PARTE 1
A modesta capela da cidade de Vereda não foi escolhida por acaso. O defunto, exposto para sua última despedida nunca foi de fazer muitos amigos em vida e certamente, a pequena igreja comportaria as poucas pessoas que se dignariam a velar o seu corpo.
Mesmo depois de morto ainda recebia críticas por sua conduta ainda vivo. "Vagabundo", "malandro", "folgado", "aproveitador" ecoavam em buchichos e resmungos a seu respeito. Apenas uma pessoa, dentre os presentes, estimava o finado, seu sobrinho.
O sobrinho, lamentando a perda do tio, era amparado por sua mãe, que também engrossava o coro daqueles que não gostavam do falecido, chegando a esconder o rosto sobre o véu, ocultando a vergonha que seu filho a estava submetendo, com todo aquele choro.
O padre, no acanhado altar, iniciou a missa. O velório habilitaria a alma do familiar ao Purgatório, mas o que o celebrante desconhecia, é que a alma do falecido não tinha mais salvação.
Em meio a liturgia, o padre jogou Água Benta sobre o morto, e para a surpresa coletiva, algo de sobrenatural aconteceu. Uma das tiras do cabo de aço que sustentava a cruz sobre o altar se rompeu, fazendo o madeiro mover-se, estacionando de cabeça para baixo. Um breve tumulto se instalou, mas nada comparado ao que o sobrinho sentiu naquele instante.
O jovem foi tomado por uma forte dor de cabeça e aos gritos deixou a capela. Tomado pela onda de choque que irrompeu sua mente, não percebeu que corria sob forte chuva. Desnorteado, pisou em falso, desaparecendo em meio ao acúmulo de água.
A queda o levou para o subterrâneo. Atordoado, caminhou poucos metros até desfalecer. Inerte, não percebeu que o pequeno veio d'água que corria pelo esgoto ganhou força, conduzindo-o através de seu curso. O rapaz foi engolido pela escuridão, sem saber o que o destino lhe reservaria.
O pequeno veio deslizou pelas depressões e o fez adentrar mais fundo pelo interior do submundo. O pequeno córrego desaguava no vazio, fazendo o menino cair. Uma queda que parecia não ter fim.
Subitamente, o jovem estatelou-se em um terreno seco e segmentário. O excessivo calor fez sua pele arder de tal forma que o despertou de sua letargia. O forte odor o deixou zonzo, e tentando voltar à razão, demorou a perceber o que se passava em sua volta. Labaredas saltavam a todo o momento, enchendo seus olhos com uma poderosa luz e um grande lago dourado ardia com o alvoroço de uma infinidade de seres que gritavam, preenchendo seus ouvidos com súplicas e ganidos.
Em meio aos estridentes gemidos, seus ouvidos captaram uma voz familiar e voltando-se em direção a origem daquele chamado, foi tomado pelo espanto.
— Tio?!
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