Capítulo 13 - parte 3 (rascunho)
Igor surgiu no saguão enorme do último andar do palácio. Estava sozinho e com a barreira mais potente. Isso foi uma precaução bem pensada porque foi atacado por uma centena de "raios martelo", que o teriam morto na hora. Irado, criou bolas de plasma e jogou sobre os guardas, matando-os. Avançou para a entrada, que estava fechada. Nem se dignou a usar os seus poderes; apenas ergueu o pé e rebentou a porta com um forte chute. A sua cara era séria e ameaçadora. Dentro da sala, estava Argonos, solitário. Olhou para o mago, impassível.
– Posso saber a que devo mais uma invasão?
– Onde está ela, Argonos? – perguntou o mago, irado. – O que fez com a minha filha?
– Que eu me lembre, o senhor saiu daqui com a sua filha, ela e mais uns convidados.
– Não eram convidados, Argonos, então não me obrigue a explodir o seu mundo inteiro. Estou a falar da minha filha pequena. A que Rimon pegou na Terra. Onde está ela?
– Desculpe, mas não sei do que fala – argumentou Argonos e parecia de fato verdadeiro. – Acho melhor mandarmos chamar Rimon... olhe ele aí, assim poupamos tempo.
Igor virou-se, zangado. Ambos os braços brilhavam em vermelho-alaranjado e até algumas faíscas atingiram o chão. Ao vê-lo, Rimon chegou a dar um passo atrás porque não esperava uma reação tão veloz e muito menos que descobrisse de cara o que aconteceu, mas recuperou-se rápido. Decidido, só que não tão firme quanto desejava, entrou no aposento e ficou ao lado da mesa do superior.
– O que fez com a minha filha Ailin, seu monstro? – perguntou furioso. – Fale ou sofrerá as consequências mais devastadoras que eu puder imaginar.
– Acho que seria bom o senhor se acalmar, Igor, do contrário nunca mais verá a sua filha – respondeu o capitão da guarda.
– Isso é verdade? – perguntou Argonos. – Você pegou a filha dele? Já lhe disse que somos civilizados...
– Os deuses me deram a filha dele – interrompeu Rimon, com uma risada de escárnio. – Ela veio até mim, então eu não violei nenhum protocolo de civilidade. Agora, o senhor vai-se acalmar ou jamais a verá de novo.
– É muito desumano, pegar um bebê de pouco mais de dois anos para fazer chantagem sobre o pai – disse Igor, acuado. Os seus braços voltaram ao normal. – O que deseja de mim?
– Quero que retire e destrua a bomba que escondeu no meu mundo – disse Rimon, triunfante.
– E o que mais? – perguntou Igor. – Tenho a certeza de que não se deu ao trabalho de sequestrar a minha filha por causa de uma bomba, em especial quando eu disse que não a detonaria a menos que saíssem da linha.
– Queremos o Reino Perdido – disse Argonos, aproveitando a situação. – Queremos que se afastem.
– Vocês acham que podem vencer as armas mundanas? – perguntou Igor. – Se acreditam nisso, já perderam a guerra. O meu povo vive em outro mundo, por sinal. São muito poucos os que ficam na Terra.
– Não passam de idiotas degenerados.
– Então são sete bilhões de idiotas degenerados com armas tão potentes quanto as bombas de cristal, Argonos – insistiu Igor como se falasse com uma criança tola. – Algumas dessas bombas tornam o mundo inabitável por mais de vinte mil anos, só para o senhor saber disso. Sem falar em armas químicas e biológicas.
– Com eles, nós nos viramos – decidiu Argonos. – Tratem de ficar de fora.
– Muito bem – disse Igor, que não desejava mais discussões do que as que já tinha. – O que mais quer?
– Queremos o seu mundo e a sua vida – disse Rimon que, depois de falar com a pequena, soube das belezas inigualáveis daquele planeta.
– O Mundo de Cristal está fora do seu alcance – disse Igor, aflito. Ele sabia que Eduarda jamais o perdoaria se soubesse que entregaria a sua vida, mas teria de fazer qualquer coisa pela filha, a menos que a quisesse ver morta.
– Por que motivo fora do nosso alcance? – perguntou Rimon, olhando com cinismo. – O senhor não é o líder dele?
– O nosso sistema de governo não permite que eu dê uma ordem dessas. Os demais guardiões anulariam tamanha arbitrariedade. Além do mais, vocês não têm capacidade de chegar àquele plano.
– Nós chegamos a qualquer um dos sete planos – argumentou o atlante. – Por que não chegaríamos ao seu?
– Porque vocês são incapazes de alcançar o décimo terceiro plano e é lá que vivemos – disse Igor, debochado.
– Por acaso está a brincar com a vida da sua filha? – perguntou Rimon, irado. – Eu...
– Espere um pouco, Rimon – pediu Argonos. Olhou para Igor e continuou. – Então não é lenda, essa história de mais planos?
– Só se nós também formos lenda – respondeu Igor. – Por quê?
– Dizem que antigamente, antes da guerra no Reino Perdido, o nosso povo sabia andar por treze planos a alguns comentavam que havia mais um.
– Pelo jeito, eles eram mais espertos que vocês – disse Igor, encolhendo os ombros. – Há mais dois. São quinze planos.
– Muito bem – voltou a falar Rimon. – Eu quero que retire a bomba, afastem-se do Reino Perdido e a sua vida. Em troca, liberto a sua filha.
– Solte-a primeiro e disporá da minha vida.
– Nada disso – afirmou, Rimon. – Ela é a nossa salvaguarda. Faça o que mandamos e prometo que ela será devolvida à sua mulher. É a sua última oportunidade.
– Não, tem mais uma coisa que eu desejo. – Argonos levantou-se e ficou de frente para Igor. – Morgana comentou, uma vez, que nasceu mil e seiscentos anos antes do seu pai e vejo muito bem que é o pai dela porque não podem haver dois pares de olhos tão iguais aos de vocês. Depois, disse que apenas você era capaz de viajar no tempo e que eu jamais saberia porque o mataram. Eu quero saber como.
– Mexer com o tempo é a mais perigosa das coisas – disse Igor, decidido. – Nem mesmo pela minha vida ou da minha filha contarei esse segredo. Além do mais, quando viajamos no tempo, perdemos os poderes por alguns dias, conforme a profundidade do salto efetuado.
– Eu quero esse segredo – berrou Argonos. – Se não me falar, a sua filha será morta.
– Sinto muito – disse Igor, desfazendo a barreira de proteção e olhando para eles. – Podem dispôr de mim, mas nem pela vida da minha filha terão uma arma de tal poder. Se eu não uso, imaginem vocês.
Argonos fez um gesto e correntes surgiram do teto, amarrando Igor pelos pulsos ao mesmo tempo que Rimon o bombardeava com raios inibidores. As correntes foram esticadas e Igor erguido no ar com os braços entreabertos em um ângulo pequeno, mas desconfortável. Ao mesmo tempo, mais correntes vieram do chão e amarraram-lhe as pernas, também em ângulo um pouco aberto, fazendo Igor parecer com a famosa pintura de Da Vinci que representa o "Homem Vitruviano". Com um gesto, rasgou as roupas do mago, deixando-o de tronco nu.
– Agora você está à nossa mercê, Igor – disse Rimon. – Seu poderes foram neutralizados, não é? Onde está a bomba?
– Eu não sou um assassino, como vocês – disse o mago. – Essa bomba era uma farsa, apenas para os convencer a andarem na linha.
– Eu senti as vibrações dela, Igor – disse Argonos. – Onde está?
– Eram falsas – insistiu Igor. – Se a quer tanto assim, pode procurá-la no fundo do lago atrás do palácio. A água é a única coisa capaz de ocultar as vibrações e foi por isso que não a localizou.
Argonos fez sinal a Rimon.
– Mande alguém de confiança verificar assim que terminar o tratamento de neutralização.
– Já terminei – assentiu com a cabeça. – Agora ele está igual a um degenerado.
– Quando isto acabar – disse Igor. – Eu juro que vos vou matar aos dois em grande agonia.
– Você é um sonhador e tanto, Igor – disse Argonos. Fez um gesto com a mão em riste, como se fosse dar uma cutelada no mago e Igor sentiu o impacto da chibatada vibratória, gemendo de dor. – Agora quero ver para que serve todo esse tamanho e músculos, preso aí.
Igor recebeu uma nova vergastada e concluiu que não aguentaria aquele castigo mais do que duas horas, isso na melhor das hipóteses. A terceira chicotada alcançou-o e ele viu o sangue escorrer no peito.
– Se me disser como se viaja no tempo, estou disposto a suspender o tratamento e esquecer tudo.
– Já disse que não posso – respondeu com um gemido após outra chibatada ainda mais intensa. – É demasiado perigoso.
– Não entendo por que se preocupa com o perigo da viagem no tempo, Igor – disse ele. – Afinal, sou eu que o enfrentarei.
– Não pretendo que o senhor dizime povos inteiros apenas por causa dos seus caprichos.
― ☼ ―
Homem Vitruviano foi um tratado de um arquiteto romano chamado Vitrúvio do final do século XV. Da Vinci fez uma pintura de um homem nu dentro de um círculo com os braços abertos e pernas juntas. A seguir, na mesma pintura, desenho as pernas abertas e os braços para cima em ângulo, como se o modelo tivesse quatro pares de membros. N. A.
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