Capítulo 4 - parte 2 (rascunho)
Eduarda sentiu a sede apertar e lembrou-se de que poderia criar água. Sem pensar abriu a mão e desejou um copo, mas nada aconteceu. De olhos arregalados, sentiu como se lhe tivessem tirado o tapete dos pés.
– É, mãe, sabem inibir os nossos poderes...
Morgana ia falar mais, mas a porta abriu-se e alguns homens entraram. Deixaram uma mesa com bastante água e alimentos de aspecto tentador.
– Pelo menos – disse a mãe da Caroline – esses aqui não são mesquinhos com a alimentação.
Serviram-se de água e comeram à vontade. Quando acabaram, alguns homens apareceram e observaram-nos. Um deles era muito alto, até imponente, apesar de eles naturalmente magros.
– Então foram estes aqui que lutaram e conseguiram matar Spartiam? – perguntou um deles para o companheiro.
– Sim, Argonos, e feriram mais dois companheiros – respondeu o outro. – Têm uma força absurda e o engraçado é que não usam braceletes. Estão envoltos em campos de inibição.
– Muito bem, eu desejo que sejam interrogados, mas não cometam o mesmo erro inicial. Ou vocês aprendem o idioma deles eu ensinam-lhes o nosso, compreendeu, Rimon? Lembre-se de que somos civilizados e só matamos em combate. Não desejo mais degenerados mortos.
– Sim, senhor – respondeu o menor. Nesse momento, Eduarda agradeceu à Deusa por ter tido a ideia de não os deixar saber que conheciam aquele idioma. Ela e a filha trocaram um olhar de cumplicidade.
Os homens saíram e outros levaram-nos para fora. Ela viu um pátio com um gramado enorme e muito bem cuidado. Ao longe, havia alguns prédios não muito altos que, curiosamente, pareciam de cristal ou algum material similar. O lugar era muito bonito.
Eduarda testou os seus poderes, agora que estava na rua, mas ainda continuava incapaz, apesar de ter sentido certa energia.
Os captores fizeram-nos ficar ali, tomando ar e sol por duas horas, quando os levaram de volta para a cela. Com um suspiro Eduarda resignou-se a aguardar.
― ☼ ―
Igor passou mais vinte e quatro horas naquele lugar, mas, como previra, não encontrou outras pessoas com ondas mentais divergentes. Aborrecido, voltou para a casa da Carol, em Londres. A seguir, saiu e pegou o metro, indo para o Hide Park passear. Andou um pouco, pensando em todas as alternativas. Havia dois lugares certos para encontrar o invasor: Londres e a estalagem, mas o lugar perto do lago na certa deixou de ser uma opção porque, com toda a certeza, a informação de que alguém os perseguia sabia do local.
Sentou-se em um banco e ficou assim por muito tempo, sempre analisando. Enquanto fazia isso, o seu espírito prescrutava tudo, não perdendo uma única pessoa de vista. Por conta disso, espantou-se um pouco quando viu Lídia caminhando na sua direção. Como ela vinha de forma bem espontânea, não reagiu e optou por aguardar, observando-a e notando que ela não se diferenciava em nada de um ser humano. Ela aproximava-se devagar e em silêncio, além de séria, mas o que Igor gostaria muito de saber era como ela o soube encontrar com tanta facilidade. De certa forma, achou isso muito preocupante. A mulher sentou-se ao seu lado e Igor nada disse. Olhou em frente e sentiu a brisa fresca a bater no rosto, dando um suspiro. Lídia aguardou um par de minutos e, por fim, suspirou e disse:
– O seu mundo é belo demais, Igor. O nosso também é, mas este...
– É isso que desejam? – perguntou ele. – Conquistar a Terra?
– Não somos conquistadores, Igor, e sim observadores. Não somos o inimigo. Se fôssemos, eu não o teria poupado no bosque porque o nosso segredo é demasiado importante. Por sinal, me perdoe. Eu não desejava feri-lo, mas você é demasiado poderoso para que eu o pudesse enfrentar abertamente.
– Tudo bem – resmungou o mago. – Mas se não são o invasor, o que fazem aqui?
– Há coisas que não posso contar, mas nós somos observadores. O invasor é nosso inimigo, mas não podemos interferir para não desequilibrar o poder.
– Há quanto tempo está neste mundo? – perguntou ele.
– Alguns meses da sua contagem de tempo. Chegamos muito antes deles. E sim, foi a sua onda de choque que atraiu a nossa atenção, nossa e provavelmente deles também.
– Vocês parecem geneticamente idênticos a nós e isso não faz sentido para alienígenas.
– Há coisas para a qual não tenho autorização para falar.
– Sabe ao menos para onde levaram a minha esposa?
– Não sabemos onde fica o mundo deles, que deve ter sido para onde levaram.
Igor ficou ainda mais aflito e abatido. Lídia notou e pôs a mão no seu pulso, procurando acalmá-lo.
– Eu estou aqui porque desejo ajudá-lo, Igor, e pior, estou contra a vontade de muita gente, então seja paciente.
Igor olhou nos seus olhos e sorriu pela primeira vez em alguns dias um sorriso verdadeiro.
– Obrigado, Lídia – disse, por fim. – No que acha que pode ajudar?
– Ainda não sei, mas pretendo ajudar. Sabe onde foi que abriram a passagem com a sua esposa?
– Sim, sei.
– Então, depois mostre-me onde foi porque talvez consiga rastrear alguma coisa – disse a moça –, mas agora gostaria de algumas informações.
– É justo – respondeu, lacônico.
Lídia ajeitou-se no banco e virou-se um pouco mais para o lado, encarando o mago nos olhos.
– Encontramos o seu mundo aproximadamente dez dias depois do grande abalo, dez dias da sua contagem de tempo – começou por falar. – Em todos estes meses, estudamos vocês com o máximo de cuidado e aprendemos alguns dos principais idiomas. Notamos que desenvolveram uma tecnologia mecânica avançada, mas não vimos ninguém como nós ou o senhor, Igor. Em que país ou lugar é que se fala essa língua? Por favor, você não me convenceu com essa história de descendentes.
– Não a acha plausível?
– Acho, mas tenho um sentido que me diz quando a pessoa mente. Além disso, não há seres humanos como o senhor. De que mundo é?
– Eu nasci no Brasil, imagino que conheça, mas descendo de uma linhagem muito antiga de celtas, hoje desconhecida. Os magos, pessoas como eu, por exemplo, começaram entre os celtas, mas agora há magos em todos os lugares e povos, só que aprendemos a nos esconder porque fomos perseguidos na antiguidade. Essa era a nossa língua materna e mantivemos como a língua oficial do nosso povo. A maioria de nós não vive neste mundo. – Igor abriu as mãos em arco e a imagem da Cidadela surgiu, fazendo a alienígena arregalar os olhos, estasiada. – Temos o nosso próprio mundo onde vivemos em paz e sem precisarmos de nos esconder de ninguém.
– Isso explica o fato de apenas termos ouvido uma pessoa além de você usando esse idioma – comentou Lídia. – Esse mundo que me mostrou é a coisa mais bela em que já pus os olhos.
– Talvez um dia lhe mostre o meu mundo, mas agora ele está em alerta total e um não mago entrando lá poderia ser vaporizado, sem falar que eu desejo encontrar a minha família – disse Igor. A seguir emendou. – Como era essa outra pessoa que falou em celta?
– Não fui eu que a observei, mas o meu colega comentou que ela era a mais bela e perfeita mulher que já viu. Estava com outras pessoas.
– Onde foi isso? – perguntou ele, empertigado. – Sabe descrevê-la?
– Foi neste parque – respondeu. – Não saberia descrever, mas ele projetou uma imagem da mulher porque ficou deslumbrado com ela. Se a visse, saberia quem é.
– Seria esta? – perguntou Igor, estendendo o celular e mostrando uma fotografia da Morgana e Ailin. – Acha que a reconheceria?
– Era ela, de certeza – disse Lídia. – E a criança estava junto, mas ela não disse que era mãe e sim irmã.
– As duas são minhas filhas – disse Igor, mostrando a foto da esposa. – Esta é a minha mulher. A pequena escapou do sequestro e está em outro mundo com um dos avôs e mais alguns a protegerem-na.
– Quantos anos você tem, Igor?
– Vinte e cinco, por quê? – perguntou ele.
– O senhor não tem idade de ser pai de uma mulher dessas. A menor sim, mas a outra é impossível.
– A minha filha Morgana nasceu há quase mil e setecentos anos, Lídia, mas só tem duzentos de vida – disse Igor, rindo da sua cara de espanto. – Contudo, ela é minha filha.
– Mas como?
– Durante uma batalha contra uma criatura de outro plano, fui arremessado ao meu passado. É muito complicado de explicar, mas eu regatei a minha filha naquela ilha onde ocorreu o abalo. Mas, agora, acho que me deve uma pequena explicação.
– Pois não?
– Pelas suas insinuações, o celta não foi um idioma que aprendeu aqui e sim um que já conhecia e presumo que se trate do seu idioma nativo. Explique isso.
– Não estou autorizada, elo menos por enquanto, a falar sobre o nosso mundo e origem, mas sim, falamos esta língua desde sempre. O que posso contar é que a Terra nem sempre foi desconhecida para nós e provavelmente, há uns bons milênios, tivemos contato com os seus ancestrais.
– Faz sentido – comentou ele, com um suspiro. Virou o rosto para ela e perguntou. – Alguma sugestão de como pego essa gente?
– Eles são demasiado perigosos e possuem armas fenomenais, Igor, tenha muito cuidado.
– E como posso chamar a atenção deles?
– Se souberem como você é, vão tentar capturá-lo.
– Não posso espalhar ao mundo o que eu sou, Lídia.
– Sim, eu compreendo isso – respondeu ela. – Deixe-me ver o portal. Sou uma rastreadora e talvez descubra algo.
– Venha – disse o mago, levantando-se.
Lídia seguiu ao seu lado e, quando Igor chegou a uns arbustos altos que os encobriam de tudo, pegou o seu ombro e transportou-se para a casa da Caroline.
– Isso é simplesmente fantástico – disse Lídia. – Nenhum de nós desenvolveu esse dom.
– Aqui também são poucos os que podem fazer isso – explicou Igor. – Esta é a casa da Carol, a amiga que estava com a minha mulher e filhas. Elas foram atacadas ali, na cozinha e eu senti vestígios de um portal aqui onde estamos.
– A sua sensibilidade é grande – comentou Lídia, enquanto estendia as mãos e procurava absorver alguma coisa. – Sim, eles abriram a passagem aqui e foi há dois dias, no máximo três. Será impossível encontrar o destino.
– Bem – disse Igor, abatido. – Tenho que dar um jeito de despertar a atenção deles.
– Você tem algum lugar secreto onde possa esconder-se em caso de emergências? – perguntou, Lídia. – Um lugar onde possa encontrá-lo em caso de necessidade?
– Sim – respondeu ele. – Vou lhe mostrar a passagem.
Igor olhou para a frente e a passagem abriu-se, mostrando o cânion em todo o seu esplendor. Ele atravessou e virou-se, aguardando Lídia, que sorriu e seguiu o novo amigo. Mal fez isso, o mago fechou a passagem.
– Estamos no Brasil, no sul do Brasil. Muito poucas pessoas conhecem este lugar. Consegue identificar o caminho?
– Sim, consigo, embora com bastante dificuldade – disse ela, assombrada. – O seu portal é muito difícil de rastrear, tanto quanto os dos nossos inimigos. Notei que tem extrema facilidade em abri-los.
– Sim, é muito fácil, para mim – respondeu Igor. – Na verdade atravesso todos os panos em uma só passagem. Além de mim, apenas a minha filha menor pode fazer isso. Quanto à dificuldade, presumo que seja pelas nossas naturezas. O seu também não fui capaz de rastrear.
– Não sei não – disse Lídia, abanando a cabeça. – O seu portal tem um eco enganoso. O meu, foi impossível de rastrear porque usei uma proteção contra rastreamento.
– Essa é boa – comentou o mago. – preciso de desenvolver uma forma de fazer isso.
– É muito simples – disse a mulher, explicando como. Quando terminou, Igor sorriu e ela olhou em volta, maravilhada. – Isto aqui é lindo demais.
– É sim – concordou ele. – Bem, eu preciso descansar um pouco que não durmo direito há quase três dias e nem sei se conseguirei de novo, mas acho melhor ficar aqui para não ser surpreendido por atacantes quando não estiver em condições de me defender. Consegue voltar sozinha ou prefere que eu abra a passagem.
– Deixe que eu mesma faço – disse ela. – Até breve, Igor, espero que tenha sucesso. Manterei contato.
– Obrigado. – Tão logo ela saiu, Igor entrou na cabana de Ezequiel e deitou-se para tentar dormir um pouco.
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