Capítulo 14
"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar."
Sun Tzu.
A sala de entrada parecia confortável e havia uma pessoa em uma mesa, talvez uma recepcionista. Ao longo da parede oposta, viam-se poltronas de espera e, na dos fundos, poços dos elevadores movidos por gravidade artificial. Mia fez um sinal desleixado para a recepcionista e levou Igor para uma entrada que estava ao lado dos elevadores, mas no outro extremo da sala onde não era visível de imediato. O corredor largo não parecia longo e terminava em uma espécie de auditório semicircular de dimensões avantajadas. No caminho, o mago notou que ela ficava nervosa e estranhou isso em alguém que sempre esteve calmo. Indagada, a cientista deu um sorriso amarelo.
– Não confie neles – disse, lacônica para depois se encerrar em um mutismo.
Igor foi forçado a dar um sorriso discreto, concluindo que ela estava tão apreensiva por ver os governantes como ficaria um simples mortal na Terra perante as autoridades. Apesar de ser o Guardião Supremo há tão pouco tempo e não havendo a mesma relação de governador para governado que os povos comuns tinham, já sentiu esse comportamento em alguns dos súbditos. O curioso é que Igor notava que isso acorria até com pessoas de consciência limpa.
Chegaram ao objetivo e ele parou para observar o recinto. Tratava-se de uma sala em meia lua e bastante grande, onde caberiam com folga mais de duzentas pessoas, embora não houvesse cadeiras para sentar. O piso era claro e de um material desconhecido, mas que lembrava algum tipo de cerâmica. As pareces brancas emitiam uma luz difusa e o teto tinha um tratamento acústico que aparentava ser perfeito. Igor estava certo de que uma palavra falada em voz normal era ouvida sem esforço em cada canto do salão. Divertido, perguntou-se para que motivo isso, se eles comunicavam-se por telepatia, mas concluiu que também deve ter sido feito para receber povos estrangeiros.
No fundo, em um estrado que ficava talvez um metro e meio acima do solo, estavam sentados sete seres daquele povo, também em semicírculo. Igor já conhecia o suficiente da fisionomia deles para ver que não eram amistosos como a cientista fora, nem um pouco, excepto por um que até sorriu. Igor parou no meio da sala, observando e sendo observado. O governante do centro do grupo fez sinal para que Mia se retirasse.
– Volto para pegá-lo quando me autorizarem – disse ela. Com um murmúrio, continuou. – Tenha cuidado com eles.
– Obrigado, Mia. – Igor despediu-se e virou-se para os sete sujeitos, calado e avançando um pouco mais até ficar a uns cinco metros de distância do palco. Achou que era obrigação deles manifestarem-se primeiro e, por isso, permaneceu em silêncio.
– Não vai dizer nada, senhor? – perguntou o mesmo sujeito que dispensou Mia e que era o mais carrancudo.
– Bem, excelência – começou, encolhendo os ombros e dando um pequeno sorriso cortês –, os senhores chamaram-me. Logo, presumi que deveria aguardar calado para não infringir quaisquer regras de boas maneiras. Peço que me perdoem se com isso ofendi-os.
– Somos de povos diferentes – disse o mais à esquerda, uma pessoa que aparentava calma e bondade –, por isso temos de ser compreensivos de ambas as partes. Seu nome é Igor, não é correto?
– Exato, senhor, e concordo consigo. – O mago simpatizou muito com ele. – Creio que estou perante os governantes deste mundo.
– Sim, somos o conclave de governo – disse outro, agora da extrema direita. – O senhor é uma contradição, Igor, e já gerou, só com a sua presença, alguma discórdia entre nós.
O jovem espantou-se com essa observação porque não entendeu onde eles desejavam chegar com isso, uma vez que nada fez que pudesse ter criado algum tipo de antagonismo. Por alguns segundos parou para rever todos os passos dados desde que abriu a passagem para aquele planeta e concluiu que não havia motivo aparente. Seguindo essa premissa, disse:
– Tal revelação deixa-me pesaroso, excelências, porque a última coisa que eu desejo é semear a cizânia. Talvez, se vossas excelências me elucidarem, eu possa contribuir para dirimir as preocupações que causei.
– Primeiro, seu mundo de origem é demasiado primitivo para o tipo de homem que você é. Mia mostrou-nos, a nosso mando, imagens diversas tanto do seu organismo quanto dos apetrechos que carrega. O seu cérebro, em alguns pontos, chega mesmo a ser superior aos nossos que são muito mais evoluídos e antigos. A sua tecnologia é equivalente a quem está nos primórdios da navegação espacial e essa arma primitiva na sua cintura nem combina com nada, além de ser inútil. Junte-se a isso o fato de que veio pedir ajuda porque está deslocado no passado quase duas dezenas de séculos da sua contagem de tempo e também que é capaz de transpôr os Planos Universais – disse o governante do meio, o mais severo e perigoso deles. – Como atravessa os planos e onde arrumou um bloqueio mental tão forte?
– Vejamos – começou Igor, suspirando. – Eu já expliquei para Mia que somos algumas exceções entre o nosso povo e chamam-nos de magos. Naturalmente que uma evolução em mundos diferentes, faz com que não sejamos iguais uns em relação aos outros, com vantagens e desvantagens entre o meu e o vosso povo. Entre nós há seres que podem ir a qualquer mundo que desejarem, bastando pensar para abrir a passagem e eu sou um deles. Quanto ao cérebro bloqueado, os senhores perdoem-me, mas gosto de manter a minha privacidade. Isso é uma das nossas leis mais sagradas e nem mesmo eu a posso violar.
– Por que motivo nem mesmo o senhor? – perguntou o quinto da esquerda para a direita.
– Porque eu sou o intitulado de o Guardião Supremo do Mundo de Cristal, a autoridade máxima do planeta em que habito.
– Notamos imagens no seu aparelho versátil que mostram diversos mundos além do seu. Como foi lá? Como chegou aqui sem uma espaçonave?
– Eu acabei de lhe explicar, excelência. Apenas desejo e pronto... estou lá. – Igor sorriu, encolhendo os ombros mais uma vez e abanando a cabeça. – Acredito, senhores, que vocês ficaram demasiado tempo sem observar a espécie humana e perderam muito da nossa evolução natural. Afinal, que problema há nisso?
– Vocês eram da classe H e agora Mia quer colocá-los em nível B ou até mesmo no A e isso é impossível – reclamou um dos que ainda não haviam falado e que ficava ao lado do simpático. – Para alcançarem o nosso nível neste curto período de tempo precisariam de ter uma velocidade de desenvolvimento quase cem vezes superior à nossa.
– Não vejo por que motivo não poderia ser assim, excelências. A espécie humana é bastante tenaz.
Os sete elementos começaram a olhar uns para os outros e Igor notou que debatiam entre si. Não tinha medo deles, mas não se sentia seguro ali porque eram o total oposto da Mia exceto pelo primeiro da esquerda. O do centro virou-se para ele e perguntou:
– Com veio parar aqui no passado?
Igor repetiu a história e eles ouviram-na, calados. Comentou por último sobre a sua teoria de poder salvar as vítimas.
Desta vez eles ficaram ainda mais tempo calados, confabulando por telepatia. Finalmente, o simpático disse:
– O nosso povo não domina o deslocamento no tempo e vocês até já têm rudimentos teóricos sobre isso, o que é muito preocupante. Desde a grande guerra, nós consideramos algumas coisas perigosas ao extremo e o tempo é a pior delas. Por outro lado, eu vejo no seu comportamento alguém que seria tudo menos perigoso, na verdade, um bom amigo e aliado...
– Mas nós – interrompeu um dos que estavam calados –, não pensamos da mesma forma e julgamos que o senhor é demasiado perigoso.
– Por isso – afirmou outro –, decidimos por seis a um que o senhor será neutralizado e mantido aqui, em cativeiro, mas não se desespere que não o maltrataremos.
– Excelências, os senhores viram em mim qualquer comportamento que fosse reprovável? – perguntou o mago, surpreso. – Vocês gostariam de ser tratados assim caso fossem ao meu mundo?
– Não me importa o que sente, senhor...
– O meu título de direito é Magnífico – Igor interrompeu de forma grotesca porque ficou muito irritado. – Então respeitem um líder planetário, excelências, tal como tenho feito com vocês... por enquanto.
– O senhor será líder daqui a muito tempo, mas não agora. Não desejamos viajantes do tempo invadindo nosso mundo e muito menos toleramos ameaças.
– Eu vou dizer algo bem simples, excelências – afirmou Igor, ameaçador –, vocês venceram uma guerra onde prenderam um monstro semi-inteligente há seiscentos milênios e nunca mais batalharam nada, segundo a Mia me contou. Eu sou um mago de nível um superior e não o ser grotesco que julgam que sou, sem falar que não estou disposto a passar os próximos séculos, aprisionado. Por maior que seja a vossa tecnologia, vocês não só não sabem os recursos de que disponho para me defender como não possuem a menor condição de me aprisionar aqui, então é melhor que me deixem em paz antes de que eu faça algo que todos nos vamos arrepender. Lembrem-se que eu não sou como a criatura e tão-pouco vocês sabem combater...
Igor não soube como, mas foi interrompido pela repentina aparição de um grande lote de robôs que encheu grande parte da sala, ameaçadores. Não desejava combater aqueles seres, muito menos feri-los, só que eles mereciam uma boa demonstração do poderio de um mago. Ativou a sua barreira pessoal, brilhando no tradicional tom verde, quando várias armas de choque alcançaram-no sem qualquer efeito. No cérebro dos governadores, plantou o seu recado:
– "Nunca se deve ameaçar um homem que não se conhece. Eu sou um mago e vim em paz. Não aceitarei ser aprisionado. Se não sou bem-vindo, então retirar-me-ei, mas nem pensem em me prender, senhores, porque, nesse caso, esse terá sudo o vosso último ato como seres vivos." – Ergueu a mão direita e um escudo luminoso, semelhante a uma película de vidro, apareceu tomando a forma oval. O robô mais próximo, ao ver aquilo, levantou os braços e disparou raios sobre Igor, raios estes que atingiram o escudo e, ao contrário do que a barreira pessoal faria com eles, foram refletidos acertando a cadeira de um dos governadores, que se encolheu assustado.
Igor imaginou que eles deviam ter dado alguma ordem mental para as máquinas, porque em vez de atirarem, efetuaram um cerco, apertando-o aos poucos.
O jovem desembainhou a espada, cuja lâmina começou a brilhar em um dourado forte, e apontou para um dos robôs. O raio ofuscante rasgou o ar em silêncio e atingiu a máquina que imitava com perfeição a forma humanoide, explodindo com violência e fazendo os governadores encolherem-se de novo. Avançou sobre o segundo aparato e cortou-o ao meio enquanto com a mão direita arremessava uma microbola de plasma sobre um terceiro robô, provocando nova explosão. Vendo que eram impotentes contra o estranho, as máquinas recuaram, aguardando novas ordens. A ameaça do mago ecoou no cérebro dos governantes:
– "Isto foi um aviso para me deixarem em paz. Eu respeito a vida até certo limite, entenderam?"
– "Jamais sairá desta cidade" – disse o do centro. – "Uma barreira energética com os dados das suas vibrações celulares impedirá a saída deste mundo. Se não se entregar, seremos obrigados a matá-lo e a culpa será só sua."
– "Pelo amor da Deusa, não me obriguem a destruir a vossa cidade que eu vim em paz. Vocês são insanos!" – Igor virou-se para a saída, começando a andar.
Vendo que ele não mais representava uma ameaça para o hepteto em função da posição e distância, os robôs atacaram despejando mais de quarenta feixes de raios sobre o jovem da Terra. A energia alcançava a sua barreira pessoal e era neutralizada, mas Igor virou-se e usou a espada de novo, rebentando meia dúzia de máquinas.
– Viram que ela não é tão primitiva assim? – disse, erguendo a lâmina e mostrando-a para o conclave. – Parem com isso ou serão os próximos.
Virou-se e foi para a saída, seguido pela meia centena de robôs que mantinham fogo cerrado nele. No saguão, a moça tinha abandonado o posto e Igor supôs que foi alertada.
Mal pôs o pé na rua, foi cercado por mais de trezentas máquinas daquelas. Desesperado e não querendo arriscar um combate com tantos robôs, concentrou-se em Mia, desaparecendo da frente deles e ressurgindo ao seu lado, dando-lhe um grande susto. Ela parecia demasiado preocupada e aflita, mas, ao vê-lo, expressou alívio, apesar do susto.
― ☼ ―
A cientista observou Igor e a primeira coisa que viu foi o brilho verde que o cercava por inteiro.
– Que susto, Igor – começou ela. – Eles desistiram tão rápido? Que luz é essa que emana de você?
– Mia, eu estou muito decepcionado com vocês – replicou o mago, desfazendo a barreira de proteção. – O que foi que me fizeram e por que o governo decidiu que me vai prender se nada fiz para merecer essa atitude?
– Eles me obrigaram. – Ela baixou a cabeça, aflita. – Desculpe-me, Igor, mas fui forçada.
– O que foi que a obrigaram, Mia? – Igor agiu com suavidade porque ela sempre fora muito gentil. – Eles já devem ter adivinhado que eu estou aqui e não duvido que mandem uma força de combate para me pegar. Então, faça o favor de se apressar e explique.
– Você foi colocado no doutrinador para lhe ensinarmos nosso idioma original, mas também para obter informações básicas a seu respeito – explicou, nervosa. – A ideia era averiguar se o senhor seria perigoso para a nossa civilização porque é muito estranho receber um visitante de outro plano sem uma espaçonave. Nunca ninguém tinha ficado tanto tempo no doutrinador, mas não conseguiram nada a não ser dados completos sobre seu organismo. A barreira natural do seu cérebro deixou-os muito nervosos e negaram-se a aceitar que estaria na classificação A ou B. Depois, eles descobriram o que a sua espécie fez em tão pouco tempo e isso assustou-os ainda mais, porque vocês são aguerridos.
– Mia, há quanto tempo estou neste mundo? – perguntou, taxativo e cada vez mais nervoso. – Por favor, seja sincera. Eu juro que não lhe farei qualquer mal e não vos pretendo prejudicar. Vim aqui atrás de auxílio, apenas isso. Se eu não sou bem-vindo, sairei e procurarei ajuda em outro local, mas essa vossa atitude de me prender e neutralizar não é nada justa. Quanto tempo?
– O senhor está aqui há doze dias da sua contagem, Igor – respondeu ela preocupada, mas confiando nele. – A sua última refeição continha uma droga para o fazer dormir. Eles queriam realizar mais análises e tentar ler o seu cérebro inconsciente, mas nem assim foi possível. Recebi instruções para o manter sedado, mas quando deram a ordem era tarde e o senhor voltou a acordar.
– Minha Deusa, doze dias! – exclamou, encostando-se na parede, preocupado. – A pobrezinha da Ailin deve pensar que eu morri! Tem ideia da crueldade que o seu governo pretendia fazer comigo, Mia? – Igor estava amargurado e decepcionado. – É assim que uma civilização tão desenvolvida e evoluída trata os estranhos, sem nem sequer lhes dar o direito de defesa? Eu vim como amigo e não quero virar um prisioneiro. Vocês nem fazem ideia do poder que eu possuo, pelo amor da Deusa. Eu poderia acabar com toda esta cidade em uma questão de horas, se fosse de fato uma ameaça e aguerrido como vocês falam!
– E por que não faz? – perguntou ela, sentindo que era verdade o que Igor dizia. – É um direito que lhe cabe para se defender e eu não o culparia.
– Porque jamais tiro vidas inocentes, Mia. Eu sou um mago e nós amamos a vida acima de tudo! – respondeu ele. – Ao contrário do seu governo, eu não sou nada egoísta.
– Desculpe-me. – A cientista baixou a cabeça. – Eu sempre fui contra isso, mas tenho que obedecer ordens. Afirmei várias vezes que você não era perigoso, mas só Mog deu ouvidos.
– Mas aí é que se engana. Eu sou muito perigoso, mas apenas quando ameaçado porque sou pacífico. Tudo bem, Mia. – Igor usou uma voz suave. – Eu vou-me embora, porque não desejo conflitos e vocês ainda precisam de evoluir muito para podermos interagir. Vocês talvez trouxessem a guerra para o meu mundo e não desejo isso. Adeus.
– Eu... – Mia ia falar, porém Igor virou-se para abrir o portal e sair dali. Concentrou-se bastante, mas nada aconteceu. Tentou três vezes, sem sucesso até que se virou para a moça.
– Eles falaram a verdade – disse, apreensivo. – Criaram um campo que me impede de abrir um portal. Mia, o que mais fizeram comigo?
– Têm o seu registro completo das suas vibrações celulares, apenas isso.
– O que pode ser feito com esses dados, além de me impedir de sair daqui?
– Prendê-lo, neutralizar alguns dos seus dons e talvez reduzi-lo à impotência, além de provocar dor com ondas harmônicas.
– Uma coisa dessas não é "apenas isso" – comentou Igor. – Escute, Mia, eu não quero conflitos e só desejo voltar para o meu tempo.
– Eu sei, me perdoe. – Ela soluçou num jeito bem humano e bastante feminino. – Devia ter ajudado e avisado. Agora sinto-me mal; o que será de si?
– Não sei. Não posso matar gente inocente, mas também não quero passar a minha vida aprisionado por causa de um capricho idiota de ditadores e isso deixa-me em um dilema. Só me resta lutar ou morrer. Com a minha barreira pessoal, eles não conseguirão fazer nada contra a minha integridade, mas não a posso manter erguida para sempre. Até um mago precisa de repouso e, nessa hora, serei forçado a agir.
– Tente fugir – disse ela, exasperada. – Saia que eles chegarão em breve com um grupo armado reforçado. Acabei de receber um aviso.
– E para onde irei, Mia? – Ele encolheu os ombros e seus olhos estavam muito tristes. – Não me resta nada a não ser ficar na defensiva até à hora em que a necessidade de atacar será inevitável. Nesse momento, espero que saiba que o verdadeiro culpado é o seu governo, porque o meu poder é suficiente para esterilizar um planeta.
– Vá, fuja que tentarei falar com Mog – insistiu Mia, empurrando o mago. – Sei que ele vai tentar ajudar o senhor.
Igor virou-se e caminhou em direção à saída. Ele sabia que poderia neutralizar parte das armas usadas contra si alterando um pouco do metabolismo, mas a barreira que o impedia de sair, dificilmente venceria. Sem pressa, alcançou a rua e foi logo cercado por uma centena de robôs, embora diferentes dos primeiros porque eram maiores e muito mais robustos. Igor imaginou logo que se tratavam de máquinas de combate. Foi forçado a rir quando se deu conta do respeito que despertava nos governantes daquele mundo. Ele, um ser ridículo, primitivo e desprezível aos olhos deles, deixava-os mortos de medo a ponto de mandarem uma força de combate que mataria centenas de homens de uma só vez.
Reativou a barreira pessoal e parou na praça, perto de uma árvore enorme e que lembrava um carvalho da Europa. Um dos robôs disparou e Igor sentiu que essa máquina era muito mais potente do que os robôs do prédio administrativo. Outra coisa que notou, era que possuíam campos energéticos em volta deles. Pela quantidade e força, Igor concluiu que poderia aguentar o fogo concentrado deles, mas não por muito tempo. Preparou uma bola de plasma, contudo, desistiu e apenas bombardeou o mais próximo com raios que saiam da mão. A máquina não suportou a sobrecarga e explodiu. Com a espada na mão, decidiu destruir alguns robôs para lhes mostrar a sua superioridade. A lâmina reforçada pela energia dourada atingiu a máquina e Igor sentiu uma dor forte no pulso, observando que a proteção deles era eficiente contra a espada.
A sua primeira reação foi de pânico até que se lembrou do que Ezequiel dissera na viagem ao mundo dos dragões: "barreiras de proteção podem ser neutralizadas se for possível identificar a sua natureza e criar uma magia inversa" –, ecoou a voz na sua mente. Sorriu e concentrou-se para identificar a natureza da barreira das máquinas. Em pouco tempo encontrou a solução, mas optou por não deixar que soubessem disso.
Decidido a evitar a destruição em massa e ainda tentar uma solução pacífica, concentrou-se para se transportar para longe dali. Nesse momento, as máquinas juntaram as mãos e uma abóboda de energia formou-se à sua volta, tendo ele mais a árvore no centro e uns vinte metros de diâmetro. Igor tentou o salto, mas nada ocorreu. Ele não mais conseguia sair dali e começou a se dar conta que talvez tivesse subestimado o poder daquele povo. Pegou uma pedra e arremessou contra um dos robôs, notando que ela atravessava a barreira e concluindo que apenas servia para as suas vibrações cerebrais. A seguir, deu-se conta de que as máquinas ficavam ao alcance da espada, motivo pelo qual não se desesperou. Além disso, se a pedra passou, uma bola de plasma também passaria, mas preferiu que não descobrissem todos os truques de uma vez. Reforçou a sua proteção e encostou-se à árvore, aguardando porque eles mais tarde ou mais cedo precisariam de tomar alguma iniciativa e achava que, naquele impasse, a inatividade poderia ser a melhor arma.
As máquinas aproveitaram para tentar estreitar o campo de força, mas Igor também criou uma barreira magnética que os impedia de avançar. Os robôs mantiveram o campo de contenção que o impedia de sair, mas, fora isso, também mantiveram-se passivos aguardando novas ordens.
Não muito tempo depois, surgiu um dos homens do governo, o de aspecto bondoso. Ele atravessou a barreira sem qualquer oposição e aproximou-se, tranquilo. Igor ergueu os olhos e sorriu, dizendo:
– Presumo que vossa excelência seja Mog, o governador que Mia comentou – apontou o solo, encolhendo os ombros. – Desculpe não lhe oferecer uma poltrona, mas tudo o que tenho é o chão deste parque, que nem me pertence.
Embora o gesto nada significasse para aquele povo, o governador não só compreendeu como voltou a sorrir.
– Não vejo nenhum inconveniente, Magnífico. – Ele sentou-se ao seu lado, cruzando as pernas. Suspirou e virou o rosto para o terráqueo. Igor notou como os seres daquele mundo possuíam modos bem similares aos humanos, já que a única coisa que os diferenciava, pelo menos vestidos, era o terceiro olho.
– Pode chamar-me de Igor – afirmou, sorrindo. – Confesso que o título não faz muito o meu tipo e apenas disse aquilo para tentar exigir um pouco de respeito, mas seus confrades são meio obtusos e não se atinaram para isso.
– Faço ideia porque acredito que seja jovem demais para ser um líder supremo. Quantos anos tem?
– Vinte e um – respondeu, voltando a encolher os ombros. – Eu sou de fato o líder do meu mundo.
– Na nossa espécie, com vinte e um anos é-se novo demais. Eu, por exemplo, tenho seis mil anos e ainda sou considerado muito jovem, sendo o membro mais novo do conclave, muitas vezes mal compreendido.
– Qual a vossa expectativa de vida?
– Dezoito a vinte milênios.
– De fato a vossa métrica é bem diferente da nossa, mas a maturidade não deve ser considerada proporcional à idade. Afinal, basta ver a velocidade vertiginosa com que a minha raça evolui. A maior parte dos meus irmãos vive apenas oitenta anos e uns poucos eleitos dois milênios, talvez algo mais.
– Concordo, Igor. – Ele virou o rosto e fixou o jovem direto nos olhos. – Mas acho que devíamos falar sobre o nosso problema comum.
– Sim – disse Igor, rindo. – Eu sou assustador, perigoso e primitivo, na opinião da sua gente. Eles devem pensar que o senhor arrisca a sua vida vindo aqui, não é?
Mog ficou a olhar para o visitante por alguns segundos. Após isso, tentou imitar o gesto de encolher os ombros e riu.
– Eu não creio que o senhor me vá fazer mal, Igor – afirmou, categórico. – Tanto que me ofereci para vir aqui falar consigo, embora todos dissessem que sacrificaria a minha vida.
– E o que lhe dá tanta certeza, Mog?
– Eu sempre fui contra o tratamento que lhe dispensaram, porque confio cegamente na Mia que é a nossa mais proeminente cientista, só que sou a minoria, o único voto a seu favor. Mesmo após todos estes milênios, o medo do passado está impregnado no nosso ser e nem fazemos mais viagens espaciais exploratórias por puro temor, apesar de ninguém desejar reconhecer isso.
– E então decidem receber todos os estrangeiros que aparecem como se fossem inimigos potenciais ou reais. – Igor sacudiu a cabeça, sem se dar conta que esse gesto não tinha significado algum para eles. – A minha espécie é realmente jovem e já enfrentou muitos reveses, mas ainda acredita na amizade. Eu jamais trataria um visitante assim, embora admita que alguns governos do meu mundo de origem poderiam até fazer pior, mais uma vez motivados pelo medo.
– É triste receber uma descompostura dessas de um estranho, mas o senhor está coberto de razão. – Mog levantou a mão direita sobre o ombro, um provável gesto de resignação. – Diga-me uma coisa, Igor. Como um simples objeto cortante sem qualquer aparelho interno pode se tornar em uma arma que lança raios?
Ao ouvir isso, Igor riu um pouco. Depois, virou-se para Mog e disse, tirando a espada da bainha e oferecendo-a:
– Vejo que vocês investigaram mais do que disseram, muito mais. Esta é uma arma dos tempos passados do meu povo, no momento o futuro deles, mas também é um símbolo. A arma sou eu e não ela. Vamos, pegue-a, mas saiba que, se não for digno de tocar nesta espada, sofrerá um pouco.
Voltou a estender a espada e imaginou o que Mog pensaria. Se nutrisse dúvidas, o mais provável era que não seria digno de tocar na arma. Igor sorriu, quando viu que ele, sem temor, estendeu a mão e pegou-a, observando o cabo.
– De que forma morrerei? – perguntou, sorrindo.
– Jamais morreria, excelência. Como eu disse, não costumamos matar exceto para defender a nossa vida. – Igor inclinou a cabeça em um cumprimento gentil. – Levaria uma forte descarga de eletricidade estática e sentiria um desconforto muito grande, mas não morreria.
– Mas isto é uma reprodução de uma arma que meu povo usou há quase novecentos mil anos!
– E o meu começou a usar há poucas centenas, mas no meu tempo, eles já dominam o átomo. – Igor colocou as mãos em arco e um globo formou-se, mostrando uma imagem tridimensional de uma explosão atômica. – Cinquenta anos depois da primeira arma nuclear, deram-se conta que não haveria vencedores e tomamos novos rumos. Quanto tempo o seu povo levou entre este tipo de arma e o domínio do átomo?
– Cerca de cinquenta mil anos! – respondeu Mog, impressionado.
– Nós demoramos trezentos anos, amigo. E se levar em conta os que são como eu, Mog, o senhor ficaria abismado, pois estamos muito acima dos senhores, embora nossa tecnologia seja inferior.
– O que o seu povo fez?
– Nada de especial. Éramos tão divergentes, que optamos por mudar para outro mundo e criar uma civilização nova, que hoje é bastante diferente, mas mantém laços estreitos com a Terra. Além disso, sentimo-nos um pouco como protetores do nosso mundo de origem.
– Isso é interessantíssimo, Igor.
– Afinal, Mog, o que veio de fato fazer aqui?
– Não é óbvio? – Ele riu ao seu modo. – Eles estão mortos de medo de uma represália e querem que o convença a desistir.
– Acha que pretendo ficar preso pelos próximos milênios tal como fizeram à criatura? – Igor voltou a sacudir a cabeça. – Vocês pensam que eu vou desistir de lutar contra o demônio que invadiu o meu mundo?
– E o que tenciona fazer?
– Sabe, eu adoraria convidá-lo a conhecer a Cidadela, a capital do mundo mais belo e pacífico do Universo – disse, sem responder à pergunta dele. – Talvez passassem a nos entender.
– O que pretende fazer, Igor? – voltou a perguntar. – E o que pode fazer para se libertar? Eles o cercaram com um campo de força que o impede de sair desta região. O senhor está cercado e indefeso.
– Os seus colegas estão dispostos a um diálogo entre o governo deste mundo e eu, que represento o governo de outro?
– Estão, desde que se permita a ser reduzido à impotência...
– Mog, Mog, não me faça rir.
– Então, volto a perguntar: o que pretende fazer para se libertar se está cercado e impotente?
Igor olhou-o bem dentro dos olhos, tentando imaginar o que se passaria na cabeça daquele ser que, embora fosse tão diferente dele, parecia um amigo, um bom amigo. Após um longo suspiro, disse:
– Posso exterminar a vida desta cidade e depois destruir o maquinário que me prende, mas não pretendo fazer isso.
– Posso saber o motivo?
– Não sou assassino, excelência. Onde estão aqueles seis idiotas? – respondeu, decidido. – Presumo que nos veem e ouvem.
– Estão na mesma sala onde os deixou – respondeu. – Sim, ouvem-nos e veem-nos com perfeição.
– Então, pelo bem de dois povos, passarei a abandonar a posição passiva – afirmou Igor.
– Pode explicar?
– Claro – respondeu o jovem, levantando-se e puxando o governador consigo. Ergueu a voz. – Vossas excelências saibam que eu não sou um criminoso ou assassino frio, mas obrigam-me a tomar uma atitude antes que minem as minhas forças através do desgaste. Assim sendo, vou fazer uma demonstração do meu poder e, depois, talvez o use em vocês, já que tudo tem o seu limite.
Começou a caminhar de volta para o prédio piramidal enquanto pegava de volta a espada, ainda puxando Mog com a outra mão.
– A barreira impedi-lo-á! – exclamou o nativo.
– Será? – Igor parou nos limites da barreira e estendeu a espada com violência, rebentando um dos robôs. Ainda antes dele cair, mais cinco seguiam o seu destino, interrompendo o campo energético. Igor caminhou para o edifício da Mia, enquanto dizia:
– Que isto e o meu próximo ato sirvam de exemplo e aviso. Eu vou usar apenas uma mão e uma fração do meu poder, mas parte desta praça vai deixar de existir. Depois disso, têm meia hora para levantarem as barreiras e deixarem-me sair para o meu mundo ou destruirei o vosso prédio administrativo.
Igor olhou para a praça que ficou vazia quando os robôs apareceram e sentiu um nó na garganta por saber que ia destruir uma boa parte dela, mas era isso ou a sua vida. Diante do olhar incrédulo da Mia e Mog, ele ergueu uma mão e lançou uma bola laranja de plasma que explodiu no meio dos robôs. Num raio de vinte metros tudo deixou de existir, incluindo a árvore e as máquinas.
– Como podem ver, não existe defesa contra mim – continuou Igor, sorrindo na maior calma. – Agora, a vossa vida depende de vocês e do que escolherem na próxima meia hora. Eu quero paz e não guerra, mas a decisão será vossa. É uma pena que uma civilização como a vossa tenha essa atitude porque eu adoraria que fossemos bons amigos. Façam a vossa escolha, mas sejam sábios.
― ☼ ―
Quando o tempo estava quase escoado, um robô apareceu e disse que ele era livre para sair da cidade e que a partida daquele mundo dentro dos limites urbanos estava vetada.
– Vocês vão-me acompanhar até ao ponto de saída. – Igor ordenou para o par. – Não temam que jamais lhes farei qualquer mal, mas acho que isso poderá evitar possíveis surpresas.
O fato de ter pegado os dois reféns era porque não acreditava que se arriscassem a feri-los. Foram caminhando e nada impediu a saída do grupo, embora Igor sentisse um cheiro de traição. Mog parou na frente da cratera que se formou e olhou com ar triste. Vendo isso, Igor perguntou:
– É uma pensa destruir coisas tão belas, não concorda, Mog?
– Sim, concordo, mas vidas foram poupadas e isso importa mais.
– Gostava da praça?
– Costumava passear nela com o meu Maalik – disse ele e Igor imaginou que fossem os seres que viu antes. – Gosto da praça, sim.
– Muito bem – disse o jovem, erguendo as mãos. – Vou lhe dar um presente de boa vontade, olhe.
Igor fez um gesto rápido e, das mãos, saíram raios de luz tão intensos que os ofuscaram e não permitiam ver nada. Quando a luz se desfez, a praça estava reconstruída tal e qual era antes, exceto pelos robôs.
– Como fez isso? – perguntou Mia, espantada.
– É bem melhor construir do que destruir, vocês não concordam comigo? – Igor piscou o olho e sorriu. – Espero que me entendam, agora. Vamos lá?
Começaram a andar em silêncio com um Mog muito pensativo quando Igor perguntou:
– Então, Mia, lembra-se do que eu lhe disse sobre os sete bilhões dos vossos concidadãos? – perguntou, o mago, voltando a ocar no assunto. – Queria saber se pensou a respeito disso.
Ela permaneceu calada por algum tempo, pensando em tudo o que ele dissera.
– Nós mudamos muito, até geneticamente – disse por fim a cientista –, e temo que eles não sejam mais capazes de se adaptarem a nós, nem mesmo de se reproduzirem. Se conseguir libertá-los, arranje-lhes um novo mundo porque é a melhor opção.
– Você pode mesmo ressuscitar os mortos daquela guerra, Igor!? – Mog estava incrédulo. – Como?
– É apenas uma suposição – respondeu o mago. – Mia explicará. Eu farei isso, Mia, arranjarei um mundo para eles, já que o vosso planeta original tem poucos recursos.
– Tome – ela entregou um pequeno cristal. – Esta é uma chave que permite controlar os sistemas gerais. Ela não mudou em todos estes aeons, então liberará o controle de tudo. Na época ainda não éramos telepatas, então o controle de lá é todo vocal. Coloque no painel central da sala que encontrou, aquela que me contou. Lá, verá uma fenda onde a chave encaixa com precisão.
– Obrigado, farei isso, se conseguir. Chegamos ao ponto onde abri o portal – disse Igor. – Vou retornar para o plano XIII e depois para o III. Não sei se alguma vez poderei voltar para o meu tempo, mas agradeço muito aos dois. Se eu resolver os meus problemas, virei para vos mostrar o meu mundo, o mais belo do Universo.
– Felicidades, Igor.
O par permaneceu parado, curioso para saber como ele passava pelos planos. Viram Igor concentrar-se, olhando para a frente, só que nada ocorreu. Intrigado, virou-se para os dois, mas Mia foi a primeira a falar:
– Presumo que algo deu errado – disse.
– Eles enganaram-me. A esta hora deve haver uma barreira que me impedirá de entrar na cidade e mantera o bloqueio contra as minhas vibrações celulares. Eu até posso bombardear tudo, mas não sou capaz disso. – Igor suspirou. – É melhor vocês irem, porque não me vou deixar aprisionar. Na cidade ficarão seguros.
– Sinto muito – afirmou Mog. – Não esperava que fosse assim.
– Não sinta – disse Igor. – Derrube o governo e mude as coisas. Vocês não podem viver com medo eterno. Com isso, o seu conclave condena o meu mundo ao mesmo triste fim do seu planeta original, mas ele nem sequer tem a tecnologia necessária para poder defender-se se não for por mim, já que essa criatura tem poderes muito maiores que aquele monstro que vocês aprisionaram. Esse demônio tem dons similares aos meus. Vão, que vou tentar abrir caminho à força... cuidado...
Igor mais reagiu por instinto do que outra coisa qualquer porque, quando sentiu as vibrações interplanares aumentarem de forma drástica e justamente ao seu lado, pegou os dois interlocutores em um abraço e atirou-se ao chão, arrastando-os enquanto berrava o seu aviso. Mia deu um grito assustado, mas calou-se logo quando a fenda se abriu e um dragão enorme apareceu voando com uma mulher montada nele.
Igor levantou-se e ajudou o par a se erguer ao mesmo tempo que Gwydion fez uma curva elegante e pousou ao lado deles. Num frenesi desesperado, Ailin saltou para o solo e correu, atirando-se ao seu pescoço e beijando-o. Só depois viu os dois estranhos e afastou-se, encabulada.
– Meu Deus – comentou Mia –, eu pensei que os dragões estavam extintos porque nunca mais apareceram!
– Estão vivos e são nossos maiores amigos e aliados – explicou. A seguir, saudou o gigante alado, sorrindo. – Oi, Gwydion, senti saudades. Não te cansaste abrindo o portal?
– "Nós não somos capazes de entrar neste plano. Quem abriu o portal foi Ailin."
– Bah, Ailin. Já evoluíste tanto e além disso és de primeiro grau! – sorriu, abraçando-a. – Mas correste um perigo desnecessário.
– Se você e ele tivessem voltado para o seu tempo, eu aceitaria sem fazer nada, mas jamais poderia perdê-lo para qualquer outra coisa – afirmou a garota, solene e sorrindo, fazendo uma carícia no seu rosto. – Eu e ela somos uma só, mas os outros não.
– Bem, de qualquer forma és muito bem-vinda porque estava a ser perseguido e bloquearam a minha capacidade de abrir um portal. – Ele pensou um pouco e disse. – Gwydion, achas que consegues carregar nós os quatro?
– "Facilmente" – respondeu o gigante. O mago virou-se para os amigos e disse:
– Vamos, subam no dragão. Ele vai levar-vos de volta.
– E a barreira, Igor? – perguntou Mia. – Como fará para passar?
– Gwydion vai ajudar a mascarar as minhas vibrações celulares com os dons dele.
O gigante alado ergueu-se aos céus e voou para a cidade. Igor apontou para parte central, mais precisamente o edifício circular, e o dragão mergulhou, pousando à frente da porta. O mago olhou para ele e, com seu auxílio, o gigante transformou-se no pássaro de rapina, subindo para o seu ombro. Os cinco entraram no edifício e encontraram os seis governantes sentados nas cadeiras, cheios de medo.
– Salve, excelências – disse com uma pequena vênia. – Eis-me aqui mais uma vez. Espero que sejam sensatos e não chamem outros robôs porque a minha paciência tem os seus limites.
– O que deseja, Magnífico? – perguntou o mais antipático, usando o título adequado.
– Desejo paz, senhores. Vocês vivem com medo há incontáveis milênios e isso não pode continuar assim. Por causa do seu medo, quase desencadearam uma guerra que seria o vosso extermínio. Trataram-me mal, mas ainda assim não quero o vosso povo como inimigo. Espero que aprendam uma lição e não repitam a façanha com eventuais visitantes. Vocês não podem continuar a viver com eterno medo do desconhecido, como simples bebês que estão aprendendo a andar. Se tudo der certo, retornarei para o meu tempo e voltarei para vos convidar a conhecerem a Cidadela e o Mundo de Cristal, mas como amigos e até aliados. Por favor, pensem no assunto e suspendam qualquer ataque ou embargo aos magos da Terra porque somos um povo muito pacífico.
Igor virou as costas e saiu. Ao seu lado, caminhavam Ailin e Mia, andando devagar. Já na porta, Mog chamou:
– Magnífico. – Igor virou-se. – Boa sorte e espero que consiga destruir a criatura. Aguardarei a sua visita, uma vez que dezoito séculos passam rápido.
O mago acenou e virou-se de novo, caminhando de mãos dadas com Ailin. Na rua, Igor parou.
– Nós vamos agora, Mia, obrigado por tudo.
– Felicidades, Igor.
O casal humano desapareceu no nada acompanhado do pássaro que estava no ombro do Igor. No local onde abriram a fenda original, Igor tentou abrir o portal, obtendo sucesso sem qualquer dificuldade. No Mundo de Cristal, aproveitou para um bom banho num dos lagos, acompanhado da Ailin que não quis perder a oportunidade.
Após estarem limpos e secos, ele abriu um portal direto para a Terra.
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