Capítulo 8 - parte 1 (rascunho)

"Se você pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem genialidade, poder e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado."

Johann Goethe.


O resto do dia foi apenas um domingo muito agradável que Apolo não se lembrava de quando teve pela última vez. Ela conversou com os dois, divertiu-se e, após o jantar, cada um foi para o seu quarto dormir. Apolo permanecia sem sono, pensativo, quando ouviu um barulho discreto na porta. No momento em que o barulho se repetiu, ergueu-se e fez brilhar uma esfera de luz. Arregalou os olhos ao ver Helena de lingerie quase transparente, aproximando-se da cama dele.

– Desculpe, meu amor, mas fiquei tempo demais sem uma companhia ao meu lado e a sua sempre foi a que desejei – disse ela, subindo na cama, sensual. Apolo engoliu em seco e ela envolveu-o com os seus braços.

― ☼ ―

Já passara da hora quando acordou e não havia ninguém ao seu lado. Levantou-se e usou os poderes para ficar limpo e vestido sem perder tempo. Assim que chegou à cozinha, encontrou Allan, Helena e Matilde, descontraídos a tomar café. Helena ria e, ao vê-lo, levantou-se e beijou Apolo.

– Acordou, belo adormecido? – abraçou-o e disse, no seu ouvido. – Você tava tão lindo dormindo que parecia um anjinho. Daí eu não o quis acordar, uai.

– Fazia alguns dias que não dormia tão bem – murmurou. Sentando-se após pegar café, elevou a voz e continuou. – Bom dia a todos. Ô trem bom, esse café. Allan, hoje você não escapa de treinar. Faz alguns dias que não combatemos.

Enquanto lutavam no pátio e Helena olhava, sorridente, Apolo perguntou:

– Allan, temos que tomar a iniciativa – disse. – Eu tenho a certeza de que eles nos procuram e precisamos de atacar antes que nos encontrem, não acha?

– De pleno acordo, Apolo – respondeu enquanto desviava de um chute e erguia a espada para atacar o amigo, que já não estava no mesmo lugar. – Talvez uma alternativa seja deixar que nos encontrem em local público ao mesmo tempo que ela fica na sua casa, protegida.

– Acho que faremos um passeio na praia de Copacabana sem a proteção da Turmalina.

– Quando?

– Amanhã. Quero que Lena tenha tempo para se acostumar a ter uma sensação de segurança, ainda que precária.

– Acredito que tenha razão.

O resto do dia foi calmo. Apolo treinou a sua magia e Allan estudava no escritório, cada vez mais apaixonado pelos dias modernos.

À noite, foram ao cinema e a um bar. Quando se deitaram e Helena voltou a invadir o seu quarto e Apolo disse, debochado:

– Caraca, meu amor, se quer vir dormir comigo basta vir. Não precisa de invadir o quarto como se fossemos adolescentes fazendo algo proibido.

– Tem certeza? – perguntou ela, rindo. – Não dá uma sensação de frio na barriga, não?

Quando viu a sua cara confusa, continuou subindo na cama e, ainda rindo, disse:

– Calma que estou brincando, uai – beijou-o no pescoço. – Infelizmente nunca tive esse tipo de experiência com um namorado porque perdi meus pais antes e só tive um namorado depois disso. Meus relacionamentos também não duravam nada, como os seus.

– Às vezes me sinto responsável e me pergunto se não fui eu o culpado de tudo, quando disse aquilo para você.

– Você estava de coração partido, Apolo – disse ela, agora bem séria. – Eu que devo ter errado em não ter corrido atrás de si para explicar. Fiquei sem reação.

– Fiquei de coração partido muito mais vezes do que gostaria de admitir – disse Apolo com um suspiro. – Não tive uma adolescência feliz.

– Esqueça isso – pediu Helena, pondo o dedo nos seus lábios e depois beijando-o. – Eu estou aqui, meu amor, bem onde sempre desejei estar.

Helena adormeceu rápido, mas Apolo tinha dificuldade em pegar no sono. A sua maior preocupação agora era protegê-la a qualquer custo, mas a questão que mais o incomodava era a Mônica e ele estava bem ciente disso. Foi pensando nela que adormeceu e acabou tendo um sono agitado e cheio de sonhos estranhos.

De manhã, foi acordado pela garota que o beijou e provocou até se levantarem. Enquanto ambos se banhavam, Helena disse:

– Quando você vai me contar?

– Oi, anjo? – perguntou distraído. – Contar o quê?

– Sobre o seu romance que disse ter tido há pouco tempo?

– Isso importa para você? – perguntou Apolo, mais sério.

– Você me disse que todos esses anos só pensava em mim, que nunca se envolveu com nenhuma mulher e até que o tal mágico do século XII usou a minha imagem para o atrair até ele, além da sacanagem do infame do Carlos no hotel – explicou Helena. – Eu acho que, considerando esses fatos, a mulher em questão só pode ter sido bem recente mesmo, tão recente que foi após o encontro... ou durante, não acha?

– Faz sentido, anjo – respondeu ele. – Sherlock Holmes que se cuide com você.

– Não sou assim tão boa, uai – disse Helena, rindo. – Mas sei ver que, de alguma forma Mônica o magoou muito e não consigo imaginar como ela pode ter feito isso se também era apaixonada por você.

– E ocê concluiu que foi a Mônica?

– Amor, as poucas vezes que mencionou o nome dela, as suas palavras expressavam dor, amargura – explicou a moça. – Depois, nem estranhou eu ter dito que ela era apaixonada por você; logo, você sabia disso. Mônica é a escolha mais lógica e eu desconfiei desde ontem, mas acontece que você fala dormindo e acabou mencionando o nome dela durante a noite. Não quer me contar? Se não quiser, não me zangarei. Afinal, não sou sua dona e já passou muito tempo desde aquela paixão de escola mas acho que há algo mais do que um coração partido nessa história e, se estou envolvida, acredito que deva saber.

– Para começar, Mônica é uma feiticeira, como eu – respondeu com um suspiro profundo. – E, como eu, desconhecia os seus dons. Quando voltei ao hotel, ela foi falar comigo sobre o que aconteceu e me explicou tudo, inclusive sobre vocês duas em relação a mim...

Apolo contou as lacunas da história e Helena ouvia com atenção, mas não relatou o furto nem a gravidez.

– Então vocês decidiram ter um filho? – Helena arregalou os olhos. – Simples assim?

– Como eu lhe contei – respondeu. – Já que eramos ambos infelizes em termos de relacionamentos, pensamos em uma escolha dessas, sim, e eu desejei que ela viesse viver comigo, mas ela disse que primeiro deveria encontrar você.

– O que foi que o magoou tanto, Apolo?

– Isso é algo que não desejo discutir, meu amor – afirmou o feiticeiro, taxativo. – Acho que ela teve os seus motivos e não desejo julgá-la.

– Tudo bem, amor – disse Helena. – Me passe a toalha, por favor.

Durante o café, o telefone do Apolo tocou e viu que era a sua funcionária recém-promovida. Colocou no viva voz, para continuar comendo.

– Oi, Sara – disse. – Tudo bem, querida?

– Oi, Apolo – disse ela. – Desculpe incomodar a esta hora, mas recebi uma ligação de Belo Horizonte, da empresa da sua amiga. Eles disseram que ela não faz mais parte do quadro e que o senhor deve ver os detalhes do contrato com o vice-presidente.

– De quanto era mesmo esse contrato? – perguntou Apolo, na maior calma.

– Doze milhões, senhor, e tenho a certeza de que não se esqueceu porque foi o senhor que definiu o teto.

– O que acha, minha querida? – perguntou ele, mantendo uma calma que desconcertou Helena em função da quantia. – Acha que precisamos dessa empresa para continuar os nossos negócios? Doze milhõezinhos?

– Claro que não, Apolo – respondeu ela, rindo. – Tem gente fazendo fila por um contrato como esse com a gente até fora do país.

– Foi o que eu imaginei, meu anjo – comentou Apolo com uma risada. – Por isso, você vai ligar para eles e dirá em palavras gentis, pelo menos muito mais gentis do que as que eu usaria, onde eles podem enfiar o contrato porque eu não vou assinar mais nada com eles. Aceitei negociar com a Mônica e por ela. Eles nunca me interessaram. Se a mandaram embora, isso é problema deles. Assinar o contrato com essa empresa sem a Mônica lá para o administrar, torna-se problema meu. Estamos fora.

– Obrigada, Apolo – disse a garota. – Eu ia fazer algo parecido com isso porque sabia que você não tinha muito interesse, mas desejava confirmar com você. Até mais.

– Até mais – disse Apolo. – À... e Sara... você é um anjo. Se cuide.

Apolo desligou e continuou comendo, pensativo.

– Pelo jeito, ela arrumou problemas até com o trabalho – disse Helena. – Você falou em doze milhões como se fosse troquinho!

– Doze milhões não é pouco, mas não é coisa do outro mundo. Está tudo ligado, meu anjo – respondeu Apolo. – Eles também querem a cabeça dela. Carlos jurou vingança contra nós dois, naquele hotel e isso só aumenta as minhas preocupações.

– E o que pretende fazer? – perguntou Helena. – Não podemos viver escondidos o resto da vida.

– De fato não podemos – disse Apolo. – Andei conversando com Allan sobre tomarmos a iniciativa para que eles apareçam. São poucos, apenas Carlos e o demônio do passado. O resto não passa de um bando de criminosos do narcotráfico e é fácil acabar com eles, mas os que têm poderes é que é o problema.

– Você pode enfrentar o tal sujeito do passado?

– Não sei. O meu parente disse que meus poderes são muito fortes, mas eu não os domino direito. Faz apenas uns dois meses que descobri, nem isso.

– Nesse caso, você se arrisca – constatou a garota. – Quando pretende fazer isso?

– Acho que ainda hoje, pela tarde, creio eu.

– A gente podia pegar uma piscina nesse meio tempo – disse ela sorrindo. – Não imagina há quanto tempo eu não entro em uma.

– A ideia é boa – comentou Apolo. – Gosto de nadar.

– Eu sei, sô! – Helena riu. – Eu ficava escondida, olhando você nadar. Cê nem imagina as bobagens que eu pensava.

– Já ouvi isso antes – respondeu Apolo, rindo. – Tem um biquíni no armário do seu quarto. Eu vou me trocar.

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Sherlock Holmes: personagem famoso dos livros de Sir Arthur Conan Doyle

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