Capítulo 6 - parte 1 (rascunho)
"Para amar alguém, a primeira condição é poder admirar – admirar e respeitar."
Anne Frank.
Na praia, Allan ficou um pouco inibido, mas ele era um homem muito adaptável e, em pouco tempo, estava à vontade. Além disso, como a Mônica havia previsto, várias mulheres interessavam-se por ele que já entendia muito bem o jogo da sedução. Apolo e Mônica apenas ficavam juntos. Foram para a água nadar e brincaram bastante. Como Apolo era um excelente nadador, divertia-se a lhe pregar peças.
– Se você é tão bom assim, quero ver surfar de pé na onda, sem prancha – desafiou Mônica.
– Moleza – disse ele, rindo. Concentrou-se um pouco, e em poucos segundos andava sobre a água. Esperou a onda chegar e começou a surfar nela, mas não teve muita sorte porque Mônica fez surgir uma crista em cima dele que rebentou e jogou o amigo para o fundo.
Rindo, a garota esperou que ele retornasse, mas Apolo não aparecia e o sorriso foi desaparecendo do rosto. Começou a girar à sua volta, procurando algo e já ia gritar por socorro quando notou que o mar se abriu em um círculo grande, talvez uns dez metros de diâmetro e viu-se no chão, cercada de água por todos os lados, inclusive por cima, parecendo até uma cabana submarina. Apavorada, encontrou Apolo deitado no ponto mais afastado, inanimado. Com um gritou de desespero correu até ele e abraçou-o chorando. Olhou em volta à procura dos seus inimigos, uma vez que ninguém mais seria capaz de fazer aquilo, só que tudo o que viu foi o amigo abrir os olhos e sorrir. Mônica demorou um pouco a compreender, mas depois ficou bastante zangada e afastou-o, dando-lhe uns tapas.
– Que droga, Apolo – disse, ainda com lágrimas. – Você me assustou muito e ainda por cima me fez passar mal.
O jovem parou de rir e abraçou-a, mas ela repeliu-o, aborrecida. Respirou fundo para se acalmar e ia falar quando ele disse:
– Me perdoa, meu amor. Não foi intenção minha assustá-la tanto assim e muito menos deixá-la passando mal. – Gentil, puxou-a para mais perto e beijou, carinhoso. – Prometo que não farei outra brincadeira assim.
– Já lhe ocorreu que estamos dando a maior bandeira? – disse ela, voltando a sorrir. – Na praia devem estar tentando entender o que aconteceu porque notei que o salva-vidas é bem antenado.
– Impossível. Para eles, é como se não tivesse nada aqui. Especializei-me bem quando se trata de magia com a natureza, mas confesso que prefiro mesmo é a fúria das tempestades
– Ficou muito legal, sô – disse ela, olhando em volta. Com um sorriso malicioso, puxou-o mais para perto. – Quer dizer que ninguém pode nos ver?
– Nem pense nisso, sua tarada – disse ele, rindo da cara de decepção da amiga. – Vamos sair daqui. Trate de segurar a respiração.
Mônica riu e aspirou fundo, prendendo o ar. Logo a seguir, uma parede de água atirou-a para o lado e ela viu-se no fundo do mar, que ali não tinha nem dois metros.
Brincaram mais um pouco e saíram da água para se secarem ao Sol, perto do amigo que conversava com uma loira linda de morrer, segundo a opinião do Apolo e que lhe custou uns beliscões.
– Amor – disse Mônica. – Preciso de comer algo que estou com fome. Não esqueça que preciso comer por dois.
– Vamos almoçar, então. – Apolo levantou-se. Olhou para o amigo e a mulher e acrescentou. – Venham comer conosco.
Depois do almoço, Apolo levou os dois ao Barra Shopping que era o centro comercial mais próximo de onde estavam. A garota comprou tudo o que desejava e fez os dois amigos de burros de carga. Parou na praça de alimentação e disse, virando-se para eles:
– Tava a fim de um chope, mas vocês carregados assim acho que não...
Assustada, arregalou os olhos e sentiu um frio na barriga quando viu Apolo de braços cruzados, olhando para ele divertido. Ao seu lado Allan também não carregava um único pacote.
– O que foi que você fez com as minhas compras, uai? – disse, preocupada. – Você tem ideia de quanto esse trem custou?
– Eu? – perguntou Apolo, rindo e encolhendo os ombros. – Eu não fiz nada com elas. Apenas trasportei direto para dentro do porta-malas.
– Vixe, amor. – Mônica riu. – Essa eu gostei muito. Vou treinar para fazer o mesmo.
Apolo estendeu o braço e sorriu, pegando o dela.
– Vamos tomar um chope?
Sentaram-se em uma mesa a beber, descontraídos. Apolo olhou para o amigo e ficou pensativo. Quando notou, Mônica perguntou:
– O que o preocupa, amor?
– Nosso amigo Allan não tem a menor dificuldade em se integrar ao nosso tempo. É inteligente, versátil e aprende muito rápido. Eu pensava que, usando os nossos poderes deve ser muito fácil fazer uma identidade para ele e acho que, depois que a crise passar, ele merece levar uma vida normal.
– Você está coberto de razão – disse, em concordância. – Só não entendo a sua cara de preocupação.
– Ele precisa de aprender tudo o que um ser do século XXI sabe, coisas que se aprendem desde criança, escolher uma faculdade.
– Já pensou em contratar um professor particular? – perguntou ela, por sua vez pensativa.
– E o que vamos inventar de desculpa?
– Use magia, sei lá.
Apolo virou o rosto para o amigo.
– Allan. Ocê alguma vez viu Morgan enganar pessoas com seus poderes?
– Sim, Apolo – respondeu o cavaleiro. – Ele dizia que era uma das magias mais fáceis porque as pessoas gostam de ser enganadas. Dizia que bastava dar-lhes a imagem que desejavam e pronto.
– Acho que vou fazer isso – disse o feiticeiro, pensativo –, só que tenho que aprender bem como não deixar furo.
– Posso saber o que pretendeis fazer? – perguntou.
– Arranjar um professor particular para o colocar no século XXI. Depois forjarei seu histórico escolar e você vai para a faculdade. Enquanto isso eu o sustento e você trabalhará para mim, aprendendo algo que lhe agrade.
– Acredito que seja uma sábia decisão – disse Allan, feliz. – Eu preciso mesmo de me adaptar bem, já que não posso ganhar a vida como guerreiro.
– Poderia ser policial, mas acho arriscado por causa dos seus hábitos de guerreiro medieval.
― ☼ ―
Em uma região inóspita da capital fluminense um homem aguardava, calado. Encontrava-se no alto de um morro cuja vista era deslumbrante, desde que se olhasse para a frente porque, para baixo era uma favela muito feia por natureza. Várias casas, quase todas, na verdade, estavam inacabadas ou continham acréscimos, os famigerados "puxadinhos" e "lajes", sem pintura e algumas nem mesmo janelas decentes. Era um lugar pobre, de gente sofrida que trabalhava de sol a sol e ainda precisava de conviver em um lugar em guerra constante entre a lei e o crime organizado. Não muito longe de onde estava, um sujeito bastante novo segurava de forma displicente uma metralhadora que ficava apontada para o solo. Ele vestia uma bermuda suja e uma camiseta que já deve ter sido branca. Um colar grotesco ornava o seu pescoço e tinha os olhos cobertos por óculos escuros de vidros espelhados.
O criminoso estava em cima de uma "laje", encoberto por uma parede inacabada e mantinha vigília constante. Debaixo, na ruela suja, outro homem também armado, mas com um fuzil, subia tranquilo, fazendo um gesto descuidado para o guarda ao passar por ele.
Ele atravessou a passagem sem ser incomodado e entrou na casa, onde era aguardado.
– Encontraram a mulher? – perguntou o sujeito calado.
– Sim, patrão, bem como seu vô disse di modo di nois percurar ela – respondeu o marginal, sorridente enquanto encostava a arma na parede. – se quiser, nóis pega ela pra tu, é só mandar.
– Não – disse ele, taxativo. – Essa mulher eu pego e trato dela. Só quero que vocês preparem um lugar para ela. E tem uma coisa: ela deve ser tratada como uma princesa, Ninguém toca nela. Se tocar, eu mato, mas antes farei sofrer muito, entendeu? Se tocar um fio de cabelo dela já era.
– Tranquilo, patrão. A mulher é de você e nóis não taca a mão, pode ficar descansado que eu passo recado pra tu.
– Ótimo. Esta noite eu virei com ela – disse. – O carregamento de Minas já chegou?
– Chegou sim. Coisa boa dimais da conta – respondeu. – Os fogos foi lançado no mesmo dia e já vendemo muito pó.
– Excelente – disse Carlos, sorrindo. – Preparem a minha casa secreta que talvez precise de utilizar em breve.
– Vai levá a princesa?
– Ela também irá, mas mais tarde – disse, sério. – Por enquanto vai ficar no cativeiro. É um assunto meu.
– Certo, patrão. Você qui manda – disse o marginal voltando a sair.
O chefe dos criminosos retirou-se para o quarto ao lado e fechou a porta. Era um quarto luxuoso para a qualidade da moradia, com uma cama box, um excelente armário, uma televisão de cinquenta polegadas presa na parede e, em um canto, uma mesa e uma cadeira, bem em baixo da janela que possuía vista para o mar. Em cima da mesa havia um notebook, mas não foi isso que ele pegou. De uma mochila ao lado, jogada em cima da cadeira de forma displicente, ele retirou uma bola de cristal do tamanho de um punho humano, talvez um pouco mais. Jogou a mochila no chão e sentou-se, apoiando as mãos na mesa. Fixou o olhar na bola de cristal e esvaziou a mente. Fez um esforço enorme e demorou bastante, mas ao fim de quase meia hora a bola de cristal deixou de ser transparente para ficar esfumaçada. Por último, surgiu a tão desejada visão. Era uma mulher que, naquele momento, estava muito alegre a passear com o seu tão odiado inimigo em um shopping center.
Carlos procurou obter informações sobre ela através das observações que fazia, mas notava que isso ficava cada vez mais difícil com o passar do tempo.
– Você não perde por esperar, Mônica – resmungou em um murmúrio. – Em breve, eu vencerei e seu namoradinho morrerá pelas minhas mãos. Você será subjugada e passará a ser minha. O babaca que se babe pela loirinha insípida porque você é dez vezes melhor que ela. Só o idiota que não vê. No final, ele ficará sem nenhuma de vocês.
― ☼ ―
Fogos: nas favelas do Rio comandadas por traficantes, eles estouram fogos de artifício para informar que a droga chegou.
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