Capítulo 6 -parte 2 (rascunho)
No horário combinado, um soldado apareceu para pegar Morgana. Ela beijou Eduarda e fez um aceno para os demais.
– Volto em breve – disse. Virou as costas e seguiu o guarda.
– Boa sorte – gritou Caroline.
O guarda foi na frente. No jardim, Morgana parou por alguns segundos para se acostumar com a forte luz solar, que a agradou porque fortalecia os seus poderes. Foram pelo jardim até chegarem a uma espécie de coche. Quando sentaram, o condutor mexeu no bracelete e o estranho veículo alçou voo. Quando se aproximaram da cidade, ela notou que os prédios eram mesmo de cristal, apesar de não terem nem perto da grande beleza da Cidadela. Olhava para baixo e via ruas muito bem cuidadas, arborizadas e com vários cidadãos transitando em todas as direções, como em qualquer cidade. Pouco tempo depois, sobrevoavam um parque enorme que parecia um misto de muitas coisas. Ela via animais em alguns lugares, dando ideia de um zoológico e, em outros lugares, bancos e pequenas lugares para sentar, alguns com mesas onde se poderia fazer um piquenique. Mais para a esquerda, vislumbrou um bosque e, ao lado, um estádio bastante grande.
Notando como ela olhava a cidade, o guarda disse:
– Bonita, não é? Acho que no seu mundo não existe um lugar tão belo.
– É bonita, sim, mas não se iluda.
– Ali – apontou o estádio –, será onde lutará. Milhares de pessoas estarão presentes. Acho que nunca antes um duelo chamou tanto a atenção.
– Como vocês lutam os seus duelos? – perguntou, curiosa.
– Todo o que estiver ao alcance das mãos pode ser usado como arma. Os poderes da mente também, mas não é autorizado o uso de braceletes – olhou para ela e riu. – Bem, você não os usa. Na maior parte das vezes, o duelo finaliza com o primeiro derramamento de sangue. Neste caso, como a acusação é homicídio, o duelo será até à morte de um ou à clemência do vencedor.
– Jamais serei clemente com o assassino do meu pai – disse, abatida.
– Acha que pode vencer?
– Sim, vou matá-lo.
– Ótimo, porque eu apostei na senhora. – Ele riu e disse. – É que ninguém gosta muito do Rimon e menos ainda do seu campeão, mas tenha muito cuidado que ele é traiçoeiro.
– Obrigada, mas não haverá tempo para traições. – Morgana nada mais disse. Agora que estavam bem perto, ela via as arquibancadas tomadas de uma multidão enorme. O coche pousou na ponta da área, que devia ser do tamanho de dois campos de futebol no comprimento e outro tanto na largura, mas não tinha gramado e era em estado natural, com desníveis, arbustos e todo tipo de coisa pelo chão. Desceu e, bem à sua frente, Argonos e Rimon permaneciam de pé em uma posição destacada. Ela não pôde deixar de se lembrar da única vez que foi a Roma e esteve no Coliseu, comparando Argonos ao César.
Teve vontade de rir ao se lembrar da confusão que provocou quando usou os seus poderes para ajudar um escravo esquálido a derrotar um gladiador que era um verdadeiro gigante. Ninguém conseguia acreditar que aquele ser esquelético e quase morto de fome matou um homem cujo braço era bem mais grosso que o seu tórax.
Assim que colocou os pés para fora, uma ovação bem grande chamou a sua atenção. Nesse momento, Morgana viu o seu oponente e precisou de se controlar para não o matar naquele exato momento. O guarda levou-a e colocou-a ao lado do inimigo. Argonos levantou-se e todos calaram-se.
– Hoje, a bela Morgana Vargas Montenegro do Reino Perdido veio clamar pelo direito ao combate de honra contra o valoroso soldado Boantus. O motivo foi por Boantos e o seu grupo matarem sem causa justificável o pai dela. As regras são simples: apenas o que conseguirem pegar, a força dos músculos e da mente sem auxílio de braceletes. Como desafiado, Boantos deverá ir para o extremo oposto do estádio, enquanto Morgana ficará deste lado. Cada um deve declinar as suas qualidades e posicionar-se. O desafiado primeiro.
– Sou o nobre Boantos, soldado do Reino e lutador invicto. Participei da invasão a muitos reinos, inclusive o Reino Perdido, e matei em combate o pai de Morgana, motivo pelo qual devo enfrentá-la e matar ou morrer. Que os Deuses me perdoem. – Fez uma vênia para a sacerdotisa.
Argonos olhou para Morgana, que disse:
– Sou Morgana Vargas Montenegro, suma sacerdotisa de Avalon. Passei duzentos anos enfrentando e vencendo sozinha os exércitos de Roma. Sou filha de Igor o Poderoso, e jamais um soldado isolado me derrotará. Que os deuses o recebam em breve.
Um soldado aproximou-se de Boantos e levou-o até à carruagem que o deixou no outro lado do campo.
Um soldado levantou-se, perto deles, e disse:
– Sou Stefanos, amigo de Boantos. Se meu amigo for morto, pela lei exijo o direito a enfrentar o seu matador para defender a sua honra contra o que considero uma grande injustiça.
– Sou Cantatos – disse outro, levantando-se. – Pelos meus colegas e por nosso amigo Felicios que morreu ao amanhecer serei o desafiante seguinte.
Mais seis soldados fizeram o mesmo, provavelmente os assassinos do pai e Morgana esfregava as mãos de satisfação. Argonos teve vontade de rir porque sabia muito bem com quem lidava. Olhou para os soldados, mas Morgana antecipou-se a ele, dizendo:
– Que venham todos ao mesmo tempo, do contrário morrerei de tédio.
Tal comentário arrancou uma gargalhada geral, mas Argonos levantou-se, tentando ficar sério:
– O duelo será de acordo com a lei, apenas um contra um. Quando o combate terminar e se a desafiada aceitar, autorizarei o próximo duelo, causo ele ainda esteja de pé – respondeu. – Que comece o combate.
Morgana combateu e venceu centenas de batalhas, mas sempre que entrava em uma delas, sentia um frio na barriga. Daquela vez não foi exceção, mas a sede de sangue era intensa e tornou-se ainda maior quando viu o olhar de arrogância no soldado.
Tudo o que ela pensava era na imagem do pai que tanto desejou e talvez nunca mais voltasse a ver. Para si, eles privaram-na da maior das dádivas e agora pagariam com a vida. A uns duzentos metros dela, o homem começou a andar. No caminho, ergueu a mão e alguns galhos do chão subiram no ar, começando a se transformar em lanças.
Morgana olhou para aquela magia patética, se comparada à sua, e riu, começando a caminhar devagar, sem invocar nada. As lanças passaram a flutuar à frente do soldado até que atingiram a quantidade desejada pelo adversário. Nesse momento, elas dispararam em sua direção com uma velocidade absurda e que aumentava sme parar. A sacerdotisa estalou os dedos, e as lanças viraram pó, caindo ao chão.
Isso abalou muito a segurança do soldado que parou de sorrir. Mudando de tática, ele fez dezenas de pedras erguerem-se no ar e voarem contra ela. Mais uma vez Morgana estalou os dedos e os projetes pararam a dez metros de si como se batessem em uma barreira elástica. As pedras foram catapultadas de volta e o soldado precisou de correr para o lado ou seria subterrado.
Era um homem alto, se comparado a ela. Ele devia ter quase um metro e oitenta e, apesar de magro, era muito menos que os outros. Tinha olhos claros, mas desagradáveis. Ele começou a correr e parecia inchar, aproximando-se dela. Morgana apenas ergueu a sua barreira verde e aguardou. Quando o soldado a alcançou, o seu braço parecia maior do que a musculatura de qualquer halterofilista e desferiu um soco imponente e destrutivo, mas Morgana nem se mexeu um milímetro. Aconteceu um som seco e o homem caiu de costas a gritar de dor.
Nesse momento, a sacerdotisa ergueu as duas mãos e uma cascata de raios de alta voltagem saiu com tudo e atravessou o corpo do inimigo, provocando-lhe convulsões horríveis e descontroladas. Boantos passou a gritar desesperado, enquanto suas mandíbulas tremiam e os dentes batiam com tanta força que ele achava que se quebrariam em breve. Ao fim de alguns segundos, Morgana suspendeu o tratamento, mas o corpo maltratado pelas descargas de alta voltagem, coisa que eles desconheciam, não conseguia parar com as convulsões, acalmando-se devagar.
A feiticeira da Terra não tinha mais controle das suas ações. Tudo o que sabia é que tinha uma dor atroz e uma lacuna provocada por aquele homem e seus companheiros. Mal as convulsões cessaram, ergueu a mão esquerda, apontando para o corpo do soldado e levantou-a mais, fazendo o sujeito flutuar à sua frente. A seguir, ergueu a mão direita e concentrou-se um pouco. Do nada, a espada do pai apareceu na sua mão, dourada e flamejante. Ele fez um gesto violento de repulsão com a mão esquerda e o soldado foi atirado para trás em um voo descontrolado. Ao mesmo tempo, lançou a espada flamejante, que perseguia o antagonista, fazendo uma trajetória parabólica. Quando o corpo caiu ao solo, a quase trinta metros de distância e já quase sem vida, a espada alcançou-o e trespassou-lhe o coração, cravando-se no solo com um som seco. O brilho da arma desapareceu e só então ela notou que a plateia estava muda, pasma.
Morgana olhou para Argonos e disse:
– Quem é o próximo?
Argonos riu alto e virou-se para a arquibancada.
– A bela Morgana aceita o desafio.
Stefanos levantou-se e o ritual de apresentação começou. Dessa vez, Morgana foi quem teve de ir para o extremo oposto do campo. Quando autorizada, começou a caminhar sem pressa. O soldado, já não tão seguro de si, aproximou-se da espada e agarrou-a. Tentou retirá-la do corpo do amigo porque viu que ela continha muito poder, mas a arma não saía do chão, como se a tivessem soldado. Segurou com as duas mãos e puxou com força. A primeira sensação foi um leve formigamento, mas, depois, as convulsões foram atrozes. Morgana aproximava-se veloz, mas sem pressa e parou a uns vinte metros de distância do seu alvo. Criou uma esfera de plasma e arremessou, carbonizando o desafiante no ato. Agora havia dois corpos, mas a espada ainda estava no mesmo lugar, intacta.
Morgana aproximou-se e disse:
– O próximo, por favor?
O próximo soldado levantou-se e disse:
– Retiro o meu desafio.
A seguir os demais fizeram o mesmo.
– Covardes – respondeu a sacerdotisa.
A ofensa foi uma das mais graves que se poderia proferir naquele povo, mas, mesmo assim, ninguém se manifestou para a desafiar.
Argonos deu uma risada e disse:
– Sou forçado a concordar consigo, Morgana. Pronto, o seu pai está vingado e a senhora deu um espetáculo que não se via há mais de trinta mil anos. – Levantou-se e estendeu a mão. – Venha, quero falar com você.
Morgana virou-se para trás e levantou a mão acima da cabeça. A espada desapareceu do corpo do soldado e surgiu na sua mão, limpa e resplandescente. Ela encostou-a junto ao corpo e a arma desapareceu em outra dimensão. A seguir, aproximou-se de Argonos. Que abriu a porta de um coche para que entrasse. Sentou-se ao seu lado, calado, e a sacerdotisa não se manifestou.
Quando desceram no palácio, Argonos levou-a para dentro e sentou-a apontou-lhe um sofá confortável no seu gabinete.
– Não queria testar a sua força se usasse um bracelete.
– Vocês dependem deles?
– Apenas alguns usam, soldados, nobres, dirigentes – explicou ele, tranquilo. – Os braceletes são demasiado caros. Por isso, gostaria de saber o que fizeram com o soldado que morreu quando trouxeram vocês.
– Foi a minha mãe que o matou – disse Morgana. – Ela deve saber o que aconteceu, mas não espere uma resposta dela para tão cedo porque entrou em choque com a façanha dos seus homens. O mais provável é que ainda esteja na casa onde nos atacaram. Afinal, por que motivo nos atacaram, se têm essas leis?
– Queremos o Reino Perdido, ora.
– Suponho que chama o nosso mundo de reino perdido – disse Morgana, pensativa. – Sabem que, apesar desse poder todo, se forem para a Terra serão destruídos?
– Tudo é uma questão de tática, minha querida – respondeu Argonos, sorrindo. – Algo me diz que vocês são poucos e nós somos mais de dois milhões.
– Somos poucos, sim, mas os mundanos são seis bilhões e têm armas de destruição em massa que eu não arriscaria provar. E por que raio desejam a Terra?
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