Capítulo 8 - parte 3 (rascunho)

Apolo chegou pouco antes da hora. Dentro do carro, havia o gás que seria usado. O plano era simples. Ele iria para um ponto alto, de carro, e ficaria escondido na floresta, tal como foi a primeira vez. A seguir, abriria um portal para um ponto acima da casa e carregaria o gás consigo. Usaria os poderes para ficar invisível ao inimigo e manteria uma Turmalina Negra sempre com ele.

Já cogitou a hipótese de matar todo mundo enquanto estavam inconscientes, mas a sua natureza recusava-se a tamanha frieza, apesar de ser o correto pelos ditames da lógica.

Não deixou Helena notar que o seu plano era cheio de variáveis fora de controle, sendo uma delas o tempo que o inimigo ficaria inconsciente, isso se ficasse, por exemplo. O gás que conseguiu era inodoro e não faria mal a ninguém, até porque a pessoa que ia salvar também estaria naquele local e não desejava ferir o irmão da Mônica.

Assim que ficou escuro, despediu-se da namorada e do amigo e foi para o ponto ideal. O cilindro de gás era difícil de carregar porque pesava bem quarenta quilos, mas Apolo era forte e aguentou o esforço sem dificuldades. O primeiro risco que ia correr era naquele momento, quando deixaria a Turmalina junto ao cilindro e afastar-se-ia para visualizar a casa por cima. Foi rápido e tranquilo, obtendo um ponto perfeito a cem metros mais acima. Era escuro e espaçoso. Ninguém veria a passagem. Pegou os objetos e tratou de atravessar para lá. Nesse ponto, tornou-se invisível e desceu a ladeira até à casa. Viu luzes e ouviu barulho dentro. Colocou a máscara de proteção contra a droga e procurou um buraco por onde pudesse soltar o gás. Quando deu a volta à casa, viu uma janela aberta e tudo escuro. Fazendo o máximo de silêncio, entrou pela janela e fechou-a com cuidado. Nesse momento ouviu a respiração regular de alguém que dormia e tomou um susto por não ter averiguado antes, pois o quarto estava ocupado por uma pessoa. Tratou logo de abrir a válvula que liberaria o narcótico. O silvo quase inaudível era inevitável, mas ninguém se manifestou.

Apolo saiu do quarto e chegou a um corredor estreito. Todas as portas estavam abertas exceto uma, que julgou ser do cativo. Na sala, bem perto do cativeiro, alguns homens armados e mal-encarados viam televisão. Um deles era Carlos. Deixou o cilindro soltando o gás e passou recinto por recinto, procurando alvos. Estava tudo vazio e Apolo calculou que o quarto por onde entrou era o do bruxo, ou então ele estava com o prisioneiro, o que era plausível. Voltou para a sala e viu todos caídos. Pegou o cilindro, que ainda tinha bastante narcótico, e do bolso arranjou um tubo que prendeu na saída do gás. A outra extremidade, colocou pela fresta da porta e aguardou.

Não demorou muito a ouvir seis barulhos curtos e secos, barulhos de corpos caindo. Ele riu ao notar que o inimigo tinha respeito por ele a ponto de deixar tantos vigias. Aguardou mais um pouco e abriu a porta sem dificuldades porque a chave estava na fechadura. Na cama, um simples catre, reconheceu Samuel desmaiado e, à volta dele, seis homens jaziam no chão, mas o bruxo não era nenhum deles, motivo pelo qual tratou de se apressar. Colocou o cilindro debaixo da cama e deixou a válvula aberta. Segundo o amigo, a duração da narcose seria de cerca de uma hora podendo chegar a duas conforme o organismo. No carro, tinha um segundo cilindro de gás, bem pequeno, que neutralizaria a droga mais rápido. Colocou o cativo no ombro, como se fosse um saco de batatas, e abriu uma passagem para a floresta. Quando ia atravessar, ouviu o barulho de mais um corpo caindo no chão e virou-se para ver. Pela porta notou o bruxo desmaiado na entrada do quarto por onde penetrou na casa. Pensou em verificar se tinha o medalhão, mas concluiu que era brincar com a sorte, motivo pelo qual deu meia volta e atravessou a passagem, fechando-a. Do outro lado, repetiu o processo de fuga que fez com Helena, usando uma grande quantidade de passagens. Colocou Samuel no banco de trás, deitado, e abriu a válvula do antídoto, retornando, a seguir, para casa. A meio caminho, o ex-cativo acordou, zonzo. Samuel tentou levantar-se, mas Apolo disse:

– Descanse e relaxe, Samuel. Você está livre, mas foi submetido a uma narcose com gás para eu poder salvá-lo. Os efeitos colaterais podem ser vertigem e náuseas, nada mais sério que isso. Por isso, tente ficar deitado para melhorar devagar.

– Quem é você e onde estou? – perguntou.

– Está no Rio de Janeiro – respondeu Apolo. – Em poucos minutos chegaremos à minha casa e poderemos falar melhor. Descanse e fique em silêncio que preciso de me concentrar no que estou fazendo.

Samuel obedeceu e fechou os olhos. Deitado e quieto, sentiu-se melhor, mas desejava saber quem era o seu salvador. Apesar de a voz não lhe ser estranha, ele era um sujeito muito calado e não imaginava quem poderia ser. Quase adormeceu quando se atinou que o carro parou em frente a um portão. Mal abriu, entraram e estacionaram em uma garagem que estava na penumbra. Levantou-se um pouco e viu pela janela mais três carros, aparentemente de luxo. O sujeito abriu a porta e saiu, dando a volta enquanto Samuel ainda tentava sentar-se, um pouco nauseado. Abriu a porta e colocou a mão no seu ombro.

– Sente-se melhor? – perguntou ele. – Consegue ficar de pé ou quer ajuda?

Samuel bem que desejou que a porta de trás tivesse interruptor para a luz de cortesia, mas continuou sem saber quem era o seu salvador.

– Sim, obrigado – respondeu, levantando devagar. – Acho que consigo me manter de pé sozinho. Presumo que lhe devo a minha vida.

O irmão da Mônica fraquejou e Apolo segurou-o para que não caísse. Nesse momento a porta da garagem abriu-se de rompante e a luz acendeu. Uma mulher correu até eles, quase gritando:

– Você está bem, conseguiu salvá-lo? – Ela riu e abraçou-o, muito feliz. – Eu estava com muito medo que pegassem você, meu amor.

Samuel arregalou os olhos ao reconhecer a garota mais linda da escola e melhor amiga da irmã. Boquiaberto, virou o rosto para o lado porque acabara de associar a voz a um rosto e foi com muito espanto que viu quem era o seu salvador. Um outro lado dele pensou se não teria saído de uma enrascada para entrar em outra talvez até pior, porque Apolo era sua vítima e a irmã roubou-lhe algo valiosíssimo, sem falar que, na última vez que se viram, tinham saído na pandararia.

– Helena, Apolo! – exclamou, assombrado. – São vocês mesmo?

– Sim, somos nós – disse o feiticeiro. – Então, acha que pode andar ou prefere ir em uma cadeira de rodas? Desculpe ter drogado você, mas era a única forma de invadir o lugar e libertar você sem derramamento de sangue. Eram demasiados criminosos.

– Acho que posso andar, desde que seja devagar – respondeu Samuel, agradecido. – Por acaso está treinando para super-herói?

– Não, apenas fazendo um favor especial a uma irmã muito aflita e desesperada.

– Não está zangado com ela? – perguntou Samuel, intrigado porque a irmã contou-lhe parte da história. – Se soubesse como ela sofre por isso!

– Eu devia estar, mas não estou, Samuel – respondeu Apolo, falando muito sério enquanto o ajudava a andar. – Não sou pessoa de guardar rancor e você mais do que ninguém devia saber disso, do contrário não estaria na minha casa são e salvo.

– Obrigado, Apolo – disse ele, parando de antar e estendendo a mão. – Sinto muito por todas as idiotices que fiz com você. Hoje sei que foram motivados por inveja e ciúme e foram erros muito ruins. Ainda não tive a oportunidade de me desculpar, mas acho que antes tarde do que nunca.

– Tudo bem, Samuel – afirmou Apolo, apertando a mão. – Isso é passado.

Allan apareceu e ajudaram Samuel a sentar-se na sala, enquanto o feiticeiro trouxe um café. Olhou para o cavaleiro medieval e perguntou:

– Tem mais alguma Turmalina Negra com você?

– Não, Apolo – respondeu. – Temos a sua, a da Helena e a da Mônica, que está com ela.

– Bem, Helena e Samuel são alvos mais fáceis porque já foram cativos deles. Você, eles nem sabem que existe e eu, se não usar os meus dons de procura, teoricamente não serei localizado. Então, vou deixar a minha pedra com Samuel.

– Deixe sim, amor – disse Helena. – Eu fico com você e a minha pedra protege nós dois. Matilde deixou um jantar preparado para Samuel.

– Boa ideia – respondeu o namorado. – Você dorme comigo mesmo.

Apolo levantou-se e ajudou Samuel a levantar.

– Lena, você e Allan ajudam-no que eu vou falar com Mônica para tranquilizá-la.

– Não use o celular dela – aconselhou Samuel. – Ouvi Carlos dizer que está clonado. Eles querem desesperadamente encontrar e matar alguém e presumo que seja você.

– Nós sabemos disso – respondeu Apolo, saindo. – Usarei um espelho.

– Espelho?! – perguntou ele, olhando para Helena. – O que ele quis dizer com isso?

– Não sabe dele e da sua irmã? – perguntou Helena.

– Tudo o que sei é que ela ficou arrasada porque roubou alguma coisa dele para poder salvar eu e nossos pais. E também acho que tiveram algum romance.

– Nesse caso, acho melhor que saiba pela boca de um deles, desculpe.

Samuel encolheu os ombros e voltou a comer porque estava esfomeado.

― ☼ ―

Apolo colocou-se junto ao espelho e imaginou de que forma deveria fazer a magia. Aprendia cada vez mais rápido e o princípio era o mesmo de abrir uma passagem, mas bem mais simples.

Não teve a menor dificuldade em ver a garota à sua frente. Ela estava no quarto e trocava de roupa. Da posição de onde estava, Apolo calculou que apareceu em um porta-retratos ou algo similar.

– Oi, Mônica – disse, fazendo-a dar um salto. Assustada, virou-se mas, ao vê-lo, ficou mais calma.

– Oi, Apolo – respondeu, terminando de pôr a camiseta. – Você precisa de alguma coisa de mim?

– Chamei você para dizer que o seu irmão está a salvo aqui na minha casa – explicou. – Mas tem uma coisa: daqui a uma ou duas horas, eles vão virar um ninho de marimbondos. Se sabem do seu paradeiro, saia daí, você e seus pais.

– Estou com eles na fazenda e foi de onde Carlos os sequestrou.

– Mônica, acho melhor você e seus pais virem para a minha casa – disse Apolo, após pensar a respeito por uns segundos. – É um lugar desconhecido e a sua Turmalina protege vocês, se estiverem juntos.

– Não sei se é uma boa ideia – afirmou, abatida. – Lembre-se da Lena.

– Neste momento as vidas de vocês são mais importantes que essas coisas – disse ele. – Mônica, você carrega o nosso filho e precisa de ficar a salvo. Precisa disso mesmo que não carregasse.

– Por quê, Apolo? – perguntou, com lágrimas nos olhos. – Eu não mereço, não depois do que lhe fiz. Então, por quê?

– Porque... – Apolo vacilou, mas foi apenas um segundo. – Eu não quero que se machuque. Para mim é o que basta. Se você me ama como diz, então faça o que lhe peço. Venha para cá com seus pais.

– Tudo bem, meu amor, eu faço – disse com um suspiro –, mas tem ideia que me está pedindo para eu ficar a ver você nos braços de outra mulher?

– Mas também estou pedindo para me dar a chance de saber sobre os meus próprios sentimentos. Você estragou tudo e eu já andava muito confuso, mas sei muito bem que sinto algo demasiado forte por você e preciso de pôr tudo em pratos limpos. Nenhum de nós três merece este impasse. Pense pelo lado positivo: é uma chance para nós dois.

– Tá bom, vou falar com meus pais e chamo de volta.

– Certo. Faça o favor de se apressar que a bomba vai explodir em menos de uma hora. Quando os efeitos da narcose passarem e estiverem recuperados do mal-estar, vão agir. Você tem, no máximo duas horas, mas já passaram uns quarenta e cinco minutos. Estarei na cozinha ou na sala. Espero você.

― ☼ ―

A conexão foi desfeita e Mônica ficou a olhar para a fotografia deles, o local onde ele surgira. Pegou o porta-retratos e beijou-o com carinho. A seguir, vestiu uma saia e saiu do quarto para falar com os pais que viam televisão na sala.

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