Capítulo 11 - parte 1 (rascunho)
"Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba."
Padre Antônio Vieira.
Ela estava tonta e quase inconsciente, caindo sem parar, apenas caindo. Era como um sonho estranho, daquelas que às vezes temos quando sonhamos que estamos a cair.
Sentiu um baque e abriu os olhos. A dor que sentia era tão forte que distorcia todos os sentidos. Tentou erguer-se, mas estava demasiado fraca e caiu de novo. Ouviu alguma coisa que não compreendia e a sua consciência parecia que ia desaparecer mais uma vez. O barulho cessou e, com os olhos semicerrados, viu um homem aproximar-se e inclinar-se sobre si. Ainda sentiu-se erguida e colocada em um veículo que começou a andar, sacolejando bastante.
Nesse ponto, mergulhou na escuridão.
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– O que foi que disse? – Apolo voltou a perguntar, quase que berrando.
– Eu disse que há uma forte probabilidade, de acordo com coisas que soube por sir Morgan, que lady Mônica não tenha morrido.
– Explique, por favor.
– Sinto muito, Apolo, mas apenas sir Morgan poderia falar porque eu fiz um juramento – disse Allan, sério. – Além disso, algumas coisas são deduções porque vós já mudastes o futuro.
– E você está nervoso – arrematou Apolo. – Se ao menos soubesse que ela está bem, pelo menos ficaria mais aliviado.
– Mas há coisas que não mudariam, Apolo.
– Muito bem – disse o feiticeiro, decidido. – Depois falarei pessoalmente com Morgan.
– Mônica disse que deixou uma coisa para você no seu quarto, Apolo – comentou Helena. – Eu já procurei por tudo, mas não encontrei nada.
– Depois verei isso – disse ele, voltando a ficar calado, pensativo.
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– Vejo que finalmente despertastes para a vida – disse o homem, olhando para ela. – Foi muito difícil curar-vos, milady.
Ela teve dificuldade em entender, como se aquelas palavras pertencessem a outro mundo. Após algum tempo, sentou-se e balbuciou:
– Quem é o senhor? – olhou em volta, desorientada. – Onde estou?
– Sou Bryan, mago Bryan – disse o homem. – E vós? Estáveis caída no chão entre a vida e a morte e tendes artefatos de uma feiticeira, apesar dessas roupas tão estranhas. Quem sois?
– Eu... eu... não sei – disse finalmente, aflita. – Não sei quem sou!
Um choro de bebê interrompeu ambos e ela virou a cabeça, curiosa. Bryan levantou-se e pegou o bebê.
– É muito pequeno e não sei como ajudá-lo. A mãe morreu ao dar à luz e mal consigo mantê-lo vivo.
Ela levantou-se e pegou a criança com cuidado, embalando-a devagar. O bebê parou de chorar e olhou para ela, sorrindo.
– Ele tem fome – disse a mulher.
Bryan levantou-se e deu-lhe um vasilhame com leite, sorrindo.
– O pequeno Bryan está sempre com fome – disse –, mas nunca engole direito.
Ela sentou-se e pediu um pano limpo. Com cuidado, molhou o pano e passou nos lábios da criança, espremendo pequenas quantidades de leite para ele não se engasgar. Enquanto isso, cantarolava uma melodia suave que o mantinha bastante calmo, com os olhinhos pequenos e negros a olharem-na sem parar. Quando o bebê terminou de tomar o leite, ela fê-lo arrotar e deitou na caminha.
– Tendes muito jeito com bebês, mulher – disse Bryan, sorridente e agradecido. – Precisamos de vos arrumar um nome e roupas decentes. Eu tenho uma proposta: ficai aqui e cuidai do meu filho. Em troca ensinar-vos-ei a minha magia, a mais forte do reino. Que tal?
– Por que não? – respondeu com outra pergunta. – Não tenho a menor ideia de quem sou nem de onde estou!
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– Apolo – disse Allan, insistente. – Você está parado e apático há dois dias. Faz quatro dias que ela se foi e precisa de enfrentar os fatos. Temos que derrotar e matar aqueles dois.
O feiticeiro ergueu os olhos do computador e encarou Allan.
– Livre-se dessa letargia, Apolo – insistiu o guerreiro. – Quanto mais tempo perder, mais fortes eles ficarão.
– E o que pretende fazer? – perguntou Apolo. – O que sugere que façamos?
– Você sabe um dos esconderijos e sabe como localizar os dois.
– E seremos descobertos – disse Apolo. – Não pretendo repetir a experiência da rua. Morreram só criminosos, mas poderia ter sido gente inocente. E aquela casa já deve ter sido evacuada.
– Tem de haver uma forma de os rastrear – insistiu Allan, pensativo. – Não podemos continuar assim!
– Talvez haja – respondeu Apolo, olhando para o seu telefone. Levantou-se e foi até ao quarto dos pais da Mônica. – Oi, vocês têm o telefone dela?
– Sim – disse o pai, pegando o aparelho. – Ela mantinha desligado para não a descobrirem porque Carlos disse que o clonaram.
– Obrigado. – Apolo pegou nele e colocou no bolso. Virou-se para Allan. – O telefone dela é a chave, mas agora quero que me fale sobre a possibilidade de ela estar viva.
– Tudo o que posso dizer sem quebrar o meu juramente é que eu não estaria aqui se ela estivesse morta.
– Nesse caso, depois do almoço vou fazer uma visitinha a Morgan – disse, determinado. – E se ele não me der explicações plausíveis vai ver com quantos paus se faz uma canoa.
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– Alana – disse Bryan. – Vós me pareceis muito triste.
– Por que me chama de Alana – perguntou ela.
– Certa vez estáveis delirando e falastes esse nome. Já que não vos lembrais de quem sois, escolhi esse. Acho muito bonito
– Tem razão.
– Outra coisa que andei a cogitar, é que sois estrangeira – disse Bryan, pensativo. – Vós falais muito estranho. Bem, eu noto a vossa tristeza e andei pensando se não é porque sua gravidez foi consequência de uma agressão. Se quiserdes, eu posso fazer desaparecer a criança.
– Não – disse Alana, alarmada. – Eu quero essa criança. Não sei o motivo, mas desejo muito essa criança.
– Nesse caso, não se fala mais nisso – disse Bryan. – Alana, vós sois uma feiticeira e precisais desenvolver vossos poderes. É provável que os tenhais esquecido, mas um feiticeiro não deve ficar com os dons embotados. É perigoso.
– E o que devo fazer?
– Reaprender a usar. Olhai – disse, erguendo a mão e fazendo uma luz brilhar forte na frente deles. – Tentai fazer isso.
Alana olhou a bola e Bryan apagou-a. Sem transição, outra surgiu a flutuar no teto.
– Sois muito poderosa, Alana. Acho que tendes apenas de relembrar, mas lembrai-vos de evitar desgastes desnecessários até ao nascimento do vosso filho.
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O almoço havia acabado e Apolo disse:
– Vou procurar o mago Morgan, Allan. Você quer me acompanhar?
– Sabe como o encontrar? – perguntou o guerreiro, espantado.
– Sim.
– Posso acompanhar vocês? – perguntou Helena. – Confesso que tenho um certo receio de ficar a sós.
– Pensando bem – disse Apolo. – Talvez seja melhor que todos venham.
– Onde fica o lugar? – perguntou Samuel.
– Em outro mundo, mas a passagem que eu conheço é em Minas. Perto de onde ocorreu o encontro da escola.
– Imagino que você vai... – disse o pai da Mônica, abrindo ambas as mãos em mímica. – Você sabe, essas coisas de mágica que a minha filha também fazia.
– Exatamente, senhor Hermes. – Apolo levantou-se. – Alguém precisa de fazer alguma coisa antes?
― ☼ ―
– Seu bebê é lindo, Alana – disse Bryan, sorridente. – Agora o pequeno Bryan vai ter um amigo para brincar, em breve, é claro.
– Obrigada – disse Alana, olhando para o filho com o amor incondicional que só uma mãe pode ter.
– Alana, eu queria saber se pensou na minha proposta?
– Eu não desejo me casar, Bryan – disse Alana, gentil. – Aceito ajudá-lo e ser uma companhia e amiga, mas não desejo casar.
– Eu fico triste – comentou o mago. – Esperava que aceitasse, mas respeito a sua escolha. Onde aprendeu aquelas coisas que ensina para Bryan?
– Que coisas?
– Aquelas coisas que parecem magia sem ser de verdade – respondeu Bryan. – São tão óbvias quando se aprende, mas a ideia por trás disso é que impressiona.
– Não sei dizer. Apenas sei que sei.
– Que nome pretende dar para o menino?
– Não sei. Quer me dar uma sugestão?
– Vou pensar.
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