Capítulo 6 - parte 2 (rascunho)
Era noite e Allan, Mônica mais o Apolo jantavam descontraídos. Quando terminaram de comer, Allan foi ao quarto e retornou com umas coisas na mão.
– Sir Morgan disse que deveria vos entregar isto, Mônica – estendeu a mão e apareceram três objetos. – disse que são poderosos e ajudarão. A pedra negra é igual à de Apolo e serve para vos ocultar de outro mago. Apolo poderá explicar melhor. Este anel tem um diamante que foi trabalhado para concentrar energia e ampliar vossos poderes.
– Como o medalhão do Apolo? – perguntou ela, enquanto pegava a pedra e o anel, olhando para ele. – Que lindo!
– Não – explicou Allan. – O medalhão é muito, mas muito mais poderoso.
– E qual é o terceiro item?
– Este amuleto – disse, estendendo um pequeno cristal rosa que emitia um leve brilho. – Deveis mantê-lo sempre convosco e deverá ser usado no momento de maior perigo. Ele tem poder de vos salvar a vida, mas apenas uma vez. Então, deveis ter muito cuidado com as escolhas que fizerdes.
Mônica sorriu e colocou os objetos no bolso, exceto o anel que foi direto para o dedo. Allan levantou-se e disse:
– Vou-me recolher que estou com sono – inclinou-se para ambos em um cumprimento. – O dia que me proporcionastes foi maravilhoso. Boa noite.
– Boa noite – disseram os dois em coro. Assim que o cavaleiro saiu, Mônica sentou-se no colo do amigo e disse:
– Então, amor, o que fazemos agora? – deu-lhe um beijo, feliz.
– Pretendo tentar localizar Helena e encontrar um jeito de a ajudar, anjo – respondeu, ficando sério. – Lembre-se de que sou em grande parte culpado do que lhe aconteceu.
– Muito bem – disse ela. – Nesse caso, faremos isso juntos. Acho que pode ser mais seguro e um bom treino. Não acredito que vou ajudar a minha rival, mas o que posso fazer se ela era a minha melhor amiga?
Apolo riu e ambos foram para a sala. Sentaram-se em sofás confortáveis, mas antes Apolo sugeriu que a amiga deixasse a Turmalina Negra a mais de noventa centímetros de distância.
– Por que não usa o medalhão, amor? – perguntou ela. – Afinal ele amplia seus poderes.
– Não preciso dele para usar meus poderes, anjo – explicou Apolo, pensativo. – Teve tanta gente querendo pegá-lo que acho melhor deixá-lo bem escondido onde ele está.
– E onde o escondeu?
– Dentro do espelho do guarda-roupa do meu quarto. Assim, ele fica mais seguro.
– Gosto dele – disse a garota. – É lindo e transmite uma força grande.
– Acho melhor você usá-lo, então – afirmou Apolo. – Eu já não dependo dele para fazer magia sem ser acidental.
– Outra hora. – Mônica sorriu. – Afinal, Morgan deu-lhe o medalhão com um objetivo. Bem, como você pretende fazer?
– Das outras vezes eu fiquei fraco e cansado, mas agora estou certo que a culpa foi do fator tempo. Vou tentar encontrá-la no presente. – Olhou para a parede ao lado da porta e continuou. – Vou tentar projetar imagens ali.
Mônica levantou-se e sentou ao lado do amigo de forma a poder ajudar mais rápido. Apolo respirou fundo e fixou o olhar na parede. Ergueu as mãos com os cotovelos apoiados nas pernas e ambos notaram que brilhavam em um tom suave. O jovem feiticeiro estendeu as palmas para a frente e a luz projetou-se na parede, adquirindo forma, mas bem diferente de tudo o que fez antes. A iluminação tomou conta do lado oposto da sala e, de algum jeito bem estranho, parecendo que uma nova realidade era pintada sobre aquele canto em uma tela de um quadro grande e verídico, tão real que a ideia que dava era que aquela parte da casa deu lugar a outro ambiente.
Mônica respirou fundo e segurou o braço dele, impressionada com a visão à sua frente. Parecia o interior de uma montanha ou um subterrâneo de pedra que quase não possuía iluminação.
– Isso está aí de verdade, amor – comentou ela. – Não é projeção nenhuma e sinto cheiro de terra úmida.
– Exato – confirmou Apolo, levantando-se. – Não entendo o que ela poderia estar a fazer aí, mas vou verificar.
– Vou com você – disse ela. – Talvez fosse bom levar uma arma.
– Tolice, anjo – contestou Apolo. – Não me parece que haja perigo. Vamos.
Mônica pegou a sua mão e acompanhou-o, um pouco receosa. À medida que se aproximavam, o cheiro de terra úmida era mais pungente e a temperatura baixava. Uma pequena brisa vinha de dentro do local, fosse o que fosse. O passo que foi dado para o desconhecido não teve diferença em termos de sensações, exceto pelo fato de que passaram a sentir o piso macio, a temperatura muito mais baixa e a redução drástica da luminosidade. Preocupada, Mônica olhou para trás e viu a sala da casa do amigo como se fosse uma passagem no fim do túnel.
– Até parece a mesma coisa quando fomos procurar o mago Morgan, uai – comentou ela. – Será que tem algo a ver, amor?
– Não. Acho que não estamos em outro mundo, apenas em outro lugar, um bem estranho, por sinal – respondeu Apolo. – A questão é saber o que Helena tem a ver com isto, já que eu foquei os meus pensamentos nela.
– Tá ficando frio – disse a garota, sentindo um arrepio. – E escuro demais.
Apolo parou de andar e virou-se para ela, gentil. Uma esfera de luz suave começou a pulsar acima deles e, logo a seguir, ela sentiu que tinha uma blusa de lã sobre o corpo. Sorriu agradecida e Apolo não resistiu ao seu olhar, beijando-a. Pegou a cintura da amiga e seguiu abraçado a ela.
– Amor – disse Mônica, pensativa. – E se isto tiver a ver com o inimigo da sua família?
– Como assim? – perguntou ele, puxando-a mais para si de forma a desviar de uma poça de água.
– Se Morgan usou Helena para atrair você, nada impede o inimigo de fazer o mesmo. Isso explicaria o sumiço repentino dela.
Andaram mais uns dez minutos, em silêncio, e o corredor fez uma curva. Logo à frente havia algo que parecia uma caverna envolta em uma escuridão tão grande que a luz emanada pelo feiticeiro não era suficiente para varar o local e alumiá-lo.
– Sim, ele poderia ter feito das dele, mas ela desapareceu há alguns anos, não foi? – perguntou Apolo, respondendo a última questão dela. – Allan avisou que posso ser rastreado, se fizer certas coisas, e por duas vezes estive em contato com ela. Por isso a Turmalina Negra. Caraca; que estranho. Essa caverna absorve a luz. Com certeza não é normal.
– Tô escutando uma coisa diferente – disse Mônica, encostando-se mais a ele, assustada. – Parece um farfalhar.
– Sim – concordou o amigo –, e uma respiração estranha.
Apolo concentrou-se para fazer uma luz ainda mais forte, mas a caverna iluminou-se por si. Era um recinto dos seus vinte metros de diâmetro e, de olhos arregalados, o jovem viu Helena acorrentada à parede pedra bem à sua frente. Ela parecia desfigurada, magra, como se não comesse há dias. O seu rosto estava caído e as roupas eram um farrapo só que a deixavam quase nua.
– Helena – gritou, atônico. – Como você veio parar aqui?
Apolo avançou um passo para ela, que ergueu o rosto, bem devagar. O feiticeiro já ia correr para ela, mas foi interrompido por um grito enorme e virou-se. Era Mônica, muito assustada, que apontava para outra direção e Apolo girou o corpo pronto para qualquer eventualidade. Por um segundo, o jovem sentiu o sangue gelar nas veias porque aquilo que via não era deste mundo. Parecia mais um bando de personagens vindos de filmes de terror.
Sombras saíam das paredes, formando imagens deformadas de espectros negros, algumas de aparência humana e outras de gigantescos cães ou alguma coisa assemelhada.
Uma risada macabra fez Apolo voltar a olhar para a frente e aquela que julgou ser a Helena não parecia nada com ela, mas sim com outro espectro de roupas azuis, todas rasgadas e rosto desfigurado, onde os olhos e nariz eram apenas buracos. Os cabelos, outrora dourados, estavam brancos e parecendo de palha e tão arrepiados que era como se aquilo tivesse sido exposto a uma grande carga de eletricidade estática.
– Peguem-nos – gritou ela. – Peguem-nos vivos, o mestre mandou.
Apolo pegou a mão da amiga e começou a recuar de costas, bem devagar, procurando manter uma distância uniforme.
O grito de pavor da garota aconteceu ao mesmo tempo que sentiu uma mão fria de arrepiar segurando o seu ombro e o jovem reagiu por instinto de anos de artes marciais. Girou o corpo, chutando a coisa com um pé, enquanto puxava Mônica com violência para a libertar do segundo atacante. Usando o movimento de rotação causado pelo puxão que lhe deu, ergueu o outro pé e chutou o essa criatura enquanto a reequilibrava para que não caísse.
Com a mão livre despejou uma cascata de raios que matou muitos daqueles seres.
– Vamos, anjo – disse Apolo, chamando por ela para saírem dali porque o local começava a ficar infestado. Mônica, no entanto, permanecia parada, tremendo e com os olhos arregalados; paralisada de medo.
O feiticeiro ia dar um passo para a puxar quando um dos espectros pôs a mão no ombro da garota. Mônica, como se despertasse de um pesadelo, deu uma cotovelada para trás e correu em direção ao amigo que soltou uma grande praga ao ver que as criaturas atingidas e que deviam estar carbonizadas, levantaram-se como legítimos zumbis e seguiram no seu rastro.
– Corra de volta para a sala, anjo, corra que vou retardá-los. Tente fazer a sua própria luz. Eu sei que consegue.
Mônica obedeceu e descobriu que foi capaz de fazer a luz com uma facilidade que a surpreendeu, provavelmente por causa do anel que recebeu do cavaleiro medieval. Enquanto Apolo travava uma verdadeira batalha para conter ou retardar as criaturas, despejando raios ou fazendo pequenos furacões, ela apressou-se a correr para casa, notando que ele recuava, mas mais devagar.
Preocupada com o namorado, olhou para trás pela terceira vez e, quando voltou a se virar, esbarrou com um dos espectros que saiu do chão. Ela deu um grito de pavor e virou-se de volta para Apolo, mas descobriu que estava cercada. Ia tentar criar os seus próprios raios, quando um barulho diferente lhe chamou a atenção. Bem às suas costas, Allan empunhava a espada e atacava as criaturas, que eram destruídas com uma certa facilidade. Assim que abriu passagem, pegou a mão da Mônica e levou-a para a sala.
– Ajude Apolo, pelo amor de Deus – pediu ela, quase implorando. – São muitos monstros e revivem sempre que ele os mata.
Allan não se precipitou. Foi até ao escritório do amigo e tirou a pistola da gaveta onde o viu guardar, entregando para a garota.
– Ferro mata essas criaturas – explicou. – Sabeis usar isso?
– Sim.
– Então protegei a passagem que eu vou ajudar Apolo, mas tende cuidado para não nos matardes – disse ele, voltando para o túnel, acompanhado dela. – Ficai aqui e tende cuidado.
Sem esperar resposta, Allan correu pelo corredor de pedra e terra molhada. Não demorou a ouvir sinais de luta e algo lhe dizia que o amigo estava em sérias dificuldades.
Mal fez a curva, encontrou Apolo cercado de criaturas, que deviam ser mais de cem. O coitado soltava raios por todos os lados e dava chutes e socos, mas a energia dos ataques tornava-se cada vez mais baixa e ele tinha cada vez menos mobilidade porque, a cada um que caia, dois surgiam no seu lugar, quase como uma Hidra.
Viu que o amigo não duraria nem mais quinze segundos e ergueu a espada sobre a cabeça, bradando ao mesmo tempo que atacava.
– Criai uma espada, nobre Apolo. A magia não será de muita utilidade, mas o ferro matará as criaturas assim que as atravessar.
O jovem feiticeiro não se fez de rogado. Contudo, em vez de uma espada, tratou de materializar uma metralhadora e começou a disparar em todas as direções exceto para trás, de forma a não ferir o amigo, que tratava de limpar a retaguarda.
Quando não havia mais nada, correram de volta e, mal chegaram à sala, Apolo tratou de fechar a passagem e desaparecer com a arma. Ofegante, olhava para o cavaleiro medieval e sorriu.
– Salvou a minha vida – estendeu a mão. – Obrigado. Eu já estava muito fraco.
Tremendo, Mônica aproximou-se e abraçou Apolo que, após, pegou a pistola da mão dela e travou.
– Obrigada, Allan – disse ela, sorrindo. – Como sabia que estávamos em perigo?
– Eu não sou feiticeiro, lady Mônica, mas tenho sangue de feiticeiro. Magias não me afetam a não ser de magos muito poderosos e a minha intuição fareja magia negra. A magia negra que foi usada aí era muito poderosa e só um grande demônio como Bryan poderia ter feito. Esses espectros sugam a nossa força ao fim de algum tempo.
– Por isso eu tava me sentindo tão cansado, então – comentou Apolo.
– Lembrai-vos, Apolo, que muitos demônios podem ser destruídos com elementos naturais. O ferro e o carbono para essas criaturas é fatal. Há outros mais difíceis de destruir, mas que a prata mata sem dificuldade. E tem os que são mortos pelo sol.
– Não me diga que existem mesmo vampiros – disse Mônica, exaltada. – Era só o que nos faltava.
– Muito bem, como será que ele nos achou? – perguntou-se o feiticeiro, pensativo. – Tudo o que eu desejava era encontrar um caminho para ajudar Helena.
– Ele devia saber disso, Apolo – comentou Allan. – Deve ter-vos preparado a armadilha. A má notícia é que provavelmente aprisionou a mulher para colher as suas vibrações. Qualquer nova tentativa para a localizar só servirá para o levar até vós, por isso deveis seguir por outro caminho.
– Bem, vamos dormir que fiquei cansado com a luta. – Foram para o quarto e deitaram-se.
Mônica aconchegou-se no seu ombro e beijou o pescoço do amigo, carinhosa.
– Acho que nunca tive tanto medo quanto hoje, meu amor.
– É verdade – disse Apolo. – Aquilo foi assustador, mas agora é preocupante.
– O que pretende fazer?
– Tirar você daqui antes de qualquer outra coisa.
– Por quê, uai?
– Você está grávida do meu filho, logo virou alvo e confesso que uma parte minha morreria, se algo acontecesse com você. Uai, afinal quem foi o primeiro a mostrar esse perigo?
– Isso foi muito doce, meu amor – disse. – Sim, eu mencionei o perigo.
– Foi doce e verdadeiro.
– E a Helena?
– Uma complicação de cada vez. – Apolo apertou-a mais contra si e beijou-lhe os lábios. – Vamos dormir, meu amor.
Apolo adormeceu rápido, mas Mônica ainda pensava em tudo. Ela sentia que Apolo vinha mudando devagar. Nada de drástico, mas mudava e isso deixava-a feliz. Nesses dois dias que esteve com ele, nunca chamou o nome da outra dormindo. No fundo, ela sabia que as afinidades entre ambos ajudavam muito e o filho que decidiram ter também. Suspirou e acabou adormecendo.
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