Capítulo 8 - parte 2 (rascunho)

Apolo terminava de pôr a sunga quando ouviu um ruido no banheiro. Ia-se virar, mas uma voz bem conhecida manifestou-se antes mesmo de reagir:

– Você é irresistível desse jeito, meu amor.

Entrou no aposento e lá estava ela, no espelho do banheiro, linda. Ele encarou-a, calado, e os dois ficaram um bom tempo em silêncio, estudando um ao outro.

– Por quê, Mônica? – perguntou ele. – Por que fez isso? Dias antes eu tinha oferecido o medalhão para você e recusou. Era só me pedir. Sabe que eu nunca negaria nada a você. Tem ideia de o quanto me magoou?

– Eu disse a você que talvez precisasse de fazer algo, amor.

– Você foi despedida, sabia?

– Há algumas pessoas que precisam mais de mim, neste momento – afirmou ela, como se o trabalho não importasse. – Tem a certeza que me daria o medalhão, mesmo se fosse para eu entregar para o seu inimigo, meu amor? Acha que eu o teria pegado desse jeito se fosse para mim, Apolo?

– Você não respondeu uma única ligação minha, Mônica. Sinceramente, não sei exatamente o que pensar de tudo isso.

– Meus telefones estão monitorados, Apolo – respondeu. – Eu não posso me comunicar com você ou descobrirão onde está. Fiquei em silêncio até conseguir aprender outras formas de entrar em contato, como agora.

– Podia ter vindo, aqui – insistiu ele. – Você sabe fazer isso.

– E fui, quando achei que era seguro ir, uma noite destas. Mas havia uma mulher na sua cama e ela não era eu, então dei meia volta e retornei para casa. Antes disso, eu precisava de ficar aqui e cuidar de uns assuntos.

– Ela está aqui apenas há dois dias, Mônica, e você fez isso há quase dez.

– Eu sei que está há dois dias – respondeu Mônica. – Já sei que a salvou e, por causa disso, já matei dez homens aqui. Além disso precisei de explicar para os meus pais como dei um sumiço nos corpos. Tive que lhes contar sobre meus poderes.

– Posso saber por que motivo precisou matar?

– Não entendeu ainda, meu amor? – Mônica sacudiu a cabeça e fez uma careta. – Carlos sequestrou meus pais e Samuel. O preço para os libertar era o medalhão e silêncio para que você não soubesse a verdade. Mas, como ele se gabou de ter aprisionado a Lena, achou que eu contei para você e mandou os capangas aqui na fazenda do meu pai quando você a libertou. Precisei de os abater a tiro porque Carlos ainda não sabe que tenho poderes.

– Se me tivesse dito isso, eu teria ajudado, Mônica – resmungou ele, confuso. – Não precisava agir como uma ladra.

– Desculpe, mas a sua função era salvar Helena – insistiu Mônica. – Não fazia sentido algum tirar você dos seus problemas para resolver outros que poderiam acarretar mais confusão para o seu lado. A boa notícia é que Carlos é fraco que dói. Preocupe-se apenas com Bryan.

– Então agora devo levar em conta que Bryan possui o Medalhão do Poder e os seus poderes multiplicaram-se.

– Acho que sim, a menos que Carlos tenha ficado com ele para si. Você precisa de agir o quanto antes, meu amor. Não pode ficar mais na surdina. Há outra vida em perigo.

– Quem?

– Samuel – disse Mônica, suspirando. – Ele não me deu ouvidos e foi tentar conversar com Carlos para apelar por um pouco de humanidade. Fugiu da fazenda e Carlos aprisionou-o. Ele me ligou disse que está no Rio com o meu irmão. Me deu uma semana para aparecer aí. Eu entendo se não quiser me ajudar, Apolo, porque ele foi um dos seus carrascos, mas você sabe que ele mudou e é o meu irmão.

– Se eu me negasse a ajudá-la a salvar o seu irmão, Mônica valeria tanto ou menos do que aqueles imbecis. Você me conhece. Eu liberto o seu irmão, mas faço uma exigência.

– Faço qualquer coisa por você se isso me redimir, Apolo – disse ela, séria. – Eu amo você mais do que qualquer coisa neste mundo. Não imagina como me doeu ver você nos braços de outra mulher, mesmo sendo a minha melhor amiga e a pessoa que você ama. Eu sempre soube que isso aconteceria, mas nunca imaginei que acabaria comigo. O que deseja?

– Quero que fique aí, longe do foco dos acontecimentos – disse ele, impassível. – Você espera o nosso filho e não pode se arriscar.

– Farei como pede, se isso o agrada – disse ela, com um pequeno sorriso. Ergueu a mão e fez um gesto para que se aproximasse mais. – Chegue mais perto.

Apolo obedeceu e o busto dela saiu do espelho. Pegou o seu rosto, como se fizesse por uma janela e puxou-o, beijando seus lábios.

– Lembre-se que amo você. Adeus.

Apolo suspirou e saiu do banheiro, fechando a porta. Quando abriu a porta do closet para o quarto, deparou-se com Helena sentada na cama, quieta.

– Ouvi vozes. Você tava com alguém no banheiro?

– Digamos que o espelho pode ser um videofone – explicou ele, encolhendo os ombros. – Mágico, é claro. Mônica apareceu.

– Não ouvi tudo, mas o suficiente para saber muitas coisas que você não me contou, Apolo, inclusive o seu filho e isso quer dizer que não ficaram só no planejamento. Eu preferia que fosse cem por cento sincero comigo. O que foi que ela lhe fez a ponto de o magoar tanto?

– Muito bem – disse ele, sentando-se ao seu lado. Contou todos os detalhes do seu relacionamento e não escondeu mais nada. Terminou explicando sobre o irmão dela.

– Você vai salvar o irmão dela, Apolo? – arregalou os olhos, incrédula. – Mas esse cara crucificava você, sô!

– Ele deixou de ser pateta e é irmão dela – insistiu Apolo, resoluto. – Você recusaria ajuda?

Helena não disse mais nada. Apolo estendeu a mão e puxou a garota.

– Vamos nadar um pouco.

― ☼ ―

Allan estudava no escritório e olhou pela janela, vendo Apolo a nadar com vigor e a moça sentada a tomar sol. Olhou para o corpo dela, apaixonado. Nunca disse nada, mas caiu de amores por ela desde o dia em que a viu dentro de uma bolha de sabão que Morgan criou. Ela tinha classe do início ao fim, perfeita como uma aristocrata, mas era o amor da vida do amigo dele, se bem que o cavaleiro estava a ponto de jurar que ele gostava mesmo era da feiticeira.

Desligou o computador e foi para o jardim, sentando-se ao lado dela e puxando conversa. A moça era gentil e curiosa sobre o passado.

Quando Apolo parou de nadar, sentou-se junto a eles e contou para Allan sobre o que aconteceu.

– Então ela não tinha más intenções, mas agora Bryan pode se igualar a você ou até superar, ainda mais por causa da experiência que ele possui.

– Isso não me preocupa muito – disse Apolo. – Apenas temos que nos concentrar mais em não sofrer um revés. Estou pensando em como salvar o irmão dela. Na certa, está cativo no mesmo lugar.

– Sabeis que é uma armadilha, não sabeis? – perguntou Allan, nervoso. – Eu vos imploro que não ides lá de novo.

– É claro que é uma armadilha, meu amigo – disse Apolo. – É por isso que vou usar outra tática para o salvar. Apenas preciso de arrumar um gás que provoque uma forte narcose.

– Qual é a ideia?

– Um bruxo adormecido é inútil – explicou. – trasporto o gás para lá, neutralizo a bandidagem, salvo o Samuel e pronto.

– Pretende agir quando?

– Amanhã de noite – disse, Apolo. – Primeiro preciso conseguir o narcótico. Conheço um cara que é um bioquímico brilhante e ele me mostrará como criar a droga, mas vou lá sozinho. Allan, depois de amanhã, vamo-nos expôr em público sem a proteção. Quero ver o que eles pretendem fazer contra mim abertamente.

― ☼ ―

De manhã, quando Apolo acordou, achou Helena quieta e desconfiou de algo. Ele puxou-a para tomarem banho e, no meio, disse:

– Está preocupada, meu amor?

– Também, mas a verdade é que estou triste.

– Por que motivo está triste? – perguntou ele, curioso. – Você está livre e bem.

– Mas acho que perdi você, Apolo – disparou à queima-roupa.

– Você não me perdeu, meu amor. Estou bem aqui do seu lado, passando sabonete nas suas costas.

– Será mesmo, meu amor – disse, virando-se para ele. – Você não ama a Mônica, Apolo? Não está comigo por um sentimento de culpa que já me disse que sente?

– Sempre amei você, Lena – disse o jovem. – Você sabe disso. Posso dizer que a amo, sim.

– Mas não como foi antes, Apolo. O seu romance com a Mônica mudou você. É o nome dela que você fala dormindo!

– Pelo amor de Deus, isso são sonhos que nem lembro. Ela dizia a mesma coisa sobre você.

– Não sente nada por ela, Apolo? – perguntou rápido e o namorado não respondeu. – Sente ou não sente? Tá demorando muito a responder.

– Lena, eu não vou negar que sinto algo por ela, mas eu amo você – disse ele. – Me dê uma chance de acertar a minha cabeça com o que aconteceu, sô!

– Eu amo você, Apolo – disse ela. – Quase deixei de o amar depois de dois anos de martírio psicológico, mas bastou olhar para você e voltou tudo. Eu vou lhe dar essa chance, mas, se sentir que é ela que ama, Apolo, vamos precisar terminar.

– É justo, meu amor.

Logo a seguir ao café ele saiu e Lena ficou a sós com Allan e os empregados. Ela aproveitava para lhe ensinar sobre a internet e como aprimorar as suas pesquisas. Certa hora, perguntou:

– Allan, o que você acha do Apolo?

– Eu, o que acho? – Ele riu. – Apolo é o homem com o coração mais nobre e puro que eu já vi em toda a minha vida. É tão justo ou mais que o meu primo, o rei Henrique da Bretanha.

– É verdade – disse, pensativa. – Nunca vi ninguém bondoso assim como ele. Já era desse jeito nos tempos da escola.

– De fato – concordou o guerreiro. – É muito difícil competir com ele.

– Não entendi!

– Desculpai-me, foi um comentário sem pensar.

– Você, quando fica preocupado ou nervoso, fala pra lá de esquisito, sô! – disse ela, rindo. – Na verdade, perguntava sobre ele e Mônica. Acha que ela...

– Se lady Mônica ama Apolo? – interrompeu ele, rindo. – Sim, ela ama loucamente. Por isso não entendi o que ela tinha feito... até ontem.

– E ele?

– Ele hã... quero dizer, se ele a ama? – perguntou. Sem esperar resposta continuou. – Apolo não é de falar dos seus sentimentos, mas, até você aparecer, ele ficou arrasado quando ela o roubou. Eu achava que ele amava lady Mônica, mas agora não sei mais.

Ela voltou a ensinar sobre a internet e não tocou mais no assunto. Quanto foram chamados para o almoço. Helena olhou para o telefone que Apolo lhe ofereceu e ligou.

– "Oi, amor" – disse ele.

– Oi, vai demorar?

– "Sim, bastante." – respondeu. – "Estou em Niterói e vou almoçar por aqui mesmo. Devo chegar pelas três horas se o trânsito ajudar. Beijo."

– Beijo, amor – desligou e sentou-se à mesa.

― ☼ ―

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top