Capítulo 4 - parte 1 (rascunho)


Em Céltia, era dia claro quando Ezequiel surgiu na praça dos portais, perto da casa de Valdo. Nealie estava no jardim com o bebê quando os viu e sorriu para a menina, que correu ao seu colo.

– A sua cara não parece muito boa, Ezequiel – disse para o tetravô. – Algum problema?

– Sim, e dos grandes, muito grandes mesmo – respondeu o mago, preocupado. – Onde está Valdo?

– Ele e Teo estão lecionando, neste momento – disse a moça, sentindo o mesmo. – Me conte o que aconteceu.

O sábio começou a relatar tudo, e a sacerdotisa ficava cada vez mais pálida.

― ☼ ―

Eduarda não sabia o que fazer. Primeiro precisou de lutar como nunca antes fez. A primeira a cair foi Caroline porque apanharam-na de surpresa. Morgana reagiu e atordoou um dos invasores, apesar de que devia tê-lo morto, em circunstâncias normais. Ela ainda viu que a Carol não fora morta e sim paralisada. Tratou de esconder a filha às pressas e retornou para ajudar. Apenas Morgana, envolta na sua proteção verde, ainda lutava contra cinco dos atacantes. Os pais da Caroline também haviam caído. Ela reuniu todas as forças que tinha em uma bola de plasma pequena mas muito concentrada e lançou sobre um deles, acertando-o em cheio. Foi uma satisfação vê-lo cair morto e a filha exultou, mas isso foi o fim para a Morgana que recebeu o impacto do agente paralisante. Desesperada, Eduarda correu escadas acima enquanto um delas a perseguia e os demais juntavam o companheiro morto e as presas. Na porta do quarto, ela não foi atingida por pouco e revidou, tendo a sorte de o atingir e ferir. Voltou e arrancou o bracelete porque os viu a mexer nele durante os ataques e levou para Ailin, dando as suas instruções.

Mal terminou, levantou-se e fechou a porta do armário, preparando-se para lutar. Ao chegar à porta, havia mais um entrando e atingiram-na. Sentiu-se carregada e descobriu que não perdera a consciência, apenas a mobilidade. Os estranhos invasores não proferiram uma única palavra e abriram um portal no meio da sala. A feiticeira notou de cara que era um portal diferente dos deles e não conseguia rastreá-lo, deixando-a em pânico. Os sobreviventes levaram primeiro os corpos dos companheiros tombados, apesar de apenas um estar morto, como ela veio a notar. Depois, levaram-na a si e aos companheiros. Quando chegaram ao outro lado o portal desfez-se e colocaram-nos em uma carroça. Pela primeira vez um dos homens falou e, para seu espanto, entendeu o que diziam porque era um dialeto derivado do celta. Tinha alguma dificuldade, mas conseguia entender. Para sua infelicidade, falavam de coisas triviais. Não conseguiu ver grande coisa do caminho e daquele mundo porque não conseguia se mover, mas, quando chegaram ao destino, colocaram todos juntos em um tipo de cela. Cansada e dolorida por causa da paralisia, adormeceu.

― ☼ ―

Igor estava que era um feixe de nervos, mas não sabia o que fazer. Quem seria o invasor capaz de colocar por terra três das mais poderosas feiticeiras. Eram muitas dúvidas e nenhuma pista. Quando terminou o café, levantou-se e foi para a sala, pensativo. Nesse momento, sentiu uma vibração sutil, quase indetectável, mas era uma prova de que alguém abrira um portal bem ali, na sala. Considerando o tempo desde que o sequestro ocorreu, ele deveria ter sido capaz de senti-las com muito mais intensidade e mais ainda, deveria ser capaz de os seguir, mas não podia.

A ideia de que os eventos de Avalon poderiam ser responsáveis pela localização da Terra perante o invasor não era de todo desprezível e, na falta de melhor opção, decidiu dar um pulo na estalagem do lago.

Fechou os olhos e visualizou o melhor lugar para chegar lá. Sem dificuldade, abriu a passagem na entrada do bosque, aproveitando que era noite. Caminhou em direção ao lago na parte do simpático hotel e notou que havia alguns hóspedes. Calculou que devia ser alta temporada e achou isso bom porque passaria desapercebido. Concentrou-se e foi andando perto da margem, mas não sentiu nenhum portal, nem do seu tipo nem dos invasores. Sentiu, no entanto, um desvio estranho. Não muito longe dele havia pessoas incomuns; magos, talvez, mas como identificá-los é que se tornava um problema.

O telefone tocou, e o mago atendeu, distraído. Não olhou quem era, mas a voz em celta revelou o marido da Carol, a sua mais antiga e querida amiga.

– "Salve, Igor" – disse ele. – "Acabei de sair do laboratório do doutor Zeiss e deixei lá o bracelete. Eu contei-lhe tudo e ele fez umas consultas ao computador."

– Disseste que não era para estragar o artefato?

– "Claro. Bem, ele obteve com o computador a resposta de que Avalon pode ser a causa desta invasão. A máquina de cristal atribuiu uma probabilidade de setenta e cinco por cento."

– Estou justamente na hospedaria à beira do lago, Hernandez. Obrigado. Mantém-me a mim e a Ezequiel informados. Precisamos de achar e pegar os invasores do nosso mundo o quanto antes. Temo pelas vidas as nossas esposas, sem falar na minha filha e nos teus sogros.

Igor desligou o telefone e olhou para o negrume no meio do lago, pensativo.

– Em que lugar deste mundo ainda se fala essa língua? – perguntou uma mulher de voz simpática e suave, usando a língua celta.

Igor virou-se, assutado e pronto para reagir a qualquer coisa, mas tudo o que viu foi uma mulher comum. Na verdade, ele achou-a mais comum impossível. Tinha cabelos negros e olhos castanhos, feições suaves com o rosto de tez escura, como se fosse bem queimado pelo sol. A face era bonachona e devia ter os seus vinte e cinco anos, não mais que isso. Vestia uma calça jeans justa e uma camiseta que tinha a bandeira dos Estados Unidos no peito. Ela sorriu e o mago retribuiu.

– Olá. Sou Lídia. Então – voltou a perguntar. – Onde ainda se fala essa língua.

– Já lhe ocorreu que talvez precisasse de a matar se soubesse disso? – perguntou Igor, simpático. – Sou Igor.

– Prazer, Igor. – Lídia encolheu os ombros. – Você não tem cara de quem mataria uma mulher a sangue frio.

– E você? – perguntou ele. – Onde aprendeu celta?

– Estudo línguas anciãs – respondeu a mulher. – Mas acredito que tenha perguntado primeiro.

– Bem, já que está tão curiosa – respondeu Igor, usando o subterfúgio combinado pela família. – Sou descendente de celtas e ainda preservamos a nossa língua original, além de parte da cultura.

– Isso é legal – disse ela, rindo. – Importa-se se eu continuar falando esse idioma consigo, para treinar?

– De forma alguma – respondeu Igor, com um sorriso. – Por acaso passa férias aqui, Lídia?

– Sim, este lugar é adorável. Gostaria de tomar um chá? – perguntou a moça, fazendo sinal para um pequeno café logo ao lado da entrada do hotel, uma novidade desde a última vez que lá esteve.

– Por que não? – respondeu com outra pergunta, acompanhando a mulher.

― ☼ ―

Eduarda voltou a si e descobriu que os demais já estavam bem. Sentou-se e olhou para a filha de outra vida.

– Alguém já veio aqui? – perguntou ela.

– Não – respondeu Caroline. – Você está bem? Levou bem mais tempo que nós para acordar!

– É natural, já que fui a última a ser derrubada. Pelo menos, salvei Ailin. – Eduarda olhou para os companheiros e disse. – Eles falam um derivado do celta, então vamos falar qualquer coisa menos celta. É melhor ganhar tempo.

– Faz sentido – disse o pai da Caroline. – Conheço bem o seu marido e ele jamais desiste fácil. Quero ver esses trastes enfrentarem-no.

– Eles são demasiado poderosos – disse Morgana, muito preocupada. – Mas o meu pai deve ser mais forte, só que tenho medo que não consiga enfrentar um grupo deles.

– Temo que o meu Igor não consiga nos encontrar – disse Eduarda, ainda mais preocupada. – Notei que o portal deles é diferente e quase impossível de rastrear. Será que têm mais prisioneiros aqui?

– Acho que sim – respondeu Carol. – Só gostaria de saber quem são esses sujeitos e o que eles desejam.

― ☼ ―

– Você falou em invasores deste mundo, Igor – disse Lídia, curiosa. – O que quis dizer com isso?

Igor tinha os olhos fixos nela enquanto bebericava o chá. Terminou de dar um gole mais longo e respondeu, devagar sem tirar os olhos dela.

– Quis dizer que alienígenas invadiram a Terra e sequestraram algumas pessoas, provavelmente para estudos. Acontece que três dessas pessoas abduzidas são o que tenho de mais importante na vida. A minha esposa, a minha filha e a minha irmã de criação. Por isso eu gostaria muito de saber por que motivo vocês fizeram isso?

– Que horror, Igor – respondeu Lídia, rindo. – Não vai querer que eu acredite nisso, não é?

– A senhora pode acreditar no que desejar, minha querida, mas tenho a certeza de que é uma alienígena. Por isso, se deseja viver, não faça tolices porque ando muito nervoso.

– Pelo amor de Deus, Igor, seja coerente...

– Vamos dar um passeio que desejo lhe mostrar algo – pediu o mago, levantando-se e pagando as bebidas. Curiosa, a mulher acompanhou-o. Igor levou-a para perto da floresta e, quando chegou ao local propício, segurou o seu ombro.

Nesse momento, Lídia descobriu que estava em outro lugar. Ainda era perto do lago, mas dentro do bosque.

– O que é isso? – perguntou, espantada.

– Uns chamam de milagre, outros de magia. Eu prefiro teleportação. Desejo ir a algum lugar e pronto, estou lá.

– O que deseja me mostrar? – perguntou, dando o ouro assunto por encerrado.

– Aqui perto – começou, apontando para as costas dela –, há um portal, na verdade três, que levam a uma ilha no meio de três mundos e de cujo tempo flui em velocidade diferente. Aconteceu uma coisa ano passado que provocou uma tremenda onda de choque e acredito que isso tenha despertado a curiosidade de muita gente que não é daqui da Terra. Quem raptou a minha família, usou um portal muito difícil de rastrear.

– Quer que eu acredite em uma baboseira dessas? – perguntou Lídia, rindo.

– Não ofenda a minha inteligência, Lídia – disse Igor, calmo e professoral. – Uma pessoa normal ainda estaria piradinha com o fato de ter teleportado para aqui, mas você nem se preocupou. Apenas me diga uma coisa: o que desejam de nós? Por que motivo nos sequestram se somos pacíficos. Eu não gostaria de entrar em conflito com o seu povo, mas se precisar, exterminarei a vida no seu mundo e asseguro-lhe que, para mim, isso é muito fácil de fazer.

Lídia parou de rir, talvez até de fingir, na opinião do mago. Ela olhou para ele e disse, muito séria.

– Não é nada do que imagina, Igor. Nós não sequestramos ninguém, eu lhe juro. Mais, não posso dizer. Apenas que não somos responsáveis pelos sequestros.

– Lídia, tem ideia do que posso fazer com vocês? – perguntou o mago, aflito. – Eu só as quero de volta. Não me obrigue a atacar.

– Eu juro, Igor – respondeu ela, aflita. – Sou normal.

– Muito bem – disse Igor, erguendo a mão que começou a brilhar em tom laranja. – Não me deixa alternativa...

Igor não completou a frase. Uma pancada seca de algo brilhante em tom dourado atingiu-o e ele caiu, tonto.

– Desculpe... – Lídia correu uns metros e parou, enquanto o mago, ainda tonto, sentava-se. Ela ergueu a mão direita e um circulo de luz branca surgiu, rodando em alta velocidade. Lembrava um pouco aqueles fogos de artifício que giram em uma roda, mas esta aqui ampliava-se e a moça atravessou para o outro lado. Após isso, a roda começou a encolher e a girar mais rápido. Chateado, Igor decidiu voltar para a hospedaria e registrar-se por um dia, apesar de achar que não havia outros extraterrestres por ali.

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