível que ninguém ainda a pegou...
- Vamos indo Marcos, as meninas se afastaram de nós e não podemos deixá-las sozinhas por aí – e ele voltou a puxar o carrinho, indo pela trilha onde as meninas estavam caminhando se divertindo com o que encontravam pela frente. Gabriela e Luiza encontraram um lugar ideal pro piquenique, próximo abeira do riozinho que fazia uma volta entorno de uma pequena ilhazinha com duas árvores tão próximas uma a outra que pareciam uma só.
- Que pena que não podemos fazer nosso piquenique lá embaixo daquela árvore! – disse Gabriela decepcionada, mas Luiza já tinha se dado por satisfeita ali mesmo, próxima ao riozinho de águas limpas. Os meninos chegaram e assoviaram surpresos com o belo lugar onde as meninas se decidiram.
- Perfeito! – exclamou Marcos e colocou a cesta no gramado. – Podemos estender a toalha e fazer a boca que estou morrendo de fome.
As meninas se entre olharam e sorriram.
- Ok meninos, enquanto nós preparamos os lanches vocês podem procurar uns peixinhos pro nosso aquário. – pediu Gabriela.
Pedro e Marcos tiraram os tênis e as meias, levantou as barras das calças até ao joelho e começou a entrar no riozinho, cada um com um pote de vidro em mãos. Pegaram a muito custo e sacrifício uns pequenos peixes, e outros que eram girinos.
- Será que é fundo mais pra frente? – perguntou Marcos ao amigo Pedro.
- Não sei dizer... Porque você quer nadar?
- Bem que eu queria, mas eu não trouxe roupas de reservas.
- Eu não confiaria muito não, ninguém aqui conhece direito esse rio, pode houver aí cacos de vidros quebrados ou cobras...
- Cobras?
- Sim, algumas cobras também são aquáticas não sabia?
Marcos começou a sair da água de fininho. Tinha medo de cobras desde quando tinha cinco anos quando foi picado por uma na fazenda de seu avô. Pedro estava saindo da água quando uma garrafa veio sendo arrastada pela correnteza do rio. Gabriela se levantou e apontou.
- Uma garrafa de vidro! Pegue ela Pedro, parece ter algo dentro. – falou ela.
Pedro então decidiu catá-la e caminhou mais um pouco e pronto! Pegou a garrafa tampada.
Verificou-a na mão, e a luz do sol atingiu o vidro refletindo a luz aos seus olhos.
- Traga pra cá pra gente ver também – pediu Luiza curiosa.
Pedro saiu das águas e foi até aos amigos, eles fizeram volta entorno dele. Ele destampou a garrafa, e com um pedaço fino de um graveto conseguiu tirar o pedaço de papel de dentro da garrafa. Todos espremeram os olhos para o pedaço de papel em que Pedro segurava na mão.
- Vamos ver o que está escrito – ele desdobrou o papel velho e seco, e no papel tinha algo escrito assim:
...a lua na água da noite estrelada...
As folhas das gêmeas na lua clareada...
O portal irá se abrir e seu caminho irá surgir!
Todos não entenderam muito bem o que significava aquilo. Mas as meninas acharam que pudesse ser um versículo de algum poema.
- Não me pareceu muito um verso de poema... – disse Pedro com certa dúvida.
- Então o que pareceu pra você? – perguntou Gabriela.
Pedro coçou a testa como se tivesse na frente de uma conta de matemática.
- Sei lá turma, mas é como se fosse alguma instrução pra fazer alguma coisa, conseguir algo.
- Como se fosse algum ritual mágico? – perguntou Luiza, incrédula.
Pedro também achou que estava exagerando.
- Bem isso não importa agora. O que vamos fazer com essa garrafa e esse papel?
Gabriela pegou o papel e a garrafa das mãos de Pedro.
- Vamos levar pro clube, será nossa lembrança desse piquenique! E não podemos jogar a garrafa de volta ao rio né? Temos que preservar nossa natureza.
Depois disso eles se reuniram envolta da toalha e se deliciaram com as guloseimas que as meninas fizeram, e tomaram refrigerantes. Depois de tudo recolheram os lixos e puseram na cesta pra manter o ambiente limpo e preservado e depois brincaram de esconde-esconde. Pedro bateu cara enquanto os amigos se escondiam ali por perto. Gabriela se escondera atrás de uma rocha, Marcos atrás de uma árvore e Luiza estava ainda procurando um lugar pra se esconder quando viu um animal correndo por uma trilha mais adiante. Ela ficou petrificada de espanto e admiração. Espanto porque o que ela via não era um simples animal que todos estavam acostumados a ver, era um majestoso unicórnio branco que galopava velozmente entre as árvores. Ela ficou ali parada observando o animal sumir, quando Pedro bateu nas suas costas e ela levou um susto.
- Calma Luiza sou eu, porque você não se escondeu? – perguntou ele surpreso.
Luiza mal conseguia falar e quando falou gaguejou.
- E-Eu vi um u-unicórnio Pedro! Eu vi! - Pedro estranhou e olhou para os lados, e só o que viu eram as cabeças denunciando a posição de onde estavam os amigos escondidos. Luiza estava pálida e tentava convencer o amigo a acreditar. – Juro por tudo que é mais sagrado Pedro, não estou mentindo, eu juro! Era mesmo um unicórnio, tinha até chifre no meio da testa e era veloz como o vento... belo e branco como a neve.
Gabriela e Marcos que observava Pedro e Luiza conversando saíram de seus esconderijos.
- Porque você parou de procurar, Pedro? – reclamaram eles.
Pedro olhou pra Luiza preocupado. E ela disse aos amigos que se aproximavam.
- Eu vi um unicórnio.
Marcos e Gabriela se entre olharam antes de cair na risada. Pedro chamou atenção deles e disse.
- Já chega pessoal, acho que já está na hora de irmos. – Luiza ficara triste com os amigos por não acreditar nela, mas ela até que compreendia, se ela não tivesse visto mesmo a bela e fascinante criatura também não ia acreditar logo de cara. De repente houve um barulho numa moita alta atrás deles e todos eles olharam assustados pra mesma direção.
- Será mesmo que Luiza estava falando a verdade... – disse Gabriela tremendo de medo enquanto via a moita se mexer cada vez mais, enquanto Marcos tirou a máquina fotográfica pra tirar fotos da criatura, e a coisa saiu da moita.
De trás da moita apareceu um senhor manco, com uma bengala estranha se apoiando.
Os meninos se assustaram e tentaram disfarçar, mas o velho com sua cara destorcida e enrugada não parecia nada amigável.
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou ele num tom de voz nada agradável.
Pedro engoliu seco de nervosismo e tentou ser educado.
- Estávamos apenas passeando senhor.
O velho estava muito zangado.
- Esse bosque está fechado pros visitantes! Não devem entrar aqui mais, se não vou chamar a polícia, vocês me entenderam?
Gabriela e Luiza puxavam Pedro pela camisa pra ir logo embora dali.
- O senhor poderia ser mais simpático, não estávamos fazendo nada de errado, só curtindo a natureza! – disse Marcos ao velho.
- Não quero saber de invasores nesse local! – apontou a bengala em direção ao menino, querendo intimidá-lo. – Não há nada nesse lugar que interesse a vocês virem, e o bosque está fechado há anos! Não voltem mais aqui, saiam daqui agora!
Pedro pediu desculpas e o pessoal saiu às pressas dali.
Na calçada do lado de fora do bosque às meninas reclamavam.
- Mas que senhor mais sem educação! – dizia Luiza.
- Não me surpreenderia se aquele homem não tivesse amigos, ele não tem simpatia e nem carisma!
Marcos e Pedro estavam vindos atrás das meninas.
- Aquele senhor ficou agitado por nada... achei estranho, parecia que ali tinha algo que não quisesse que a gente soubesse – comentou Pedro.
- Talvez ele quisesse ficar com o bosque só pra ele. Aquele homem sem educação! As pessoas pedem que nós respeitemos os mais velhos sendo que eles não nos respeitam só porque somos jovens!
Pedro até riu com a fúria do amigo.
Os amigos decidiram dar uma passada no clube pra deixar os potes com os peixinhos lá. Tio Paulo estava no quintal carpindo umas gramas e escutava uma música dos The Beetles, cumprimentaram ele e logo subiram pela escada giratória do lado de fora e estavam todos reunidos no sótão.
Pedro tirou o lixo da cesta de Gabriela e jogou na lata de lixo, e colocaram os potes com os peixinhos encima de um velho armário. Tirou a garrafa com o papel dentro e deixou ali num canto. As meninas abriram as janelas pra entrar um vento refrescante, enquanto falavam que seria uma boa ideia de logo ter um ventilador ali. Marcos estava abrindo algumas caixas de papelão por curiosidades, e Pedro disse.
- Que tal a gente batizar com um nome o nosso clube?
Os amigos adoraram a ideia e cada um foi escolhendo o nome que vinha em sua mente.
- Deveria ser chamado de "O Clube dos Quatros" – disse Marcos.
- Eu já acho que deveria ser "Clube dos Amigos" – falou Luiza.
E eles ficaram discutindo entre si e defendendo suas escolhas.
- Esperem amigos – pediu Pedro pondo ordem no clube. – Pra não haver brigas vamos tirar na sorte. Cada um pega um pedaço de papel e escrevam o nome do clube, e coloquem dentro deixa caixinha, e vamos pedir que meu tio Paulo sorteie, assim ficará a sorte de quem for escolhido, o que acham?
Eles por fim concordaram, e fizeram de acordo com as instruções de Pedro. O menino gritou o tio de lá de cima na janela do sótão, e tio Paulo subiu as escadas, e curvou pela entrada do clube.
- Nossa como está ficando bacana o lugarzinho de vocês! – disse admirado vendo a limpeza no local. – Daria até pra fazer um clube aqui amigos!
Os amigos se entre olharam e sorriram. Pedro se curvou ao tio e disse.
- Precisamos que você sorteie um pedaço de papel dentro dessa caixa tio Paulo.
- Claro que sim, então vou mexer bem antes de tirar... – disse ele remexendo os quatros pedacinhos de papéis e tirou.
- Pode ler tio Paulo.
O homem desdobrou o papel e leu.
- Clube Secreto. Gabriela.
Gabriela pulou de alegria por ter sido sorteada, e os amigos acharam o nome super bacana e comemoraram juntos. Tio Paulo sorriu e depois desceu pra voltar ao trabalho no quintal.
- Então está decidido. A partir desse dia é decretado oficialmente o nome do nosso clube. O clube secreto! – finalizou Pedro.
E os amigos todos desceram e cada um voltou pra sua casa.
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