Epílogo - parte 1 (rascunho)
Mesmo com Ailin junto a si, Eduarda ainda tinha muita preocupação. Naquele momento, a criança brincava na praça dos portais com um dos cinco dragões que ficaram a proteger Nova Andécavos. A pequena era louca por eles e o sentimento era recíproco. Em um banco, perto de onde os portais costumavam ser abertos, a mãe olhava a filha a voar e a fazer piruetas que deixariam um pai normal a morrer do coração. Ao lado, Shayla também aguardava, junto com a filha.
– Você está demasiado preocupada – disse-lhe Gwenhwyar, oferecendo uma bebida. Eduarda pegou e ela continuou. – Tenho a certeza de que aparecerão em breve. Relaxe. O pessoal até já está preparando o banquete da vitória! Ela não falhará, jamais falha. Afinal, é de Igor o Poderoso que falamos.
– Eu sei, Gwen – disse Eduarda. – O problema é que Igor é sempre uma incógnita.
– Mas é o melhor e mais poderoso de todos nós – disse Shyala, sorrindo. – Ainda lembro muito bem de Avalon.
– Nem me fales de Avalon – disse Eduarda, estremecendo. – Só de lembrar aquela montanha implodindo com ele dentro já sinto uma agonia horrível...
O portal abriu-se bem á frente dela e a poucos metros, interrompendo a conversa das três. Os primeiros a passarem foram Igor, abraçado na filha, seguidos dos Lemurianos e Ezequiel. Eduarda levantou-se de um salto e correu até eles, atirando-se aos dois e beijando o marido. Muitos outros vinham passando, mas mais dez portais abriram-se para darem vazão rápida para toda a gente.
Ao lado do guardião supremo, Kelvin e Joyce aguardavam, discretos. Eduarda acabou vendo e afastou-se.
– Desculpe, conselheiro – disse ela, sorrindo. – Era a preocupação e o alívio de ver o meu marido bem. Sejam bem-vindos a Céltia...
Eduarda foi interrompida de novo, desta vez por um urro enorme e um jato de fogo no céu. Eles olharam para cima e viram um dragão mergulhando a pique em um parafuso alucinado, estabilizando e parando com a leveza de uma pluma poucos segundos depois. No dorso, uma criança, tão pequena que mal se notava, ria alegre. Ela viu o pai e transportou-se direto para o seu colo, passado os bracinhos em volta do pescoço e beijando-o.
– Oi, papai, já pegaste os homens maus? – perguntou ela, sorridente e de olhos brilhando. – Acho que mamãe ficou zangada. Ela disse que podia ter acontecido uma coisa ruim comigo, mas eu juro que só queria ajudar, papai. Não fica bravo, tá?
– Tudo bem, filhinha.
– Tô de castigo?
– Dessa vez não, mas eu quero que prometas que não vais abrir portais sem autorização, tchê. Foi muito, muito perigoso. Eu já tinha salvo a tua mãe, filha, e o homem que tu encontraste era um dos maus que a pegaram. Prometes que não vais mais fazer isso?
– Prometo, pai.
– Tri legal – disse Igor, colocando a filha no chão. – Então vai brincar.
A criancinha saiu a correr, desta vez à procura de Gwydion, enquanto Igor dizia para os convidados:
– Desculpem-me – sorriu. – Mas eu estava mesmo aflito por causa dela.
– Vale a pena atacar um mundo inteiro por uma criança tão linda, Magnífico – disse Joyce. – Não se desculpe.
– Igor, apenas Igor – pediu o mago, apontando lugares para eles sentarem e já servidos de bebidas pelo povo. – Só uso o título em casos oficiais.
– Este mundo é diferente – comentou Kelvin. – Parece primitivo, mas o povo tem um espírito altivo e sadio.
– Isto é uma verdadeira representação do nosso passado, conselheiro – explicou Igor, contando a história de Avalon.
– Fantástico – disse Lídia. – Então foi por causa deles que redescobrimos o velho mundo!
Enquanto eles relaxavam com os outros entrando na conversa, Igor pediu licença e chamou alguns magos, dando-lhes instruções específicas. A seguir, entregou-se à festa e deixou a tensão ir embora.
― ☼ ―
Lídia olhava para aquele povo simples e sentia-se fascinada com tanta harmonia. Ela notou logo que não eram magos, exceto por uma minoria, e deu-se conta de que em cinquenta mil anos o seu povo não teve tempo para viver assim. Os lemurianos sempre estiveram em conflito com os atlantes, isso desde tempos imemoriais. O povo vivia bem, na verdade, mas não era a mesma coisa. Os celtas viviam sem o medo de que poderiam ser invadidos da noite para o dia e confiavam nos seus amigos e protetores. No fundo, Lídia sentiu uma inveja muito grande e teve bastante pena de não ser uma feiticeira do Mundo de Cristal. Olhou para um dos lados e encontrou Morgana e Marlon absorvidos em uma conversa, pelo que parecia divertida porque ambos riam. Depois ele puxou o seu queixo e beijou-a, sendo correspondido. Pensativa, concluiu que o seu mundo mudaria muito nos próximos anos, mas seria para melhor. Agora que a guerra estava acabada, exceto pelos mundos que ainda não sabiam, ela talvez precisasse de trocar de atividade e começou a almejar tornar-se embaixatriz no Mundo de Cristal. Voltou a olhar para Igor, e viu a sua felicidade ao lado da mulher e das filhas. Suspirou, triste, mas depois lembrou-se que havia muitos outros como ele naquele mundo. O cutucão de Zéfiro trouxe-a de volta à realidade com um pequeno susto. Contrariada, olhou para ele e perguntou:
– O que foi?
– Você estava perdida no infinito – respondeu, rindo. – Isto aqui é tão harmonioso que dá vontade de viver aqui.
– Pensava nisso, entre outras coisas.
– Que outras?
– O nosso mundo vai mudar muito – explicou. – Sem a guerra, podemos nos concentrar mais em outras coisas, podemos criar esta harmonia incrível. Zéfiro, este povo é maravilhoso!
– O povo ou ele? – perguntou o amigo, apontando Igor com o nariz.
– Ele também é, mais até que os outros – respondeu ela com um suspiro. – Mas esse não é para mim, só que há outros.
– O amigo dele? – perguntou Zéfiro. – Eu vi que ele gosta de você.
– Gosta como amiga – respondeu Lídia. – Não notou que ele gosta de homens? Olhe ele com o companheiro duas mesas atrás de Igor.
– Confesso que não tinha notado – disse Zéfiro, rindo. – Então, o que pretende fazer?
– Desejo conhecer melhor este povo talvez entrar para a diplomacia, sei lá. – Lídia encolheu os ombros. – Está na hora de fazer algo diferente. Foi preciso acontecer tudo isto para eu ver que estou muito cansada da guerra.
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