Capítulo 12 - parte 4 (rascunho)
– Podem ir para a sala de audiências que os conselheiros aguardam vocês – disse a mulher, retornando. – Cuidado que Solon não está de bom humor.
– Obrigada – disse Lídia, sorrindo. – Ele nunca está. Devia ser destituído e talvez hoje seja esse dia.
O quarteto seguiu por um corredor largo, com o chão coberto por um carpete macio, vermelho. As pareces eram decoradas por gravuras, algumas muito bonitas e Valdo deu-se logo conta que mostravam partes da história daquele povo.
Chegaram a um par de portas enorme e todas entalhadas em ouro, também com imagens. Do lado esquerdo, era o mapa da antiga Terra, e, do direito, devia ser o mapa da atual Lemúria. Dois guardas abriram as portas e eles entraram em uma sala profusamente iluminada. No fundo, havia nove pessoas sentadas em arco, cinco mulheres e quatro homens, com o do centro um pouco mais elevado que os demais. Morgana, que uma vez esteve em Axt com o pai, achou impressionante a semelhança entre os dois lugares. Uma linha amarela a uns cinco metros demarcava o limite de aproximação porque Lídia parou tão logo chegaram a ela. Antes de poder se pronunciar, um dos homens levantou-se e falou de forma eloquente:
– Essa mulher devia ser detida por trazer dois atlantes...
– Cale-se, Solon, seu idiota – berrou Lídia, fazendo os olhos de todos os conselheiros ficarem arregalados. – Você quer começar uma gerra com o Velho Mundo, por acaso? Não leu os relatórios? Eu exijo que você seja destituído do poder ainda hoje e que enfrente a corte marcial junto com o imbecil que tentou matar os nossos convidados e a mim.
– Em quê, fundamenta a sua exigência? – perguntou o homem do centro, calmo e autoritário. – É uma acusação grave.
– Ele mandou os seus asseclas me atacaram e precisei de invocar os meus soldados da guarda. O capitão e mais quarenta e nove homens me acompanharam só para garantir a nossa proteção. A jurisdição do Solon não abrange assuntos exteriores e os meus visitantes não são atlantes, como qualquer pessoa sensata pode notar só de olhar para eles. Esta mulher é filha de um líder planetário cujos poderes vocês nem fazem ideia e esse idiota, porque não cabe outro nome, mandou prendê-la, mesmo depois que eu esclareci tudo.
– Que direito o senhor tem em interferir nos assuntos militares, Solon? – perguntou uma mulher, que se levantou. Olhando-o severamente, continuou. – Eu estou de acordo com a minha comandante suprema. Ela só responde a mim e a Kelvin.
– Eu tenho preocupação pela nossa segurança – argumentou o conselheiro, irritado e exaltado. No meio de um conflito trazer dois atlantes...
– Eu já lhe disse que não são atlantes, seu obtuso – berrou Lídia.
– Vamos acalmar os ânimos – mandou Kelvin, levantando-se e olhando ora para Lídia ora para o confrade. – Solon, o senhor está suspenso até analisarmos a sua atitude, nada ética. Lídia sempre foi uma comandante acima de qualquer suspeita e contempla mais feitos heroicos do que todo o exército reunido. Agora saia.
Furioso, o conselheiro retirou-se e Lídia olhou para ele, mostrando um sorriso de vitória e deboche. Kelvin não chegou a sentar e voltou a falar, dessa vez para Lídia.
– Houve um alerta de bracelete, comandante. Como explica isto?
– Senhor, esta é Morgana e este Valdo. São do Velho Mundo e são como nós. Após os conflitos, os sobreviventes do continente médio prosperaram, como já sabe. Contudo, alguns são como nós e os atlantes. Valdo – apontou o amigo –, é mais como os lemurianos. Usa a mão direita, tem barreira dourada além do que os braceletes lhe fazem mal. A maioria, puxou os atlantes, embora sejam incomparavelmente mais fortes. Morgana, como o pai dela, tem poder nas duas mãos e o bracelete aumenta muito a sua força que já é enorme. Contudo, ela retirou o bracelete como demonstração de boa vontade, lá fora, até porque, os magos não têm o hábito de usá-lo. A maior parte deles emigrou do Velho Mundo, mas mantém relações estreitas, com ele, que agora se chama Terra. Como os senhores viram nos relatórios, há alguns dias os atlantes encontraram a Terra e atacaram algumas pessoas. Isso acabou por nos trazer o conhecimento dos magos e convidei-os a virem à Lemúria para sermos amigos e aliados. Também desejo solicitar um regimento de dez mil homens para os ajudarmos a atacar a Atlântida. A nossa união com eles será tão poderosa que jamais a Atlântida ousará nos afrontar.
– Eles são poderosos mesmo? – perguntou a superiora da Lídia.
– Senhora – disse Lídia, professoral. – Estamos em conflito com os atlantes há cinquenta mil anos e nunca fizemos um progresso por menor que fosse a não ser manter os nossos três mundos intactos, sendo que eles desconhecem a Lemúria, da mesma forma que desconhecíamos a Atlântida.
– Desconhecíamos? – perguntou Kelvin. – Não desconhecemos mais?
– Senhor, bastaram apenas dois magos – disse Lídia, apontando Valdo. – Ele e o pai da Morgana para descobrirem onde ficava a Atlântida e isso foi apenas três dias após os atlantes terem atacado, na Terra. Depois disso, eles juntaram um pequeno esquadrão e invadiram a Atlântida para recuperarem os prisioneiros, uma ação arrojada e bem-sucedida.
– Não há dúvida de que são poderosos – disse a mulher. – Mas isso coloca-nos em uma situação delicada, se atacarmos.
– De forma alguma, conselheira Joyce – afirmou Lídia, insistente. – Está na hora de tomarmos uma atitude e fazermos aliados. Temos que assumir uma posição e fazer os atlantes recuarem. Juntos, isso é bem fácil. O Universo é muito maior do que pensamos e eles podem nos ajudar em muitas coisas.
– O Universo é maior, como? – perguntou um homem que se levantou. – Explique isso.
– Conselheiro Dilan – disse Lídia, sorrindo. – Como conselheiro científico, o senhor talvez seja um dos mais beneficiados. Morgana, importa-se de falar sobre o Mundo de Cristal.
A feiticeira sorriu e ergueu as mãos. Uma imagem bastante grande e tridimensional formou-se na frente deles, apresentando a Cidadela.
– Este é o Mundo de Cristal, a nossa casa. Ele fica no décimo terceiro Plano Universal. De fato, senhores, a nossa ciência é muito mais avançada. Ao contrário do que ensam, não há apenas sete planos.
Em meio a murmúrios de espanto, todos os conselheiros levantaram-se, olhando para a imagem.
– O meu pai é uma pessoa que gosta de fazer amizades por onde quer que vá e ficou feliz de conhecer os lemurianos – continuou Morgana. – Estou certa de que seríamos muito amigos e ele encarregou-nos de conversar com vocês neste primeiro contato.
– É claro que vejo – disse Kelvin –, que vocês não são como os atlantes e acho que uma aliança torna-se muito vantajosa, mas preciso de reunir o conselho e deliberar. Por que motivo o seu pai não veio pessoalmente, se tem tão boa vontade?
– Conselheiro – disse a Morgana. – Eu a minha mãe e alguns amigos muito próximos do meu pai fomos os sequestrados. Eu tenho uma irmã de apenas dois anos que, na sua inocência, fugiu do nosso mundo para procurar o nosso pai para ajudá-lo a salvar a mãe. Ela foi para a Terra e meu pai foi atrás dela para evitar que arranje problemas.
– Dois anos, a senhora disse? – perguntou o conselheiro Dilan, espantado. – E já abre portais?
– Exatamente, senhor. Não só abre com toda a facilidade como também é capaz de atravessar todos os planos de uma só vez. A maior parte dos nossos consegue apenas de três a quatro, em média.
– E nós só dois – comentou Kelvin com um sorriso. – Bem, Morgana, enquanto falo com os meus conselheiros, desejamos que sejam bem-vindos à Lemúria e aproveitem a estadia no nosso mundo.
– Agradecemos de coração a vossa hospitalidade – disse Valdo, inclinando a cabeça. – Também estendemos o nosso convite a, depois dos conflitos, conhecerem o Mundo de Cristal para iniciarmos um acordo de amizade e trocas de embaixadores.
– Estou certo de que isso será muito apreciado – disse o conselheiro, amável. – Agora vão, por favor. Mandarei chamar assim que tivermos um consenso.
Lídia puxou os amigos e saíram da sala. Enquanto caminhavam no corredor, a lemuriana disse:
– Vão aceitar a aliança. Nunca vi Kelvin tão receptivo logo de cara, sem falar que ficou bem animado com o seu mundo.
– Que bom – comentou Morgana. Sorriu e deitou um olhar fugaz para Marlon. – Gostei muito de vocês.
– O sentimento é recíproco, Morgana – disse ele, que notou.
– Vamos arranjar uma residência para vocês porque levam em média dois a três dias a decidirem.
Na saída, Lídia dispensou a guarda e solicitou duas residências de hóspedes do governo. A seguir, os lemurianos deram uma de cicerones e mostraram parte da cidade, que era de fato muito bonita. Anoitecia, quando o telefone da Morgana tocou. Ela olhou a tela e viu que era o pai.
– Oi, pai – disse, sorridente. – Isto aqui é muito bonito. Achou Ailin?
Ela ouviu em silêncio e o seu rosto empalideceu tanto que Valdo assustou-se.
– Estou indo para aí, pai. Toda a ajuda será necessária.
Desligou o telefone, tremendo de nervosa, e olhou para os amigos.
– Rimon pegou a minha irmã – disse, aflita. – O meu pai rastreou Ailin até à casa da Carol e a pequena abriu uma passagem para Atlântida. Ela foi vista por um policial com Rimon, no parque.
– Minha nossa – exclamou, Valdo. – Onde está Igor?
– Estão em Céltia, combinando a ofensiva, mas eu conheço o meu pai muito bem para saber que ele vai agir sozinho. Na verdade, essa é a melhor chance para a minha irmã, mas acho que meu pai precisa de um suporte para as costas e sei que Argonos não me fará mal, pelo menos espero. Tente conseguir alguma ajuda, pela deusa.
– Qualquer ajuda chegará tarde – replicou Valdo, também muito preocupado. – Não podemos esperar três dias. Acho que te vou acompanhar.
– Não – disse a feiticeira. – Uma aliança com a Lemúria é importante. Então, fique aí.
– Morgana, vou falar com a conselheira Joyce para pressionar Kelvin, o nosso presidente. Ela tem bastante influência. Se não resolverem nas próximas horas, eu assumirei o risco e irei com uma guarda de confiança. Confie em nós.
– Ok – respondeu a sacerdotisa. – Valdinho, é consigo. Lembre-se que o meu pai confia cegamente em si.
– Eu sei, Morgana. – Valdo sorriu. – Se precisarem de mim é só chamar. Manterei o telefone bem carregado.
Morgana abriu o portal direto para Céltia e atravessou-o, fazendo Marlon dar um suspiro triste.
– Acho que a devia ter acompanhado – disse e Lídia riu. – Posso saber qual é a graça?
– Em todos este tempo que nos conhecemos, nunca vi você apaixonado desse jeito – disse ela. – Ainda bem que parece haver reciprocidade.
Marlon soltou uma grande risada e disse:
– É verdade. – Encolheu os ombros e continuou. – Mas sinto que você não teve sorte. Vá, vá ver se consegue que se decidam logo que eu vou reunir homens de confiança para a última instância.
– Fique de olho em Solon e nos seus espiões, caso apareçam, viu? – pediu Lídia, puxando Valdo pela mão. – Vamos retornar ao conselho.
― ☼ ―
O planeta Axt, no décimo quarto plano, tem um sistema de governo como sete pessoas que decidem por votação e as salas parecem semelhantes. Ver "O Mago" N.A.
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