ᵘᵐ ᶜᵒᵉˡʰᵒ ⁿᵒ ʳᵉᵈᵉᵐᵒᶦⁿʰᵒ

Horas se passaram, e a pequena criança continuava deprimida, chorando amargamente sem ter ninguém para consolá-lo. Sua mãe até havia entrado em seu quarto poucos minutos atrás, quando havia conseguido um tempo livre longe dos balcões, porém, por pouco tempo, quando foi novamente chamada por um tio de Otto que pedia reforços para atender os clientes.

Ele então percebeu que seus pais e parentes estavam muito ocupados para prestar atenção ou pelo menos dizer palavras de consolo para o jovem em seu imenso e espaçoso quarto confortável, porém vazio e silencioso.

A criança, após alguns minutos, decide parar de chorar e então vai em direção a varanda daquele cômodo para ter um pouco de ar fresco. Os pássaros cantavam lindas melodias, enquanto as folhas verdes, escuras, laranjas e de outras cores caíam das copas das árvores rumo ao chão de serrapilheira. Otto solta um longo suspiro, colocando seus braços na sacada e pensando em todas as coisas que já haviam acontecido.

O menino se lembrava de brincar com Asfien, no quintal de sua casa, cercado por flores coloridas que exalavam um cheiro delicioso e refrescante, que lembrava o da chuva. Ao lado dos jovens, haviam grandes arbustos recheados de pequenos brotinhos que dariam origem a frutos como a framboesa, a amora e o morango em pouco tempo. A criança se lembrava do cachorrinho de Asfien: Cacau, que brincava com eles e recebia Otto com sua cauda que balançava para lá e para cá, seguido de latidos de felicidade, pegando o osso feito de borracha que as crianças arremessavam para ele no campo verde e belo de Reisikarg na primavera.

Otto não podia acreditar...por que seu amigo tinha que partir tão cedo?! Eles iriam ter tantas experiências juntos, não era? Mas por que agora ele iria embora?

O jovem então sai da varanda, voltando para o quarto, começando a formular ideias de como visitar Asfien, sem que seus pais e nenhum outro parente percebesse sua falta. Ele pensava em coisas malucas, porém, a única ideia que parecia fazer sentido e que no final poderia funcionar, seria esperar a loja fechar e sua família descansar e então pegar alguns lençóis de sua cama e guarda-roupa, os enrolando em um forte nó que sustentaria o menino que escorregaria da "corda" até descer da sacada de seu quarto, chegando no chão com segurança.

É...talvez aquele plano poderia dar certo!

Confiante com suas ideias, Otto fingiu dormir durante algumas horas, por pouco realmente adormecendo. O garoto ouvia os passos nos corredores diminuindo, um sinal de que todos os seus familiares já estavam indo para seus aposentos.

De repente, o menino ouve sons, que possivelmente vinham do outro lado da porta, juntamente com sons de sapatos um tanto quanto barulhentos que batiam no chão de madeira velha que respondia com rangidos desconfortáveis e sonoros. Uma voz grave é ouvida, juntamente com uma voz melancólica:

-Otto deve estar cansado uma hora dessas...

-Você precisa falar com ele, você sabe o que fez, ele não merecia aquilo...

Eram as vozes de seus pais.

O coração da criança começa a martelar com ansiedade, pensando que seu plano daria errado e que ele não iria ver Asfien naquela noite. Porém, ele tentava meditar e por fim, com sucesso ele havia finalmente relaxado, ouvindo atentamente a conversa, ainda deitado na cama e escondido pelas cobertas, seus olhos se mantinham abertos, esperando por qualquer aproximação.

-Raden, precisamos conversar com ele, agora.

-Mas...

-Pelo menos, eu tentei conversar com ele e vir aqui por um tempo, mas mesmo assim, eu queria ter ficado mais tempo com o nosso filho, já você só tentou contê-lo de sair daqui e nem sequer tentou acalmá-lo!

-Eu tentei...

-Não, você não tentou.

A discussão ainda continuava, sem parar, e Otto solta um suspiro resmungão, e espera até que a conversa termine e que seus pais partam dali.

Porém, seus planos logo são frustrados.

Os pais de Otto, abrem a porta e entram no cômodo, sua mãe se direciona a cama do menino, seus passos ecoavam calmos pelo quarto, embora o lugar estivesse cercado de uma energia negativa.

Ao chegar e se sentar ao seu lado, Berenice acaricia os cabelos bronzeados de seu filho, enquanto seu pai se mantinha de pé, com seus braços cruzados, um certo ar de indiferença exalando por sua fachada de durão, onde na verdade, apenas havia um imenso beco que escondia todas as suas verdadeiras emoções.

A face de sua mãe estava com algumas lágrimas já secas, porém, ela parecia concentrada em dar o máximo de atenção a Otto, que fingia descansar, embora ela não tivesse notado isso. O rosto de seu pai parecia levemente acabado, mas que em uma tentativa final, tentava ser "forte", todavia ele já sabia que estava derrotado por dentro e que sua máscara estava prestes a se quebrar.

-Amor...

Sua mãe tenta "acordar" Otto, de maneira doce, mas, mesmo assim, sua voz já assumia que ela já estava corroída pela conversa anterior.

Ao perceber esse detalhe, o menino abre seus olhos e se vira para sua mãe, a respondendo com uma falsa voz sonolenta:

-Mãe?

Seu semblante fica mais tranquilo e Berenice abre um pequeno sorriso para ele, ainda o acariciando:

-Eu sei que você está cansado, mas, poderíamos conversar um pouco?

O menino apenas assente e seu olhar muda ao perceber que seu pai também estava lá. Raden olhava para os brinquedos antigos do filho, um deles em específico chamava sua atenção:

Um pequeno coelho de pelúcia branco com leves tons de rosa, que possuía brilhantes olhos castanhos que pareciam serem feitos de vidro, já em seu peito, havia um pequeno lacinho branco, um pouco gasto como se ele já tivesse tido dias melhores.

Então Otto se lembrou que aquele brinquedo era de Asfien, que tinha o emprestado quando em um dia de chuva, o menino teve que viajar para bem longe, justamente no dia em que havia a entrega de um trabalho da escola sobre a infância. Todas as crianças precisavam levar um brinquedo antigo para a professora.

O menino da família Rinut prometeu que devolveria aquele coelho pessoalmente para Asfien assim que o encontrasse na sala de aula, porém, depois daquele dia o garoto da família Pyhna nunca mais foi para lá.

Até que hoje, Otto descobriu o motivo do menino não ter voltado para a escola.

O menino se lembrava que não havia sido Asfien que havia entregado o brinquedo, mas sim, o pai dele que havia batido na porta da padaria, vestindo um sobretudo escuro, luvas claras e um chapéu na cabeça, usando aqueles velhos óculos de arame cinza.

Seu rosto estava triste e vazio.

"Por que Otto não tinha percebido os sinais antes?!"

Sem tempo, o jovem volta a realidade e se levanta da cama abruptamente, assustando sua mãe que estava ainda sentada nela. O menino corre até a pilha de bonecos e brinquedos infantis e fica de joelhos no chão frio, segurando o coelho de pelúcia que estava ao lado de seu pai pensativo que o encara confuso.

-Esse...esse é o coelho de Asfien...

Otto afirma para si mesmo, e então se levanta e encara seus pais:

-Eu sei que está tarde...mas, por favor me deixem ver ele, ele precisa disso mais do que eu nesse momento!

Os pais o encaram, suas próprias mentes estavam embaralhadas, pensando se deveriam ceder a ideia do menino insistente ou não. Berenice e Raden vidram seus olhares um no outro, como se conversassem por telepatia.

A mãe sabia que ele precisava ver seu amigo, mas estava com medo de sua reação ao vê-lo. O pai continuava firme em sua decisão de não deixar Otto ver Asfien em seu pior momento, sabendo que isso só acabaria com seu filho por dentro.

Porém, após decidirem, os pais dizem de forma uníssona e firme:

-Está bem...

Sua mãe, ainda indecisa pergunta atenciosamente, para ter certeza da escolha do menino:

-Mas, você tem certeza de que quer fazer isso?

Otto apenas balança a cabeça de forma afirmativa, sem dizer uma palavra, enquanto seus pais o encaravam silenciosamente.

Eles então iriam para a casa da família Pyhna.


×××🍂×××


Alguns minutos se passam, e Otto e seus pais partem para as ruas movimentadas de Reisikarg, onde os comerciantes e fregueses locais já partiam de suas lojas para casa.

Um vento forte se instalava entre as árvores gigantescas, empurrando as folhas que ali haviam para longe, onde voavam para dentro das florestas escuras e sombrias, sem nenhum sinal de vida humana. A chuva estava prestes a começar, nuvens escuras escondiam o pôr do sol. Um prenúncio de que os trovões medonhos e uma noite sinistra estavam prestes a se acomodar no céu. 

A criança segurava a mão de sua mãe, com um pouco de medo, enquanto na outra ele carregava o coelho. Raden aquecia suas mãos que estavam escondidas em seus bolsos.

De repente, uma ventania intensa empurra a família e com o descuido do garoto, aproveita para levar o coelho de pelúcia feito de pano, que começa a voar para longe dele.

Otto se desespera e começa a correr com impulsibildade para trás, indo em direção ao vento frio e o brinquedo. Enquanto seus pais se dão conta do que o filho estava fazendo e tentam ir atrás dele.

O menino lutava contra tudo e todos que estavam em sua frente, empurrando os fregueses desavisados.

Por fim, após uma corrida rápida, o coelho acaba voando para perto da floresta escura, e por fim entrando nela, sumindo entre as árvores gigantes.

-Não...

O menino exclama de forma vaga, sem mais esperanças.


Ele se ajoelha no chão e encara as copas das árvores sombrias e escuras, ouvindo que seus pais estavam chegando perto.


Até que ele percebeu que não estava sozinho.

-Acredito que isso deve ser seu...


Uma voz infantil ecoa no meio dos arbustos.

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