Capítulo 9 - parte 2 (rascunho)

– É verdade, Igor, mas talvez seja bom não falarmos muito. Neste silêncio todo, os sons chegam longe.

– Concordo. Vamos contornar o palácio para vermos o que há do outro lado – disse o amigo. – E vamos fazer isso o mais afastados possível da construção. Cuidado com possíveis guaritas enada de falar que nos pegam na hora.

Não tiveram dificuldade em dar a volta pelos jardins que mais pareciam os jardins de palácios ingleses do século XVII cercados de flores de todos os tipos e em muitos lugares com arbustos altos que formavam caminhos que os ocultavam. Em pouco mais de meia hora e andando sempre com muito cuidado, estavam na parte da frente do palácio, mas pela sua margem direita. Igor estendeu o braço para a frente e apontou, dizendo:

– Aquilo ali é uma cidade. Vamos dar uma olhada porque podemos passar desapercebidos por lá.

– Vamos sim.

Igor segurou o braço do amigo e transportou-os direto para a periferia da cidade. Ao contrário do palácio, como havia bastantes prédios fosforescentes, a luz era suficiente para iluminar o local. Eles viram logo que havia cães e sentiram-se mais tranquilos por conta dos dragões. E cidade tinha pouco movimento pela hora, mas havia pessoas nas ruas, especialmente em uma praça que encontraram e que tinha várias casas abertas. Ambos pensaram que se tratava de bares e restaurantes, ideia confirmada quando, pouco depois, viram um sujeito sair a cambalear, provavelmente bêbado.

Da distância onde estavam, Igor notou que a maioria absoluta não possuía braceletes. Outra coisa que viu, foi o fato de alguns não usarem capa e haver outros com capas de cores diferentes. Aproximaram-se um pouco mais, quando foram interpelados por um homem que os olhou desconfiado:

– Vocês não devem andar nesta região – disse, zangado. – Esqueceram que soldados não têm autorização de andar aqui sob pena de severas represálias? Se querem beber no anonimato, tirem as capas, os braceletes e escondam-nos.

Igor fez cara de espantado, como se tivesse esquecido e sorriu para o homem, inclinando levemente a cabeça. Deu meia volta, puxando Ezequiel consigo. Afastaram-se alguns quarteirões até chegaram a uma rua vazia.

– Não gostei do jeito que ele olhou para a gente, filho – disse Ezequiel preocupado.

– Também não.

– Notei que a maioria não tem braceletes e muitos não têm capa. Além disso, pelas cores das capas, deve haver algo como um sistema da castas e nós somos soldados. Presumo que os sem capa são os que desejam passar a noite no anonimato ou apenas o povo mais simples.

– Raciocínio perfeito, Ez – respondeu Igor. – O que sugere?

– Ia fazer a mesma pergunta, filho.

– São muitos, mas nesta cidade parece que a maioria é de simples cidadãos, como na Terra.

– Então precisamos...

– Vocês não aprendem mesmo, não é – disse o mesmo sujeito que lhes falou antes. – Afinal quem são vocês?

Igor virou-se devagar e sorriu, ficando calado. O homem aproximou-se e, daquela vez, envergava uma capa negra que surgiu do nada. No antebraço, ostentava um bracelete.

– Vamos – continuou, impaciente. – Identifiquem-se antes que os mande prender.

Igor fez uma cara de tédio e levou a mão ao pequeno bolso que tinha na calça, simulando que ia pegar um documento. Isso acalmou o nativo, que baixou a guarda. Enquanto ele olhava para o mago, Ezequiel deu-lhe uma pancada forte, fazendo-o cair inanimado. Igor tratou logo de lhe tirar o bracelete e amarrou-o por intermédio dos seus poderes. A seguir, olhou para Ezequiel.

– É algum tipo de policial, pelo que depreendo. E agora?

– Agora, temos um prisioneiro com uma razoável gama de conhecimentos para interrogar, filho. A questão mesmo seria: faremos isso aqui ou na Terra.

– Talvez seja sensato retornarmos – decidiu o amigo. – Dependendo do que ele faz da vida, em breve será dado algum tipo de alarme. Além disso, no momento em que nos ouvir falar, saberá que somos estrangeiros.

– Exato. Em casa, estaremos com vantagem psicológica.

Igor abaixou-se e pegou o prisioneiro como se ele fosse um saco de batatas. Acharam prudente sair da zona urbana antes de abrir o portal de volta. Por isso, voltaram a caminhar em direção ao palácio e contornaram-no, embrenhando-se na pequena floresta que tinham visto antes. Quando Igor pousou o prisioneiro no chão viu que ele estava acordado e com a cara assustada.

– Vocês não são daqui – disse ele, enfático. – Nenhum atlante poderia carregar um homem do meu tamanho esta distância toda sem parar para descansar.

Ezequiel ficou calado, mas deu uma risada debochada, enquanto Igor sorria. Permaneceu algum tempo a olhar para ele até que achou que estava na hora de parar com o esconde-esconde, já que sairiam dali em poucos minutos.

– Menino esperto – disse finalmente. – Não se preocupe que não temos o hábito de tratar mal os prisioneiros.

– Por que me fizeram prisioneiro?

– Vocês aprisionaram a minha família e pretendem invadir o meu mundo – disse o mago. – Acha mesmo que nós ficaríamos passivos frente a tamanha barbaridade?

– Afinal, quem são vocês? – perguntou, ignorando a pergunta do seu algoz. – O que querem de mim?

– Queremos respostas – disse Ezequiel, encolhendo os ombros, tranquilo. – Nós somos de um mundo chamado Terra, mas que vocês conhecem como o Reino Perdido.

– Vocês são mesmo do Reino Perdido? – perguntou ele, tão espantado que Igor nem duvidou que não fosse genuíno. – Os boatos são verdadeiros? Quando o Reino Perdido foi encontrado? Me solte que não sou seu inimigo.

– Veremos isso em breve – disse Igor, decidido. A seguir, ergueu o prisioneiro e abriu a passagem.

― ☼ ―


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top