Capítulo 12 - parte 1 (rascunho)

"O poder nasce do querer. Sempre que o homem aplicar a veemência e perseverante energia de sua alma a um fim, vencerá os obstáculos, e, se não atingir o alvo fará, pelo menos, coisas admiráveis."

José de Alencar.

Apolo passou o dia relaxando e absorvendo toda a energia que precisava para estar em plena forma. Ele descobriu que a luz do sol ajudava a ficar mais forte e passou parte do dia nadando ao sol, mas de forma moderada. À noite, já se sentia muito forte e decidiu fazer uma experiência, mas primeiro avisou os amigos, para não assustar ninguém.

A seguir, no jardim e a dez metros de uma árvore grande, ergueu a mão e fez um gesto rápido. Um raio da grossura de um homem, uma das coisas que ele mais gostava, saltou da sua mão e atingiu a árvore, que explodiu em pedaços.

– Credo – disse Allan. – Você está cada vez mais forte!

– Acho que estou em forma – respondeu, estalando os dedos.

As labaredas desapareceram e, boquiabertos, os outros viram a árvore ressurgindo. Cada pedaço dela foi subindo no ar e se juntando, dando a forma original. Quando estava tudo unido, um brilho fugaz envolveu o conjunto e a árvore voltou a ser o que sempre foi.

– Boa noite, gente, vou tentar o milagre.

– Boa sorte, meu filho – disse Cecília.

Apolo preparou-se bem. Usava roupas adequadas para grande mobilidade e, após pensar um pouco, desistiu de levar a espada já que podia forjar uma, se necessitasse. Agora era uma questão de acertar o tempo. Concentrou-se e fez a primeira tentativa.

― ☼ ―

Alana sentia-se muito abatida, naquela manhã. O filho estava longe a fazer um trabalho a pedido do rei e Apolo não aparecia há anos. Outra tristeza foi saber que a criança que ajudou a criar assassinou o próprio pai, um homem por quem ela tinha um carinho todo especial.Apolo já a havia avisado, mas a feiticeira achava que conseguiria mudar o filho adotivo.

Sentia-se tão só e infeliz que daria de bom grado toda a sua imortalidade por apenas uma hora nos braços do seu bem-amado, mas parecia que não seria atendida, não naquele momento. Ouviu um resfolegar e bater de asas bem vigoroso. Ela vivia na periferia da aldeia, mas a gritaria de pânico que se seguiu foi de tal forma intensa que correu para a rua. Não muito longe, dois dragões circulavam e ela podia ver um terceiro, mais afastado. Nesse momento soube o porquê do filho adotivo ter morto o pai. Bryan sabia dominar dragões e o filho matou-o para pegar a informação da magia.

Fez um gesto e as suas roupas mudaram no mesmo ato. A seguir, certificou-se de que as suas pedras estavam consigo e o colar no pescoço. Finalmente, o seu corpo ficou envolto em uma luminosidade azul e a feiticeira aguardou o ataque. Com as mãos apontadas para o solo a uns dez metros, fez a água do riacho, que ali passava, avolumar-se. Ela lembrava-se muito bem como Apolo deixou atordoado o grande dragão.

Um barulho da porta da sua casa fê-la ficar feliz pela primeira vez nos últimos anos.

– Está atrasado, meu amor.

– Desculpe, minha princesa, mas é muito difícil acertar estes cálculos sem saber como – disse Apolo, aproximando-se e beijando a namorada. – Precisei de fazer seis tentativas. Pronta para ir para casa?

– Estou pronta faz muito ano, Apolo – disse, feliz. – Eu ataco o da esquerda e você o da direita.

– Combinado, mas se o terceiro se aproximar, cuide dele e deixe os dois para mim.

Apolo olhou o dragão. Era bem menor do que o que mataram, e a cor diferente. Esse era amarelado, enquanto o que Mônica ia enfrentar era vermelho, contudo, tratavam-se de criaturas igualmente belas.

– Como são lindos! – exclamou. – Dá uma dó ter que os matar!

– São eles ou nós, amor.

O dragão mergulhou e o jovem fez o vento virar, cavalgando-o em um voo mortal para cima do monstro. Tão logo estava a poucas dezenas de metros dele, um raio de tal forma intenso que transformou o anoitecer em dia claro saiu da sua mão e acertou o dragão no focinho. Atordoado, ele caiu e Apolo mergulhou para cima da criatura enquanto prestava atenção na namorada para ver se ela precisava de ajuda, mas a Mônica acabara de fazer o inimigo dela engasgar-se com a água e, a seguir, deixou uma grande quantidade de pedregulhos caírem sobre ele. Mal estava a dois metros do dragão dele, saltou sobre a sua cabeça e enroscou as pernas em volta do pescoço, firmando-se bem porque ele começou a corcovear como um cavalo selvagem. Agarrou os cornos do bicho e disse:

– Vou fritar o seu cérebro, criatura dos infernos.

A seguir, ergueu as mãos e fez os raios saírem direto para dentro da cabeça do bicho, entrando pelos tímpanos. O pobre animal soltou um uivo muito alto e aflito, caindo morto. Apolo levantou-se a notou que o último dragão vinha à carga e, em cima, transportava alguém.

– Amor – gritou. – Cuide do terceiro que não posso aparecer para eles.

– Então dê um jeito neste aqui.

– Sem problema. – Apolo estalou os dedos e um temporal forte começou a se formar, obrigando a areia a girar em um torvelino. Ergueu as mãos e os funis de areia giraram cada vez mais rápido, elevando a temperatura por causa da forte fricção. O dragão ergueu-se e rugiu, mas, no auge, o feiticeiro ergueu as mãos e os funis de areia seguiram como dois projéteis, acertando o dragão nos olhos e cegando-o na hora. Aflita, a criatura urrou com a bocarra escancarada e Apolo não pensou duas vezes: fez uma estaca de madeira virar ferro e lançou-a, eletrificada, obrigando o artefato a voar direto para o animal, cravando-se no céu da boca e perfurando até alcançar o cérebro, matando o animal.

Agora Apolo precisava de aguardar e não podia interferir, coisa que o deixava aflito. Tratava-se da vida da sua bem-amada que estava em jogo. Ela não teve dificuldade em fazer o dragão cair ao solo e Bryan precisou de dar um salto enorme para não se ferir. O dragão soltou uma labareda sobre Alana, mas ela não sentiu nada por causa da proteção que criou.

Reagiu rápido e fez surgir uma tira de couro que amarou a boca dele. O dragão começou a corcovear para tentar soltar a amarra, girando de um lado para outro, usando as patas, árvores ou o que conseguisse para tentar puxar o couro para fora da boca quando, por um grande azar, acertou Alana com a cauda. Ela voou longe e ficou atordoada. A sorte favoreceu ainda mais o demônio do enteado porque ela caiu bem ao seu lado. Bryan arrancou o medalhão da Mônica e soltou o dragão, dando-lhe uma ordem cruel enquanto se afastava.

Apolo ficou ainda mais assustado quando viu que a coitada estava indefesa, quase desmaiada, e o dragão começou a inflar. Tinha no máximo uns três segundos para agir e nem pensou duas vezes: abriu uma passagem direto para ela, abraçando-a para cobrir o seu corpo e gritando:

– Agora, Mônica, concentre-se no cristal. Rápido.

Aqueles dois ou três segundos foram os mais longos que Apolo já sentiu. Ele pensou em tudo o que passou na vida e parecia que as memórias descortinavam-se em câmera lenta, mas, entre viver a vida solitário ou perdê-la abraçado na mulher da sua vida, não teve dúvidas. Quando as labaredas alcançaram as suas costas a dor foi tão aguda e intensa que Apolo gritou desesperado. No segundo seguinte, contudo, teve uma sensação de queda livre e o impacto com a sua cama veio logo após, seguido do grito de angústia tão intenso que Allan surgiu nem cinco segundos depois.

Ele acendeu a luz e viu Apolo desmaiado com as costas queimadas e ainda fumegando. Ao seu lado, estava Mônica, também inconsciente. A segunda pessoa que apareceu foi Helena. Assim que viu os dois, correu para eles e gritou para Allan.

– Ajude-me a tirar a camisa dele para não colar na pele – gritou ao mesmo tempo que verificava o pulso da amiga e notava que estava regular. – Ela está só desmaiada.

Olharam para as costas de Apolo e viram que a queimadura era demasiado profunda. Com cuidado, começaram a tirar os trapos da camiseta onde conseguiam. Aflita, Helena notou que a coisa era tão feia que, em alguns lugares, via-se até os ossos das costelas.

Cecília apareceu e viu os dois na cama, correndo para a filha. Quando notou que estava inteira, foi ao banheiro e pegou uma toalha, encharcando na água. Voltou e passou no rosto da filha para a acordar.

– Ajude-nos, dona Cecília – pediu Helena, indignada. – Ela vai ficar bem mas os ferimentos de Apolo são muito graves. Acho que temos que o levar para um hospital o quanto antes.

– Eu estou ajudando, filha – disse Cecília. – Esqueceu que a minha filha pode curá-lo na hora?

– Tem razão, continue tentando – pediu Helena. – Allan, meu amor, erga mais um pouco. Isso, pronto. Nossa. Isto está muito feio.

– Bafo de dragão em geral é mortal – disse o cavaleiro. – Perdi alguns bons companheiros porque não foram rápidos o suficiente.

― ☼ ―

Mônica sentia algo frio e úmido no rosto e, depois umas pancadinhas leves. Devagar, foi-se dando conta que a chamavam e a sua consciência retornou. Abriu os olhos e a mãe sorriu, feliz, abraçando-a.

– Finalmente voltou, minha filha. Pelo amor de Deus, tente salvar Apolo.

Ela olhou para o lado e viu, soltando um grito de susto. Acalmou-se e pensou um pouco. A seguir, ergueu as mãos, que começaram a brilhar em um tom branco e passou sobre as costas dele.

A carne queimada deixou de ser enegrecida e voltou a ser vermelha, ao mesmo tempo que os músculos se reconstituíam. Por fim, veio a pele e não se notava mais que ele havia sido ferido de forma mortal, mas Apolo ainda estava desmaiado.

Ela olhou em volta e perguntou:

– O que foi que aconteceu com ele?

– Bafo de dragão – explicou Allan. – Nem imagino como ele pode estar vivo!

– Mas nós matamos o dragão e ninguém foi atingido por ele, Allan. Eu mesma o matei com a sua espada!

– Sim, isso foi a primeira vez. Acontece que, de alguma forma você perdeu de novo a memória, Mônica – disse Helena, contando sobre a sua morte. – Ele jurou que a traria de volta ou morreria tentando e conseguiu, mas vocês tiveram que enfrentar três dragões. Pela posição que vocês dois chegaram, ele deve ter-se atirado sobre você para impedir que o dragão a matasse. Isso é que é amor, hein, um amor que atravessou mais de oito séculos!

– Mas... e você, e a nossa conversa?

– Ele a ama, Mônica, não a mim. Ele preferiu a morte a ter que viver sem você, mesmo com o vosso filho avisando dos perigos de mudar o passado. Ele ia ver você e voltava virado em um trapo humano de pura exaustão só para a ver uns minutos. Não, minha querida. Esqueça a nossa conversa e seja feliz com ele que eu voou buscar a minha felicidade em outro lugar.

– Mas ele ainda está inconsciente! – exclamou, aflita. – O que posso fazer?

– Não se preocupe que deve ser o esgotamento da viagem no tempo aliado ao ferimento. Até amanhã, estará inteiro. É sempre assim. Acha que consegue cuidar dele?

– Se eu acho? – Mônica riu. – Bobinha. Mãe, amanhã a gente conversa mais, tá? Quem sabe até lá recupero a minha memória do que se passou. Dê um beijo no papai.

– Tá. – A mãe sorriu e beijou-a, empurrando Helena e Allan consigo.

Mônica fechou a porta e olhou Apolo, apaixonada. Estalou os dedos e trocou a roupa dele por um pijama confortável, fazendo o mesmo consigo. A seguir, deitou-se ao lado dele e adormeceu, em paz.

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