Capítulo 9 - parte 1 (rascunho)
"O prazer dos grandes homens consiste em poder tornar os outros felizes."
Blaise Pascal.
Apolo retornou para a cozinha e pegou um café para ele, sentando-se ao lado da Helena.
– Falei com a sua irmã e ela está aliviada – disse para Samuel, preocupado. – Como aquilo vai virar um problemão gigante, sugeri que ela e seus pais viessem para a minha cassa de forma a ficarem protegidos. Devem chegar em breve. Vou preparar os quartos depois deste café. Lena, você me ajuda, anjo.
Apolo tomou a xícara de um gole e levantou-se, seguido da namorada. No primeiro quarto, puxou a namorada e sentou-a na cama, fazendo o mesmo ao seu lado.
– Sou de opinião que devem ficar todos juntos por causa da pedra da Mônica – disse ele. – O que você acha?
– Acho que é melhor você ir direto ao assunto, meu amor – respondeu Helena. – Você quer falar comigo e é lógico que se relaciona a isso tudo.
Apolo sentou-se na cama e olhou para ela. Deu um sorriso e começou:
– Queria pedir que não crie clima para ela, meu amor. Eu sinto que você está chateada, mas ela não pode ficar desprotegida. Além do mais, vocês eram melhores amigas. Bem sei que passaram dez anos e eu compliquei muito a situação, mas peço a sua compreensão.
Helena viu que ele estava sério e sorriu. Abraçou Apolo e beijou-o.
– Não precisava pedir isso, amor – disse ela. – Mas eu ouvi o final da última conversa e sinto que provocará dor nela, não acha?
– No momento, o que me preocupa é a segurança dela e do meu filho.
– Tem certeza de que é só isso? – perguntou, maliciosa.
Apolo encolheu os ombros e não respondeu. Ela levantou-se e estendeu a mão, puxando por ele.
– Vamos, amor. Lembre-se que eu vou dormir com você, então deixe-a em um quarto afastado.
– Eta, sô – comentou Apolo, debochado. – Os quartos são à prova de som e nós não somos escandalosos.
― ☼ ―
O casal chegou à sala, encontrando Allan e Samuel sentados, a conversar. Helena sentou-se, mas o namorado foi interrompido quando Mônica fez surgir um halo de luz onde a sua imagem apareceu. Olhou para todos e disse:
– Vou abrir a passagem, estamos prontos.
Samuel engasgou-se com o café e saltou da poltrona, olhando para aquilo quando o halo luminoso ampliou-se e, do outro lado, apareceu o quarto da irmã com ela e os pais, cada um segurando uma mochila. Mônica fez os pais passarem e foi a última a atravessar.
Eles correram a abraçar o filho, preocupados, e ela fechou a passagem, virando-se para Apolo. Ficaram parados por alguns segundos e, depois, Mônica aproximou-se e abraçou o ex, quase chorando. Afastou-se para não parecer suspeito demais e o irmão juntou-se a ela.
– O que foi isso que você fez, mana?! – perguntou, impressionado.
– Sou uma feiticeira – respondeu. – Apolo não lhe contou?
– Não!
– Vá-se acostumando, Samuel – aproximou-se de Allan e também o abraçou. – Tudo bem Allan?
– Agora que está de novo aqui, sim – respondeu o guerreiro sorridente. Ele notou muito bem que Apolo vacilou feio quando ela o abraçou e via nisso uma oportunidade com Helena. – E veja se não o magoa de novo.
– Vejo que está falando cada vez melhor, Allan – disse sorrindo. Logo depois o seu sorriso desapareceu e viu-se frente e frente com a Helena. Sempre foram amigas íntimas que trocavam todo tipo de confidências, mas agora uma pequena barreira separava-as, talvez pela insegurança.
Contudo, a amizade venceu e ambas atiraram-se nos braços uma da outra.
– Amanhã podemos conversar melhor – disse Mônica, baixinho.
– Sim, amanhã falamos.
Após as apresentações e agradecimentos, Apolo achou que todos deviam dormir porque já era tarde e o dia foi agitado. Sugeriu que Mônica e os pais ficassem juntos por causa da proteção da pedra.
– Apolo – pediu ela – deixei algumas coisas minhas no seu closet. Posso pegá-las?
– Claro, vá lá que você sabe o caminho.
Enquanto Mônica ia, Helena e Apolo mostravam os quartos. O do Samuel estava pronto mas o dos pais e da filha não. Apolo olhou para dentro e estalou os dedos. Do nada, surgiu uma cama de casal e uma de solteiro, separadas por um criado-mudo.
– Devem deixar a turmalina no meio de vocês porque é a única forma de os proteger contra aquele demônio. Amanhã, vou providenciar mais pedras dessas.
Samuel olhava o que Apolo fez e coçava a cabeça. Eram novidades demais para um só dia, mas uma coisa era certa: estava muito agradecido por ter escapado, com ou sem bruxedos.
― ☼ ―
Apolo mantinha-se deitado, mas não conseguia dormir, ao passo que Helena dormia como uma criança, aconchegada em si. Ele não tinha mais como negar que Mônica tinha um poder incomensurável sobre si. Tremia com o seu toque e pouco faltou para a abraçar e beijar ali mesmo, na frente de todo mundo. Desde o hotel fazenda que ele, sem se dar conta, foi tendo os seus sentimentos em relação a Helena esfriados. Mas Helena tinha razão em mencionar o complexo de culpa que sentia em relação a ela e o desejo que a proteger, em especial depois de tanto sofrimento por que passou. Era uma mulher sozinha na vida e que foi submetida a provações horrorosas, querendo ou não por sua culpa. Apesar de ainda sentir algo bom e forte por Helena, teve de reconhecer que desejava mesmo era que Mônica estivesse ali naquela cama. Sentia-se de tal forma desorientado que não lograva dormir.
Demorou bastante, até que adormeceu um sono sem sonhos que o fez acordar cansado e muito cedo.
Quando isso acontecia, costumava nadar por algum tempo e sentia-se logo melhor. Todos ainda dormiam e ele pôs a sunga, indo para a piscina e entrando devagar na água para não fazer barulho. Fez uma careta porque estava fria, quase gelada e começou a dar braçadas vigorosas para aquecer o corpo. Nadou por algum tempo até que sentiu que não estava só e olhou para o outro lado, encontrando Mônica sentada a observá-lo. Parou e virou-se para ela, aproximando-se da borda.
– Bom dia, Mônica – disse. – Caiu da cama?
– Oi, amor. E você, acordou cedo?
– Não dormi bem, esta noite.
– Também não. Posso saber o motivo?
– O motivo é você, claro – disse, sem pensar. – Devia estar junto com os seus pais, por sinal. A pedra vai escondê-los.
– Deixei lá a pedra – respondeu a garota. – Você também não está com ela.
– Dei a minha para o seu irmão. Ainda não tive contato com eles, logo terão mais trabalho para me rastrear. Além disso, descobri como me ocultar sem a Turmalina, desde que não use os meus poderes para rastrear.
– Também aprendi, meu amor – disse ela. – O que foi que eu fiz para que você não dormisse?
– Você sabe, Mônica.
– Afinal, o que você sente por mim de verdade, Apolo? – perguntou, confusa. – Você me deixa desorientada!
– Eu amo você, Mônica, e amo demais – disse ele. – Sempre tive razão em ter medo de você.
– Tá, eu sei que está zangado mas... o quê!? – Ela não imaginava uma confissão tão explícita e demorou a entender o que ex disse com uma espontaneidade inesperada.
– Eu amo você – repetiu –, e isso tirou o meu sono. Preciso de saber o que fazer com relação a vocês. Não posso largar Helena ao deus-dará. Ela já sofreu demais, mas eu quero mesmo é você do meu lado. Se não tivesse feito aquela tolice, talvez as coisas tivessem seguido um rumo bem diferente, quando a salvei.
– Eu entendo, Apolo – disse Mônica, suspirando. – Fiz uma grande cagada e agora tenho que suportar as consequências.
– Só me dê tempo, apenas isso. Vou definir tudo nesta semana. Pretendo acabar com a raça daqueles dois ainda hoje. – Apolo disse isso e voltou a nadar ainda com mais vigor.
Mônica tentou absorver aquilo e um lado seu rejubilava, mas outro pensava na sua amiga de infância. Preocupada, levantou-se e foi para dentro, tomar um banho.
― ☼ ―
– Como está a sua espada, Allan? – perguntou Apolo. – Pronta para uma boa confusão, uma das grandes?
– Sempre pronta, Apolo.
– Hoje, vamos fazer a primeira tentativa – disse o feiticeiro, bem sério. – Vamos caminhar no calçadão e vou usar meus dons para ver se eles aparecem.
– É muito perigoso – disseram Mônica e Helena ao mesmo tempo, aflitas.
– Não temos escolha – insistiu o feiticeiro. – Não podemos viver escondidos o resto da vida.
– Vou com vocês – disse Mônica, levantando-se decidida.
– Vai uma pinoia – arrematou Apolo, muito sério. – Você não vai arriscar a vida do nosso filho e eu já disse que...
Apolo esqueceu-se que os pais podiam não saber, mas foi tarde para interromper.
– Está grávida, filha? – perguntou a mãe. – Por que não nos contou?
– Desculpe ter falado antes de você, Mônica, mas não pode fazer isso. Fique aqui protegendo os outros que é mais importante.
– Estou sim, mãe, depois conto tudo – disse a moça. – Tudo bem, Apolo, tem razão; mas você não pode enfrentar aquele demônio sozinho.
– Sou muito mais forte que você, Mônica – disse ele –, então, se eu não conseguir, você também não conseguirá.
– Acontece que se ele precisar de enfrentar dois, as suas atenções ficarão divididas e ele não poderá concentrar toda a força em uma única pessoa.
– Nisso, você está certa, mas, mesmo assim, quero que fique aqui. Você e Helena serão alvos primários porque ele sabe que, se vocês se machucarem, eu serei afetado. Então, ponto final.
– Mas, Apolo...
– Não, Mônica – insistiu Apolo. – Por favor, eu lhe imploro que não faça isso. Não quero que nada aconteça a vocês duas.
– Tá bom – respondeu, cabisbaixa. Mônica viu a súplica no olhar dele e desistiu para não o magoar mais do que já fez.
― ☼ ―
A tarde ia a meio quando Allan e o amigo saíram para a praia. Por ser perto, foram a pé. A espada estava oculta e Apolo forjou um colete especial para ele usar debaixo da camisa. O teste com a nove milímetros tinha sido um sucesso.
Preocupadas, Mônica e Helena ficaram na porta da sala, olhando o par afastar-se até que saíram para a rua. Depois, Helena pegou as mãos da amiga e chamou-a para uma conversa a sós. Os outros ficaram a ver televisão, na sala.
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