Capítulo 11 - parte 2 (rascunho)
Apolo abriu a passagem para o início da floresta por onde ele foi por duas vezes. Um grupo heterogêneo atravessou a abertura e ela desapareceu no nada.
– Vamos, disse ele.
Seguiram em fila de dois com Allan na retaguarda, de espada na cintura, o escudo no ombro e segurando a mão da Helena para a ajudar, mas com uma consciência dolorosa da sua proximidade. Assim que alcançou o local da passagem entre mundos, Apolo ativou a sua magia sem nem mesmo parar. Soltou um sorriso amargo quando se lembrou das tentativas e sugestões da Mônica na vez anterior e agora parecia tudo tão natural. Dava a sensação de que foi há uma eternidade, mas nem se passaram três meses.
Com a mudança gradual das cores das árvores, a maior parte deles soltou exclamações, na verdade todos, exceto Apolo e Allan, que conhecia as excentricidades do mago. Ele parou na boca da caverna e virou-se para os outros:
– Procurem ficar juntos, ok?
Não esperou resposta e entrou na montanha, iluminando o local e continuando a andar. Assim que chegou à segunda caverna parou na entrada e preparou-se. Procurou agir com calma porque sabia que haveria armadilhas.
Concentrou-se e as coisas começaram a aparecer, mas, daquela vez, Morgan já estava por lá. Ergueu os olhos e sorriu ao ver o grupo.
– Salve, nobre Apolo – disse, erguendo as mãos e avivando o fogo. – A que devo a honra de tantos visitantes?
– Olá, Morgan – disse Apolo. – Acredito que já conheça Allan e Helena, apesar de que ela era apenas uma imagem que usou para me atrair aqui.
– Sim, Helena, eu me lembro, ainda mais bela que a vossa amiga Mônica. Vejo que a haveis encontrado. Sede bem-vinda lady Helena. Como vai sir Allan? Que tal é o futuro?
– Incrível, sir Morgan, simplesmente incrível – respondeu Allan, com um aceno de cabeça e um sorriso no rosto.
– Este é Samuel, irmão gêmeo da Mônica e eles são os pais dela.
– Sede bem-vindos – disse Morgan. – Você é aquele mesmo que levou uma tremenda surra do nosso amigo, agora me lembro de ter visto na bolha. Mas bem, o que desejais, nobre Apolo?
– O senhor viu o futuro, Morgan, e disse coisas para Allan, mas ele está preso por juramento. Por que não me avisou que ela seria morta e que era ela que eu amava na verdade?
– Mas isso não pode... – disse ele interrompendo-se. – Ora, ora, ora. Não é que o futuro pode mudar? Agora entendo as aparições do meu pai.
– Quer fazer o favor de se explicar?
– Sir Allan – disse Morgan, ignorando Apolo. – Devo avisar-vos que tereis uma longa e bela vida, a partir de agora. E, também, que o vosso desejo mais secreto será, muito em breve, realizado.
– Escute, Morgan – disse Apolo, irritado. – Em geral eu sou um sujeito muito calmo, tranquilo e compreensivo, mas isso foi antes de ver os homens do seu inimigo fidagal matarem a Mônica que não tinha nada a ver com os seus problemas. Ela esperava o meu filho!
– As coisas mudaram bastante, mas a sua amada Mônica não morreu disso – afirmou o mago, categórico. – Se ela houvesse morrido, vós não estaríeis me vendo à vossa frente. Nem eu, nem Allan.
– Posso saber o motivo de tamanho ilogismo?
Morgan deu a volta ao caldeirão e parou em frente a Apolo. Ergueu o braço, colocou no ombro dele e continuou:
– Alana, ou simplesmente Lana como eu a chamava, a minha doce e adorável mãe, é a sua amada Mônica, meu pai. Meu nome secreto é Apolo, filho de Apolo Duarte, o maior e mais poderoso mago da história, mas é claro que ainda não sabeis de toda a extensão dos vossos poderes.
– Ele sabe, sim, meu caro – disse Allan, rindo. – Pôs Bryan para correr e baixou uma bruma maior que a cidade de Londres.
– E vós já falais todo estranho, sir Allan.
– P... p... p... pera – pediu Apolo, confuso. – Eu sou seu pai e não seu descendente?
– Exato, meu pai, vós sois a raiz da nossa linhagem que começou mais de novecentos anos depois de eu nascer. Se minha mãe tivesse morrido, eu não teria nascido nem salvo e enviado sir Allan a vós.
A primeira pessoa a reagir foi a mãe da Mônica. Aproximou-se dele e disse:
– Então o senhor é meu neto? – Aproximou-se mais e abraçou Morgan. – Você é um pedaço da minha filhinha e estou feliz de o conhecer. Reconheço os meus olhos, nos seus, mas os traços do seu pai predominaram.
– Obrigado, avó – disse ele, emocionado. Virou-se para o pai, que ainda estava em choque. – Minha mãe escapou usando seus poderes, mas estava ferida de morte e foi salva por um grande e bondoso mago chamado Bryan. Ela perdeu a memória e levou muitos anos a recuperá-la. Eu nasci e fui criado como irmão do filho de Bryan, também de mesmo nome. Meu primeiro nome foi Morgan e ela só me batizou de Apolo quando se lembrou. Ela era muito triste e ficou mais ainda quando se lembrou. Então, ela me ensinou coisas que ninguém mais sabia, coisas que só seriam descobertas muitos séculos mais tarde, coisas que se recusou a ensinar para o meu irmão. Bryan, o pai, amava muito a minha mãe que nunca quis uma ligação com outra pessoa. Já o filho dele era um pouco estranho. Era egoísta, exigente e foi piorando com a idade. A minha mãe ficava cada vez mais poderosa, mais até do que Bryan, e ele deu-lhe um presente de valor inestimável que era da sua falecida esposa: o Medalhão do Poder.
Morgan Apolo fez uma pausa e olhou em volta, vendo que tinha a atenção de todos, em especial do pai e avós.
– Foi aí que a guerra começou – disse, retomando a história dele. – Meu irmão de criação ficou revoltado porque o medalhão era da mãe dele e achava que lhe pertencia de direito. Tínhamos uns doze anos, na época, e ele já era revoltado porque era o mais fraco de nós quatro. Quando a coisa chegou a um ponto impossível, Bryan expulsou meu irmão de casa, mas Lana não permitiu que ele fizesse isso e decidiu que estava na hora de ela ter a vida própria. Nessa época já se lembrava de tudo, mas não sabia retornar e muitas vezes a ouvi chorar durante a noite. Os anos passaram e minha mãe passou a ser chamada de Alana a Imortal porque nunca envelheceu, nunca. Quando eu tinha cinquenta anos, ela ainda parecia a mesma menina doce que vós trouxestes a esta caverna um belo dia.
– Mas como Bryan pode ter morto Mônica se ela era ainda mais forte?
– Primeiro ele matou o pai e descobriu um modo de escravizar dragões.
– Sei, o dragão que eu e ela matamos antes de ser atingida por um criminoso – disse Apolo. – Por isso o espanto dele ao tê-la visto. Ele disse que a matou.
– Pois é isso mesmo. Bryan usou três dragões contra ela, mas dois nunca mais se levantaram. O terceiro venceu porque Bryan agiu em conjunto e minha mãe jamais foi capaz de levantar a mão para o bebê que ela ajudou a alimentar quando a mãe dele morreu ao dar à luz.
– Em outras palavras, é como disse Allan – afirmou Apolo, ainda mais abatido. – Ela não morreu, mas nunca mais a poderei ver. E se eu mudar o tempo?
– Jamais se deve mudar o passado, meu pai, porque ele destruirá o futuro como o conheceis. Mudai apenas o futuro. Na verdade já o haveis mudado, mas para uma forma dolorosa. Era para terdes desposado Helena, mas agora ela desposará outro homem.
Apolo olhou para Morgan, triste. A seguir aproximou-se e abraçou o filho, apertando-o forte contra si.
– Pelo menos conheci o nosso filho e isso foi bom e um grande consolo. Desculpe o choque inicial, Apolo, meu filho.
– Pai, lembrai-vos que o vosso futuro mudou e pode voltar a mudar, mas deveis destruir o mal pela raiz. Bryan já sabe que não matou minha mãe porque teria sido enviado de volta ao passado. Ele tentará algo. O que aquele tolo infame nunca se deu conta é que só está vivo porque foi ela que cuidou dele. Se ela morrer, ele morre.
O pai da Mônica aproximou-se e também abraçou o neto, seguido de Samuel.
– Vós precisais de ir – disse Morgan. – Senão ficareis demasiado cansado, pai.
– Não me sinto cansado – disse Apolo, encolhendo os ombros e sorrindo. – Mas sei que depois a conta será alta, só que isso não me importa. O que eu quero saber é se existe uma possibilidade de ela retornar. Afinal, quando Allan foi ferido pelos bandidos, você o salvou e enviou para mim. E se ela pudesse ser salva na hora do dragão?
– E quem saberia fazer aquela magia, na época? – perguntou o filho. – Eu estava fora, mas mesmo que não estivesse, ainda não sabia fazer isso.
Apolo baixou a cabeça, triste. Depois, levantou decidido e disse:
– Pois eu vou descobrir como fazer isso nem que morra tentando.
– Pai, não tentai mexer com o tempo. Ainda nos veremos mais vezes, não no mesmo fluxo de tempo, mas veremos. Eu não disse tudo o que sei, apenas o que podeis saber. O resto, descobrireis com o passar dos anos. Lembrai-vos que esse poder envolve muita responsabilidade e existe um monstro à solta que apenas vós podeis combater. Agora ide. Foi muito bom ver todos vós e contar toda a verdade, mas precisais retornar. – Virou-se para Helena e disse. – Não fiqueis triste porque vosso futuro será de extrema felicidade e todo o sofrimento que passastes será esquecido.
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