Capítulo 9 - parte 4 (rascunho)
Morgana estava sem sono e preocupada com tudo. Levantou-se e vestiu umas roupas, saindo do quarto. Andou ao acaso até chegar a uma varanda em um dos últimos andares. Debruçou-se no parapeito e ficou a olhar para a cidade ao longe, pensativa. Ela sentia uma saudade mortal do pai e a agonia da dúvida era o seu grande problema. Deu um longo suspiro quando uma voz que a desagradava demais interrompeu-lhe os devaneios:
– Devia estar nos seus aposentos descasando, senhora – disse Rimon, olhando para ela.
– Olhe, Rimon, eu só o tolero por causa da promessa que fiz para Argonos e porque, apesar de tudo, você foi digno de segurar a espada do meu pai, mas nem por isso desejo qualquer tipo de sinal de amizade. Por mim, o senhor estaria morto, então não me instigue.
– Sei que está zangada pelo seu pai, senhora. Contudo, pensei que, estando vingada, poderíamos dar o assunto por encerrado. Desculpe, mas porque falou em ser digno de segurar a espada do seu pai?
– Não encerrei nada. Só descansarei quando estiverem todos mortos. Quanto a segurar a espada, se a pessoa que segurar não tiver pensamentos nobres, sofre um bocado com ela, como aconteceu na arena com aquele soldado idiota.
– Bem, confesso que agora os meus pensamentos não são nada puros, ainda mais quando enverga essas vestes.
– Vá-se embora e não me obrigue a quebrar a minha promessa.
– Mas Morgana – disse ele, aproximando-se e tocando no seu braço. – pense bem que eu posso ajudá-la em muitas coisas.
– É mesmo? – questionou a sacerdotisa, dando corda. – E como pretende me ajudar?
– Muita gente não deseja Argonos no poder e eu sou o próximo da linha de sucessão. Pense bem: eu posso libertar sua mãe e seus amigos – disse, pegando a sua mão.
– Se há uma coisa que me enoja – disse Morgana, zangada e puxando a sua mão, desvencilhando-se –, essa coisa é a traição, Rimon. O que foi que lhe aconteceu para se transformar tanto em tão pouco tempo?
– Você – disse ele, voltando a pegar a sua mão e puxando-a para si.
– Há uma coisa que você precisa de saber, Rimon – disse Morgana, tentando afastar-se sem sucesso. – Essa coisa é que, mesmo com o bracelete, você nada pode contra uma feiticeira como eu. Já ouviu falar em eletricidade?
Sem lhe dar tempo para qualquer defesa possível, uma descarga de energia intensa atravessou o corpo do soldado, que se atirou para trás, cheio de convulsões.
Irado ele levantou-se e deu um passo em diante, mas a feiticeira olhou por cima do seu ombro e sorriu, derretida:
– Oi, você demorou.
― ☼ ―
Igor materializou no topo do palácio, que era enorme porque tinha quase cem metros de lado por uns cinquenta de profundidade, além de dez andares. De primeira já deu azar de se deparar com um guarda. Antes que ele desse um sinal de alerta, Igor matou-o com uma descarda de plasma. A seguir, escondeu o corpo em uma sala pequena que encontrou ali perto.
– "Sinto Morgana por perto" – disse o pássaro.
– Também a senti, mas ela estava isolada dos outros, que não estão ao meu alcance por algum motivo desconhecido.
– "Ela deve saber conde estão."
– Tens razão – assentiu Igor. – Vamos procurar uma escada para descer. Deve haver várias neste prédio enorme.
Andaram cerca de vinte metros e encontraram uma escadaria, que desceram. No final do primeiro lance, depararam-se com mais dois guardas, que foram eliminados sem dificuldades.
– É mais para baixo – disse Igor, descendo enquanto Gwydion seguiu voando rente ao teto, que era alto, muito alto.
No piso seguinte, ele sentiu que estava perto dela e pegou o primeiro corredor andando com cuidado para não chamar atenção para si. Não demorou muito a ouvir vozes baixas, uma delas exaltada e que o mago reconheceu como sendo da filha. Viu-a na entrada de uma varanda e com um homem perto, um sujeito que discutia com ela. Quando notou que o homem desejava fazer algo, apressou o passo e, ao se aproximar, a filha viu-o, sorrindo de um jeito que Igor amava.
– Oi, você demorou – disse Morgana.
Achando que se tratava de Argonos, Rimon começou a se virar quando o potente soco o atingiu no rosto. Sentiu tudo a brilhar por um segundo e caiu na escuridão da inconsciência com tanta nobreza quanta havia em um saco de batatas largado por um estivador.
Morgana atirou-se nos braços do pai sem saber se chorava ou ria, tamanho era o seu alívio, e esse sentimento espelhava-se em Igor. Enquanto isso, Gwydion pousou no chão e transformou-se na forma draconina. Quando se afastaram, Igor viu lágrimas no seu rosto e sorriu, secando-as com os dedos.
– Se soubesse o desespero que nos deu quando disseram que o mataram – disse ela. – A mãe desesperou e só a Carol que não aceitou. Ela disse que só acreditaria quando visse o seu corpo.
– Ela me conhece bem, meu amor, mas foi por muito pouco, desta vez. Quem é esse idiota e onde estão os outros?
– Rimon. É capitão da guarda. Os outros estão três andares abaixo.
O sujeito abriu os olhos, sacudindo o rosto ainda muito atordoado, mas não teve lá muito tempo porque foi erguido por uma mão que mais parecia uma tenaz de aço. Viu-se frente a frente com o homem que julgava ter morto e arregalou os olhos. Apavorado, gaguejou:
– Vo... vo.... você mo... rreu!
– Por acaso tenho lata de zumbi, meu caro? – perguntou Igor, zangado, mas ao mesmo empo debochado. – Sabe, lá na Terra eu perguntei onde estava a minha família e vocês tentaram matar-me. Eu disse que mataria um por um até achá-los. Agora, tu não me tens qualquer serventia.
Igor ergueu o soldado no ar e pendurou-o do lado de fora da varanda. Estavam no sétimo andar e o pé direito daquele palácio era de uns sete metros. Em outras palavras, a queda seria fatal.
– Eu falo o que quiser, juro – implorou o capitão. – Só não me mate.
– Tem guardas vigiando os prisioneiros?
– Apenas um – respondeu. – Em segredo. Argonos mandou tirar todos os guardas, mas manteve esse para o informar dos movimentos dos cativos.
– Sem vergonha mentiroso, aquele safado – resmungou Morgana, zangada. – Homem sem palavra.
– Quantos guardas há patrulhando o palácio?
– Talvez uns cem ao todo – respondeu. – O resto está dormindo.
Igor puxou o homem de volta e pôs no chão.
– Eu devia matá-lo.
– Por favor, eu não digo nada.
– Não vai dizer mesmo – disse Igor. Virou-se e, de surpresa, deu-lhe um soco ainda mais violento que o primeiro. Rimon soltou um gemido e caiu desmaiado, perdendo mais uma vez toda a pompa.
– Vai dormir pelo menos umas três horas – disse, alegre. – Tem guardas, no caminho até aos outros?
– Alguns – disse Morgana pegando a espada do pai e estendendo-a. – Acho que lhe pertence, pai.
– Senti falta dela, filha – disse, pegando-a, feliz. – Muita mesmo.
Igor pegou um bracelete e deu para a filha.
– Mantém oculto e prepara-te para sentires a diferença.
– Vamos salvar os outros, pai – disse ela, apressada. – A mãe precisa de o ver inteiro porque ela está em forte depressão.
– Nesse caso, espera um pouco – disse, virando-se para o pássaro. – "Gwydion, manda os outros atacarem para criarem uma diversão. Ezequiel e Hernandez também devem ir junto. Promovam uma grande distração e nós dois resgatamos os prisioneiros. Em quinze minutos, recolham-se para a floresta no mesmo ponto onde chegamos que os encontramos lá. Devem começar agora."
– "Feito, Igor" – respondeu Gwydion.
– Vai na frente e ataca sem piedade.
O trio tão diferente começou a descer as escadas, andando sem pressa, mas com uma calma mortal.
― ☼ ―
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top