Capítulo 6

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas."

Sun Tzu.


Dois anos haviam passado em paz e na mais pura felicidade. Eduarda era, para Igor, a mais preciosa das criaturas que ele conheceu e o maior de todos os amores que sentiu. Com ela, o mago esqueceu todas as intempéries e tristezas, voltando a ser uma pessoa alegre e divertida, livre dos pesadelos que o assolavam. Ambos viviam uma grande harmonia e nunca mais houve qualquer tipo de problema na universidade. Estavam sempre juntos, tanto no trabalho quanto na faculdade, e eram inseparáveis. Além disso, a amizade deles com Valdo tornou-se cada vez mais firme, fazendo com que os outros colegas passassem a mudar os seus comportamentos em relação aos homossexuais.

No início do terceiro ano, surgiu na nova turma de calouros um rapaz que, sem motivos, começou a implicar com Igor que não lhe ligava nenhuma, embora isso não aborrecesse o novo colega e sim instigasse. Mesmo quando ele começou a assediar a noiva, Igor permaneceu calmo até ao dia em que Eduarda lhe disse que o sujeito a incomodava. A partir daí, decidiu tomar uma atitude e, nesse dia, foi falar a sós com o colega pedindo-lhe que tivesse um mínimo de educação e respeito, mas tudo o que ouviu foi uma risada de escárnio. Entretanto, essa foi uma risada que o abalou e confundiu.

Ainda tentando evitar um confronto aberto o jovem não reagiu à provocação, mas colocou o dedo em riste, fazendo cara feia como quem dizia: "estás avisado".

Naquele dia ele ficou pensativo, tentando entender o motivo da risada tê-lo afetado tanto e passou bastante tempo matutando sobre isso sem um resultado concreto, especialmente porque isso fê-lo lembrar-se da Cidadela e do Mundo de Cristal que não via desde a morte dos pais.

À noite, sentado na sala da sua casa a ver televisão e aguardando Eduarda que tinha ido tomar banho, começou a pensar em tudo, achando que estava mais do que na hora dela saber a verdade a seu respeito. Não demorou muito e a garota chegou, sentando no seu colo e enlaçando o pescoço do noivo. Beijou-o com doçura e olhou direto nos seus olhos, bem sensual. Depois, sorriu.

– Por que meu amorzinho tá assim tão preocupado? – perguntou, sempre muito alegre. – Se for por causa daquele tolo, esquece que não vale a pena.

– Não, anjo. – Sorriu e abraçou-a, retribuindo o beijo. – Ele me lembrou algo do meu passado que me preocupou um pouco.

– Esse teu passado obscuro que nunca assumes? – Ela riu, levantando-se para soltar da toalha os cabelos, ainda úmidos. – Troca a TV por uma música, amor, que esse jornal tá um horror. O país vai de mal a pior. Esses idiotas não aprenderam com os erros de 2014 e vão repeti-los; incrível!

– Bem – disse ele, obedecendo e colocando uma música suave que a fez puxá-lo para dançar, sorrindo. – Acho que talvez devas saber sobre o meu passado e há algum tempo venho pensando em te explicar umas coisas, mas de vez em quando temo que elas te choquem um pouco, tenho medo de te assustar porque a tua realidade poderá sofrer uma mudança de perspectiva bem grande. Drástica e enorme, na verdade.

– Tá bom. – Eduarda fez um passo final e, com um gesto teatral, beijou-o de novo, rindo. – Mas agora vamos fazer o jantar que eu estou com fome. Tu contas enquanto cozinhamos.

– Tu não tens jeito, né? – Ele riu, feliz. – O que é que desejas comer?

– Lasanha e tu de sobremesa – respondeu, fazendo a cara mais inocente do mundo e provocando uma risada nele. – Adoro lasanha... e tu, claro.

– Mas vai demorar a fazer e não sei se temos queijo suficiente, amor. – Igor riu mais uma vez, uma vez que sabia que poderia resolver o problema em dez segundos, e ficou pensando se não seria a oportunidade perfeita para lhe contar a verdade sobre si.

– Tem uma ou duas congeladas e das que vão direto para o micro-ondas sem precisar de descongelar. Procura aí que comprei estes dias. – Eduarda pegou um pouco de água e bebeu. – Ai, amor, tu achas que a gente precisa esperar se formar para casar? Nós quase que já vivemos juntos e até devem fazer duas semanas que eu nem vou para casa! Bem que podíamos encarar logo, sem falar que os meus pais te adoram.

– Se é isso que tu queres, meu anjo, basta escolher a hora e o lugar – respondeu, esquecendo de dar sequência para a sua revelação.

– Mais do que tudo, Igor. – Ela atirou-se ao seu colo, enchendo-o de beijos. – Depois podemos fazer um lindo bebê e...

– Ei, calma aí que bebê só depois de estarmos formados – ripostou Igor, alarmado, mas rindo. – Acho que primeiro devemos aproveitar as nossas vidas. Não sei por que motivo tens uma obsessão tão grande para ter um bebê.

– Não sei te explicar, amorzinho, mas eu estou louca para ter um filho.

– Tudo bem, minha princesa. Eu dou-te um time de futebol inteiro, mas vamos com calma, tá? – Igor beijou-a e continuou, mais sério, mas decidido. – Agora, se vamos casar, é imperativo que tu saibas do meu passado...

– Escuta, amor – disse ela, interrompendo –, por acaso tu pretendes sair assim?

– Assim, como? – perguntou o noivo, olhando para a própria roupa. – Tem algo de errado com as minhas roupas?

– Bah, tu sempre usas cores muito claras ou brancas. – Ela olhou para o noivo, que vestia uma calça esportiva clara com blazer branco e camisa também branca. – Se bem que o banco te deixa um gato, mas variar é bom, sabias?

– É força do hábito, creio eu, e o branco tem harmonia – disse, sorrindo. – Deve ser por causa do meu passado. Por falar nele...

– Tá legal, amor. – Ela riu, interrompendo de novo. – Coloca aí a lasanha pra aquecer que eu vou dar um jeito no visual. Depois me contas sobre esse teu passado misterioso.

– Tá bom – respondeu Igor. Eduarda deu-lhe mais um beijo, piscou o olho e foi para o quarto. Quando ia alcançar a escada, Igor chamou-a da porta da cozinha:

– Amor. – Ela virou-se para ele e viu as roupas mudando para uma tonalidade mais escura, quase preta. – Assim está melhor?

– Pensando bem, não. – Ela riu, mas não se mostrou impressionada. – Volta pró branco que ficas bem mais gato. Uma hora dessas tens que me ensinar esses truques, mas agora vou secar o cabelo.

Mandou um beijo e correu para escadas acima para se arrumar e vestir uma roupa decente, já que estava apenas de lingerie e pretendiam sair para o cinema após o jantar.

– Ela não tem jeito mesmo. Para curiosa não serve – disse Igor, pensando alto. Deu uma risada e colocou a lasanha no micro-ondas enquanto pensava na sorte que o destino lhe proporcionou com a futura esposa, uma mulher extrovertida, inteligente, alegre e sempre bem-disposta, além de linda de morrer. Marcou a potência e tempo do forno, retornando para a sala, quando se deu conta que não ouvia mais a música.

De repente, sentiu um arrepio de frio, estremecendo um pouco e olhando para os lados. Foi em direção ao aparelho de som para trocar o CD quando ouviu um grito agudo no quarto, algo que expressava pavor absoluto.

Igor gelou quando reconheceu a noiva e reagiu com uma velocidade impressionante. Correu para as escadas, galgando os degraus de quatro em quatro e entrando no aposento de soco. A primeira coisa que constatou foi que não havia ninguém lá e o secador de cabelo trabalhava sozinho, caído no chão.

– Eduarda – berrou. – Onde estás, o que houve?

Meio desorientado olhava para todos os lados, sem entender o que poderia ter ocorrido. Cobriu a saída com o corpo e fez um gesto em direção ao secador de cabelos que se desligou. A seguir, o pequeno aparelho começou a flutuar e pousou na cômoda. Para não sair da porta do quarto, fez a cama flutuar e olhou por baixo dela, sem nada encontrar. A porta do banheiro estava aberta e ele viu que não havia ninguém por lá. Saiu do quarto e lacrou a porta, usando os seus poderes. Do alto da escada, lacrou a porta da rua e seguiu para o seu antigo quarto, também não encontrando nada. Igor vasculhou toda a casa, cômodo por cômodo berrando sem parar, mas nada da noiva. Quando terminou, liberou os lacres que fez e sentou-se na sala para se acalmar e pensar com mais lucidez.

A primeira conclusão, mais do que óbvia, era que ela foi raptada por alguém, mas a segunda provocou-lhe calafrios, pois ela só podia ter sido raptada por um ser capaz de poderes extraordinários, poderes que apenas ele ali possuía. Não acreditava que houvesse outro mago de primeiro grau vivo depois do desastre na Cidadela e eles eram os únicos capazes de atravessar os diversos planos sem a ajuda de um dragão ou das cápsulas planares. A questão é que esse sequestrador precisaria de ter o poder de abrir um portal ou de se teletransportar com alguém junto, algo ainda mais difícil, tornando-se imperativo que fosse um mago com capacidades absurdas. Contudo, por mais distraído que Igor estivesse, deveria ter sentido um portal ser aberto, mas não sentiu nada e concluiu que pode ter sido aberto antes dele chegar e com muita habilidade, já que ele era muito sensível aos fluxos.

Seus devaneios foram interrompidos com a campainha. Ao abrir a porta, viu Valdo e lembrou-se que os três iam juntos ao cinema. Olhou para os lados, puxou o amigo para dentro pegando-o pelo colarinho e trancou a porta, deixando Valdo muito espantado com esse comportamento um tanto destrambelhado e agressivo.

– Tchê – disse de soco, sem lhe dar tempo de falar –, acabaram de raptar a Eduarda e estou muito assustado.

– Q... quê, raptada? – Ele arregalou os olhos e sentou-se numa poltrona, olhando o amigo. – Como assim, Igor? Isso não faz sentido!

– Ainda não sei direito, cara, mas não se trata de um ser humano normal. Foi alguém tão ou mais poderoso do que eu.

– Poderoso? – Valdo enrugou a testa. – Que papo é esse, cara?

– Valdinho, eu vou contar-te um segredo, ok? – disse o amigo, sério e preocupado. – Ninguém mais sabe, nem mesmo a Eduarda. Ia contar hoje para ela, mas não deu tempo, só que preciso que guardes isso apenas para ti. Promete para mim.

– Eu prometo – confirmou ele, curioso enquanto ajeitava a barra da calça. – O que será tão drástico assim?

– Valdinho, todo aquele papo dos filmes de fantasia sobre magos e feiticeiras... bem, algumas daquelas coisas são muito verdadeiras e eu sou um deles.

Valdo ouviu aquilo e achou meio idiota e um tanto fora de hora fazer esse tipo de piada. Sem se conter e rindo afirmou:

– Sei... e eu sou a gata borralheira. – Ergueu os olhos para Igor e continuou. – Qual é, irmãozinho, fala sério. Não tem graça fazer pegadinhas. Cadê a Duda que vamos perder a sess...

Ele demorou a assimilar aquilo que os olhos mostravam porque não estava preparado para isso, mas, quando se deu conta, soltou um uivo agudo de pavor e atirou-se para trás, tentando fugir, muito pálido. O sofá virou, fazendo o jovem cair de costas e rolar pelo tapete macio, mas nem isso o demoveu de tentar fugir dali. Ainda no chão, tentava afastar-se, rastejando para longe sem tirar os olhos da frente, enquanto berrava, histérico:

– Socorro, meu Deus. Cadê o meu amigo, seu demônio?

Exasperado, via um monstro assustador caminhar na sua direção, a mesma criatura que dois anos antes lhe deu o maior susto da sua vida na festa dos calouros e que lhe rendeu alguns pesadelos de arrepiar.

Ainda gritando de forma histérica, ele recuava e tentava esquivar-se daquela figura de terror que se aproximava e lhe estendia as mãos. O monstro parecia querer dizer algo, mas Valdo não ouvia até que uma voz forte como um trovão, grave e rouca fez com que parasse:

– Calma, Valdinho, sou eu – gritou Igor –, não te vou fazer mal como também não fiz antes, cara, é só pra saberes a verdade.

– Mentiroso, te afasta de mim – berrou, desesperado. Voltando a tentar fugir e colidindo com a parede que o deixou cercado.

– Olha pra mim – insistiu Igor, elevando a voz que ecoou por todo o recinto, fazendo Valdo tremer ainda mais.

Apavorado, o jovem viu o monstro da faculdade voltar a parecer o amigo de sempre e ficou mais calmo, respirando com dificuldade, em golfadas. Igor aproximou-se e fez surgir do nada um copo de água, que lhe estendeu. Desconfiado, o colega pegou nela e ficou olhando para o mago, que lhe disse:

– Qual é, tchê, eu sou teu amigo e nunca te faria nada de mal. Podes acreditar em mim – afirmou, taxativo – então vê se largas de veadagem que eu estou desesperado.

– Veadagem, é? – Valdo olhou para ele, ainda tremendo um pouco, embora mais calmo. – Queria ver se os papéis estivessem invertidos.

Perdendo o medo, tomou a água de um gole só, respirou fundo e olhou para o colega.

– Melhorou? – perguntou Igor.

Valdo confirmou com um aceno e ensaiou um sorriso tenso. Encarou o amigo nos olhos durante algum tempo até que relaxou mais um pouco.

– Então o monstro da Dudinha e o seu Dom Quixote não eram ninguém menos do que... – disse mais tranquilo, mas ainda assustado.

– Sim, fui eu – interrompeu, justificando-se. – Eles queriam violentar as meninas e eu não podia permitir isso, Valdinho. Tu estavas lá, então sabes que foi assim. Daquele jeito, resolvi tudo sem violência exceto por uns bons sustos.

– Mas bah, Igor – disse, com a voz um pouco afetada. – Precisavas de me dar tamanho cagaço?

– Me perdoa a sacanagem que te fiz, mas foi imperativo.

– Isso foi um truque? – perguntou. – Quero dizer...

A sua voz foi sumindo ao notar que o amigo estava muito sério e, pela primeira vez, sentiu o peso do que ele afirmou em relação à noiva. Ao mesmo tempo, Igor ergueu as mãos e duas bolas de energia plasmática formaram-se, flutuando paradas a dez centímetros de altura.

– Eu sou um mago, Valdinho, com poderes muito além da tua imaginação.

– Tu tá falando muito sério, não é? – perguntou, nervoso e lembrando-se do que o amigo disse em relação à noiva. – Meu Deus e a Dudinha?

– É isso que tô tentando explicar, tchê. – Igor fez as esferas de energia desaparecerem e fez um gesto, obrigando o sofá a voltar para o lugar. Sentou-se e continuou. – Como te disse, sou um mago, talvez o último mago vivo deste plano. Eduarda estava no quarto, secando os cabelos e eu esquentando o jantar. Ela gritou e corri para lá. Estava tudo fechado e ela não passou por mim.

– E como ela teria sumido, cara, evaporou no ar? – questionou o amigo, ainda um pouco incrédulo e tenso.

– Exato. O captor teria de ter um poder gigantesco, mas pode ser feito. Eu sou capaz de fazer isso.

– Bem – disse Valdo, voltando a pensar no prático, característica muito sua. – Quem fez isso, quer-te atingir. Temos que começar por aí.

– Concordo. E existe um monstro que me deseja destruir, mas acredito que nem esteja na Terra.

– Ok, mas focando no presente e em quem conhece a Duda, temos dois grupos ruinzinhos: primeiro a turma do Jaime, mas eu acho que eles nem lembram mais disso, sem falar que não teriam poder para te enfrentar.

– Sem dúvida. Eu arrumava-os até sem os meus poderes – concordou Igor, seguindo o raciocínio do amigo por quem aprendeu a respeitar muito o intelecto. – Mas desconheço um segundo grupo, meu velho.

– O segundo grupo é, na verdade, formado por um único indivíduo, alguém que me arrepia até à alma quando olho o seu rosto: o Samuel.

Mal terminou de falar isso, de um dos cantos da sala, um que estava bem mais escuro veio uma gargalhada assustadora, seguida de uma bola de energia jogada em direção a Valdo que apenas viu Igor atirar-se à sua frente, recebendo o impacto em cheio. O seu corpo estava revestido de uma luz esverdeada, mas, mesmo assim, o colega dobrou-se sobre si mesmo por um segundo, sentindo toda a agonia da forma de energia que o atingiu. Reagindo de imediato, o mago correu para a parede onde uma fenda negra, muito sutil, escondia-se.

De olhos arregalados, Valdo assistiu o amigo atravessar aquela abertura quase invisível como se fosse um goleiro na maior defesa da sua vida. Na dúvida, colocou-se em um ângulo perpendicular ao buraco não fosse sair outra bola de fogo, mas tudo o que saiu, dez segundos depois, foi um Igor cambaleante e com o rosto crispado de dores. Mal deu dois passos, caiu ao chão e a última coisa que fez antes de perder a consciência foi fechar a passagem. Sem compreender grande coisa, mas preocupado com o amigo, correu a ajudá-lo.

― ☼ ―

Igor abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o lustre da sua sala, estranhando um pouco o fato de acordar no sofá. Logo a seguir a lembrança da noite atingiu-o como um soco no estômago e ele levantou-se de um salto, sentindo-se fraco e tonto. Na poltrona ao lado, Valdo dormitava, mas ele também despertou assim ouviu o amigo.

– Daí, amigão, estás melhor? – perguntou, sorrindo e com ar cansado. – Desculpa te deixar no sofá, mas tu é meio pesado pra te carregar um andar sem elevador.

– Obrigado, pela ajuda, Valdinho – disse Igor com a voz deprimida. – Suponho que nem dormiste direito.

– Deixa pra lá. – Valdo sorriu. – Para isso servem os amigos. Então, o que aconteceu?

– Samuel é o responsável e tu acertaste em cheio. Acho que ele deve estar de conchavo com a monstruosidade que me quer destruir. O poder desse demônio é imenso e é virado em puro mal. Fui atingido por duas dessas esferas negras dele e a minha barreira pessoal não aguentou. Fugi de volta antes de perder a consciência de vez. Acho que um mago de terceiro nível teria morrido no ato com esses ataques, tamanha é a força dele.

– Já estás bem? – questionou o amigo, ainda assombrado com todas essas novidades que só via nos livros de ficção. – Tu tens condições de fazer alguma coisa?

– Sinto-me demasiado fraco, mas preciso muito de encontrá-la, Valdinho – comentou Igor, desesperado. – Sem Eduarda, a minha vida não tem qualquer sentido.

Valdo, que era o mais calmo naquele momento por não estar envolvido de forma emocional, aconselhou-o.

– Primeiro passo: quanto mais tu comprovar a ele que ela é demasiado valiosa para ti, tanto mais ele vai usar isso a seu favor; segundo: vamos para a faculdade, porque é lá que ele deverá tentar o próximo lance neste jogo.

– Podes dirigir? – pediu Igor. – Estou meio fraco e aproveito para me recuperar mais um pouco.

– Claro. Vamos nessa.

― ☼ ―

Da casa do Igor até ao Campus do Vale não era lá muito perto e o trânsito àquela hora consistia em um verdadeiro caos. Para piorar as coisas, ele estava uma pilha de nervos e o barulho das buzinas não ajudava muito. Fecharam as janelas e ligaram o ar-condicionado, o que amenizou a poluição sonora e o calor, apesar de Abril já ir alto.

– Vou fugir para a Avenida Ipiranga – disse Valdo, mantendo-se calmo –, talvez esteja melhor lá.

– Ok. – Igor recostou-se no assento e tentou relaxar, absorvendo os raios do Sol que batiam de frente. Estava tão tenso que parecia uma corda de guitarra prestes a estourar. – Contanto que cheguemos o quanto antes, vai por onde quiseres.

– Podias usar esses teus poderes para nos livrares disto – disse Valdo.

– Podia sim – confessou o amigo – mas ainda estou bastante fraco e não sei o que me espera por lá. Melhor não arriscar.

Tiveram um pouco mais de sorte e, depois de passarem a PUC, a avenida estava quase vazia. Valdo aproveitou e acelerou bem mais, mas manteve-se no limite porque havia alguns radares. Menos de quinze minutos depois, estacionavam na universidade. Igor costumava parar o carro atrás do prédio do Instituto de Física por ser mais fácil de estacionar, além de ter um pouco de sombra das ainda pequenas árvores. O chão era de terra batida, revestida com brita miudinha, tudo na cor de barro.

– Não vai esquecer de ficar controlado – aconselhou Valdo, saindo do carro com o amigo e olhando em volta. – Lembra que ele pode usar as tuas emoções contra ti.

Assim que fechou a porta, ele viu Samuel aparecer com ar debochado e Igor avançar na sua direção, furioso. Valdo aproximou-se do amigo às pressas.

– Olha aí o veadinho dirigindo o carro do marido – começou, ele, provocante. – O que será que Eduarda vai pensar sabendo que vocês dormiram juntos?

– Onde está ela – perguntou Igor, cerrando os dentes. – O que vocês fizeram com a minha noiva?

Valdo viu Igor saindo de controle e tentou cutucá-lo várias vezes para ver se ele se acalmava, mas sem efeito. Não lhe restou outro remédio a não ser tornar-se um mero espectador, consciente que aquilo ia acabar muito mal.

– Ex... ex-noiva, Igor – continuou Samuel, rindo. – Ela tá muito chateada com toda essa traição, meu caro.

A resposta do calouro já era previsível, mas Valdo notava que Igor, na sua raiva, não agia com a devida coerência.

– Escuta bem, sua desgraça – disse ele, avançando na direção dele, bastante ameaçador. – Com ou sem aquele monstro preto te ajudando, se não me disseres o que fizeste com a minha noiva, eu juro que te mato numa agonia tão atroz que vais desejar não ter nascido.

Se o objetivo era provocar medo no inimigo, ele não foi bem-sucedido, porque Samuel apenas riu-se a valer da ameaça, respondendo:

– Ela não te quer mais, cara – disse implicante. – Mas, se não acreditas, vais ouvir isso da boca dela, serve?

Essas palavras acalmaram-no um pouco por saber que Eduarda estava bem e ali perto. Mais uma vez Valdo aproximou-se e apelou para o bom-senso do amigo, ainda sem resultado.

– Assim que ela aparecer, Valdinho – murmurou Igor –, tu pegas a Eduarda e afastas de nós que eu vou mostrar a esse diabo com quantos paus se faz uma canoa.

Após, ergueu a voz e continuou:

– Onde está ela, Samuel – exigiu, muito irado. – É a tua última chance antes que te transforme num fóssil carbonizado.

Rindo, Samuel fez sinal para um vão entre dois prédios anexos. De onde o par estava, não era possível ver nada por causa do ângulo, mas o colega reforçou com um pedido:

– Vem, meu amor, diz para ele que agora tu és minha gata e não desse amante de veados.

Igor olhou para aquela esquina, mas mantinha-se bem atento a Samuel, não fosse ele aprontar alguma. Eduarda surgiu dali, incólume, e veio na direção deles. Aliviado, Igor sorriu e aguardou a noiva, mas ela aproximou-se do Samuel e abraçou a sua cintura. Deu-lhe um beijo no rosto e virou-se para o noivo, sorridente.

– Tu me enganaste, Igor – afirmou com a voz que soava bem normal, embora demonstrando irritação. – Todo este tempo me traíste com Valdinho. Bem que eu devia ter desconfiado essa tua amizade com um veado, dizendo que não eras preconceituoso.

Igor demorou a digerir as poucas palavras que chegaram aos seus ouvidos. Quando se deu conta, ficou sem qualquer reação, sentindo a cabeça latejar e o coração acelerado. Como se fosse um peixe fora d'água, com os olhos arregalados e a boca abrindo e fechando sem sair nada, ele sentiu a mesma coisa que alguém sentiria se um tapete fosse puxado debaixo dos seus pés. Segundos depois, recuperou-se, mas Valdo, mais uma vez, pegou no seu braço e murmurou:

– Calma, tchê, essa não é a Duda que tu conheces. Ela jamais pensaria assim...

Igor ignorou-o, chocado. Olhou nos olhos dela e disse:

– O que disseste? – A sua voz era quase sumida e a respiração ofegante. – Amor, alguém te bateu na cabeça? Tu estás bem? Não é possível!

– Não quero mais olhar para a tua cara, Igor. – Foi a sua resposta, seca, curta e grossa. – Está tudo acabado. Agora eu sou namorada dele, entendeste? Esquece que eu existo. Não tem mais noivado e muito menos casamento.

– Eduarda, isso não pode ser sério. Pelo amor de Deus, estás influenciada por...

– Chega, vai embora – gritou ela. Virou as costas e afastou-se, não sem antes beijar os lábios do Samuel, rindo. – Vou para a aula, amor, depois a gente se vê.

Mesmo Valdo não se continha mais de tão surpreso, mas notou perfeitamente que Igor estava à beira do descontrole e não se espantou nada quando ele murmurou:

– Sai de perto de mim, rápido, tenta falar com ela e tenta descobrir o que foi que lhe aconteceu que eu vou dar cabo desse miserável.

― ☼ ―

Quando viu isso mais o sorriso debochado do colega, Igor sentiu o sangue fervendo e as mãos a formigar. Após pedir para o amigo que se afastasse, não aguardou nada e quase gritou:

– O que foi que lhe fizeste, seu demônio?

Ouviu apenas uma gargalhada macabra, aquela tão sua conhecida e que estrelou a maioria dos seus piores pesadelos até conhecer a Eduarda e sabendo que a paz havia chegado ao fim. Ainda viu o amigo apressando o passo na direção de um dos prédios da física, por onde foi a Eduarda, mas nada mais fazia sentido para si. A sua vista focou-se apenas no adversário à sua frente e concentrou todo o seu ódio nele.

Desesperado e magoado, soltou um berro enorme e atacou.

― ☼ ―

Valdo tratou de obedecer o mais rápido possível porque era patente que nada mais podia fazer para acalmar o amigo. Seguiu o mesmo caminho da Eduarda, mas ela desaparecera. Preocupado, achou melhor proteger-se ali e aguardar o desenrolar das coisas de forma a ajudar Igor caso ele precisasse. Ficava perto o bastante para poder acompanhar o desfecho do confronto, mas sem correr riscos.

Ambos estavam de frente um para o outro a cerca de vinte passos e, apesar da seriedade da situação, Valdo não deixou de notar o engraçado da coisa porque só faltava a música de suspense antes do duelo, como se aquilo fosse um filme de faroeste. Voltou a olhar para os dois, notando que estavam bem no meio da ruela que se formava entre os diversos carros estacionados, com Samuel rindo, muito seguro de si e foi nesse momento que ouviu um berro que expressava de tudo, desde dor até fúria, passando por tristeza pura.

Igor reagiu de forma explosiva, dando um grito que mais pareceu um trovão ao mesmo tempo que começava a brilhar na tradicional cor verde. O céu relampejou e Valdo encolheu-se, assustado enquanto o amigo, sem pestanejar, ergueu as mãos e arremessou duas esferas de plasma com toda a força, atingindo o colega novato que foi apanhado de surpresa.

Tratou-se de um ato irrefletido que poderia ter provocado uma explosão violenta e devastadora, com potência suficiente para criar uma cratera imensa e a destruição de um ou dois edifícios próximos, mas Igor não se encontrava com lucidez para ver ou pensar nas consequências. Em compensação, o estranho colega foi atingido em cheio porque não esperava tal reação e recebeu uma carga cuja potência nem podia ser calculada. A energia térmica de milhões de graus atingiu-o e percorreu o seu corpo, ferindo-o, mas sem o efeito fulminante que deveria ter ocorrido: a carbonização imediata do corpo alvejado. Mal disparou as esferas, Igor ergueu ambas as mãos e intensas descargas de raios de cores vermelha e violeta saíram em direção ao alvo. Apesar do dia ensolarado, quem olhasse direto ficaria bastante ofuscado. Tudo o que Igor notou era que Samuel começou a ficar disforme, parecendo uma sombra com formato humanoide.

Sabendo que não suportaria o impacto de uma terceira bola de plasma, a criatura rasgou a estrutura planar e fugiu sem pensar porque ficou um pouco fraca para reagir a tempo.

De olhos arregalados, Valdo assistia aquilo tudo sem entender muito bem as coisas. Primeiro vira Eduarda fazer algo chocante e inacreditável para, depois, o seu noivo perder a compostura e atacar com artes mágicas um colega de faculdade. Notou que a violência do ataque era extrema e também que Igor não parecia estar no seu juízo normal, mas o que mais o impressionou foi a transformação do calouro em algo que parecia inumano e que fugiu do mesmo jeito que viu na casa do Igor. A última coisa que presenciou, foi o amigo correndo para a fenda onde aparecia uma paisagem diferente e gritando para si com a voz desesperada, atirando-lhe um molho de chaves:

– Cuida dela, cara, por favor.

Depois disso, Igor mergulhou na abertura e desapareceu, perseguindo o que quer que Samuel fosse. Valdo ainda ficou parado um tempo olhando o lugar onde segundos antes estava aberta a passagem para outro mundo. Sem ter o que fazer, encolheu os ombros, pegou as chaves do chão e foi para a sala de aula procurar Eduarda, sem a encontrar.

― ☼ ―

Igor corria atrás do inimigo, que voltou se transformar na entidade negra e disforme que sempre o perseguia de forma implacável, até nos seus pesadelos mais obscuros, mas agora os papéis estavam invertidos, dando-lhe uma confiança renovada.

Ali onde estavam naquele momento, era escuro e muito frio, além de silencioso. Acostumado a ver diversos mundos pelos treze planos, Igor não se preocupou com os detalhes do local por onde passava, um planeta semelhante à Terra e em pleno anoitecer, mas em uma latitude que parecia ser bastante elevada e talvez no inverno, uma vez que a temperatura era muito baixa, cerca de dez graus o que não era nada de grave para alguém habituado a invernos rigorosos, mesmo se estivesse de camiseta como era o caso.

O anoitecer chegava com tanta rapidez que ficava cada vez mais complicado perseguir uma sombra no meio da escuridão, mas ainda assim ele não desistia, correndo feito um doido e seguindo o som das gargalhadas estridentes que Samuel soltava de vez em quando e que ajudavam a localizar a direção correta.

Em pouco tempo, corriam por um grande descampado, com nada para proteger qualquer dos dois. Em uma reação instantânea, Igor jogou para cima uma bola de luz muito forte que ficou a pairar no ar a cerca de cinquenta metros de altura e iluminou todo o lugar, revelando a posição do inimigo.

Ainda sem perder tempo, arremessou duas bolas de energia plasmática de um amarelo intenso que explodiram à frente do demônio preto, fazendo-o parar na borda da cratera de lava que se formou, quase caindo dentro. Iluminado pelo magma criado pelo adversário, Samuel parecia ainda mais assustador. Virou-se para o antagonista e disse:

– Achas que podes derrotar alguém como eu, Igor? – soltou outra gargalhada. – Todas as tuas ações são previsíveis, seu tolo. Pensas que podes derrotar todo o poder dos Guardiões reunidos?

– Os Guardiões reunidos sim, eu posso derrotar – explodiu o mago. – Posso derrotar todos os magos do Universo e tu também terás o teu fim, coisa ruim; é tudo uma questão de tempo.

– Pobre idiota – zombou a sombra – a tua cabeça é um livro aberto para mim. Tudo o que tu fazes, eu sei antes de acontecer. O fato de me teres apanhado desprevenido na Terra não é sinal de que conseguirás isso outra vez. Tu estás aqui à minha frente porque eu quis que assim fosse e te orientei com o meu baru...

Igor não esperou que ele terminasse de falar. Seu corpo revestiu-se da barreira verde, como sempre, e começou a arremessar bolas de plasma na direção da sombra, enquanto gritava furioso:

– O que fizeste com a Eduarda, seu demônio preto?

– A Eduarda acabou para ti, Mago – disse, gozador. – Eu pretendia matar-te a ti e a todos, mas o teu mundo é muito agradável e divertido, então agora vou dominar tudo ao meu bel-prazer. Além disso, tenho o prêmio maior; tenho a Eduarda, o meu troféu, e tu vais viver para me veres triunfar com ela ao meu lado, ou talvez não. Eu vou dominar aquele planetoide, em especial com a ajuda dos poderes que suguei da tua amiguinha inglesa. Ela era muito forte, não achas?

Igor gritou de desespero e fúria.

– Seu diabo. – Das suas mãos, saíram raios tão fortes que chegaram a fazer da iluminação anterior algo débil e a noite tornou-se dia. Atingiram a criatura sombria que ria descarada, mas nada lhe aconteceu.

Samuel estendeu a mão e uma bola negra e fria formou-se, arremessando-a contra o jovem desesperado. Igor desviou, mas foi atingido de raspão e mais uma vez a sua barreira não resistiu ao impacto, ruindo. Feixes de um tipo de luz negra atingiram-no em cheio, começando a sugar as suas energias. Enfraquecido, o mago atirou-se para o lado, caindo ao solo e rolando de forma a se esquivar dos ataques luminosos que o tornariam incapaz em pouco tempo.

Mal voltou a se erguer, um gigante monstruoso apareceu do nada à sua frente dando-lhe uma forte pancada no peito e apanhando-o de surpresa. Igor voou longe, tamanha foi a patada desferida e levantou-se bem tonto, procurando posicionar-se para se defender.

Olhou para aquele ser de pesadelo, tão grande e feito que fazia o monstro que criou na universidade parecer algo simples e inocente, uma vez que esse parecia um Ogro cruzado com alguma besta do apocalipse. O segundo golpe, ele conseguiu desviar, mas o chute que o sucedeu atingiu o seu abdômen e foi de tal forma intenso que o deixou sem ar. Igor foi parar a quase quatro metros de distância do monstro e, além de fraco e desesperado, começava a ficar ferido. Já não tinha velocidade suficiente para combater e tão-pouco desviar, mas jamais desistiria enquanto respirasse.

Ergueu a mão, que brilhava, e uma espada flamejante revestida com alguma forma de energia dourada surgiu. Igor atacou o monstro com ela, mas, com uma nova risada, a sombra materializou um escudo no seu elemento, que se defendeu sem dificuldade. Ele tentava de várias formas atingir a criatura, só que não era nada fácil acertar alguém que tinha mais do que o dobro do seu tamanho. Apesar de a sua espada ser capaz de cortar o aço, era impotente contra a barreira que revestia o escudo do monstro e, para piorar tudo de vez, outro ser idêntico apareceu ao lado do primeiro e chutou-o na região da cintura ao mesmo tempo que o primeiro o acertou com o escudo no rosto.

Zonzo e sentindo gosto de sangue na boca, caiu de novo. Tentou reerguer-se, mas teve demasiada dificuldade, sendo chutado no abdômen pela segunda vez e arremessado para longe.

– Divirta-se, Mago, que eu vou voltar para a nossa Eduarda, ou seria minha Eduarda? – riu de novo. – Vou-me divertir de uma forma bem melhor que essa.

A última coisa que ele ouviu foi aquela risada irritante e desagradável. Depois, teve que lutar pela própria vida como nunca antes precisou porque estava demasiado fraco para enfrentar os dois gigantes grotescos vindos da imaginação de uma mente doentia. Os monstros agrediam-no sem parar e ele sentia-se cada vez mais exaurido e ferido, mas conseguiu notar que eles reduziam a intensidade dos ataques e só não sabia se isso era para se divertirem um pouco mais às suas custas ou para se pouparem por terem perdido o apoio energético do seu criador.

Independente disso, fez um último esforço e arremessou uma esfera de plasma, fraca, mas suficiente para destruir um deles, enquanto rolava pelo chão para escapar ao soco do segundo. Para sua sorte e alívio o motivo real era mesmo porque não se podiam manter muito tempo sem a energia para alimentar o fluxo vital deles e a destruição do primeiro foi bem fácil.

Levantou-se cambaleando e fraco demais, com alguma dificuldade. Quando ergueu o olhar para enfrentar a criatura ela já estava ao seu lado e atingiu mais uma vez o seu abdômen com um forte chute, sendo catapultado para longe. Igor sabia que estava ferido de morte e sem forças para se curar, sentindo com clareza a hemorragia interna que lhe estendia as garras da morte e da qual tinha poucas chances de escapar. Além disso, precisava de destruir o monstro e fugir para procurar ajuda urgente. Ao seu lado havia uma pedra que, por uns míseros centímetros, não foi o seu fim quando caiu. Usando os seus dons com a pouca força que ainda sobrava, fez a pedra voar sobre o atacante e conseguiu atingi-lo em cheio, afastando-o. Reunindo as últimas reservas que possuía, arremessou uma fraca bola de plasma e viu a criatura ser destruída ao mesmo tempo em que a vista ficava turva e perdia a consciência. Acordou com uma chuva fina e não sabia ao certo quanto tempo se passou, mas sentia-se muito pior. Pôs a mão na barriga e constatou que precisava de socorro imediato porque o sangramento intensificara-se.

Com extrema dificuldade, ergueu-se e caminhou vacilante, curvado sobre si mesmo. Desesperado, constatou que necessitava de ajuda não só para se curar e sabia disso, uma vez que não era capaz de vencer a sombra e isso era uma coisa que lhe fugia à compreensão porque ele era o mago mais poderoso da Cidadela, mais forte que todos os outros reunidos. Seu último ato consciente foi abrir um portal para fugir dali, caminhando sem rumo e sem saber como ou para onde, deixando isso a cargo do subconsciente.

― ☼ ―

Eduarda estava estranha, sentada na sala de aula. Não era capaz de pensar direito e sentia que faltava algo na sua vida, algo que não sabia o que era. Sem pensar, levantou-se e saiu como que hipnotizada, retornando para casa e faltando ao trabalho.

Entrou no seu quarto, sentindo que o lugar lhe era estranho, e olhou para a cômoda onde dúzias de botões de rosa estavam espalhados por diversos jarros.

De olhos arregalados, ela viu todas as flores murchas, secas, e de alguma forma sabia que isso estava envolvido com o vácuo na sua memória.

Desesperada, deitou-se na cama, abraçou o travesseiro e chorou sem parar durante muito tempo até que caiu num sono benfazejo.

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A UFRGS tem vários campi: o campus centro; o campus médico; o campus esportivo (ESEF); o campus agronomia e o campus do vale, onde se concentra a sua maior parte.

PUC – Pontifícia Universidade Católica

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