Capítulo 9 - parte 2 (rascunho)

Àquela hora, o calçadão em Copacabana era tranquilo e a praia não estava cheia. Apolo estava bem tranquilo desde que tomou a decisão da iniciativa para tirar os inimigos da toca, mas o mesmo não acontecia com o guerreiro, que sentia bastante preocupação por serem apenas os dois em uma luta desigual e potencialmente fatal.

– Qual é a sua ideia? – perguntou por fim. – Por Deus, esta cidade é o paraíso!

– Vamos sentar em um quiosque desses e tomar uma água de coco – explicou Apolo. – Daí eu vou tentar rastrear Carlos e eles saberão onde eu estou. A seguir, é só esperar.

– É aí que eu me preocupo mais.

– Você sabe que não temos escolha! – exclamou Apolo. – Teremos de ser muito rápidos. Vamos sentar aqui que o espaço é grande e relativamente vazio.

Ambos começaram a tomar as águas de coco e Apolo procurou um ponto oculto para projetar as imagens. Em pouco tempo viu Carlos e o Bryan na casa. Eram bastante parecidos, mas o bruxo parecia furioso. Apolo ouviu a risada do amigo, que comentou:

– Nunca vi esse monstro tão zangado – disse, rindo. – Até parece que vai começar a soltar fumaça pela cabeça.

– É verdade – concordou Apolo, que riu. – E Carlos está desorientado, mas não podemos confiar; nunca.

Nesse ponto da conversa, ambos viram o feiticeiro ficar hirto e virar-se, como se estivesse a olhar direto para Apolo.

– Acabou de descobrir – comentou Allan. – Ele prepara-se para atacar.

Apolo não respondeu, mas, quando o inimigo ergueu a mão para lançar alguma coisa sobre o elo que os ligava, o jovem feiticeiro criou uma barreira azul em volta do campo de visão. A coisa bateu na barreira e voltou, obrigando o bruxo a se atirar para o lado junto com o "neto", caindo no chão. Apolo desfez a ligação e disse, rindo:

– Está feito. Agora basta esperar... – olhou para a praia, não muito longe deles, e o riso desapareceu. – Não acredito, mas que grande droga!

– O que foi, Apolo?

– Aquilo ali – apontou um grupo de pessoas. – É a televisão. Estão a fazer filmagens para alguma coisa.

– Bem, se algo muito estranho acontecer, dá para dizer que era para o filme – sugeriu Allan.

– É mas vou pensar em uma magia para que não fique nada gravado.

Apolo calou-se e pensou algum tempo, enquanto o amigo observava tudo, em especial a televisão que o atraía muito. Nesse ponto, o feiticeiro relaxou e disse:

– Pronto, fiz a magia, só resta saber se vai funcionar. Qualquer coisa que gravarem com a gente aparecendo será vista, mas jamais gravada.

Allan não deu ouvidos porque levantou-se de um salto, assustado.

– Por todos os demônios da escuridão! – estendeu o braço, apontando para o céu a uns duzentos metros. – O maldito desgraçado tinha que mandar logo aquilo? Sir Morgan estava certo, Apolo, teremos a pior das justas que se pode imaginar Um dragão adulto, o maior que já vi.

Curioso, o feiticeiro olhou para onde o amigo apontava e ficou pálido. Aquele bicho devia ser enorme, talvez do tamanho de um avião.

– Não temos muito tempo, Apolo, então prestai atenção. Ele tem os dentes do tamanho da coxa de um homem, senão bem maiores. É muito rápido nos seus movimentos e inteligente. A cauda pode ser usada de chicote e há uma particularidade: quando ele vai cuspir fogo, mexe a cabeça para trás, como se fosse absorver o ar em grande volume. As chamas podem alcançar uma distância de trinta braças, mais ou menos. Os pontos fracos são os olhos, o céu da boca e o pescoço, logo atrás da cabeça, o equivalente da nuca. Cuidado com as garras. Acho que é só isso. A propósito: a magia diretamente sobre ele é inútil a menos que seja absurdamente forte e, mesmo assim, o efeito é fraco.

– Como foi que Bryan o forçou a obedecer?

– Barganhou, chantageou ou apostou. Dragões gostam de apostas e nunca faltam com a palavra.

– Tá dizendo que aquele bicho fala?

– Mais ou menos, mas não com as pessoas comuns. Segundo uns termos que aprendi na TV, dá pra dizer que eles são de "Lua", ou seja, instáveis. Fazei o favor de me arranjar um escudo.

O feiticeiro estalou os dedos e um escudo surgiu na mão do amigo. Allan ergueu e disse:

– É muito frágil. Vai rebentar logo. Não pesa nem uma libra.

– Não se preocupe, Allan – respondeu o amigo. – Esse escudo é de uma liga quase indestrutível e muito leve. É usada no revestimento de naves espaciais e, se o dragão "espirrar" nele, o calor será contido.

– Nesse caso, muito obrigado porque isso é um grande problema que temos no passado... ou tínhamos.

Apolo e Allan desceram do calçadão para a praia, olhando para cima. Alguns banhistas seguiram o olhar e entraram em pânico, saindo a correr da praia aos gritos, o que fez com que os demais os seguissem, muitos sem nem mesmo saber o que era, o mais provável por acharem que se tratava de um arrastão. Apolo olhou para as equipes das filmagens e notou que eles começaram a filmar o monstro e a falar no rádio, provavelmente alertando a emissora para passar ao vivo. Nesse momento, desejou muito não ter cometido um erro na magia para que ele e Allan não aparecessem.

O dragão aproximava-se rápido; mas, naquele momento, a praia já estava vazia. Ele começou a circular, descendo em espirais e sem atacar. Apolo teve que admitir que aquele ser era lindo e assustador. Tinha muito de um réptil e de um pássaro pré-histórico, como as assas que eram membranas presas a estruturas ósseas, semelhantes a pterodáctilos. O corpo era cilíndrico e muito maleável, talvez com os vinte metros de comprimento por, pelo menos, dois de diâmetro. As patas traseiras eram grandes, mas pouco musculosas, se fossem comparadas ao tamanho do corpo. A cauda também era enorme, tão grande quanto o resto. A cabeça tinha forma triangular, parente da serpente, contudo aparentava muita inteligência. Os olhos eram iguais aos dos ofídios, com poderes de dilatação e contração das pupilas em um nível tão elevado quanto os felinos, mas a semelhança com as serpentes terminava aí porque ele tinha os dentes salientes e assustadores, além de uma barbicha que lembrava algumas raças de cachorros. Os membros superiores eram menores e muito mais flexíveis que os traseiros, dando a entender que esses animais tinham mais habilidade com eles.

O monstro pousou com alguma violência a uns vinte metros dos dois e ficou olhando. Apolo segurou o braço de Allan, pedindo que não se precipitasse.

A calçada estava tomada de pessoas que olhavam aquilo, impressionadas, uma pequena multidão que se aglomerou para ver o inusitado. Enquanto isso, Apolo avançou devagar até que uma voz surgiu na sua mente:

– "Vai ficar me olhando assim por muito tempo, mortal?"

– Desculpe, mas você é, no mínimo, muito interessante e belo.

– "E você é poderoso, muito poderoso, bem mais do que o velho pensa que é" – disse a criatura. – "Vai ser um duelo muito interessante, como você diz."

– Por que deseja duelar comigo? – perguntou Apolo. – Eu não gostaria de lutar com você. Não traz vantagens para nenhum de nós!

– "De fato não traz, mortal que se chama Apolo, mas eu estou preso a um contrato."

– E que vantagem a sua morte terá nesse contrato? – perguntou Apolo. – A mim, parece que você está a ser enganado.

– "Chantageado seria o termo mais adequado, mas não imagino como possa me derrotar, já que os seus poderes nada podem contra mim."

– Una-se a mim e ajudá-lo-ei no que precisar, dragão.

– "Infelizmente, isso é impossível porque eu gostei muito de você. Só estarei livre do contrato se o meu contratante for morto."

– Não me importaria nada de proporcionar isso para você.

– "Ele deve aparecer em breve" – disse o gigante. – "Só que preciso de o matar agora. Se sobreviver até lá e matá-lo, juro que pararei no ato e obedecerei a você, mortal que se chama Apolo. Mas, agora, defenda-se."

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