Capítulo 5 - parte 1 (rascunho)

Eduarda ria da confusão generalizada dos captores. Eles tentavam aprender a língua dela, mas Eduarda teve a malícia de misturar os poucos idiomas que conhecia, auxiliada pelos conhecimentos dos outros. Assim, quando o invasor pensava que entendia alguma coisa de português, ela falava inglês e uns pingos de espanhol, deixando-o baratinado. Para piorar a vida dos algoses, o pai da Carol falava muito bem o alemão e dinamarquês, além da mãe francês, fechando o ciclo com Morgana que arranhava o latim com razoável fluência e, Carol, português, inglês e espanhol, que aprendeu com o marido.

No terceiro dia, Rimon entrou em desespero e foi consultar o superior. Argonos era muito mais perspicaz e decidiu ir ele mesmo ver os prisioneiros, prestando bastante atenção no que ocorria. Em silêncio observava o falatório e acabou por dizer:

– Está na cara que cada um deles fala uma língua diferente. Quantos idiomas tem nesse mundo maluco?

– Muitos, senhor – respondeu ele. – Esses degenerados devem ter esquecido o seu passado grandioso quando só existia uma língua naquele mundo.

Argonos notou que os prisioneiros prestavam atenção nele, mas faziam caras de desentendidos. Quando se calou, começaram a falar entre si.

– Acho melhor tentar aprender a língua deles por lá – continuou o governante. – Está na cara que estes aqui aprontaram alguma coisa para nos confundirem e nem posso culpá-los disso. Tente descobrir algo no Reino. Se em duas semanas não tivermos resultados, autorizarei um interrogatório psicológico.

– Sim, senhor – disse Rimon, retirando-se com o superior.

Eduarda olhou pela grade, enquanto se afastavam e disse, quando era seguro, apesar de nada saberem direito:

– Vocês viram? Estes diabos sabem muito mais do que pensamos. Não são simples invasores. Conhecem o passado mais remoto da nossa espécie!

– Tem toda a razão, Eduarda – disse a mãe da Caroline, pensativa. – Isso implica em saberem de um passado de mais de dez mil anos.

– Eu tenho é medo de saber o que é esse tal de interrogatório psicológico – comentou Morgana, apreensiva. – A primeira vez que o feioso veio aqui, ele mencionou algo que dava ideia de morte.

– É verdade – disse o pai da Caroline. – No entanto, agora temos que ganhar tempo. Tenho a certeza de que Igor deve estar tetando de tudo para nos achar.

– Espero – comentou Eduarda, aflita. – Não sei se foi boa ideia deixar Ailin adormecida e sozinha dentro do armário.

– Foi sim, Duda. Tem fé no Igor – disse Caroline. – Eu sei que ela ia sofrer muito mais que nós aqui e sei que Igor não se entrega fácil. Afinal, ele já deu provas da sua dedicação, especialmente contigo.

– Obrigada, Carol. Sinto muita falta dele.

– Também sinto – confessou Caroline. – Ele sempre foi o nosso polo de equilíbrio, desde crianças. Ele fazia a gente sentir-se segura. Era a pessoa mais especial que conheci.

– Pelo amor da Deusa – gemeu Eduarda. – Não me fales dele no passado que até fiquei arrepiada. Ele está vivo!

– Calma, Duda – Carol sorriu, falando em português e com os olhos sonhadores. – Falei no assado apenas porque me referia ao nosso passado de crianças, quando tínhamos quatro anos e éramos apenas um bando de jovens estudante que fazíamos muita bagunça e deixávamos loucos os guardiões dos aprendizes. Era era sempre o nosso líder natural e protetor. Se alguém era apanhado, Igor logo assumia a culpa para não sermos castigados, mesmo quando o guardião via quem era o verdadeiro culpado. Daí ele dizia que era culpa dele porque a brincadeira foi ideia dela. Quem diria que se tornaria o nosso senhor todo poderoso.

Ambas calaram-se pensando em Igor cada uma à sua maneira. Caroline deu um suspiro e riu, emendando:

– Sabes, naquela época eu achava que ia casar com ele. Aqueles devaneios de menina pré-adolescente. Mas o sentimento que tínhamos um pelo outro era tão forte que até parecia verdade. Então, quando namoramos por uma ou duas semanas, descobrimos que havia um grande e inabalável amor entre nós, mas não era para casamento. Éramos irmãos, talvez até mais que isso porque isso aconteceu por nossa escolha. Hoje eu estou muito feliz que ele te tenha encontrado.

Eduarda ouviu aquilo em silêncio. Elas eram muito amigas, mas nunca antes haviam aberto os corações em relação a Igor. Finalmente ela disse:

– Eu vi isso, Carol. E vi que era tão forte que muitas vezes o ciúme subiu à tona, mas há algum tempo, desde Avalon, na verdade, que compreendi tudo muito bem. Só Igor é que não notava como eu me sentia.

Num impulso, a feiticeira inglesa abraçou a amiga. Depois emendou:

– Ele sempre foi muito distraído para notar os nossos ciúmes. Talvez pela sua pureza tão grande que jamais lhe ocorreu enganar alguém.

― ☼ ―

Teodoro e Valdo vinham pela rua quando viram Ailin junto com Ezequiel e Nealie. O instinto falou mais alto e Valdo ficou lívido. Apressou o passo e Ailin correu a abraçá-lo, quando o viu.

– Oi, minha linda – disse. – Cadê o teu pai?

– Papai foi salvar a mamãe, tio Valdinho – disse a pequena. – E tu, tio, também vais salvar a mamãe? Afinal eles sempre contam como tu e Gwydion foram ajudar a salvar a mana!

O jovem ficou ainda mais pálido e virou-se para Ezequiel, que fez um aceno imperceptível com a cabeça. Valdo virou-se para Ailim e deu-lhe um beijo, colocando-a no chão.

– É claro que vou salvar a tua mãe, meu amor. Para mim, os teus pais são os meus melhores amigos. Vai brincar um pouco com Saci, querida, que desejo falar com vovô Ez – disse. Virou-se para o dragão e pediu em pensamento. – "Saci, por favor, podes distraí-la?"

– "Claro" – disse a voz do dragão na sua mente. Valdo virou-se para Ezequiel e encarou-o, sem falar nada. Entendendo o pedido silencioso, o mago começou a falar.

– Morgana, Eduarda e Carol foram sequestradas junto com os pais dela, provavelmente por alienígenas.

– O quê? – perguntaram Valdo e Teodoro ao mesmo tempo, ambos de olhos arregalados. Valdo pediu. – Continue, por favor.

Ezequiel contou tudo o que sabia e a decisão do guardião supremo. Terminou, dizendo:

– Ele pediu para trazer Ailin aqui de forma a que a protejamos porque algum dos sequestrados pode dar com a língua nos dentes em relação ao Mundo de Cristal, mas Céltia é sem expressão no que tange ao invasor.

– Faz sentido, Ez, mas eu preciso de ajudar Igor – disse Valdo, preocupado. – Talvez os meus dons diferentes possam ajudar, sem falar que este ano evoluíram muito. Sou capaz de fazer coisas que nem Igor sonha.

– Talvez tenhas razão, Valdinho, mas ele não deseja que mais ninguém se arrisque.

– Bem sei que ele é o nosso chefe todo poderoso etcetera e tal, mas antes de mais nada é meu maior amigo e não me importo nem um pouquinho com as suas ordens e desejos – afirmou, exaltado. A seguir, resmungou. – Eu já decidi e pronto.

– E como pretende encontrá-lo em uma cidade que o senhor desconhece, caro Valdinho – perguntou Ezequiel, debochado e cruzando os braços. – Acha que é vidente?

– Eu, vidente? – Valdo riu a bom rir e estendeu o telefone. – Eu só preciso deste adivinho, Ez, o meu telefone. Sabe o que é um GPS? Bem vindo ao século XXI.

Ezequiel arregalou os olhos e depois caiu na gargalhada, deixando Valdo desorientado.

– Boa, Valdinho – disse, ainda rindo. – Faça-me um favor e chute o traseiro deles por mim. Eu não posso deixar Ailin desprotegida porque nem ele nem a minha filha me perdoariam, mas sei que o mais importante agora é o amigo em que se possa confiar cegamente, mesmo se não for superpoderoso como ele.

– Combinado – disse Valdo. – Agora vou falar com Irla e depois vou para Londres, mas volto aqui.

Deu um beijo na Nealie e em Teodoro e saiu andando para fora da cidade. Não precisou de andar muito quando Gwydion pousou ao seu lado.

– "Sobe, Valdo" – disse o gigante. – "Eu te levo lá."

– Obrigado, Gwydion.

― ☼ ―

Igor dormiu mal, mas pelo menos teve um pouco de descanso que lhe restabeleceu as forças. Levantou-se e tomou café, pensando em tudo. A seguir, abriu um portal direto na sala da Caroline e voltou para o centro dos problemas. Mal fechou a passagem, a ideia de como atrair o inimigo surgiu como que em um passe de mágica. Riu por ser algo tão simples e recriminou-se por não ter pensado nisso antes. Decidiu fazer a experiência ainda naquele dia, mas no final do dia e em um lugar público para evitar surpresas desagradáveis. Não sabia, contudo, se deveria informar Lídia. Cauteloso, achou melhor não fazer isso.

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