Capítulo 2 - parte 2 (rascunho)
Era hora de voltar para a Cidadela, mas nada da Ailin aparecer e Igor começou a ficar impaciente, ainda mais que desejava visitar as fadas antes de partir.
Como a filha não aparecia, e muito menos os dois dragões, Ele ergueu a mão para cima e fez um raio lilás da grossura de um punho saltar para o céu, estourando e provocando bastante barulho.
Esperou mais dez minutos e nada. Assustada, Eduarda aproximou-se dele, pegando a sua mão.
– Achas que ela fez a besteira de abrir um portal sozinha, amor?
– Não creio – respondeu o marido. – Tenho a certeza de que está tudo bem com ela. Afinal, Saci e Gwydion estão com ela. Queres segurança maior?
– Como vamos encontrá-la?
– Na floresta, anjo – explicou Igor, apontando para os limites da cidade. – Lembras que te comentei que Irla me ensinou uma coisa espetacular? Vamos.
O casal desapareceu dali para reaparecer na orla da floresta. Ela era bem grande e, depois de um desfiladeiro enorme, ficava o reino das fadas. Assim que entrou na floresta ativou a comunicação mental e uniu-se a toda a vida existente ali. A sua musculatura retesou um pouco assim que fez contato, tamanha era a potência da conexão neural. Ele estava em contato com cada ser que existia ali, desde milhões e milhões de árvores e arbustos até a cada animal que habitava ali, fosse terrestre, aéreo, aquático ou subterrâneo. A sua consciência espalhou-se por centenas de quilômetros em todas as direções, provocando um êxtase de paz e tranquilidade. Eduarda, segurou a sua mão e aproveitou para unir a sua mente à dele, passando a sentir tudo e aumentando ainda mais a sensação de fusão com o Universo. Poucos segundos depois, ela riu e disse, quebrando o silêncio:
– Ora, ora. Quem diria que aquela safadinha estaria lá!
– Vamos lá, então – continuou, apertando um pouco a mão da esposa. Ambos teleportaram até à filha, que nem mesmo se assustou.
― ☼ ―
Ailin acordou cedo e a primeira coisa que fez foi monopolizar os dragões para ela. Os dois, nas suas formas reais, voavam com a menina para todos os lados, revesando-se a carregá-la até que ela disse, apontando um lugar:
– Ali, Gwydion, voe para ali. Eu sinto pessoas naquele lugar.
– "Não sei não, Ailin" – respondeu o dragão falando dentro da sua mente. – "É possível que seu pai não aprove."
– Voe para lá – insistiu a menina. – Eu sei que não tem perigo. E se tivesse, vocês me protegem, ora.
– "Acho melhor falarmos com seu pai, querida" – disse Saci, reforçando as palavras do companheiro de raça. – "Ele pode ficar chateado conosco. Afinal, você é ainda muito pequena, Ailin."
– Então eu vou sozinha – afirmou, decidida. – Eu já sou grande para fazer muitas coisas. Até abri um portal!
Antes mesmo dos dragões se manifestarem, ela desapareceu do dorso do amigo, dando-lhe um susto. Gwydion corcoveou e deu uma cambalhota maluca para tentar descobrir se Ailin tinha se atirado de cima dele, mas não. Com isso, concluiu que ela era teleportadora natural, como o pai. Logo a seguir, mergulhou para o local que a menina apontou, seguido de perto pelo Saci.
― ☼ ―
Ailin surgiu dentro da floresta bem no meio de uma clareira e aos pés de um ser muito estranho que teria deixado uma criança normal morta de medo. O sujeito era pequeno e lembrava uma criança, mas apenas a estatura era equivalente, porque aquele ser tinha pernas e braços curtos, embora não do mesmo jeito de um anão. O que era desproporcional, na verdade, era o tronco que era grande. A pele era muito escura e os membros muito musculosos. A cabeça dele também era avantajada e possuía dois chifres e os olhos tinha as pupilas bem estreitas de cor amarela. Apesar de estar armada com uma zarabatana, a criatura não fez nada. A menina recuou um passo e olhou para ele de novo. Sem se conter, disse:
– Você tem chifres! Por acaso é o tal do diabo que às vezes falam? – perguntou, sem um pingo de medo. – Nem tente me fazer mal que transformo você em uma formiga e piso em cima, viu?
O pequeno ser inclinou a cabeça para um lado e ficou olhando para a menina. Poucos segundos depois, deu-lhe um grande sorriso que o fazia ficar bem humano.
Um ruido alto interrompeu ambos e, contrariada, Ailin olhou para o lado e viu Gwydion pousando enquanto Saci voava em círculos acima das árvores.
– "Não devias ter feito isso, criança" – disse o dragão. – "Deixaste-me assustado. Imagina se algo te acontece, o que eu diria para os teus pais? Igor ia morrer de tristeza!"
– Mas eu não sinto maldade aqui, Gwy – insistiu a pequenina.
O ser da floresta olhou para o lado e Ailin acompanhou o olhar, vendo uma mulher aproximar-se. Ela era linda, mas pequena como uma criança, menor ainda que o ser de chifres e voava, além de brilhar um pouco. Sorridente, deu duas voltas em torno da menina e bateu palmas enquanto o seu cabelo mudava de cor para um azul-claro. Ela cumprimentou Gwydion com um aceno e virou-se para a menina.
– Mas que coisa mais lindinha que você é, criança – disse ela, em português. – Por que bloqueia seus pensamentos? Você parece muito forte, como o seu pai, sabia?
– Conhece o meu pai? – perguntou, curiosa. – Como você se chama?
– Claro que conheço seu pai, Ailin – respondeu ela. – Eu sou Irla, a rainha-mãe do povo pequeno do bosque e seu pai é nosso grande amigo. Ele nos salvou, uma vez. Não bloqueie a sua mente, querida, porque nós, as fadas precisamos de sentir a verdadeira essência das pessoas.
– Eu não sei como funciona esse negócio de bloquear a mente, Irla – confessou a menina. – Como é isso?
– Você escuta pensamentos dos outros, filha?
– Escuto Saci e Gwydion, quando quero falar com eles.
– Nesse caso, meu amor, tente escutar o que eu penso.
Ailin olhou para a fada por dez segundos e riu.
– Sim, eu a escuto – respondeu. – Isso é muito fácil.
– "Agora, tente falar comigo assim, Ailin a mais linda" – pediu a fada, batendo palmas e mudando a cor do cabelo para um dourado brilhante.
– "Sim, também é fácil" – disse a pequena. – "Agora entendo, você quer escutar os meus pensamentos... mas isso não é feio?"
– "É feio se a pessoa não autorizar, Ailin" – explicou a fada, procurando ser bem simples. – "Acontece que nós as fadas precisamos de sentir as pessoas com quem falamos. Na verdade, eu não fico escutando, mas sentindo a sua beleza interior. Só o seu pai e a sua mãe têm uma beleza interior tão grandiosa e bela como a sua, minha filha."
― ☼ ―
Igor surgiu ao lado do dragão, bem na frente do campo visual da filha, que sorriu e correu para ele.
– Papai, mamãe – gritou, alegre. – Olhem só meus novos amigos. Viu, ela até parece uma boneca!
Igor e Eduarda riram e aproximaram-se. O pai agachou-se e disse:
– Salve, Irla, a rainha-mãe. Estava à procura desta travessa para justamente vir aqui fazer uma visita – virou-se para a filha. – Ailin, meu amor, você não pode se afastar tanto sem nos avisar, ouviu, mocinha?
– Tá bom, pai, me desculpa. Bem que Gwydion me avisou que não era para eu vir aqui – respondeu. Preocupada, perguntou. – Eu tô de castigo, pai?
– Não, mas não faça isso de novo, tá bom?
Dando o assunto por encerrado, beijou a filha e voltou a falar com a fada.
– Como vão indo, Irla, e o que achou da minha pequenina?
– A vossa filha é linda demais, Igor, e será superior até mesmo à Morgana das Fadas, eu vejo isso.
– Quem é Morgana das Fadas? – perguntou Ailin. – A única Morgana que eu conheço é a minha mana!
– Filha – explicou Eduarda, rindo. – Morgana das Fadas é como chamam elas chamam a sua irmã, entendeu?
Os três passaram uma hora conversando com as fadas e, depois, despediram-se. Quando Eduarda virou-se com a filha no colo, Irla colocou a mão no braço do mago e disse baixo, para ela não ouvir:
– Sinto dias difíceis pela frente, Igor, mas sei que saberá enfrentá-los. Felicidades a todos.
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Eduarda e Ailin dormiam, mas Igor não estava com sono. Levantou-se e foi para a varanda do seu apartamento na Cidadela. Apoiou-se no parapeito e ficou apreciando a beleza daquela paisagem. As cachoeiras a toda a volta da montanha estavam iluminas com o reflexo da fosforescência dos prédios de cristal, criando efeitos muito agradáveis e suaves. Distraído, ficou a pensar no que Irla teria dito em relação a dias difíceis pela frente.
Depois de Avalon, Eduarda andava muito ressabiada com qualquer tido de aventura e ele não lhe tirava a razão de todo, já que foi por muito pouco que não perdeu a vida.
A fada não foi clara, até porque ela não previa o futuro na verdadeira acepção da palavra e sim estaria mais como uma intuição que, por outro lado, não era de errar. Pensativo, julgou melhor guardar isso para si. Olhou para baixo e viu algumas poucas pessoas a passear na rua à beira do grande lago, mas, pela hora avançada, sabia que em breve não haveria quase ninguém. Aproveitou mais uns minutos e foi-se deitar.
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