Capítulo 7 -parte 1 (rascunho)
Valdo e Igor sentaram-se em poltronas oferecidas pelos anfitriãos, enquanto Lídia servia chá para eles.
– Sabem, o chá é uma das bebidas mais espetaculares que já tomei. Gosto do café, também, mas o chá... – fez um trejeito com os olhos que Valdo riu. Marlon sentou-se em outra poltrona, junto com o terceiro colega deles.
Após estarem acomodados, Lídia começou a falar:
– Este mundo mudou muito nos últimos cinquenta mil anos e fique feliz em ver que todas as marcas da mais terrível guerra que ele já viu desapareceram. – Ergueu as mãos e fez surgir no ar uma imagem da Terra, mas estava bem diferente.
A América do Sul era quase igual aos dias atuais, mas mais estreita e longa em um arco que subia até perto da costa de Portugal. A América Central era composta de algumas pequenas ilhas, exceto por Cuba e a América do Norte tinha metade do tamanho. A África era um continente menor em forma de ilha, como a Austrália, e a Europa parecia quase igual, exceto pelos Andes, que não existiam e davam ugar a um mar bem grande. A Ásia tinha metade do tamanho e a parte oeste dela descia pelo índico até à Austrália, formando um outro continente.
– O inimigo vivia aqui – disse, apontando a América do sul, mas na parte que não existe mais. A seguir, apontou para o continente que se juntava à Austrália e continuou. – E nós aqui. Este era o nosso continente, chamado de Lemúria onde viviam mais de duzentos milhões de habitantes em uma vida próspera e feliz.
Igor ergueu a sobrancelha, ao ouvir aquele nome e Valdo soltou uma exclamação.
– Um dos continentes desaparecidos!
– Exato, continuou Lídia, um dos continentes desaparecidos. Naquela época havia apenas uma língua no mundo, por isso falamos o celta, compreende, Igor?
– Mais do que possas imaginar, Lídia – respondeu o mago, que já adivinhara quem era o inimigo.
– No que hoje é a Europa, havia um povo primitivo, mas promissor, a nosso ver. Na África também tinha os negros, até mais avançados que os europeus e, na Ásia meridional, os amarelos, também primitivos mas muito mais avançados. Esses povos não possuíam esses dons que vocês, nós e o inimigo possuem.
Após uma curta pausa, Lídia continuou:
– O inimigo vivia em um continente ainda mais belo que o nosso e foi favorecido pelo destino. Ele chamava-se Atlântida. – Ela riu da cara de espanto do Valdo e estranhou a tranquilidade de Igor, que permaneceu impassível. – Os atlantes eram deveras arrogantes, donos de uma tecnologia muito avançada, mas sempre antagônicos a nós. Nunca aceitamos, por exemplo, escravizar os primitivos e eles faziam-no abertamente.
– Acha que pegaram a minha família para trabalhar de simples escravos? – perguntou Igor, descrente.
– Não, Igor, acho que os pegaram para estudar e descobrir como invadir a Terra.
– Qual o motivo para eles invadirem a Terra?
– Espere que eu chego lá – disse Lídia, fazendo um gesto distraído. – Eles consideravam os primitivos do continente médio, hoje a Europa, como degenerados, especialmente por não possuírem poderes como nós. Contudo, nem todos pensavam assim e muitos cidadãos acabaram se instalando e vivendo lá, isso contra a casta governante, que os condenou ao ostracismo. Os primitivos, no entanto, eram apenas isso, povos menos desenvolvidos que não dispunham dos nossos poderes, mas possuíam compatibilidade genética. Tudo o que precisavam era de ajuda para se tornarem grandes, como um empurrãozinho, e a prova está nos dias de hoje.
Lídia parou de falar e tomou um gole de chá, avaliando as reações dos dois. Igor era para ela uma grande incógnita. É claro que ela via nela a profunda preocupação pela família, mas também via como ficava impassível, tornando-lhe impossível avaliar a sua reação. Ele era dono de uma altivez que a fascinava demais, em especial quando estava vestido daquele jeito. Já o amigo dele era diferente e nem combinava muito com o tipo de mago que Igor era, mas estava fascinado e muito curioso com a explanação. Sorriu e voltou a falar.
– Havia diferenças grandes entre nós, além da personalidade. Enquanto os atlantes eram canhotos, por exemplo, nós lemurianos e os primitivos eramos na maioria absoluta, destros. Eu sou incapaz de usar os meus poderes com a mão esquerda. Os moderes dos atlantes eram, na média geral, bem mais fracos do que nós e muitas coisas que fazemos, eles são incapazes. Você, Valdo, me deixou espantada porque a sua barreira de proteção é típica de um lemuriano. Os atlantes fazem, no máximo, uma verde, que é muito inferior. Para derrubar uma barreira dourada, precisam de quatro atlantes de bracelete. Todavia, Igor, a sua proteção precisou de mais de dez elementos e nunca havia visto uma purpura.
– Eu inventei e posso garantir que foi muito difícil – respondeu o mago.
– Bem, os atlantes aprenderam uma tecnologia poderosa e perigosa, que é o uso de cristais para concentrar os poderes e assim começou a desgraça. Alguns dos nossos espiões conseguiram aprender parte dessa tecnologia, coisa essencial para mantermos o equilíbrio porque os atlantes eram conquistadores perigosos e não estávamos interessados em virar escravos. Eles usavam cristais para tudo e acabaram descobrindo como fabricar os braceletes, que aumentam os poderes dos portadores de forma absurda. Acontece que esse tipo de cristal é muito raro e encontrava-se apenas em uma parte do sul da Atlântida – comentou, mostrando o mapa.
– Ei, isso é o sul do Brasil – comentou Valdo. – Se não estou em erro, é bem em cima de Porto Alegre.
– Não estás errado, meu velho – respondeu Igor. – Mas acredito que nunca cristais especiais naquela região.
– Vocês conhecem o lugar? – perguntou Marlon.
– Sim – respondeu Igor, lacônico. – Nós nascemos ali.
– Continuando a aula de história – disse Lídia –, eles só encontraram esse tipo de cristal nessa região. Quando isso aconteceu, passaram a nos hostilizar abertamente e começou a grande guerra que só não foi catastrófica para nós porque éramos bem mais numerosos do que eles, o que equilibrava a balança de forças. A guerra durou cem anos até que desenvolveram um artefato terrível, a boba de cristal. Nós roubamos uma e escondemos em uma grande caverna que havia no subsolo da Atlântida Central. Esperávamos com isso fazer com que eles retrocedessem, mas os desgraçados dispararam duas grandes bombas na Lemúria. A coisa foi de tal forma violenta que a arte principal e mais populosa do nosso continente afundou e mais de noventa e oito por cento da população morreu. Vulcões nasceram da noite para o dia, alterando a geografia do nosso mundo. O que é hoje o Saara, foi o fundo do oceano e o Himalaia era uma série de ilhas entre a Europa e a Ásia. Nessa hora, um portal gigantesco foi ativado e cerca de quinhentas mil pessoas conseguiram fugir antes do golpe final. Talvez alguns tenham sobrevivido e se misturado com os vossos ancestrais e isso explicaria o senhor, Valdo. Mas foi isso que aconteceu. De duzentos milhões de habitantes, a Lemúria, agora em outro mundo, ficou reduzida a quinhentos mil. Os fugitivos perderam as coordenadas de volta e a Terra ficou perdida para nós até há uns meses. Mesmo assim, sabemos mais coisas sobre o que aconteceu. Primeiro, a desestabilização do nosso reino provocou um tsunami de proporções colossais e atingiu a costa ocidental da Atlântida. Logo a seguir, uma onda de choque deflagrou o terceiro artefato de cristal que nós escondemos e os atlantes tiveram o mesmo fim que nós, mas fugiram por portais naturais que existiam na região central e norte. Acontece que eles foram fechados pelo holocausto e os fugitivos perderam contato com a Terra, como nós. Contudo, uma grande quantidade deles deve ter sobrevivido no continente médio e hoje floresceu uma grande civilização.
– Depois disso – explicou Marlon, passando a falar –, passamos a explorar o nosso lado do Universo para termos sempre um plano B. Nisso, deparamo-nos com eles mais de uma vez e sempre acabamos em conflito. Apesar de tudo, conseguimos manter em segredo dos atlantes a posição do nosso mundo e eles também.
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