C A P I T U L O 0 3

Cerro os dentes, quero dizer que realmente sonhei com estar lá com ele nesse momento. Mas, nos meus sonhos, eu estava no altar, ao seu lado. Nos meus sonhos, era para mim que ele diria “sim”, mas claro que isso nunca vai passar de um sonho, o sonho de um coreano idiota que nunca foi corajoso o suficiente para dizer a verdade ao seu melhor amigo.

— Padrinho? Você quer dizer um padrinho de verdade… com discursos e tudo mais? Ethan, eu… — Não posso fazer isso, não posso ser seu padrinho, não sei nem se vou conseguir ir ao casamento e te ver dizer “sim” para outra pessoa, imagine se poderei discursar sobre as alegrias do casamento, não consigo fazer isso — ficaria honrado em ser seu padrinho.

— Você é meu melhor amigo, não tem nenhuma outra pessoa que eu gostaria mais que estivesse ao meu lado nesse momento — ele diz, sua voz soa tão sincera que dói, no fundo da minha alma, no mais íntimo do meu coração. 

Cerro os dentes, quero dizer que realmente sonhei com estar lá com ele nesse momento. Mas, nos meus sonhos, eu estava no altar, ao seu lado. Nos meus sonhos, era para mim que ele diria “sim”, mas claro que isso nunca vai passar de um sonho, o sonho de um coreano idiota que nunca foi corajoso o suficiente para dizer a verdade ao seu melhor amigo.

— Eu sei, cara, eu entendo… — respondo, apenas para colocar panos quentes sobre a situação, sem ter uma resposta digna formada. Nada que não destroce ainda mais o que sobrou das migalhas do meu coração. — Sua noiva está demorando, talvez você devesse ir atrás dela. Peça desculpas e dê flores. Ela vai gostar…

— Mas de que merda você está falando? Flores? Estamos no meio de um café YoonJay, não tem flores para comprar por aqui, acho que você chorou demais, desidratou tanto que fez mal ao seu cérebro… Espere, você precisa ter um cérebro para isso…

— Você está falando com o espelho por acaso? Não fui eu que fiquei de recuperação na escola… Sua noiva é bonita demais para você, tem que batalhar se quer ter uma chance de mantê-la por mais de um mês. 

Dou uma risadinha, pego uma caneta no meu bolso e desenho margaridas em uma folha de papel que pedi ao garçom. 

— Aqui, ela vai achar pelo menos engraçadinho… — Entrego a ele o papel, não é minha melhor obra, mas é um desenho digno. 

— De onde você tira essas ideias? Que coisa brega — Ethan diz, avaliando o pedaço de papel desenhado cuidadosamente, em seguida o dobra ao meio e coloca no bolso frontal de sua calça.

— Não é à toa que eu sempre fiz mais sucesso com as mulheres que você.

— Não é você quem vai se casar…

Dou de ombros.

— Eu nunca amei ninguém o suficiente para me casar, nenhuma das mulheres com quem eu estive… Eu não acho que isso é algo para se gabar…

— Você fala como um conquistador barato, no entanto. Como se você tivesse sequer amado alguém em toda sua vida — Ethan me encara por um momento, por um segundo parece que ele espera que eu diga algo. — A verdade é que ninguém te aguenta por tempo o suficiente para sequer pensar em se casar com você. 

— É por isso que vai se casar tão rápido? Para não dar a ela tempo de desistir? Não se preocupe, Ethan, eu ainda estarei aqui por você quando Charlotte não te aturar mais. Diferente de você, eu me preocupo com meus amigos. Além disso, você está falando merda, eu já amei, sim. Infelizmente, a pessoa que amei não estava disponível para mim… — sinto minhas bochechas esquentarem conforme faço a revelação.

— Você nunca me falou sobre isso…

Dou de ombros mais uma vez, afinal, como eu falaria uma vez que é ele a pessoa que amei por tanto tempo? O silêncio já faz parte de mim, principalmente quando se trata de amor. Você acaba se habituando quando, a cada dia, você precisa se conter para não mostrar à pessoa mais próxima de você, seus próprios sentimentos. 

— Vá encontrar sua mulher… Ela deve estar esperando que você a resgate. Não esqueça de entregar as flores — minha voz soa tão cansada quanto eu me sinto.

Ethan se levanta sem dizer mais nada, seus olhos refletindo a multidão de pensamentos que povoam em sua cabeça. Tomo o resto do meu café enquanto observo ele se afastar, em seguida como cada pedaço que resta do bolo causador da discórdia, a cada nova garfada um novo sabor amargo é deixado em minha língua. 

Ele ainda não voltou quando chamo o garçom e pago a conta, me levanto da mesa e saio do restaurante sem olhar para trás. Entro no meu carro em silêncio e dirijo até chegar em frente ao apartamento de Dakota. Estaciono na vaga para visitantes e levo minhas mãos ao bolso para pegar meu celular e avisar a ela que cheguei.

Somente quando aperto meus bolsos vazios a procura de algo que não está ali é que eu me lembro. Ethan guardou meu celular em seu bolso e em momento algum ele me devolveu o aparelho, droga.

Tenho sorte do apartamento de Dakota ser em um desses prédios com porteiro, se não fosse o caso, talvez eu tivesse que mandar a ela um sinal de fumaça usando o escapamento do carro. Me aproximo da guarita onde o porteiro está recostado confortavelmente com os pés para cima e dou leves batidinhas no vidro.

— Olá, estou aqui para ver Dakota Blake, do 1321. Me chamo YoonJay. Ela está me esperando. 

— Certo senhor — o homem baixo e com uma fisionomia atarracada diz lentamente, prolongando a fala em determinadas sílabas — vou informar a sua chegada, só um momento. 

O momento parece demorar horas devido à lentidão do porteiro. Me amaldiçoo mais uma vez por ter esquecido o maldito celular, enquanto espero o homem pacientemente avisar Dakota da minha visita. Tenho que lembrar a mim mesmo de que eu estar irritado não é culpa do pobre homem. 

— Senhor, pode subir ela está te esperando. Apartamento 1321. Sabe chegar lá?

— Sim, eu sei. Obrigado — digo, passando rápido pelo homem e seguindo a passos largos até os elevadores.

O elevador soa ao chegar no térreo, e subo na grande estrutura espelhada. Pressiono o botão que indica o décimo quinto andar e aguardo enquanto subo até lá. 

A porta do elevador se abre e dou de cara com o corredor, com suas portas enumeradas. Sigo até a porta correspondente ao apartamento de Dakota, uma porta branca, com um tapete enfeitado e um filtro dos sonhos pendurado. Aperto a campainha e ouço o movimento do outro lado da madeira.

— Jay, pode entrar, eu já vou, estou saindo do banho! — Sua voz grita do lado de dentro.

Torço a maçaneta e adentro em seu apartamento bem decorado, sua sala bem arrumada, toda em tons pasteis e dourado, cheira a incenso de lavanda, um odor que se tornou habitual em minhas visitas à Dakota. Me sento em seu sofá macio e, num movimento automático, tento alcançar meu celular dentro do bolso para só então me lembrar mais uma vez que ele não está ali.

— Não acredito nessa merda…

— Em que merda você não acredita? — Dakota questiona quando aparece em minha frente com uma toalha enrolada em seu corpo curvilíneo. Seu cabelo longo e loiro molhado, pingando água no chão enquanto um creme espesso é espalhado por seus dedos em seu rosto redondo. 

— Esqueci meu celular com o Ethan antes de vir para cá. — Falo simplesmente. — Você está molhando todo o chão. 

— Não se preocupe com isso, depois eu limpo. — Ela descarta, se aproximando de mim, sinto seus lábios estalando um beijo na minha bochecha, em seguida ela se senta ao meu lado, sem se preocupar com os cabelos molhados ou a pele amostra. — Vamos nos preocupar com o Ethan, o que faremos? Tem certeza de que você quer separar os dois?

— Tenho certeza… que amo o Ethan. Não quero só jogar tudo isso fora sem nem ter tentado… fazem 20 anos, Dakota, 20 anos em que sou apaixonado por ele, eu preciso fazer alguma coisa, eu preciso lutar…

— Está preparado para o caso de tudo dar errado? Você sabe que ele pode te rejeitar não só como pretendente, mas como amigo também, certo?! Está pronto para lidar com isso caso aconteça? — As palavras saem calmamente dos lábios rosados da minha amiga, sem se importar de que eu talvez não estivesse preparado para ouvi-las.

— Não, não vou mentir, não estou pronto para isso. Mas se eu vou perder ele de qualquer forma preciso pelo menos lutar, além disso… não tenho certeza de que serei rejeitado…

— O que você não me contou, Jay? — Ela semicerra seus olhos enquanto fala.

— Ethan… tentou me beijar… um pouco…

— Como assim? Conta essa história direito, como assim ele tentou te beijar um pouco? Como alguém poderia sequer tentar beijar alguém só um pouco? O que exatamente isso significa? 

— Ele entrou no banheiro depois que a gente conversou… e foi se aproximando, passou a mão no meu rosto… e, de repente, seus lábios estavam prestes a tocar os meus… e eu o afastei…

— Mas que desgraça, Jay, por que você o afastou? Não era exatamente isso o que você queria esse tempo todo?

— Era, mas não assim… não quero ser um brinquedo para ele usar quando a noiva dele virar as costas. Esperei por 20 anos, Dakota, é tudo ou nada para mim, não serei seu brinquedinho… ou ele me ama, ou não me quer o suficiente.

— Você parece muito seguro disso, mas tenho medo Jay. Tenho medo de que esse cara possa te fazer sofrer… 

— Não é como se eu nunca tivesse sofrido antes…

— Jay… 

A voz de Dakota mostra sua preocupação, e, no fundo, sei que ela está certa. Estou lidando com isso apenas superficialmente. Não estou realmente pensando em como será caso eu seja rejeitado, mas estou errado por isso? Estou errado por não querer me preparar para o pior? 

— Sei que está preocupada, mas vamos focar em uma coisa de cada vez. Primeiro tiramos o Ethan das garras da Charizard, depois focamos em conquistar ele e só depois a gente se preocupa com o possível fora, Kota. Por favor, não quero ficar pensando nisso ainda. 

— Ok. Não vou insistir, mas… — ela começa e para quando me vê fazendo bico — ok, ok. Não vamos pensar nisso. Espere, pegarei um papel, vamos fazer uma lista de possíveis jeitos de separar o Ethan e sua noiva. 

— Aproveita e coloca uma roupa, não quero te ver pelada — grito enquanto Dakota sai apressada rumo ao seu quarto para pegar papel e caneta.

Quando Dakota volta, está finalmente vestida, usando um vestido rosa rodado que parece abraçar suas curvas, deixando-a ao mesmo tempo, fofa e sensual. No seu pescoço, um colar com uma pedra turquesa. Seus cabelos agora estão presos por um rabo de cavalo que evita os fios entrando em seu rosto.

— Você está linda — assobio em apreciação. 

— Vai destilar seu charme para outra Jay, ou melhor, para outro. Não temos tempo para isso — Dakota soa séria em sua voz, mas o sorriso mal contido em sua face mostra que ela apreciou o elogio.

— Eu só te fiz um elogio, mulher. Poderia pelo menos agradecer? As pessoas andam muito ingratas ultimamente… ou apenas… — Começo e sou interrompido por minha amiga que retruca com uma risada.

— Obrigada por dizer o óbvio Jay. Agora vamos, não temos tempo a perder. O que sabemos sobre ela?

— Seu nome é Charlotte e ela é filha do CEO da Magenta Enterprise. Ela é bonita, magra e muito preocupada com o corpo, pois cortou o açúcar para o casamento, ou… ela pode ser muito preocupada com o que as pessoas pensam dela, o que poderia ser útil… Ethan chegou inclusive a comentar algo mais ou menos nessa linha de raciocínio. 

— Certo — Dakota anota tudo o que eu disse antes de pegar seu celular — se ela é filha de um grande CEO, devem ter notícias da sua família na internet. 

Não demora até que Dakota encontre informações sobre Charlotte em suas pesquisas. Descobrimos que seu pai é um homem de uma idade avançada e sua mãe, uma mulher na casa dos 40, muito preocupada com a aparência. Sua família nunca esteve em grandes escândalos, nenhum comentário duvidoso e infelizmente nada comprometedor é achado, até que…

— Achei uma coisa — Dakota se aproxima de mim e estende o celular na minha direção. Na tela, uma manchete de um site de fofocas conhecido.

FIASCO NO MICROFONE — HERDEIRA PAGA MICO EM FESTA BENEFICENTE

É de conhecimento de todos que no último dia 18, a empresa Magenta realizou um grande evento beneficente em prol a causa das pessoas com deficiência na fala. O evento, que chamou a atenção da mídia teve a presença de muitos convidados ilustres, entre eles, a filha do CEO Magnum River, Charlotte River. Que chamou a atenção dos convidados durante todo o evento.

Charlotte cresceu fora da mídia e estudou em um internato na Europa e fala pelo menos 5 línguas, no entanto, teve um pequeno problema ao subir no palco.

Uma das propostas da noite incluía um karaokê, onde vários nomes da música apresentaram um número, entre eles Childe o astro coreano que está em turnê nos Estados Unidos e enfrenta as próprias polêmicas (cantor coreano é alvo de críticas após revelação bombástica — clique aqui para ler mais).

 Entretanto, em algum momento, alguém decidiu que seria uma boa ideia tirar os profissionais do palco e colocar Charlotte, alguém que se denomina como uma amadora, em frente ao microfone, o que resultou no grande fiasco da noite.

“Não é nem questão de cantar mal, tudo foi simplesmente intragável” comentou um convidado que não quis se identificar. “Ela devia passar menos tempo no salão e mais tempo em aulas de canto” completou.

Não se teve notícias da princesinha da Magenta, desde que ela saiu do palco chorando, em uma performance digna de pena. (Clique aqui para assistir ao vídeo da apresentação de Charlotte River no karaokê beneficente) 

Tudo o que sabemos é que talvez esse deveria ter sido um evento voltado às pessoas com deficiência auditiva.

Entrego o celular de volta para Dakota, horrorizado com a crueldade do que acabei de ler. Tenho certeza de que essa deve ter sido uma experiência no mínimo traumática para Charlotte, ainda que eu não tenha visto o vídeo. 

— O que achou? — Dakota pergunta sem parecer nem ao menos um pouco abalada com a notícia. 

— As pessoas são muito cruéis…

— Não se faça de inocente, Jay Jay. Nós dois sabemos que quer ver essa mulher sofrendo ou não estaríamos aqui — estou pronto para negar quando ela completa — agora, se você quiser só deixar isso para lá, tudo bem, eu não preciso contar para você minha ideia, podemos fingir que isso nunca aconteceu. 

— Eu não quero ver ela sofrendo, eu só… — começo, mas me interrompo ao receber um olhar profundo e avaliativo de Dakota — ok… me conte seu grande plano.

Volto para casa após passar o resto da manhã na casa de Dakota, falando sobre o Ethan. Fazemos uma série de planos, apelidados carinhosamente de “alfabeto para acabar com a Charizard”, rio das ideias, mas, na verdade, gosto de ter uma sequência de planos bem elaborados para o caso de eu precisar. Não que eu queira precisar, Charlotte não é uma mulher que me parece ruim, apesar de todo o drama por causa do bolo e do açúcar. Mulheres costumam ficar loucas próximo ao casamento, não? De algum lugar deve ter se originado o termo “bridezilla.” 

Sigo em alta velocidade pela estrada até chegar próximo da minha casa, onde finalmente reduzo um pouco a velocidade. Moro em uma casa confortável, em um bairro na parte legal de cidade. Não chega nem perto de quão luxuosa deve ser a casa de Charlotte, a casa que Ethan provavelmente vai morar depois que se casar, mas ainda assim é um bom lugar, com quartos o suficiente para caso eu decida ter minha própria família um dia. 

Uma família sem o Ethan, me dou conta, e apenas pensar nisso faz meu coração doer, imagino que minha mãe ficaria feliz se ao invés de um eterno solteirão, eu me tornasse o marido de uma boa mulher, que poderia dar a ela muitos netos aos quais ela poderia paparicar, se eu ficasse com Ethan, as coisas seriam difíceis nesse sentido…

Acabo suspirando, mais uma vez deixei me levar pelos sentimentos inúteis que habitam em mim. Pensar em uma família que nunca vai existir me lembra de nossas próprias famílias. E uma coisa me vem a mente imediatamente, o pai de Ethan deve estar radiante com a notícia do casamento. 

Dizem que os pais sempre sabem, e talvez seja por isso que o senhor Davis nunca pareceu gostar muito de mim. Ele me respeitava, me cumprimentava sempre que eu ia em sua casa e algumas vezes até abaixava o volume do culto em sua televisão velha para que não nos atrapalhasse. Ainda assim, eu nunca me senti verdadeiramente acolhido por ele, não quando o homem em sua tela pregava que pessoas como eu eram uma praga que iriam habitar o reino do inferno junto do capeta, quando tudo o que fiz foi me apaixonar, não é como se eu pudesse ter evitado isso, mas o homem na televisão não parece se importar com algo desse tipo.

Mais de uma vez pensei em o confrontar, mais de uma vez pensei em dizer a ele: “se eu pudesse escolher, eu nunca teria me apaixonado por seu filho”, mas eu sempre fui covarde demais para isso.

Desacelero, as memórias trazem uma sensação ruim ao meu peito, a certeza de que eu nunca seria aceito. Suspiro, ansiando por chegar em casa e desabar na minha cama, eu preciso disso nesse momento. 

Chegando em minha casa, posso ver uma silhueta conhecida, sentada na minha porta da frente. Sozinho e totalmente alheio a tudo a sua volta. Estaciono rapidamente o carro e sigo até ele, que finalmente me encara com aqueles lindos olhos azuis.

— Você não esqueceu nada? Foi embora tão rápido que nem deu tempo de me despedir de você — Ethan estende o celular semimorto em seus dedos longos.

— Desculpe, eu precisei ir. Tinha assuntos para resolver, uma mulher para reconquistar…

— Conseguiu? Reconquistar a mulher, eu digo. 

— Vamos ver amanhã, ela é uma peste difícil — digo com uma risada — mas acredito que tudo esteja encaminhado.

— Deveria chamá-la para o casamento. Quem sabe ela é a pessoa que vai pegar o buquê e amarrar você de uma vez por todas. 

— Não é — respondo mais rápido do que eu deveria — não quero pensar em casamento por enquanto…

— Então por que namorar? De que adianta namorar assim?

— Pelo mesmo motivo que você vai se casar, Ethan — respondo ríspido, em seguida respiro alto, imediatamente arrependido por minhas falas — por falar nisso, como vai o seu pai? Ele deve estar radiante com o casamento. 

— É difícil algo deixar meu pai radiante depois que minha mãe… bem… ele está animado, diz que finalmente tomei uma boa decisão, por que a pergunta?

— Não sei, estava pensando nele, no caminho até aqui. Acho que ele nunca gostou de mim — Ethan nem ao menos tenta negar.

— Meu pai é uma pessoa difícil, tenho certeza de que ele só estava preocupado de que você me levasse para o mal caminho.

— Não tenho certeza se é exatamente isso… e sua mãe, chegou a avisar para ela?

— Do casamento? Não vejo motivos, ela tomou uma decisão quando foi viver com outra pessoa e abandonou a família. Ela nunca me procurou ou quis saber como eu estava, qual o sentido de convidar alguém como ela para um dia que deveria ser importante para mim?

Não respondo nada, diferente do seu pai sua mãe sempre foi simpática comigo, ela sempre apoiou minha amizade com Ethan e bem, nas poucas vezes que eu a vi após a separação ela sempre se preocupou em me fazer mil perguntas sobre o Ethan, claro que não falo nada disso para ele, Ethan sempre foi muito ligado com o pai e eu sempre fui um grande covarde.

— Charlotte pediu que eu te agradecesse pela conta… Ela pediu para te avisar que da próxima vez, é por conta dela.

Ouvir o nome saído de sua boca já faz os pelos do meu corpo se eriçarem e a bile subir à minha garganta, preenchendo-me com um gosto amargo.

— Não há de que, vocês conseguiram se acertar? — Ethan abre a boca para responder e eu imediatamente o corto — vamos entrar, é melhor do que ficar aqui do lado de fora como duas vizinhas mexeriqueiras.

— Na verdade, eu… — ele começa, mas para no meio da frase — claro, vamos entrar.

Sigo até a porta e encaixo a chave na fechadura, seguido de perto por Ethan. Abro as portas e o cheiro de lar me invade, respiro fundo, feliz por estar em casa, tão feliz que por um segundo me esqueço de que Ethan também está ali.

Ele entra logo atrás de mim, seus sapatos fazem barulho no piso de madeira. Ele olha em volta, reparando em cada detalhe. Se aproxima do aparador de metal com vidro, no canto da minha sala e pega um dos três porta retratos ali, na foto estamos eu e Dakota em seu aniversário, tem um grande pedaço de bolo na minha mão e chantili no meu nariz, estamos rindo e abraçados.

— Faz um tempo que não venho aqui… parece tudo tão diferente…

— Você não veio pois estava ocupado escondendo uma namorada de mim…

— Você parece ter seguido pelo mesmo caminho… Quem é essa?

Eu já falei sobre Dakota para Ethan, mas ele parece não ter feito a conexão, quando digo o nome espero que seu rosto se ilumine com reconhecimento, mas isso não acontece.

— Vai levá-la ao casamento? 

— Talvez, se ela quiser ir… — dou de ombros, sem explicar que minha relação com Dakota é apenas de amizade ou que ela é a amiga que já mencionei a ele.

— Ela é bonita, vocês dois fazem um par interessante — Ethan recoloca a foto no lugar e pega o segundo porta retratos. Na foto, eu e meus pais sorrindo em uma viagem à Coreia, ao fundo é visível o museu Nacional da Coreia. Ele olha a foto por um momento e recoloca no lugar.

Ethan não pega o último porta-retrato, onde uma foto nossa, ainda na infância, reside. Brincando em um parque, tenho um embrulho de papel em minhas mãos e olho para Ethan com os olhos brilhantes. Ethan, por sua vez, tem o rosto vermelho feito um pimentão. Gosto muito dessa foto em especial, me lembro de como senti meu coração bater rápido, como se estivesse tendo um ataque. Foi o segundo presente que Ethan me deu.

— Sente-se, vou fazer um suco. 

— Não se incomode, tenho que ir embora depressa, tenho um almoço com os pais da Charlotte e nossa cerimonialista. Não posso demorar.

— Certo… vocês ficaram bem então? — Pergunto e Ethan dá de ombros.

— Ainda teremos um casamento…

— Que pena… — digo em tom de brincadeira e dou uma gargalhada, espero que Ethan brigue comigo ou faça um comentário ácido sobre inveja, ele não faz nenhuma das duas coisas — Charlotte é um partido bom demais para ficar amarrada a você, bonita e rica… não se encontra muitas assim por ai…

Ethan se aproxima de mim, ainda com uma expressão estranha no rosto. Ele fica a poucos metros de mim e meu coração bate rápido enquanto olho para ele. Meu olhar recai para seus lábios e me lembro do quase beijo no banheiro. Eu podia agarrá-lo agora mesmo, esmagar ninha boca contra a dele e fazê-lo se esquecer do almoço com Charlotte, talvez ela fique tão brava que não queira mais se casar, ela foi bem temperamental da última vez.

Ethan morde os lábios, parecendo nervoso ou ansioso e olho para seus olhos sem conseguir esconder minha expressão de desejo. 

— Ethan… — falo, a voz tão baixa que mal passa de um sussurro — o que foi aquilo que aconteceu no banheiro?

— Não sei do que você está falando — retruca Ethan rapidamente.

Me aproximo ainda mais dele, deixando nossos corpos separados por milímetros. Estendo meus dedos e encosto em seus lábios macios.

— Quero dizer, na hora que você quase me beijou…

— Ainda não sei do que está falando — ele diz entre pausas, posso ver sua respiração entrecortada, posso quase sentir seu coração batendo forte. 

— Posso refrescar a sua memória se quiser — retiro meus dedos de seu lábio e agarro sua cintura, juntando meu corpo no seu. Ethan encara minha boca, posso ver, posso sentir. Sei que ele me deseja.

— Preciso ir YoonJay…  

— Tem mesmo que se casar? Por que você está com essa mulher, Ethan? Você realmente a ama?

— O que quer com isso, Jay? Me diga, fale a verdade ou vamos esquecer de tudo isso… Por que não quer que eu me case? Por que você se importa se amo ou não a Charlotte? Que diferença isso faz na sua vida?

Pressiono mais forte meus dedos na cintura de Ethan, encaro sua boca e sinto meu coração sair pela minha boca quando olho em seus olhos e respondo a ele. 

— É melhor você ir ou vai se atrasar para o almoço, sua noiva vai ficar brava se você se atrasar… — digo enquanto me afasto dele.

— Certo… — Ethan suspira, frustrado — vou deixar seu celular no aparador. 

— Ok, obrigado — digo, virando as costas para ele.

Ouço o barulho de seus pés se afastando, ouço o celular sendo colocado sobre o vidro, ouço a porta da casa se abrindo…

— Vou ter uma despedida de solteiro em um bar esta noite, vou te mandar a localização pelo celular… — Ethan faz uma pausa — por favor, não falte, Jay. 

Em seguida, ouço o baque da porta se fechando atrás de Ethan, enquanto ele se afasta cada vez mais de mim.

— Sou um maldito covarde.

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