Capítulo 7 - parte 2 (rascunho)
A garota parou de atender o telefone e Apolo ficou tão triste que se tornou bastante calado. Compreensivo, Allan dava-lhe espaço. Apesar de tudo o que Mônica lhe fez, ele seguiu o conselho dela e tratou de aprender a criar passagens porque achou que seria o ideal para poder se evadir em tempo. Afinal, foi isso o que a namorada lhe fez. Chegou a pensar que poderia encontrá-la usando esse método e pôr tudo a pratos limpos, mas desistiu da ideia porque não desejava criar uma situação de briga ou um desconforto ainda maior que o que já acontecera. Mais a mais, acreditava que devia ser obrigação dela manifestar-se primeiro, já que foi ela que começou a ação.
Abrir as passagens era muto fácil, até porque, foi assim que ele e ela tiveram a primeira aventura noturna no Rio. Tudo resumia-se a fazer isso de forma consciente. A segunda experiência de Apolo foi atirar na própria mão que estava envolta em uma luz azul, dando um susto enorme em Allan que julgou que ele tinha enlouquecido de vez. Como previsto, a bala foi absorvida pela proteção, mas energia cinética continuava sendo energia cinética e isso doeu. Na segunda tentativa, colocando a barreira mais afastada do corpo, o resultado foi bem melhor.
Assim preparado, decidiu que era a hora de agir e, pouco mais de uma semana depois do roubo do medalhão, saiu com o amigo às cinco da manhã, tomando rumo da floresta da Tijuca.
– Qual é a ideia? – perguntou Allan.
– Aqui é fácil fugir, especialmente para quem não conhece o lugar – explicou Apolo. – Foi por isso que passei os últimos dias pesquisando exaustivamente todos os mapas e imagens de satélite da floresta.
Encostaram o carro em um mirante e Apolo abriu a bagageira, pegando a espada do amigo e concentrando-se. Estendeu-a para ele e disse:
– Coloque-a na cintura – explicou, tranquilo. – Ela ficará invisível para todos os outros exceto para você desde que a toque. Fora isso apenas eu posso ver a sua espada, mas tome cuidado para evitar problemas que ela está aí, apenas os ouros não veem.
– Essa magia nem mesmo Morgan conhecia – comentou Allan, alegre.
– A vantagem do século XXI é o fato de eu ter uma miríade de conhecimentos que Morgan nem sonhava – disse o amigo, sem dar mais nenhuma explicação. – Vamos pegar aquela trilha ali e nos embrenhar na floresta. No local mais adequado, eu tento usar a Visão. Pronto? Está com o cristal de proteção?
– Sim, Apolo – aquiesceu com um aceno. – Podemos ir.
Em silêncio desceram a trilha e andaram bem dez minutos até que acharam um bom lugar. Apolo sinalizou e Allan afastou-se dois passos para anular os efeitos de proteção da pedra que ele carregava.
Apolo estendeu as mãos e formou um arco luminoso. Não levou nem dez segundos para que a imagem da garota surgisse. Ela dormia. O quarto estava fechado e o feiticeiro notou que aquilo era um cárcere privado. O recinto era pequeno e não possuía nada a não ser uma cama, um banco e uma mesa. Não havia janelas nem sanitário, mas ele viu um penico a um canto, aos pés da cama. Apesar de tudo, notou que ela não apresentava sinais de maus-tratos nem de violência sexual. Meio minuto depois, desfez a conexão e chamou Allan para perto de forma a se protegerem com a Turmalina Negra.
– Por que motivo parou, Apolo? – perguntou o cavaleiro. – Foi fácil localizar a moça!
– Para despistar eventuais observadores – explicou. A seguir, fez um gesto e abriu uma passagem para outro local. – Vamos continuar de outro ponto.
Assim que atravessaram, o feiticeiro continuou:
– Aqui parece bom. Acho que ela está aprisionada em uma favela qualquer – explicou. – O problema é que há centenas de favelas no Rio de Janeiro. Claro que, com crime organizado, não há muitas.
Apolo repetiu o processo e as imagens voltaram na hora. Ele procurou obter uma vista do exterior. Não teve muitas dificuldades no seu intento. Mais uma vez, desfez o contato e fugiu por uma nova passagem.
– Aquilo só pode ser no Vidigal, Allan – disse ele. – Tem uma barra pesada lá, mas aquela casa está um pouco afastada. Acho que vou tentar arrebatá-la de lá por magia.
– Talvez seja melhor analisar um pouco mais – disse o cavaleiro medieval, comedido. – A mim parece que está a ser demasiado fácil.
– É possível, mas não desejo perder muito mais tempo. – respondeu decidido. – A cada tentativa que fazemos, os riscos aumentam bastante.
― ☼ ―
Mônica recebeu uma mensagem no celular. Estava calada e deprimida por causa do Apolo. Ela não queria que ele soubesse quem tinha furtado o objeto, mas agora o mal estava feito e não havia outra escolha.
Olhou o endereço e notou que o lugar para o encontro era bem perigoso, além de a hora ser inadequada para uma pessoa de bem andar por lá, em especial uma mulher. Contudo, tinha confiança nos seus dons.
Olhou as horas e concluiu que havia tempo mais do que suficiente para chegar lá, apesar de ser do outro lado de Belo Horizonte. Por isso, continuou a sua refeição com toda a calma.
Pegou as chaves e entrou no carro, tomando rumo para o encontro. Tendo em vista o tipo de gente com que lidava, nem se deu ao trabalho de chamar por ajuda. A única pessoa que podia ajudar era a menos indicada para ser chamada. O que a acalmava era o fato de Carlos ser muito mais fraco que ela, além de não saber dos seus poderes. Estacionou perto do destino e foi o resto do caminho a pé.
Não demorou muito tempo a descobrir que era seguida, mas já esperava por isso e não se preocupou. O quarteirão seguinte era o seu destino, o ponto de encontro. Dobrou a esquina e parou, aguardando.
Passos sorrateiros aproximavam-se e a feiticeira disse:
– Eu sei que está me seguindo, Carlos. Vamos logo acabar com isso.
– Sabe quantos homens eu tenho de olho em você aqui mesmo, meu amor? – perguntou ele aparecendo e rindo. – Uma porrada deles.
– Não sou seu amor, Carlos, nunca fui e jamais serei.
– Acho que será, um dia destes – disse ele. – Eu podia aprisionar você agora e transformá-la na minha escrava sexual, uai.
– Eta trem ruim – respondeu ela, com desprezo. – Por acaso você acha que não tomei as minhas precauções?
– Você seria bem mais feliz ao meu lado, gatinha – arrematou o ex-colega. – Poder, fortuna e tudo a seus pés.
– Chega, Carlos – disse ela, incisiva. – Você me assedia desde os tempos do colégio e sabe muito bem que nunca o desejei. Agora que você melou meu relacionamento com Apolo, vamos acabar logo com isto.
– Seu relacionamento? – Carlos riu. – Aquele besta só tem olhos para a loira insípida dele, sua tola.
– Muito bem – disse ela, sem vontade de discutir. – Que seja. Onde estão eles.
– Seus pais e seu irmão estão sendo soltos agora. – Estendeu uma bola de vidro onde apareciam os três, saindo de um casebre na favela. – O babaca do Samuel mudou, hein? Quem diria que virou um senhor certinho! E você, vai cumprir a sua parte?
– Como fez isso? – perguntou ela, fingindo espanto. – O que é isso?
– Isso é magia, meu amor – respondeu ele. Estendeu a mão– E a sua parte?
– Terá o medalhão quando eles aparecerem aqui – disse a garota, taxativa –, não antes. Afinal não sei por que tanto alarde por causa de um medalhão. Tá certo que é de ouro, mas...
– O valor desse medalhão não está no ouro, sua tola, e sim no poder que ele contém.
– Sei, vai bancar o Peter Pan...
– Olhe eles ali – disse Carlos, interrompendo. Fez sinal e, das sombras, dois homens barraram o caminho dos familiares da moça. Olhou para ela e estendeu a mão.
Mônica pegou o medalhão do bolso e mostrou, entregando para o inimigo.
– Pode levar o medalhão, Carlos, mas eu juro que, se aprontar mais alguma coisa com a minha família, eu mato você com ou sem essa magia idiota. Tenho a certeza de que você não é à prova de balas e saiba que sou excelente atiradora.
– Não se preocupe – disse ele, rindo e fazendo um gesto para deixarem os pais e irmão passar. – Primeiro, eu vou resolver as minhas paradas com o seu namoradinho. Quando estiver tudo acabado, virei conversar melhor com você e verá que não sou assim tão ruim.
– Cruze o meu caminho e da próxima vez acordará na cova.
Mônica abraçou os pais e o irmão. Puxou por eles e tratou de sair o mais rápido que podia. Assim que entraram no carro, acelerou com violência para saírem logo dali.
Só parou na fazenda dos pais e todos desceram. Eles voltaram a abraçar a filha que descobriu que se sentia exausta por causa das tensões acumuladas e por ter dirigido por mais de uma hora em alta velocidade por uma estrada em péssimas condições.
– Tem certeza que não quer ir à polícia, minha filha – perguntou o pai pela terceira vez. – Aquele objeto devia ser muito valioso.
– Esqueça, pai – respondeu com um suspiro. – Comparado com o que eu perdi por causa disso, o medalhão não vale nada, mas a polícia não tem competência para enfrentar essa gente. Eu quero pegar a minha pistola.
– Não faça besteira, minha filha – implorou a mãe.
– Prometo para a senhora que não tomarei qualquer iniciativa, mãe, mas ele não vai parar.
Entraram em casa e a garota foi para o lugar que era o seu quarto. Abriu o armário e pegou uma pistola e todas as caixas de balas que tinha, além de uns pentes adicionais, colocando na mochila. A mãe aproximou-se.
– Passe aqui a noite, meu amor, não dirija sozinha a esta hora porque você parece demasiado cansada e pode ter um acidente.
– Acho que tem razão – disse a filha. Abriu o armário e pegou um pijama. – vou tomar um banho.
Quando Mônica saiu do banho e foi-se deitar, encontrou o irmão sentado na cama dela. Ele levantou-se e aproximou-se, abraçando-a.
– Obrigado, maninha – disse Samuel no seu ouvido, quase que em um sussurro. – Me perdoe todas aquelas idiotices que lhe fiz e as maldades que lhe disse. Eu não imaginava como era idiota e o quanto estava errado.
Mônica não disse nada. Apenas apertou o irmão contra si e encostou a cabeça no seu ombro. A seguir, chorou. Chorou como a criança desamparada que se sentia e que perdeu a coisa mais preciosa que tinha na vida. Samuel levou-a até à cama e sentou-a. Esperou que a irmã parasse de chorar, mantendo-a encostada a si e afagando-a. Quando ela se calou, o irmão perguntou:
– De quem era aquela joia, Mônica?
– Apolo. – A resposta veio em um sussurro quase inaudível, mas o irmão entendeu bem e entendeu mais ainda a dor por trás das palavras.
– Você ainda sente algo por ele, mana – constatou. – E, pelo jeito mantém contato com ele.
– Eu amo Apolo acima de tudo – balbuciou ela. – Mas duvido que algum dia me perdoe o que eu lhe fiz.
Mônica voltou a chorar e Samuel achou melhor não dizer mais nada. Apenas esperou que ela se acalmasse e deitou-a na cama, saindo para o seu quarto, pensativo.
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