Capítulo 10 - parte 4 (rascunho)
Atrás de Igor, os outros aproximavam-se com Argonos muito bem guardado e protegido. Chegaram a um corredor lateral que, poucos metros depois, terminava em uma escada que descia. Seguiram por lá e alcançaram o primeiro nível de subsolo sem maiores dificuldades, descobrindo que estava vazio.
– Devem estar lá em cima apanhando – comentou Igor e Morgana riu. – Qual é a graça, filha?
– É o seu jeito de falar, pai – respondeu ela. – Sabe, no fundo eles foram decentes e tratavam-nos bem, em especial depois do duelo.
– Foi por isso que dei ordens para minimizarem as mortes, Morgana – comentou o pai. – Afinal, apenas seguem ordens.
Argonos, contra a vontade, mas "inspirado" pelo dragão, mostrou o caminho para o nível seguinte. Mais uma vez estava vazio, além de escuro. Igor olhou para cima e uma esfera de luz bem forte começou a flutuar sobre o grupo.
– Que coisa – comentou Marlon. – Esse sujeito nem mesmo precisa de usar as mãos!
Morgana riu e o mago avançou porque recebeu uma mensagem de Gwydion que havia pensamentos angustiados à sua frente. O local era grande e levaram quase cinco minutos a encontrar as primeiras celas. Logo de cara deram com um homem e uma mulher encolhidos a um canto. Ele devia estar na casa dos quarenta e cinco anos, mas ela ainda era bem jovem, no máximo uns vinte e cinco.
Igor deu-se logo conta de que eram mundanos. O par, quando o viu, encolheu-se ainda mais, dando pena no mago. Ele fez um gesto e a porta abriu-se, entrando. O homem cobriu a garota com o corpo e Igor sorriu. A intenção era tranquilizar, mas eles interpretaram de forma errada, além de ela começar a chorar. Como foram sequestrados em Londres, tentou comunicar-se de falando em inglês:
– Calma – disse, tranquilizador. – Eu não vim fazer mal. Estamos aqui para os salvar.
– Fala a nossa língua! – disse o homem, aliviado. – Tem algumas nuances mas fala com perfeição. Você não é daqui!
– Sim, falo inglês e o senhor tem razão; eu sou do Brasil. Não sou inglês, então desculpe se tiver falhas no meu sotaque. O meu nome é Igor. Vocês conseguem andar, estão feridos?
– Acho que sim, Igor – respondeu ele, ajudando a mulher a se levantar. – Não nos feriram. Onde estamos e quanto tempo passou?
– Estamos em outro mundo, mas não sei quando foram abduzidos, logo não posso dizer quanto tempo passou, mas não deve ser muito.
– Eu imagino que seja outro mundo – disse o homem. – Apenas gostaria de saber onde. Sou Michel e esta é Brigite. Tinha mais uma pessoa que foi aprisionada conosco, mas levaram-na e nunca mais voltou.
– Temo que essa pessoa tenha falecido – disse Eduarda no seu inglês precário. – Quando nos aprisionaram, comentaram a morte de uma mulher por terem cometido um erro com um tal de interrogatório mental.
– Vamos – pediu Igor. – Temos que salvar mais quatro prisioneiros e sair logo deste mundo.
Quando eles viram Gwydion, a mulher soltou um berro enorme e Michel deu um passo atrás.
– Não se preocupem com Gwydion – disse Igor dando uma palmadinha no pescoço do dragão. – É muito meu amigo e não lhes fará mal. Vamos.
Igor recomeçou a andar e encontraram outra cela mais para a frente que tinha os quatro magos aprisionados, sentados no chão quietos.
Igor abriu a porta e eles olharam para cima. Ao reconhecerem quem era, levantaram-se logo e fizeram uma curta vênia.
– Magnífico...
– Venham logo – disse Igor, interrompendo. – Estamos no meio de uma batalha e não podemos perder tempo.
Os magos obedeceram e saíram da cela, alegres. Igor deu meia volta e olhou para Argonos, que estava bem seguro por Ezequiel.
– O senhor já sabe, Argonos – disse Igor, severo. – Existe uma bomba terrível e muito bem escondida neste mundo. Comporte-se que nada lhe acontecerá. Do contrário, o seu povo e você podem dar adeus a este planeta e à vida. Agora desapareça da minha frente. Pode soltá-lo, Ez.
O governante não esperou segundo convite e saiu o mais rápido possível. Enquanto isso, Igor fez Gwydion voltar a ser um pássaro diante dos olhos arregalados dos dois mundanos e disse, falando inglês ao mesmo tempo que a ave pousava no seu ombro:
– Deem-se as mãos. – A seguir, repetiu em celta. Quando todos estavam de mãos dadas, Igor pegou o ombro da esposa e saltou para a floresta. – Gwydion, podes dar o toque de retirada para os teus amigos?
– "Não será necessário, Igor" – respondeu o dragão. – "Acabei de receber uma mensagem de que os atlantes se renderam."
– Nesse caso, diz para Salvatore agir como achar melhor, mas que se retirem deste mundo o quanto antes porque já salvamos os prisioneiros. Aguardo por todos em Céltia.
Virou-se para os ex-cativos e viu o homem e a mulher de olhos arregalados.
– O que você é? – perguntou ela. – Não pode ser do Brasil, nem mesmo humano!
– Sou um ser humano com dons especiais – disse o jovem, sorrindo e falando de forma suave. – Não precisam de ter medo e conversaremos mais em breve. Agora precisamos de sair deste mundo.
O mago abriu a passagem para Céltia e fez sinal para os seus magos passarem primeiro. A seguir, foi a vez dos lemurianos e os mundanos. Ele passou por último e fechou a passagem. Dou outro lado, dez magos e quatro dragões faziam a guarda à passagem e, quando viram o guardião supremo, fizeram uma pequena vênia. Shayla e Gwenhwyar correram a abraçar Eduarda, Morgana e Igor. Após, o mago chamou Valdo.
– Valdinho, podemos levar estes mundanos para a tua casa?
– Claro, Igor – respondeu ele. – Nem precisavas de pedir. Qual é a tua ideia?
– Conversar com eles. Vamos? – Igor fez sinal aos dois que olhavam aquilo com um misto de espanto e admiração. Na praça, vários cidadãos começavam a preparar a festa da vitória.
Teodoro estava com Nealie e o bebê no jardim e viram o grupo chegar. Valdo sorriu e fez sinal para que os outros entrasse. Beijou o companheiro e a garota, oferecendo cadeiras e bebidas.
Os ingleses olharam em volta, cuiosos. O mais velho foi o primeiro a falar.
– Este mundo é humano, primitivo mas humano – disse. – Explique como pode ser uma coisa dessas?
– Michel – começou o mago. – Eu conto tudo para vocês, mas a minha condição é que me jurem segredo porque a vida de milhares de pessoas inocentes pode depender disso.
– Por quê? – perguntou Brigite.
– Porque somos diferentes, minha amiga – disse Igor. – Nós somos perseguidos há tempos imemoráveis porque o mundo não nos aceita e vê como uma ameaça. Para não entrarmos em uma guerra fratricida ou sermos extintos, optamos por emigrar para outro mundo, isso há uns mil e seiscentos anos.
– E vieram para cá?
– Não. Este mundo é outra história – respondeu Igor. – Vocês prometem manter segredo?
– Desconfio que nos internariam em uma instituição mental, caso falássemos algo – retrucou Michel. – De qualquer forma, tem a minha palavra.
– Não duvido nada – disse Igor, olhando para a mulher. Brigite fez um aceno com a cabeça e o mago contou de forma resumida sobre o seu povo. Depois, explicou sobre os invasores e o que pretendiam fazer na Terra.
Falou durante bastante tempo até sentir que esclareceu todos os fatos. Notou que o par estava demasiado cansado e fez surgir uma mesa com uma refeição completa para todos. Poco depois, Teodoro disse que os quartos de hóspedes estavam prontos. Os ingleses e os lemurianos deitaram-se, mas Igor sentia-se muito inquieto, tanto que nem participou da festa da vitória. Estava sentado no gramado olhando para as estrelas, distraído. Eduarda aproximou-se e sentou ao seu lado.
– Tá tudo bem, amor? – perguntou ela.
– Sim, minha princesa. – Igor virou-se para ela e beijou os seus lábios. – Estava com muitas saudades.
– Eu também – respondeu, abraçando-o e encostando o rosto no ombro do marido. – Pelos menos acabou tudo bem.
– É verdade – disse Igor, deitando na grama e puxando a mulher com ele. Ficou algum tempo a olhar o céu e, depois, virou-se para ela. Sorriu e falou, malicioso. – Pelo menos, desta vez não fui eu que arrumei confusão, né?
– Isso foi golpe baixo, amor.
O mago deu uma risada abafada, para não acordar ninguém, e acariciou-lhe o rosto.
– Pelo menos, não te aconteceu nada – afirmou, amoroso. – Eu acho que morreria sem ti.
– Eu quase morri de desespero, amor – disse ela. – Quando aquele demônio mostrou a tua espada e disse que te mataram...
– Xiu – disse ele, colocando o dedo nos lábios da esposa para a silenciar. – É melhor não falarmos mais nisso.
– Como escapaste? – perguntou Eduarda.
– Subestimei os atlantes reunidos – explicou. – Quando me derrubaram, os lemurianos atacaram e me levaram para o esconderijo deles. Valdinho encontrou-os e me curou.
– Por que será que eu acho que me escondes alguma coisinha, tchê?
– Isso é passado, amor. Não te quero preocupada com algo que não aconteceu.
– Mas podia ter acontecido, não é? – questionou Eduarda, imperativa. – Responde, Igor Montenegro.
– Sim, podia – disse Igor, que não mentia, ainda mais para ela. Encolheu os ombros e sorriu. – Se Valdinho não tivesse aparecido, talvez tivesse conseguido. Mas o fato é que deu tudo certo.
– Então por que motivo essa apreensão toda, amor?
– Não sei, Eduarda. Vai ver é porque ainda não acabou tudo. Os atlantes ainda podem aprontar das deles. Na Cidadela vou reunir um conselho para decidir o que fazer quanto a eles. Uma aliança com Lemúria, garantirá a nossa hegemonia.
Eduarda suspirou e ambos calaram-se, apenas curtindo a noite estrelada de um mundo pacífico. Uma hora mais tarde, Morgana entrou no jardim para se recolher e viu os pais dormindo abraçados e protegidos pela longa capa branca. Sorriu, feliz, e foi para dentro, dormir.
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