Capítulo 4 - parte 2 (rascunho)
Sir Allan e seu pajem iam para uma missão a desígnio do rei, que soube de ataques estranhos na Cornualha. As suspeitas eram de que um grupo de bandoleiros andava por lá, assaltando e molestando os camponeses. Como a viagem era longa e cansativa, ele fez com que selassem os dois melhores cavalos que tinha. Ao contrário de muitos cavaleiros que tratavam mal os pajens, forçando-os a ir a pé ou em uma mula, sir Allan achava que o auxiliar deveria estar à sua altura para o poder servir com eficiência. No seu castelo, todos os subordinados eram tratados com decência e humanidade, não só por ele, mas também entre si, do contrário haveria represálias e até castigos.
Esse jovem que o acompanhava era o seu ajudante preferido, um rapaz novo e robusto, sempre de boa vontade e muito inteligente. Em retribuição pelo excelente serviço prestado, o cavaleiro sempre reservava dois horários do dia para o ensinar a combater, em geral ao amanhecer e no fim do dia. Naquele momento, após tratarem os animais e montarem acampamento para pernoitar, ambos treinavam o combate individual com espada e escudo.
– Levantai a guarda, Thomas – disse sir Allan, atacando por cima enquanto defendia o golpe de espada com o escudo. – Sede mais enérgico, garoto. Isso mesmo, muito bom. Acredito que já sois capaz de enfrentar um espadachim de categoria e derrotá-lo.
Allan sorria, satisfeito com a evolução, incentivando o rapaz que se esforçava bastante. Pouco depois pararam e o pajem foi preparar a refeição. O cavaleiro sentou-se encostado a uma árvore, curtindo o resto de sol que havia no horizonte enquanto, distraído, mordia uma folha de alguma erva. A primeira surpresa que teve, foi que o silêncio era total; de uma hora para a outra, não ouvia mais nada, nem mesmo os resfolegar dos cavalos ou Thomas com os utensílios. A segunda coisa foi uma bruma intensa que baixou sem explicação em um dia que esteve quente e lindo. Assustado, levantou-se e olhou em volta, descobrindo que estava só em um bosque sombrio. Pegou a espada, da qual nunca se separava, e desembainhou a arma, virando-se para todos os lados, muito desconfiado.
– Seja quem for que haja feito isto, aparecei – berrou, nervoso.
– Não temeis, nobre cavaleiro – disse uma voz enquanto um vulto aproximava-se, devagar. – Sou eu, vosso amigo Morgan.
Tão logo o rosto do mago se fez visível, Allan baixou a guarda, embainhando a espada e dando um sorriso alegre.
– Assustastes-me. sir Morgan – disse, fazendo um gesto para o bosque à sua volta. – Por que motivo tanto trabalho para vos ocultardes?
– A minha intenção é uma conversa a sós convosco sobre algo de vital importância, nobre Allan – respondeu o mago. – Bem sei que confiais em Thomas, mas o caso em questão exige muita... digamos, diplomacia. Se o jovem Thomas souber o teor da nossa conversa, poderia haver uma catástrofe.
– Deixais-me demasiado curioso, sir Morgan – disse Allan, voltando a sentar na árvore. – Sentemo-nos, então, e dizei o que se passa.
– Primeiro, sabeis que eu não posso mudar certos desígnios do Altíssimo, correto?
– Claro, sir Morgan – Allan encolheu os ombros. – O que Ele determina não deve ser mexido.
– Pois é – continuou Morgan. – Cinco anos atrás, eu salvei a vossa vida e vós dissestes que se eu precisasse de algo...
– Ora, sir Morgan – disse Allan, sorrindo feliz. – Eis-me aqui para cumprir a promessa e resgatar a minha dívida. É algo que farei com todo o prazer.
– Fico feliz em saber disso, porque essa promessa salvar-vos-á a vida mais uma vez.
Allan arregalou os olhos e nada disse, aguardando mais informações. Quando viu que o cavaleiro permanecia em silêncio, Morgan continuou:
– Em dois dias, alcançareis o vosso destino e encontrareis os bandoleiros que assolam a região. São seis homens fortes, bem armados e treinados. Renegados das terras altas do norte. Vós lutareis e matareis quatro sem dificuldade, mas o quinto ferir-vos-á de forma grave que vos levará à morte. Como eu disse, os desígnios Dele não podem ser modificados. Ao salvar a vossa vida, mudei isso e Ele reclamou outra vez a vossa vida porque nesta região e época, não tendes mais função.
– Mas então, como salvareis a minha vida mais uma vez?
– Porque pretendo enviar-vos para outro local em outra época; um futuro distante onde tendes de salvar alguém de suma importância. No momento em que fordes ferido de morte, sereis transportado para outro local e no vosso lugar ficará outro corpo idêntico ao vosso, mas sem vida. Nesse novo mundo e época, podereis começar de novo se Ele assim decidir e permitir.
– O que deverei fazer?
– Bryan evadiu-se. Foi derrotado de forma vergonhosa após eu procurá-lo para reclamar a morte da minha mãe, assassinada de forma vil por ele. Tivemos um combate violento e venci-o, mas ele fugiu e jurou que mataria todos os meus descendentes até ao último. Ele já conseguiu fazer isso, mas falta mais um, o último e o mais importante deles.
– Deverei proteger vosso descendente a qualquer custo, eu suponho.
– Exato, sir Allan – respondeu Morgan. – Bryan escapou deste tempo. Ele mandou criaturas para matar todos os meus descendentes, mas, para este e por ser o último e mais importante, ele decidiu não só mandar uma criatura, mas foi em pessoa, aproveitando para escapar de mim. A grande vantagem é que ele está preso no futuro e não conseguirá voltar, sem falar que consumiu muito das suas habilidades. Contra a sua magia negra, meu descendente de nome Apolo poderá enfrentar porque é muito forte, apesar de desconhecer toda a extensão dos seus poderes, pelo menos por enquanto, mas, contra certas criaturas, temo que seja vulnerável, totalmente vulnerável.
– Muito bem, sir Morgan – disse Allan, levantando-se. – Vosso desejo é uma ordem para mim. Só tenho pena que não cumprirei as ordens do rei. Dizei-me uma coisa: por que Thomas não pode saber?
– Não pode saber porque as ordens do rei serão cumpridas por ele em pessoa – explicou Morgan. – Quando ele vir a vossa morte, ficará possuído de tamanha fúria que enfrentará os assaltantes restantes, mas será muito ferido, muito grave mesmo, apesar de os vencer e matar. Acontece que ele será salvo por uma linda jovem e, após enterrar o vosso falso corpo, levará a notícia para o rei que o sagrará cavaleiro pelo seu ato de heroísmo e bravura. Esse rapaz desposará a jovem que o salvou e, um dos filhos deles emigrará para outro condado onde, em muitos anos, um de seus descendentes descobrirá um novo mundo além do mar, ao norte. Ele não pode, em hipótese alguma, fugir do seu desígnio. Apenas vós podeis.
– Compreendo, sir, Morgan – disse Allan, encolhendo os ombros com um sorriso. – Gosto muito do rapaz. Como faremos para que eu saiba de todos os detalhes?
– Esse é o outro motivo de estardes aqui, sir Allan – explicou Morgan, dando uma risada. – Neste pequeno bosque que criei, o tempo não passa e poderei explicar tudo o que precisardes. Após, descansareis e, quando dissipar as brumas, estareis no mesmo lugar e hora de onde vos terei.
– Vossos poderes são impressionantes, sir Morgan – disse Allan, sorrindo. – Não é por acaso que haveis derrotado Bryan.
– Em primeiro lugar, devereis obedecer cegamente o jovem Apolo porque aquele tempo é muito diferente daqui e apenas ele poderá livrar-vos de problemas. Entendeis?
– Sim.
– Além, disso – Morgan estendeu um anel de ouro com um rubi no centro. – Deveis entregar esta joia para ele que também o ajudará a centrar os seus poderes, sem falar que Apolo precisará muito dele...
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– Então o seu pajem é ninguém menos que o ancestral de Colombo, é? – perguntou Apolo risonho. – Interessante ouvir uma singela aula de história assim, uma que é desconhecida nos dias de hoje.
– Colombo? – quis saber o cavaleiro. – Quem seria esse cavalheiro?
– Cristóvão Colombo foi o descobridor do continente Americano, na época chamado de Novo Mundo – explicou Apolo. – Você está nesse continente, mas no sul, bem pro sul. Pelo que eu entendo, o seu pajem não teria gerado os ancestrais de Colombo se não fosse por você ser morto, digamos assim.
– Verdade – comentou, Allan. – Por esse ponto de vista, tendes razão.
– Não me parece que eu seja assim tão importante – retrucou Apolo, pensativo.
– Mas sois sim, nobre Apolo – insistiu sir Allan. – Sir Morgan mostrou-me o futuro e vós sois demasiado importante. Bem, desculpai-me, mas não vos posso contar nada porque ele me fez jurar segredo.
– Continuo sem muita certeza disso – afirmou Apolo. – Mas prossiga com a sua história que estou bastante curioso.
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