Capítulo 8 - parte 2 (rascunho)
Morgana seguiu para o gabinete de Argonos. No caminho, trocou as suas vestes pelas da suma sacerdotisa porque impunha mais respeito, um vestido branco e justo que lhe moldava as curvas do corpo e ia quase até aos pés. Na cintura, pendia um cinto de corda branca, amarrado de jeito relaxado e caindo em forma de "V" até à altura dos joelhos. Nas costas, como se fosse uma capa, um véu branco e quase transparente descia desde os ombros aos pés, sendo que uma parte dele era fixa na manga longa que lhe moldava de forma delicada os braços até aos pulsos, realçando-lhe a graça e a feminilidade. Só não tinha o ceptro, mas isso não a incomodava. Ela sabia que fazia um efeito forte nos homens e escolheu usar isso como arma.
Quando chegou perto, inspirou fundo e preparou-se. O gabinete era uma sala espaçosa, com uma janela grande em um lado e do outro uma estante com livros que ia de lado a lado. A mesa dele tinha um aspecto imponente, feito em madeira preta, maciça. Atrás de um móvel tão grande, o governador até parecia pequeno porque eram muito franzinos. Ela bateu na porta, que estava aberta, e aguardou.
Argonos lia um papel e ergueu o rosto. Quando a viu, sorriu e levantou-se. Chegou perto da feiticeira e pegou as suas mãos, alegre.
– Salve, Morgana – disse, com os olhos brilhando. – Você está bela demais. Onde arrumou essas roupas?
– São os trajes condizentes com o meu título – respondeu a feiticeira, encolhendo os ombros. – Sou uma grã sacerdotisa, já lhe tinha dito isso. Não gostou?
– Se não gostei? – perguntou, olhando-a de alto a baixo. – Você é a mulher mais bela deste mundo, Morgana.
– Eu não sou deste mundo, Argonos.
– Mas será – disse ele. – Quando consumarmos os laços.
– Se consumarmos, os laços – respondeu ela. – Lembre-se das condições. Por sinal, achei que nos achasse degenerados. As suas intenções não combinam com isso.
– Nunca poderia achá-la degenerada, Morgana – disse ele, enfático. – Você tem um poder enorme e uma energia que não vejo facilmente.
– Nesse caso, Argonos – retrucou Morgana, falando com muito cuidado –, a lógica me diz que vocês é que são os degenerados.
Nesse momento, Morgana ouviu uma confissão que a desorientou.
– Não diria degenerados, mas muitos do meu povo estão decadentes, infelizmente – afirmou, preocupado. – Até parece que se esqueceram do seu passado de glórias. Hoje, se não fossem os braceletes, a maioria nem seria capaz de levantar um livro, quanto mais um carro. A nossa sorte são os soldados que ainda mantém a força e o esplendor da nossa civilização.
– Então para que querem conquistar a Terra, se são poucos e sem força?
– Porque desejamos fabricar mais braceletes e os cristais só existem lá. Já pesquisamos em milhares de mundos de todos os sete planos, mas nunca encontramos.
– Dos sete planos? – perguntou Morgana, confusa. – Como assim?
– Ora, pesquisamos em todos os planos. Se houvesse um oitavo, também teríamos pesquisado, mas não há.
– À... – disse Morgana com um grande sorriso. – Agora entendi. Claro, os sete planos, sim. Bem Argonos, eu acho que os seus soldados não terão a menor condição de enfrentar um batalhão dos exércitos mundanos, sem falar que os magos virão com todas as forças e nós temos aliados que a sua magia não pode enfrentar. O senhor nem tem ideia das pessoas que sequestrou e muito menos de quem era o meu pai, o que seus homens mataram.
– Eu vi as imagens do combate da mente de Rimon – comentou Argonos, tranquilo. – É muito difícil imaginar que houvesse alguém tão poderoso quanto ele.
– Prefiro que não fale dele, Argonos – pediu ela. – A perda do meu pai é muito dolorosa para mim e a minha mãe não está nada bem.
– A sua mãe não parece ter idade para tal, nem o seu pai, Morgana.
– Eu fui concebida há mil seiscentos e oitenta anos, quando o meu pai foi arremessado ao passado. A minha mãe é o seu espírito retornado.
– Sabe voltar no tempo? – perguntou Argonos, antevendo as possibilidades. – Isso poderia resolver muitos problemas.
– Apenas o meu pai sabia.
– Morgana, eu vi as imagens da mente de Rimon, como lhe disse antes, e acho que existe uma forte probabilidade de que o seu pai não tenha morrido na hora, mas ele estaria nas mãos de uma outra potência que é inimiga.
– Pode me explicar isso? – perguntou ela, de olhos arregalados.
– O seu pai foi ferido de forma grave, mas eles não chegaram a dar o golpe fatal porque dois lemurianos atacaram o nosso grupo. Os homens de Rimon pegaram os corpos às pressas e fugiram.
– Ele pode realmente estar vivo? – perguntou, cheia de esperança.
– Pode, mas estaria cativo dos lemurianos. Lembra-se que lhe contei da guerra e das bombas que eles lançaram? – perguntou Argonos, aproximando-se da janela com a feiticeira. Eles olharam para a bela cidade ao longe. Do alto da torre do castelo a vista era linda, apesar de nem chegar aos pés da Cidadela. Argonos continuou, distraído. – Veja este reino, Morgana. Em breve, ele também será seu.
– Acha que isso me interessa, Argonos? – perguntou ela, rindo. Sacudiu a cabeça e continuou. – Sempre achei a busca pelo poder fútil. O verdadeiro poder está dentro de nós, simples assim.
– Não deixa de ter razão – disse o governante. – A propósito, conhece algum dos seus com barreira de proteção que seja dourada?
– Não, por quê?
– Mandei dois homens para a casa onde pegaram vocês para recuperar o bracelete perdido. Foram surpreendidos por um homem que tinha uma barreira dourada, igual aos lemurianos, mas era terrestre. Acontece que, depois, o meu soldado, que foi aprisionado, esteve no covil dos lemurianos e fugiu de lá aproveitando uma distração. Encontramo-lo no jardim do palácio quase morto.
– Ele disse alguma coisa?
– Disse tudo o que sabia. O terrestre ergueu a mão quando ele abriu a passagem para fugir e foi atingido de raspão por alguma coisa desconhecida. Em cinco segundos, parecia um velho às portas da morte. Disse que o terrestre estava com os lemurianos e com um animal horroroso e assustador de tão grande.
– Ele não descreveu esse homem?
– Morreu antes de concluir o relatório – disse Argonos.
– Não acha melhor desistir da invasão e nos deixar em paz?
– Ainda não – respondeu o todo poderoso de Nova Atlantis, debochado. – Ainda não estou desesperado e temos um acordo. Você é o maior dos prêmios.
– Só quero deixar um conselho, Argonos. Se o meu pai estiver vivo, a sua vida não valerá quase nada e a segunda coisa é que, independente da minha promessa, a minha lealdade estará sempre com ele e os meus patrícios.
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