Capítulo 13 - parte 1 (rascunho)

"O poder revela o homem."

Sófocles.


Apolo caiu na cama e, antes de apagar, disse:

– Lembre-se que você disse que ia casar comigo, viu, sô? Não vá fugir da raia agora.

– Não vou, meu amor – respondeu, rindo. – Eu caso sim.

Ela nem sabia se ele chegou a ouvir isso, mas ficou pensativa a respeito do futuro e também sobre o passado. Eles não tinham mais nada a temer porque o inimigo não era pário para os dois. Sentia-se triste por não ter todas as lembranças do que viveu, mas, por outro lado, pensava que talvez fosse bom porque deve ter sofrido um bocado, sozinha no passado criando o filho deles. Aquelas palavras, contudo, desencadearam uma lembrança fugaz do seu namorado a pedi-la em casamento. – "Você quer casar comigo, meu amor?" – foi a pergunta, bem simples. – "Quero, mas no século XXI, então trate de conseguir resolver isso logo" – foi a sua resposta.

Mônica sorriu e adormeceu devagar. Algumas horas depois o relógio despertou-a e ela foi revesar o cavaleiro que foi se deitar junto com a namorada.

Sentou-se na varanda, ouvindo os ruídos da madrugada. A noite estava tão calma que não se havia ouvia barulho algum, nem mesmo um carro nas ruas. Era uma noite quase mágica, de paz e alegria se ela não soubesse que o mal estava à espreita.

Acreditava que a próxima tentativa seria ou psicológica ou de intimidação por parte dos criminosos. Para qualquer dos dois, estava certa de que poderia enfrentar sem dificuldades. Lembrou-se do seu telefone e que ele poderia ser usado para falar com o outro lado. Concentrou-se e ele surgiu na sua mão. Pensou um pouco sobre os riscos, até que decidiu agir e ligou o telefone. Estava na hora de enfrentar os inimigos e, de qualquer forma, eles já sabiam o caminho.

Nem trinta segundos depois, ele tocou:

– Alô – disse ela.

– "Oi, meu amor, estou muito contente por estar viva" – era a voz de Carlos. – "Pronta para desistir?"

– Vou matar você, Carlos, você e seu vovô demente, eu juro. Você passou dos limites, sô.

– "Seria engraçado ver isso" – disse ele. – "Não imagino como escapou do tiro, mas, como disse, fico muito feliz. Quando eu matar Apolo, vou transformar você na minha escrava sexual. Meus homens estão se preparando para invadir pelo amanhecer, daí eu quero ver. Esse seu mágico de araque é só fachada. Quero ver ele me enfrentar a mim e ao Bryan juntos."

– Ver o quê se você é burro demais para compreender que eu posso matar você quando bem entender? – Mônica riu. – Acho que nunca me viu atirando, mas dez dos seus amiguinhos já viraram comida de verme, lá na fazenda. Eu voltei a namorar Apolo e estou muito feliz. Para sua informação, nós vamos casar. Você é tão burro que nem notou que já perdeu. Pergunte pro seu vovô.

– "Bryan superestima Apolo" – disse Carlos. – "Ele deve ter esgotado toda a sua força na praia e, por isso, anda tão quieto."

– Ele estava quieto para me salvar da morte e conseguiu, Carlos. Não seja burro de subestimar Apolo. Pelo menos o seu vovozinho não é tão idiota.

– "Não estou subestimando" – disse Carlos com uma risada grotesca. – "Eu sou capaz de dar conta daquele idiota. Não pense que ainda estou igual como era antes."

– Sei, você se acha o tal superpoderoso. – Mônica riu. – Eu não sei se lhe mostro o quão ridículo é o seu poder ou se lhe meto logo uma bala na cabeça.

– "Você vai rastejar aos meus pés, Mônica... AI!" – O grito de Carlos fez a feiticeira rir.

– O que foi, burraldo? – perguntou ela, debochada. – Não gosta de choque na orelha?

– "Como fez isso?"

– Seu babaca, eu podia ter explodido o telefone nessa sua orelha inútil. Acha que apenas Apolo tem poderes? – disse ela, dando uma grande risada para ele ouvir e desligando a seguir.

― ☼ ―

Quando começou a amanhecer, Mônica viu um vulto no muro e concluiu que os criminosos estavam a invadir a casa. Levantou-se e foi ao quarto, acordando o noivo.

– Amor, temos problemas – disse, sacudindo-o. – Você está melhor?

Apolo abriu os olhos e sorriu, alegre.

– Agora estou bem melhor – respondeu. – O que foi?

– Invasão.

– Deixe os outros dormirem – disse ele, levantando-se. – Vamos enfrentá-los nós dois.

– Claro. Vá na frente – pediu, indo ao banheiro. – Mas tenha cuidado que tinha um no muro. Deve estar quase entrando.

– Sem problema, mas agora a paciência esgotou e não serei mais bonzinho.

– Deixe o bosta do Carlos para mim, tá?

– Pode pegar os dois, se quiser – respondeu já da porta do quarto. Na dúvida, acionou a defesa luminosa em volta do corpo e saiu.

O bandido andava agachado, aproveitando que ainda era escuro demais para se distinguir além das sombras. Quando olhou para a sala viu um homem brilhando em cor azul e vacilou, mas foi por pouco tempo. Ergueu a arma e notou que o outro levantou a mão. Rindo, ficou a pensar o que o sujeito poderia fazer com as mãos nuas. Preparou-se para atirar quando ouviu um barulho de ar ionizado. Um raio saiu da mão do homem e atingiu-o em cheio. Antes mesmo de compreender o que aconteceu, os trinta milhões de volts carbonizaram-no no ato. Com outro gesto, os restos mortais transformaram-se em pó e, a seguir, um pequeno vento formou-se provocando um redemoinho e carregando as cinzas para cima, sumindo no nada.

Apolo suspirou, anulou a sua barreira de proteção e decidiu mudar de tática porque estava a ficar monótono, sem falar que não se sentia bem matando, mesmo que em legítima defesa. Não demorou para localizar dez sombras no muro. Ergueu as mãos e o tempo fechou, escurecendo ainda mais e acabando com a luz tênue da aurora.

Os invasores vinham sorrateiros, confiantes na superioridade tanto numéria quanto de armamentos. Mal andaram uns poucos metros, ouviram um barulho estranho e pararam. Era algo que se arrastava de forma muito sutil, mas nada se via. O da frente fez sinal e agacharam-se em silêncio, apontando as armas para todos os lados. O vento começava a ficar um pouco mais forte e já não ouviam o ruido desconhecido, mas, mesmo assim, o líder aguardou um pouco antes de autorizar o avanço. Olhavam para a casa e viram um homem na varanda que olhava para a frente, como se os ignorasse. O atacante, contudo, sabia que, com aquele tempo, devia ser muito difícil o sujeito vê-los. Ele estava desarmado e estático, motivo pelo qual decidiu continuar avançando. Fez sinal aos companheiros e levantou-se, imitado pelos demais. Nesse momento, sentiu uma coisa estranha roçando os seus pés e olhou para baixo, assustado.

Uma trepadeira de espinhos crescia em velocidade vertiginosa e galhos laterais enrolaram-se nas suas pernas. Tentou chutar e recuar, mas caiu. Soltou um berro involuntário e descobriu que não teria ajuda de ninguém porque os seus colegas estavam na mesma situação. A trepadeira enrolou-se a ele, imobilizando-o. No início tentou soltar-se; mas, quanto mais esforço fazia, mais apertado ficava e os espinhos começaram a se enterrar na carne, provocando bastante dor. Ele parou de se debater e o aperto reduziu, mas alguns parceiros não tiveram inteligência para isso e começaram a berrar de dor.

Apolo sorriu com o resultado e relaxou porque parecia não haver mais atacantes. Mônica surgiu ao seu lado, usando um vestido branco e estava linda. No seu pescoço, portava pendurado o Medalhão do Poder.

– Você fica linda assim... – arregalou os olhos. – Uai, você não tinha entregue o medalhão práqueles...

– Olha o palavrão, amor.

– Desgraçados? – remendou, rindo.

– Eu queria que eles pensassem isso, que pensassem que você estava desprotegido. Assim, poderiam cometer erros. Eu nunca entregaria esta maravilha para aquele canalha. Fiz uma cópia com meus poderes e dei alguma força para ela iludí-lo, mas não tem o poder deste. Naquela noite que viemos para cá, lembra que pedi para pegar umas coisas no closet? – perguntou, pegando a sua mão. – Pois é, escondi lá o medalhão de volta.

– Mas por que não me contou?

– Contei para Helena que deixei uma coisa no seu quarto. Falei para ela lhe contar apenas quando a gente fosse embora, mas acho que você não deu importância. Na época eu não queria que pensasse que estava forçando a barra para reconquistar você.

– Nesse caso, mantenha-o escondido até aquele demônio aparecer que o efeito será bem mais interessante.

– Uai, sô. Boa ideia – disse rindo e escondendo o medalhão debaixo do decote. – Eta trem bão o susto que ele vai tomar. Você inventou de escrever um livro sobre nós, amor? Peguei seu tablet para ler alguma coisa e vi.

– Eu me divirto fazendo isso, mas, desde que você foi baleada não consegui escrever mais. Tá muito rim?

– Claro que não – disse, rindo e beijando o noivo. – Tá lindo e vai ter que acabar a história.

– Olhe, vem mais uma dúzia pulando o muro – disse Apolo, apontando com o nariz. – O que sugere desta vez? A trepadeira foi engraçada.

– Parece que você quer tocar o terror nos caras, amor – respondeu ela, rindo. – Faça-os pensarem que estão perdidos em uma floresta densa e cheia de perigos assustadores, bem assustadores.

– Tipo?

– À, podemos começar com árvores densas e grandes, bem macabras e que lhes impeçam de recuar – disse ela, estalando os dedos e fazendo-as crescerem do chão. – Apenas para começar.

Apolo olhava os homens desorientados, de armas em punho, andando em uma floresta que, segundos antes, não existia e que, por motivos óbvios, era sem fim. A escuridão para eles tornou-se ainda maior, mas apolo usou os seus poderes para que o casal visse tudo.

– Boa, agora eles estão desorientados – disse ele. Fez um gesto leve e a temperatura local caiu vinte graus. – Um pouco de frio para incentivar.

– Isso não é frio, uai – disse ela, rindo. – Isso é uma geada das bravas, sô. O que mais faremos?

– Acho que podemos colocar umas plantas carnívoras para prenderem um ou dois, anjo. O que acha, faço?

– Sensacional, amor – Mônica deu uma gargalhada. Apolo olhou para a floresta e algumas plantas do tipo trepadeira moveram-se entre as árvores e amarraram dois homens, que começaram a berrar. De outro galho maior, surgiu uma flor linda que tinha a forma de cone, vermelha, e ela abriu-se, exalando um cheiro de podre. Um dos colegas começou a atirar na flor e destruiu-a, mas surgiram duas para a substituir e ele desistiu, parando e vendo a flor descer sobre os homens e fechar-se.

– Esses dois devem pensar que estão no purgatório, amor – disse o feiticeiro, rindo. – A próxima é sua. O que pretende fazer?

– Uma boa selva precisa de alguns bichos assustadores. Só não sei se um dinossauro ou um grande tigre.

– Ora, faça surgir um tigre dentes de sabre – sugeriu Apolo, rindo. – Deve dar um susto dos infernos.

– Isso, amor, você é a minha inspiração. – Mônica bateu palmas e surgiu um tigre enorme, talvez com uns dois metros de altura e cujos caninos tinham mais de trinta centímetros.

– Não, meu anjo – Apolo beijou-a. – Você que é a minha inspiração, sempre foi, desde o início. Foi você que praticamente me ensinou a usar os meus poderes desde o início.

Pararam de falar e ficaram a olhar divertidos os homens a correr de um lado para o outro, embrenhando-se no meio das árvores enquanto o felino gigante brincava de os perseguir tal e qual um gato faria com ratos.

– O que acha de uns gorilas gigantes para os prender, já que aqueles quatro dementes ali subiram nas árvores? – perguntou Apolo, debochado.

– Fantástico, amor, deixa comigo.

Os quatro homens que se julgavam seguros cinco metros acima do nível do solo foram logo agarrados por um bando de gigantescos macacos que os pegaram e levaram pelas árvores.

O casal, sem piedade, ouvia os gritos que os criminosos davam, desesperados. Alguns atiravam nos símios, mas nada lhes acontecia e acabaram gastando toda a munição. Dos vinte e dois invasores, quatorze já não falavam, alguns por se acharem mortos, apesar de não estarem porque apenas tinham sofrido privação sensorial total.

– Uai, sô – disse Mônica. – Esse tiroteio vai acordar os outros.

― ☼ ―

Privação Sensorial – é como se todos os sentidos fossem desligados. O cérebro não recebe mais qualquer tipo de informação como: luz, temperatura, som. Fica apenas o pensamento puro e é o que se assemelha à morte. Pode levar à loucura. N.A.

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