Baiona sempre foi um dos lugares preferidos de Gabriel Medina para surfar.

Seu hobbie que agora é uma profissão, já o fez ser três vezes campeão mundial da WSL World Tour.

De férias e agora medalhista de bronze olímpico, Medina a convite de seu amigo e namorado de Catarina, foi passar férias em Baiona.

Eram férias curtas, duas semanas até ele ter que retornar para os seus treinos para a nova temporada da WSL que irá se iniciar. O brasileiro sabia o idioma espanhol então não era um problema para ele se comunicar com os amigos baioneses sentados na mesa do bar a frente da praia de Santa Marta.

E foi ali na mesa do bar que Gabriel Medina sentiu seu coração disparar por alguém, coisa que não acontecia que havia terminado com sua ex esposa. Yasmin Brunet. Por qual era perdidamente apaixonado, tão apaixonado que rompeu laços com a família por ela, coisas da qual ele se arrepende terrivelmente até os dias de hoje.

Desde então, Medina nunca mais se apaixonou perdidamente por uma mulher, apenas casos de uma noite ou os famosos casos rápidos que duram menos de um mês.

Mas foi ali, bem ali naquela praia na famosa cidade espanhola aonde ele acreditou ter encontrado o amor de sua vida.

— Quem é ela?. — o surfista perguntou para Fernando o espanhol namorado de Catarina.

— Aquela mulher ao lado de Catarina?. É a Rosamaría. — Fernando disse e se levantou para cumprimentar a namorada.

Medina fez o mesmo já que sabia que o amigo namorava, mas não conhecia a moça.

Ao levantar ele abraçou Catarina num gesto rápido e logo foi cumprimentar também Rosamaria que estava atrás da portuguesa tímida como sempre.

Medina achou fofo a mulher que estava com a feição entediada e olhava para os pés.

Ele parou na frente da moça e estendeu a mão para ela.

Só que havia um detalhe.

Ele não sabia que ela era surda.

— Olá, sou Gabriel, tudo bem?. — ele perguntou sorridente e Rosa ao perceber que havia alguém em sua frente paralisou.

— Porque essa cara de assustada?, você me conhece?. — ele perguntou animado. — você assiste a liga de surf?, Baiona é um lugar incrível para surfar. — O brasileiro disparou de falar o que deixou Rosamaria ainda mais assustada.

Catarina ao perceber que o surfista tentava falar com Rosa, interviu na conversa.

— Medina então, ela não escuta. — disse a mulher educadamente e Medina então se sentiu mal.

— Meu Deus, e eu aqui disparando de falar. Pede desculpas a ela por mim. — Ele pediu a Catarina envergonhado e Rosamaria deu um leve sorriso.

— Ela entende o que você fala por leitura labial, só fala devagar. — Catarina disse e saiu quando viu que seu namorado a chamava.

— Me desculpa. — ele pediu olhando fundo nos olhos da mulher.

Rosamaria chacoalhou as mãos num gesto de dizer que estava tudo bem e então sacou seu celular entrou nas notas e escreveu.

"Eu nunca assisti a liga de surfe, me desculpe."
"Prazer Gabriel, sou Rosamaría"

— Você entende mesmo o que eu falo?. — ele perguntou falando devagar e quase em um sussurro.

Ela chacoalhou a cabeça e pegou o celular para digitar algo mas foi interrompida por Catarina cutucando seu ombro.

— Sentem-se, vocês vão ficar assim em pé até quando?. — Catarina disse fazendo os sinais para Rosa e ela concordou indo se sentar e foi surpreendida com Gabriel tocando suas costas.

Ela estremeceu por um segundo e Medina percebeu e soltou um riso fraco. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.

Ele o guiou até aonde estava sentado mas havia uma mulher no lugar vago.

O surfista bufou frustrado já que não queria perder a oportunidade de conversar com Rosamaría.

Mesmo ele sabendo que seria um pouco difícil a comunicação, não queria não falar com ela. Já que a mulher encantou Medina do momento que chegou até agora.

Por sorte havia um lugar vago ao lado da onde a mulher estava sentada. Medina então educadamente cutucou o ombro da mulher que ao virar o rosto e perceber que era o mesmo, sorriu e se atirou para os braços do homem que se assustou com o ato.

— Eu sou amiga de Catarina, porém eu sou uma grande fã. — ela disse e Medina sorriu, mesmo ainda encucado com o ato da mulher. — assisto sempre ás ligas de surfe e torço para você desde sempre, você é ótimo.

— Muito obrigada de verdade, é bom saber que me apoiam. — ele agradeceu gentilmente e a mulher sorria largamente.

Ao seu lado, Catarina e Rosamaría olhavam com desdém para a mulher que se atirava descaradamente para o Brasileiro.

— Ela está agindo estranha. O que está acontecendo?.— Rosamaría gesticulou.

A falta de luz pode dificultar a leitura labial para pessoas com deficiência auditiva. Então Rosamaria por mais que tivesse se esforçado, a pouca iluminação não permitiu a leitura.

— Ela está dizendo pro Medina o quanto é fã dele. Esquece isso vamos nos sentar. — Catarina pediu e Rosa concordou

Elas deram a volta pela ponta da mesa e se sentaram do outro lado e quando Medina percebeu bufou frustrado já que por conta da mulher havia perdido a oportunidade de conversar com Rosa.

Ela não parava de falar coisas que Gabriel não se lembra que não prestava atenção, seus olhos estavam ocupados na mulher de cabelos castanhos tímida do outro lado da mesa.

A noite foi assim, Estrella Galícia ali, aqui. Tudo para completar a noite dos jovens adultos que estavam presentes na mesa.

Catarina, um pouco já alterada. Saiu com seu namorado aos beijos e Rosa ficou sozinha na mesa olhando para o seu celular.

Gabriel que ainda estava com a mulher em questão que se chama Sofía. Percebeu que Rosa estava sozinha e escreveu algo no celular e mostrou a ela tirando um olhar confuso de Sofía.

"Você gosta de sorvete?"

Ela olhou confusa e fez um sim com a cabeça.

"Quer ir comprar comigo?"

Ela assentiu novamente e os dois se levantaram juntos e saíram sem mais nem menos.

Gabriel sabia que Sofía falava algo que nem ele identificou já que a mulher também estava bastante alterada.

Eles seguiram o caminho e ele procurava maneiras em sua cabeça de tentar falar com ela.

Ela então sacou seu celular, digitou algo e mostrou a ele.

"Conheço um ótimo lugar para tomar sorvete."
"São artesanais, você gosta certo?"

Ele sorriu e por segundos Rosa quis beijá-lo.

"Gosto muito"
"Vou te contratar para ser minha guia turística de Baiona"

Ela fez uma cara de espanto e escreveu algo rapidamente.

"Você nunca conheceu Baiona a fundo?"
"Não acredito"

Ela colocou a mão no peito como se estivesse ofendida e Gabriel riu.

"Eu conheço, mas quero comer comida boa"

"Meus pais tem um restaurante, garanto que lá tem comida boa."

Agora foi a vez de Medina se surpreender.

"A filha também cozinha bem?"

Ela riu.

"Apenas os pais"

Eles riram juntos e Gabriel fazia questão de olhar fundo nos olhos da mulher, numa tentativa de fazer ela se sentir acolhida e incluída. E também de mostrar o quanto ele estava interessado em conversar com ela.

Eles continuaram o caminhos assim, Rosa uma hora ou outra apontava para a rua aonde deviam entrar ou mostrava algo bonito para ele.

Após andar por cerca de 15 minutos mais ou menos eles haviam chegado na gelateria. Fizeram seus pedidos e Medina fez questão de pagar, o que deixou Rosamaria envergonhada.

Ela não estava acostumada em sair com homens, tampouco com mulheres já que raramente também saia com Catarina.

Assim que pegaram seus sorvetes artesanais os mais famosos e deliciosos de Baiona, partiram para a rua novamente, fazia muito calor então todos usavam roupas frescas ou se abanavam com leques.

Andaram pelo calçadão da praia de Santa Marta e quando viram a entrada não ousaram em entrar e andar um pouco pela beira do mar gélido.

Os dois eram acostumados com mares gelados, porém a água em questão, nesse dia, estava muito fria, o que fazia Rosa estremecer cada vez que uma pequena onda surgia e passava por seus pés.

Medina percebeu o desconforto da mulher e a abraçou de lado fazendo ele se assustar porém também sorriu.

Eles pararam para observar os barcos que estavam em auto mar e Rosa então cutucou Gabriel que virou rapidamente quando sentiu Rosa a o chamar.

Ela estendeu a mão e fez um sinal para baixo, como se quisesse que ele sentasse.

E assim o fez. Eles viram o pôr do sol juntos já que em toda a Espanha no verão o sol se põe por volta das 21:30.

"É muito lindo"

Rosa escreveu em seu celular e Gabriel concordou.

— Muito linda. — ele disse olhando para ela, o que fez a mesma sentir calafrios que iam dos dedos de seus pés até sua nuca.

Ela nunca havia sentido isso antes.

— Medina, eu vou matar você. — o surfista arqueou as sobrancelhas e se virou, Rosa fez o mesmo e atrás dele haviam várias pessoas juntas sendo a primeira delas Catarina absurdamente bêbada.

— Catarina, já?. São apenas nove e meia da noite. — ele riu.

A portuguesa alcançou Rosa e gesticulou.

— Vamos para uma balada, você quer ir?. — ela perguntou.

A baionesa pareceu pensar e quando ia dar sua resposta viu a Sofía a se jogar em cima de Medina novamente.

A resposta dela seria um sim, mas ao ver a cena é saber que sua amiga iria ficar com o namorado e o único amigo que restará era Medina ela resolveu negar.

— Não, vou descansar, está tarde. — Certo, qualquer coisa não precise de mim, mande mensagem para sua mãe. — Rosa riu. — eu te amo, dirige com cuidado.

Catarina pareceu avisar a todos que Rosa não ia e ela deu então um aceno rápido para todos e virou de costas.

Medina estava muito ocupado com Sofía então a baionesa ao se virar, passou seus olhos uma última vez para onde o brasileiro e a outra espanhola estavam e Gabriel a olhava confuso.

Ela sorriu fraco e entrou em seu carro dando partida para sua casa.

No caminho ela pensava nele e em como estava se iludindo.

"Porque ele gostaria de uma garota surda?". Ela pensou

Rosamaria nunca foi uma pessoa confiante apesar de ser o famoso padrão espanhol.

Alta e magra dos cabelos morenos, olhos claros e boca carnuda. Uma espanhola raíz.

Ela estava frustrada por achar que estava se iludindo mas mal sabia ela que Gabriel estava criando sentimentos que ele também sabiam que poderiam ser perigosos.

Ele não via problema de pagar os aparelhos auditivos da mulher e pagar os melhores médicos para ela aprender a falar.

Ele estava se apaixonando.

Mas ele tinha medo, não medo do que iriam achar.

Desde que se casou da primeira vez, ele aprendeu a não ligar para o que os outros vão achar. No fim ele se arrependeu porém nunca negou que Yasmin fez muito bem para ele.

Mas tinha medo de do que acharem a machucar. Até porque querendo ou não, ela não é uma figura pública e não sabe lidar com tudo isso.

Nesse exato momento, ele está sentado numa destas mesas que há na boate aonde estão na cidade mesmo. Não muito longe da onde estavam e ele finge que presta atenção no que Sofía fala mas seus pensamentos estão longe de estarem participando da conversa com a mulher a sua frente.

Ele se sentia estúpido por pensar em Rosamaria. Mas valia a pena estar se sentindo estúpido, é de Rosa que estamos falando afinal.

O corpo dele ardia em chamas quando sentia o cheiro doce que Rosamaría tinha. Nem parece que se conheceram hoje.

Ele ligou pediu licença para Sofia e foi para o banheiro da boate aonde se sentou na tampa do vaso e sacou seu celular de seu bolso procurando pelo Instagram de seu amigo Fernando.

O plano consistia em achar o Instagram de Catarina e lá achar o de Rosamaría e mandar uma mensagem de texto para ela.

Perfeito.

Ele entrou logo no perfil de Fernando e pesquisou por Catarina na aba seguindo da conta do espanhol.

E para a infelicidade de Medina a conta de Catarina era privada.

— Isso só pode ser brincadeira. — ele disse irritado.

Porém não desistiu, mais pessoas devem seguir Rosamaría, ele não iria desistir tão fácil, afinal era brasileiro e brasileiro não desiste.

Entrou no perfil de algumas pessoas conhecidas por Fernando e que estavam no bar hoje e não achou a conta da mulher.

Ele iria desistir porém algo no fundo de seu coração pediu para que ele pesquisasse por Rosamaria na conta de Fernando.

E la está.

@rosahernandezz

— Que burro. — ele resmungou mas estava aliviado por ter encontrado a conta.

Era privada porém ele sabia que ela não iria pensar duas vezes em aceitar.

Ele pelo menos almejava por isso.

Ele saiu então da cabina e colocou o celular no bolso. Ao se encarar no espelho notou que havia um brilho maior em seus olhos. Ele sabia o que era porém não iria admitir. Não tão cedo.

Ele lavou o rosto e deu uma ajeitada em seu cabelo enquanto ainda se olhava no espelho do banheiro, quando seu celular apitou informando uma nova mensagem.

Ele queria que fosse ela, e que ela tivesse aceitado logo a sua solicitação, porém entretanto toda via, não era. Era sua mãe dona Simone Medina, ela acabara de o mandar uma mensagem perguntando se correu tudo bem sua viagem.

Ele respondeu e colocou o celular novamente no bolso, olhou-se novamente no espelho e saiu do banheiro indo para o amontoado de pessoas na sala vip.

Ele se encontrou com Sofía e se desencontrou várias vezes. Ele estava farto da mulher atirada que o irritava profundamente.

Ela parou quando ele gentilmente deu fora na mulher que saiu pisando fundo da parte vip da balada e quando ele também se encontrou com Fernando e outros amigos.

Beberam alguns vários drinks, conversaram entre si e flertaram com várias mulheres. O típico rolê dos caras.

Porém Medina permaneceu em seu lugar, quieto e sem flertar com ninguém. As várias olhadas dele para o celular fizeram seus amigos desconfiarem que ele estava conversando com alguém.

Ele parecia um adolescente que acabou de mandar uma mensagem arriscada para a menina que gosta.

Porém não.

Era apenas uma solicitação, e 15 vezes foram as quais o seu celular vibrou e não era nada relacionado a Rosa. Na verdade nem passava perto de ser.

Cada notificação era um shot de vodca a se beber. Fora as sangrias que também havia tomado.

Medina por ser atleta não podia beber muito, mas isto ele resolvia com seu preparador físico depois.

Até que seu celular tocou novamente, ele estava frustrado e desacreditado que poderia serem ela, já que seu Rolex marcavam exatas quatro e meia da manhã.

Porém a vibração foi seguida por uma, e por outra.

Ele pegou seu celular rápido e teve que arregalar os olhos para entender o que estava acontecendo.

Talvez tenha sido o choque.

Ou o efeito das bebidas que ele tomou durante toda a noite.

Mas o que ele sabia era que seu coração estava acelerado, batia tão rápido que parecia que ia explodir.

Rosa havia aceitado sua solicitação, e ainda o seguiu de volta.

Ele sorriu largo como uma criança que acabou de ganhar o presente que pediu de natal e logo apertou o direct pronto para mandar uma mensagem para a mulher. Mas foi interrompido pela sua consciência a perguntar.

O que você vai mandar?.

— Gabriel, o que tanto você olha nesse celular?. — Alejandro perguntou.

— Nada, nada, apenas vamos curtir a noite.

— Tá com vergonha de contar pra gente?. Aguentamos você com a Yasmin, aguentamos com qualquer uma agora.

Medina bufou e revirou os olhos perante o comentário feito por Alejandro que tinha uma desconhecida em seu colo.

Por mais que todos tenham rido e concordado, Gabriel sabia que por mais que gostasse de Yasmin ela não fazia bem para ele.

Então quando tudo acabou ele se soltou, soltou um pouco até demais.

E hoje ele está aqui, solteiro, com 30 anos e sem sua família que ele tanto tem o sonho de ter.

O surfista apontou para a mulher no colo de Alejandro que disse algo para ela e a mesma saiu mandando um beijo para o espanhol que sorriu enquanto umedecia os lábios.

— A real é que eu acho que tô afim da Rosamaría. — eu disse cabisbaixo e todos ficaram em silêncio.

Não julgavam nem nada, Rosa era uma menina que todos gostavam porém ela era tímida e não dava oportunidade para conhecerem ela a fundo.

E ele estava disposto a tirar este bloqueio dela.

— Hernández?. — Pablo perguntou. — Sim.

— A Rosa é e sempre foi uma menina muito linda, todos falavam muito da beleza dela nos tempos da escola. — Pablo continuou. — Disso eu sei, mas que caras são essas. — Medina perguntou confuso.

Os caras se entreolharam entre si o que deixou Gabriel com raiva.

— Eu não vou adivinhar o que vocês estão pensando se vocês não falarem. — ele disse irritado.

— A real é que a Rosa namorou com um cara no ensino médio, e ele machucou muito ela cara. Muito mesmo. — Fernando falou. — Catarina diz que ela pensa em ficar sozinha pro resto da vida.

— Mas não vai. Desde que eu conheci ela sinto algo tão diferente, meu coração dispara quando eu olho pra ela. — Medina falou gesticulando e passando a mão em sua testa.

— Não sabia que você era do tipo emocionado Gabriel. — Alejandro falou rindo e os outros fizeram o mesmo. — Eu também não sabia, mas essa mulher fez meu sangue ferver.

— Gabriel, tem certeza que isso não é só seu corpo pedindo por sexo?. — Pablo falou com os olhos cerrados.

— Eu saberia se fosse mais que atração física. — ele fez uma pausa. — Eu acho.

— Pronto, então espera para mandar mensagem pra ela. — Fernando disse estendendo as mãos para frente.

Medina pareceu pensar e logo um sorriso perverso surgiu em seus lábios.

— Você não vai escutar a gente pois não. — Fernando completou como se tivesse entendido que aquela briga estava ganha, e não era pelos homens sentados encarando o surfista sorrir para o celular.

Ouvi dizer que quando arrepia, já era
E coisas que eu sou entendi, quando eu te conheci.

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Até a próxima💞