Capítulo 2 - parte 3 (rascunho)
– Não, não, não, não, não – disse Mônica, aflita. Ajoelhou-se e puxou a cabeça dele para si, erguendo-o. – Não invente de morrer aqui, meu amor, ainda mais agora que provei seu gostinho.
Devagar, fez carinho nele e depois deu uns pequenos tapas no rosto para o acordar. Sentou-se no chão e deixou-o sobre a sua perna.
– Ai, meu Deus, o que faço? – perguntou-se, falando baixo. A seguir, berrou. – Ei, seu Morgan, dê uma forcinha aqui, sô.
Apesar de todo o barulho que fez, continuava escuro e quieto. Cada vez mais assustada, ela começou a chorar.
– Não me deixa, Apolo – pediu, aos prantos.
O lamento não durou muito e Mônica acalmou-se, censurando a si mesma pela atitude infantil. Verificou os sinais vitais do amigo e constatou que estavam normais. A escuridão era tanta que ela pegou o telefone no bolso e ligou para ter um pouco de luz do painel, mas descobriu que o aparelho estava descarregado e isso deixou-a frustrada e irritada. Fez um carinho na sua testa e notou um brilho fraco do medalhão, no peito, segurando-o com a mão livre e descobrindo que ele ficava mais forte. Com cuidado, retirou a joia do pescoço dele e colocou-a, sentindo logo que o brilho se intensificava. A seguir, desejou luz.
Ela pensava que era simples quando Apolo fazia, mas fez a triste constatação que não era nada fácil porque continuou no escuro, apesar de o medalhão ter pulsado mais. Falando alto para coordenar os pensamentos, continuou:
– Vamos lá, só uma luzinha, uai. – Fez um esforço maior. – É só uma luzinha, Mônica...
Estava de tal forma concentrada a tentar criar uma iluminação que não deu por ela, um brilho fraco que se formou. Quando a luz aumentou um pouco mais, notou e ficou mais tranquila, contente com a vitória alcançada. Voltou os olhos para o rosto do amigo, que parecia sereno. Pensou em ir à saída para ver se ainda estavam no mesmo lugar ou caíram de volta na realidade, mas teve medo de sair de perto dele. Por isso, voltou a tentar reanimá-lo.
– Vai, meu amor, acorda – disse, dando-lhe uns tapinhas.
Ainda de olhos fechados, Apolo disse:
– Pare de me bater, mulher, que isso dói, caraca. – Abriu os olhos e viu a claridade suave. O rosto dela entrou no seu campo de visão e deu-se conta de que estava muito aflita. Tentou acalmá-la com um sorriso, mas tudo o que conseguiu em troca foi uma cara brava. Levantou-se e abraçou-a, entretanto ela deu-lhe um tapa no ombro.
– Desgraçado, quer me matar de tristeza?
– Desculpe, mas fiquei tonto de repente – levantou-se e puxou a sua mão. – Já estou bem. Vamos? Que luz fraca é esta?
Notou o medalhão no pescoço dela e entendeu logo o que ela fez, sorrindo. Poucos segundos depois, o fraco brilho deu lugar para uma luz forte.
– Pelo jeito você tem mesmo poderes, já que conseguiu usar o medalhão.
– É verdade, mas você consegue até sem ele, meu amor – respondeu, devolvendo a joia. – O que será que aconteceu com você?
– Acho que foi o esforço, que nem Morgan falou – disse. – Já que você consegue usá-lo, fique com ele para aprender.
– Não, amor, esse medalhão pode ser a única coisa a protegê-lo deles. Você deve ficar sempre com ele.
– Tem razão – disse Apolo. – Mas aqui e a sós, acho que você pode usar um pouco. Vamos para fora que preciso de um sol.
Assim que chegaram à saída, pegaram os cavalos e montaram, seguindo a trilha de volta e conversando. No momento em que a magia se desfez, Apolo disse:
– Está com calor, gatinha?
– Bastante – respondeu ela.
– Que tal um banho de cacheira que tem aqui perto? – perguntou Apolo. – É uma verdadeira maravilha.
– Temos que ir ao hotel pegar o biquíni, amor.
– Pra quê? – Ele riu e encolheu os ombros. – O lugar é deserto. Vamos relaxar um pouco que vale a pena.
– Tá bom – disse. Sapeca, continuou. – Quem sabe agora me aproveito um pouco de você.
― ☼ ―
Estavam ambos deitados em cima de uma laje, à sombra, deixando os corpos secarem para vestirem as roupas e retornarem. Distraído, Apolo perguntou:
– Quantas pessoas você acha que têm poderes mágicos e não sabem?
– Boa pergunta – disse ela. – Eu jamais imaginei, apesar de ter muitas indicações disso, como uma forte intuição. Mas, se você está pensando na Helena, acho melhor não alimentar ilusões. O comportamento dela nunca foi fora do normal, como nós dois.
– Caraca, você é uma bruxa dos diabos – ripostou.
– Não preciso de ser bruxa para saber que pensava nela, meu caro Apolo – disse Mônica, rindo. – Você só pensa nela! Fala com ela quando dorme. Você respira Helena, meu amor. As outras mulheres, como eu, são apenas um intervalo ou distração na sua vida porque você não a tem a ela.
– Epa, também não é assim.
– Claro que é – insistiu Mônica com um suspiro. – Não se preocupe que não estou chateada e sei muito bem o que ambos fazemos. Você mesmo disse que nunca deixou outra mulher entrar na sua vida além de simples sexo, lembra?
– Deixei você entrar.
Mônica sorriu e virou-se de lado, abraçando-o e beijando com força. Depois, disse:
– Eu invadi o seu espaço, meu amor, e tem o fato de você ter sido apaixonado por mim antes da "outra" – riu. – Mas me diga uma coisa: eu ter entrado foi ruim?
– Não, não foi nem um pouco. – Apolo encolheu os ombros e sorriu. – Também gostei. E se a gente casasse, como seria?
– Eu era muito apaixonada por você, meu amor, mas acabei seguindo a minha vida, só que você meio que me despertou algo novamente. Talvez fôssemos um ótimo casal com dois lindos filhos, mas não vai rolar nem a pau.
– Gostaria de ter filhos?
– Sim, muito – respondeu. – Até já pensei em uma produção independente porque nunca fui feliz nos meus relacionamentos a ponto que me casar.
– Eu também queria ter filhos – confessou ele. – Por que motivo o "não vai rolar"?
– Porque, como eu disse antes, você respira outra mulher, meu amor, e um dia vai encontrá-la e resolver isso. Tenho a certeza.
– Não sei – disse Apolo, encolhendo os ombros. – Eu parei de me entregar a ilusões há muito tempo e já cogitei em ir a um psicanalista porque isso não é normal. Cada vez mais eu penso em assumir uma nova vida.
– Acredite que vai acontecer algo – insistiu Mônica. Ambos ficaram calados por alguns segundos até que ela disse. – Você me daria um filho, meu amor?
– Pra você daria sim. Gosto muito de você, uai, e também gostaria de ter um filho.
– Falaremos a respeito outra hora, quem sabe. – Ela riu, levantando-se. – Vamos, vista as roupas que estou morta de fome.
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