Epílogo
Quatro anos depois.
A vida pode se passar em um piscar de olhos, uma hora você está se divertindo e curtindo a vida, mas em outro momento um caminhão bate no ônibus que você está dentro e leva a sua vida inteira, tirando a gente dos nossos familiares. Isso é o que eu falo para mim mesmo desde o dia que Aurora se envolveu naquele acidente.
- Papai, para você - Elisa me entregou uma rosa.
- Obrigado, minha princesa - ela saiu correndo e voltou a brincar.
Quando me falaram que as crianças crescem rápido, eu não acreditava, mas ao ver os meus filhos fazerem quatro, cinco, seis e sete, agora oito anos, eu comecei a acreditar que o tempo não espera por nós. Ver os meus filhos crescendo e se tornado totalmente independente a cada dia faz o meu coração se apertar e querer que eles nunca saiam de casa.
- Eles crescem rápido, né? - meu pai se sentou ao meu lado no banco.
Quando percebi que o meu apartamento estava ficando pequeno para os meus filhos, decidi comprar uma casa afastada da cidade. Ver meus filhos chegando dentro de casa, sujos de terra e molhados com a água dos aspersores que regam o gramado, é uma coisa que me deixa com um sorriso no rosto.
- Sim, mas eu ainda não te perdoei por não ter me contado que eu era pai.
- Sigilo médico e paciente.
- Eu poderia não conhecer os meus filhos, se não fosse a minha pesquisa.
- Você acha mesmo que foi coincidência, você encontrar os gêmeos na escola que eu recomendei?
- Você fez de propósito!
- Claro. Agora se você me dá licença, eu vou brincar com os meus netos.
Meu pai começou a ficar mais preocupado comigo e com os meus filhos, depois do encontro no hospital. Só de lembrar de ver a garota que eu entreguei o meu coração, morta e com os nossos filhos deitados em seu peito, lágrimas se formam nos meus olhos.
Balancei a minha cabeça, espantando as lágrimas que lutam para descer, fui até onde os meus filhos e o meu pai estão brincando. Peguei Pedro no meu colo e o pequeno passou a mão suja de barro, no meu rosto.
- O rosto do papai já está hidratado, não precisa passar barro.
Meu filho mais novo deu um sorriso branco e seus olhinhos azuis ganharam um brilho em volta da meia-lua.
- Essa meia-lua é forte na queda.
Olhei para a minha esposa, que está carregando Michelle que é a gêmea do Pedro, no colo. Dei um selinho em Aurora e Pedro passou a lama no rosto da irmã e de Aurora que está com o seu lindo sorriso de sempre.
Quando Caio e Elisa entraram no leito do hospital, o coração de Aurora voltou a bater. Depois de um monte de exames, eu descobri que ela estava grávida, foi preciso do meu pai me prensar na parede e explicar cada detalhe, para que eu não pegasse o Caio e a Elisa e fosse embora do Brasil.
Sabe quando eu falo que ser um psicólogo renomado tem os seus benéficos? Então, meu pai usou os benefícios dele para impedir o banco de sêmen de jogar os meus espermatozoides fora e agora eu tenho cinco filhos que eu amo de todo coração.
Caio e Elisa ficaram com ciúmes, quando Arthur nasceu. Quando Aurora fez a segunda inseminação em vidro, ela colocou dois embriões e durante a gravidez, os três ficaram conversando com os gêmeos o tempo todo e quando um dos gêmeos chutava, eles ficavam maravilhados.
- Está tudo bem Amor? - Aurora me dá um beijo no pescoço, me tirando dos meus pensamentos.
- Só estou lembrando de como a minha vida melhorou, quando eu vi Caio e Elisa entrar pela porta da sala e quando a vi novamente.
- Ou estava pensando sobre a minha morte e as gravidezes?
- Você me conhece muito bem.
- Eu sou a sua esposa e mãe de cinco crianças, tenho que ficar de olho em tudo.
- Você nunca me contou como se sentiu quando estava - limpei a garganta - morta.
Sentamos na cadeira de balanço da varanda, Pedro e Michelle estão comendo um biscoito de chocolate caseiro que eu fiz pela manhã, quando os dois acordaram às três da manhã.
- Eu não vi nada que aconteceu aqui no mundo exterior, eu estava em um lugar maravilhoso, como o meu pai, minha mãe, meu irmão e - agora foi a vez dela de limpar a garganta - a sua mãe também estava lá.
Engoli em seco, porque todas as pessoas que Aurora citou já estão mortas há muito tempo e só de saber que ela esteve com eles faz o maldito sentimento aparecer.
Por que me sinto assim?
- Ela me contou, alguns segredinhos seus e como você era uma criança pirracenta. Meu pai falou que queria voltar aqui só para matar o Leo, o meu irmão queria te conhecer e usar o tom de irmão mais velho para te fazer um monte de perguntas.
- E sua mãe? - perguntei curioso.
- Ela falou que - as lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Aurora e Michelle secou - Você é um homem maravilhoso, me faz feliz e que me deu lindos filhos.
Coloquei Pedro e Michelle no chão e abracei a minha linda esposa, nossos filhos mais novos abraçaram minha perna e os meus outros filhos vieram correndo e se juntaram ao abraço. Ele está ali novamente, me fazendo sorrir igual um bobo.
Por que me sinto assim?
Agora eu sei, eu estava me sentindo sozinho, sem ninguém para dividir a minha alegria e agora eu tenho pessoas maravilhosas ao meu lado. Pessoas que posso dividir o meu tempo e dar todo amor que eu tenho para elas. E agora finalmente sei a resposta da pergunta que me atormentava por anos.
Por que me sinto assim?
FIM
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