Capítulo 2 - parte 1 (rascunho)
Igor sentia-se bem, bem até demais. As coisas eram um mar de tranquilidade por todos os lados. Tinha acabado de sair do palácio, na Cidadela, e ia para casa com a filha menor que estava cada vez mais linda e esperta. No meio do caminho, mudou de ideia e disse para ela:
– Ei, Ailin, vamos visitar a mamãe e a mana em Céltia?
– Isso, papai, vamos agora, vamos! – pediu, rindo e fazendo raios de luz multicoloridos saírem das mãos. – Tô com saudades e vovô Ez tá lá, também, com Saci e Gwydion.
– Combinado, vamos para a praça central – disse o pai.
A praça central era perto do Palácio de Cristal, motivo pela qual deram meia volta, retornando parte do caminho. Por definição, todas as saídas e entradas para o Mundo de Cristal deviam ser feitas ali, do contrário gerariam um alarme do sistema global de defesa. Igor, por ser o líder, gozava de prerrogativas especiais, mas era seu hábito jamais abusar delas. Assim que chegaram, Ailin disse:
– Posso tentar abrir a passagem, papai? – pediu. – Eu sei que consigo.
– Tu és muito nova ainda, filha – respondeu Igor. – Achas mesmo que consegues?
– Muito nova, tu dizes? – questionou uma voz bem conhecida, atrás deles. – Até parece que te esqueces que abriste o primeiro portal com apenas um ano e quase nos mataste de susto, filho.
– Vovó – gritou a pequena, correndo para ela que a pegou ao colo.
– Mãe, pai! – disse ele virando-se e sorrindo. – O que vos tirou de Porto Alegre um mês antes do prazo?
– Saudades tuas, filho – disse o pai. – Tuas e do resto.
– Então venham junto – disse Igor, após abraçar os dois. – Eu e Ailin íamos agora mesmo a Céltia. Vamos, filha, então tenta abrir a passagem. Mas são muitos planos até lá, então eu não sei se conseguirás..
A pequenina desceu do colo da avó e colocou-se ao lado do pai. Com um gesto distraído jogou os cabelos de cachos dourados para trás do ombro e ergueu ambas as mãos. Dois segundos depois, aparecia a paisagem de Céltia à frente deles.
– Mito bem, minha linda – disse Igor, orgulhoso. – Oito planos de uma só vez. Rica feiticeira tu vais sair.
Atravessaram a passagem e Igor continuou:
– Agora tens de fechar a passagem, filhinha. Consegues?
– É fácil, papai – disse a pequena, sorrindo. Ergueu uma mão e a passagem desapareceu. – Viu?
– Vi sim, meu amor, mas nunca podes esquecer de fechar a passagem depois de todos passarem – disse o pai. – E também quero que prometas que nunca passarás por um portal sozinha até nós autorizarmos.
– Tá bom eu prometo, papai – respondeu ela. Viu a mãe perto deles e correu para ela, chamando-a. – Mamãe, mamãe, eu que abri a passagem, papai deixou.
– Sério, meu amor? – perguntou Eduarda, pegando-a ao colo enquanto a filha afirmava com a cabeça.
Igor aproximou-se e beijou a esposa, seguido dos sogros dela.
– Venham – disse Eduarda. – Ia ver o filhinho do Valdinho.
Céltia mudou muito depois de um ano de colonização, em especial ajudada pelos magos, sem falar que Valdo e Teodoro participavam de forma ativa como conselheiros, compartilhando os conhecimentos que possuíam. A cidade era bem planejada e muito bonita, com ruas espaçosas e limpas. As casas tinham jardins bem cuidados que se misturavam à rua por não haverem muros. Quanto muito, havia algumas vegetações a delimitar a área pública da privada. Valdo e o companheiro viviam em uma casa bastante espaçosa que dividiam com Nealie uma sacerdotisa e bisneta de Morgana, filha mais velha de Igor. Os dois eram tratados como reis por aquele povo, que sabia muito bem dar valor à sabedoria que ambos partilhavam de livre e espontânea vontade. Nealie vivia um relacionamento no mínimo bem diferente, com aquele casal gay, pois era mãe do filho de Valdo, filho esse que ela lhe pediu e Valdo fez com todo o prazer e vontade porque estava louco para ter um filho seu.
O resultado foi um menino lindo, que agora tinha três meses e alguns dias, e unia o melhor dos dois lados. Entraram em casa e Valdo, que tinha o filho no colo, disse para a criança:
– Olha, Allan, tataravô chegou...
– Tataravô uma pinoia, meu – respondeu Igor, rindo. – Mais respeito com a autoridade.
– Salve, Igor – disse Teodoro, rindo. – Tataravô ou não, uma coisa tenho que dizer: a sua filha está cada dia mais linda. Parece com a Eduarda só que loira. Talvez até pareca mais com a Gwenhwyar.
– Oi, Teo. É natural, já que são todas parentes – respondeu Igor. – E esse guri...
– Saci – gritou Ailin, agarrando o cachorrão pelo pescoço e interrompendo o pai. – Vamos lá fora brincar, vamos? Eu quero voar contigo.
– Minha Deusa – disse Ezequiel que se aproximava com Morgana que correu a abraçar o pai. – Essa criança está a cara da Ailin, mas age tal e qual a Morgana quando bebê. Fazia exatamente isso com o Saci.
Eles ficaram a olhar a pequena saindo com o cachorrão, que certamente voltaria à sua forma natural para voar com ela. Os dragões tinha uma preleção toda especial com crianças. Eram perdidos por elas. Saci e Gwydion chegavam a disputar as atenções da menina.
Nealie entrou na sala, toda virada em sorrisos, e foi abraçar Igor, alegre.
– Oi, Igor – disse em português. – Fazia tempo que não vinha nos visitar, desde o nascimento do Allan!
– Ora, ora, não é que o teu português está sensacional? – comentou Igor. – Parabéns. O vosso filho tá lindo.
– Agora também estou aprendendo um pouco de Inglês com a Carol – disse a sacerdotisa. – Ela falou que vai me levar a conhecer a Inglaterra dos dias do hoje, quando forem lá tirar uns dias.
– Legal – disse Igor. Mudando para celta, perguntou. – E esses dois molengões já falam celta?
– Ele tá subestimando a gente, não achas Teo? – perguntou Valdo em celta.
– Com certeza – respondeu o companheiro, no mesmo idioma.
– Gente, aproveitando que tá todo mundo aqui quero contar uma novidade – tirou o celular do bolso e mostrou. – Agora podemos nos comunicar por telefone e até acessar a internet fora da Terra. Estamos a preparar um provedor só para magos capaz de retransmitir sinal da terra e o local do Mundo de Cristal. Algo similar à "Dark Web", mas para nós e bem fechada.
– Mas bah, que sensacional – disse Eduarda. – Então a pesquisa deu certo?
– Só não a chame de bruxoweb – disse Teodoro rindo.
– Deu – respondeu o marido. – Confesso que pensei que ia demorar mais, mas aqui está. – Entregou um chip de cristal da espessura de uma folha de papel para cada um. – Coloquem entre os contatos elétricos do chip da operadora e ele. – Detalhe, fora da Terra, não serão taxados. Teo, nunca te contaram que bruxo para nós é uma pesada ofensa? Cuidado para não deixares algum mago desconfortável.
– Xi, desculpe, Igor, não sabia mesmo.
– Não precisas te desculpar – Igor fez um aceno. – É claro que sei que não desejavas ofender. A intenção foi alertar. Pede para Valdo te contar.
― ☼ ―
Durante a noite o prefeito fez uma pequena festa à moda antiga, para alegria do mago que adorava isso. Ele notou que Valdo e Teodoro já começaram a criar os primórdios da eletricidade para aquele povo que tinha parte da grande praça iluminada por energia elétrica.
– Salve, Magnífico – disse o prefeito, aproximando-se de Igor após terminar de dançar com Eduarda. – O que acha da Nova Andécavos.
– Ainda mais bonita do que em Avalon, Excelência – respondeu o mago, sorridente. – Noto que unificaram as duas cidades.
– Somos menos de vinte mil e o espaço é muito maior – explicou o alcaide. – Quando aumentar a população criarmos outra cidade. Valdo comentou que poderíamos importar alguns produtos úteis da Terra, mas não sabe com fazer isso. Ele diz que certas coisas estariam fora da nossa capacidade, ainda, mas muitas outras não.
– Sim, hoje ele andou falando comigo a respeito – disse o mago, pensativo. – Pessoalmente acho que a Terra pode ser um risco, mas há outro mundo que mantém relações conosco e é muito avançado, não apresentando os mesmos riscos. Vou falar com eles sobre algum tipo de comércio.
– Hi, honey – disse Caroline, aproximando-se e abraçando o amigo de infância. – Semana que vem eu e Hernandez vamos roubar a tua família. Vou levá-las para Londres.
– Claro, meu anjo – respondeu Igor. – Só não me deixem com excesso de saudades.
– Combinado – respondeu Caroline. – Por que motivo não vens conosco? Afinal está tudo tão calmo!
– Tenho alguns compromissos de governo marcados para estas duas semanas, inclusive em Axt.
– Que pena – respondeu ela. – Seria bom que viesses junto. Precisas de umas férias. Duda anda a dizer que trabalhas demais.
– Em breve, quem sabe, anjo.
― ☼ ―
Ver "O Mago e a Sacerdotisa de Avalon". N.A.
"Hi, Honey" pode ser traduzido como: oi, doçura. N.A.
Axt: mundo que fica no 14o plano com uma civilização humanoide muito mais avançada. Os seres desse mundo têm três olhos.
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